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“A missão de vocês é enxugar o suor de quem desce e sobe ladeira!”, pede Frei Gustavo aos jovens

02/02/2020

Notícias

Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo

Xaxim (SC) – Como não poderia deixar de ser, depois de quatro dias intensos nas Missões Franciscanas da Juventude, a Missa de encerramento misturou mística, gratidão, esperança, emoção, alegria em três horas de duração – das 9 às 12 horas – na imponente praça da Matriz São Luiz Gonzaga de Xaxim, a cidade que leva o nome de uma planta e que, por isso, ganhou inspiração ecológica, tendo como pano de fundo a Laudato Si’.

O Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, presidiu a celebração e, ao enviar dos jovens para suas casas, pediu para serem presença do “Jesus da gente”: “A missão de vocês é enxugar o suor de quem desce e sobe ladeira. Quantas ladeiras da vida, quanta gente suada! Vocês são chamados a enxugar o suor, a estender a mão. Colocar-se a serviço e deixar-se que outros enxuguem o suor de vocês quando a ladeira da vida estiver pesada demais. Ter a humildade de reconhecer: ‘Até aqui eu vim. Aqui não posso mais e peço ajuda!’. Vocês vão encontrar Jesus no amor que não encontra fronteira. E podemos procurar por ele nas fileiras contra a opressão. Todo tipo de opressão”, ensinou Frei Medella, referindo ao trecho do samba enredo da Mangueira para este ano:

“Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira

Me encontro no amor que não encontra fronteira

Procura por mim nas fileiras contra a opressão”.

“E certamente vamos encontrar Jesus muitas vezes, muitos dias, todos os dias, se tivermos sempre esse olhar que a paz, que aqui adquirimos, nos propicia e nos proporciona”, garantiu o celebrante, que no Ato Penitencial apontou nossos pecados ecológicos e pediu perdão por eles.

Enquanto uma fumaça saía da queima de arbustos, Frei Medella denunciou:  “Essa fumaça que sufoca, congestiona os pulmões, sobe aos céus como uma denúncia, um pedido de socorro por nossa Mae Terra. Um pedido de perdão pelas vezes que, enquanto humanidade, também ajudamos a construir esse cenário: as queimadas, os gases tóxicos, a poluição. Esse é o grito da Terra que sobe aos céus e chega ao coração de Deus!”.

Na sequência, um jovem raspou a cabeça de outro(foto acima), para significar o mal que gera o agrotóxico. “Todo mundo tem alguém conhecido que está adoecendo, definhando por conta dessa triste realidade. O Brasil caminha na contramão liberando venenos e agrotóxicos que outros países, a partir de estudos e de provas da ciência, já aboliram. Temos uma dívida muito grande conosco e com Deus”, lamentou.

Uma cruz de madeira ao lado da igreja foi incendiada e, segundo Frei Medella, por nós. “É também nosso pedido de perdão. O Cristo novamente crucificado por nossas ações que destroem e agridem a nossa Casa Comum. As queimadas e todas as ações de destruição do ar, da água, dos vegetais e dos animais. Que esta absolvição alivie o nosso coração da culpa mas não acomode o nosso coração na omissão. Sejamos sempre defensores e defensoras, guardiões do cuidado com a nossa Casa Comum”, pediu o celebrante, que foi acolhido pelo pároco Frei Gilson Kammer no início da celebração.

Na sua homilia, partiu do tema e lema para fazer sua reflexão:  “E Deus viu que tudo era muito bom”; “Guardiões das relações com Deus, com o próximo e com a casa comum”. “É a conclusão que Deus chega depois de terminar a obra da criação. Tudo era muito bom. A Criação é obra da bondade de Deus. Ou seja, o ser humano é chamado à bondade, à atenção, ao carinho, à ternura, à delicadeza, ao cuidado”, situou.

O cuidado, segundo o frade, é a palavra tão estimada e presente na vida de São Francisco e na espiritualidade franciscana, como diz o lema. “O que é ser guardião? É o proprietário, o dono, que manda, que usa, que faz valer pessoalmente sua vontade? Não, é aquele que cuida! Ele é uma figura que encarna a lógica do dom, do presente, da gratuidade”, explicou.

Segundo o frade, a lógica do dom produz colaboração, partilha, disposição para colocar-se a serviço, às vezes saindo até em desvantagem. “Todo mundo junto alcançando seus objetivos”, disse. “E o que produz essa lógica do dom? Harmonia, contentamento, respeito pelo próximo e pela natureza”, respondeu.

“Mas se tudo era muito bom, e Deus viu que era muito bom, quando foi que nem tudo passou a ser tão bom? Quando foi que puseram ventilador nessa farofa? Quando foi que jogaram areia na polenta?”, brincou, voltando ao relato da criação. “A serpente ardilosa coloca na cabeça de Eva e de Adão que eles podiam ser como deuses se buscassem possuir, reter para si a ciência do bem e do mal. Sai a lógica do dom e entra a lógica do possuir”, ensinou.

A partir disso, o que era colaboração, vira “cada um por si”; em vez da partilha, entra a acumulação; onde havia muita disposição de se colocar a serviço, agora a prioridade passa a ser sempre servido; onde as pessoas admitiam levar desvantagem por amor, por espírito de entrega, querem só levar vantagem mesmo. “Agora só importa o ‘eu’. Os outros que se virem. O que produz esse tipo de lógica? Guerra, frustração, violência, destruição da natureza e da Casa Comum”, enumerou.

Um exemplo, para Frei Medella, ocorre na Amazônia. “Ali há dois modos de se compreender aquele bioma maravilhoso. Um é o modelo predatório, lugar da ganância de poucos. Aí entra a derrubada de florestas para exploração de madeira, grandes hidrelétricas que alagam áreas imensas, expulsão de povos originários, os índios, e população ribeirinha. O que pudermos tirar o máximo dela, para isso serve a Amazônia. Isso está destruindo esse bioma fundamental não só para o Brasil, mas para o mundo todo. A regulação do clima, das chuvas, depende do bom cuidado com a Amazônia”, criticou.

A alternativa, segundo o frade, é o modelo baseado na lógica do dom, o modelo socioambiental: respeito às espécies nativas, integração com os ciclos da natureza, promoção dos povos locais, as cooperativas, a pesca artesanal. “Isso tudo é o modelo do cuidado dos guardiões”, retomou.

Para Frei Medella, olhar para Jesus Cristo nos provoca retomar o que era bom. ” Ele promove a re-integração do Ser Humano no projeto de Deus. Os extremos da existência, o velho Simeão e o pequeno Menino Jesus. Criança e terceira idade. Respeitados, promovidos, bem tratados, orientados, conduzidos, cuidados por nós. O serviço, o diálogo, a justiça social, o convívio entre as diferenças, é Jesus que nos faz voltar à lógica do dom. Nossa meta, ainda que jovens, é chegar à maturidade e ao contentamento do Velho Simeão. ‘Deixai agora vosso servo ir paz'”, disse, referindo-se ao Evangelho da Apresentação do Senhor no templo.

“Depois de tudo que você viu, viveu e experimentou aqui, você está partindo em paz, com Deus, consigo, com o próximo e com a Criação. Que nós tenhamos essa mesma paz interior do velho Simeão. E essa paz que você viveu aqui, querido jovem, querida família acolhedora, nosso povo de Xaxim, nossos confrades. Depois do que nós experimentamos aqui, podemos dizer como o velho Simeão: estamos partindo em paz”, garantiu.

Falando para os jovens, disse que para onde voltarem, há uma multidão de jovens procurando um sentido para a própria vida. “Eles estão sem esperança, perdidos e, às vezes, buscando a satisfação onde jamais poderão encontrar: acúmulo de bens, drogas, consumismo, relações superficiais, até no âmbito do sexo. Nada disso é capaz de lhes dar uma direção. Como não é para ninguém. Mas vocês que têm uma paz, que é mais profunda e interior, têm respostas a dar a essa juventude, pelo falar e pelo ser. Vocês têm que ser presença de Jesus para eles”, completou.

Durante a Ação de Graças, os jovens fizeram uma coreografia para homenagear Nossa Senhora Aparecida, cantando “Negra Mariama”.

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LAGES É ESCOLHIDA A PRÓXIMA SEDE

A cidade de Lages, terra do pinhão, foi escolhida pelo Conselho da Juventude e pela coordenação do Serviço de Animação Vocacional (SAV) para sediar a oitava edição das Missões Franciscanas da Juventude. Ou seja, o evento continua em Santa Catarina mais um ano.

Para anunciar a escolha da cidade, foram confeccionados dois bolos, um tinha como decoração a palavra “biscoito” e o outro a palavra “bolacha”, numa sadia rivalidade entre sulistas e os cariocas, que preferem biscoito. O nome da futura sede estava num envelope dentro do bolo com os dizeres “bolacha”, para a festa do grupo que veio da cidade natal de Frei Diego Melo.

Imagem feito por drone e cedida pelo fotógrafo Diogo Rossoni

A Santa Missa teve como concelebrantes Frei Jaime Campos, animador Geral do Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação da Ordem dos Frades Menores, com sede em Roma, a Fraternidade de Xaxim, Frei Diego Melo, animador do SAV e coordenador das Missões Franciscanas e os frades que vieram de toda a Província.

Os jovens ainda tiveram tempo para assistir um vídeo, um resumo das Missões, no telão do ginásio de esportes, palco de toda a parte formativa do evento. Depois, os jovens foram convidados a saborear um delicioso churrasco.


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MISSÕES FRANCISCANAS DA JUVENTUDE