Sobraram emoções na praça da Matriz de Xaxim
02/02/2020
Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo
Xaxim (SC) – Tanto nos depoimentos dos jovens como nos agradecimentos dos frades envolvidos diretamente com as Missões Franciscanas da Juventude, em Xaxim, de 29 a este domingo, 2 de fevereiro, sobraram emoções. A começar pelo responsável por todo este trabalho com a juventude na Província Franciscana da Imaculada Conceição, Frei Diego Melo.
Em primeiro lugar, Frei Diego não poupou elogios à Fraternidade São Luiz Gonzaga – formada por Frei Vanderlei da Silva Neves, o guardião; Frei Gilson Kammer, o pároco; Frei Jacir Antônio Zolet, vigário paroquial; e o diácono Frei Evaldo Ludwig – que “abraçou a Missão como nunca”. Frei Diego lembrou que ainda no final de julho, com o término das Missões no Rio de Janeiro, já começou a reunir com os frades de Xaxim para realizar um evento em apenas seis meses. “A princípio esperávamos 650 jovens. De repente, o susto: 800 jovens. À medida que aumentava o número, os freis diziam: ‘Damos um jeito’. Em todo momento, eles foram abertos”, revela, emocionando-se pela primeira veza.
“Hoje é o dia dos consagrados. Nós, freis e irmãs, não temos um filho ou filha, não temos uma única família. Nós abraçamos uma família muito maior. É a Família Franciscana. E Deus nos dá a graça de sermos fecundos e de abraçarmos vocês como filhos e filhas. Por isso que a gente se doa e por isso que a Vida Religiosa vale a pena. Por isso vale a pena ser frade, freira, padre! É uma vida que dá frutos, que tem sentido. Obrigado a todos os freis, de modo especial esses que estão aqui. Obrigado Frei Jaime Campos, que veio de longe para estar conosco. Obrigado, frei, pela sua presença que nos coloca em sintonia com a Ordem. Obrigado aos freis da Província – se emociona novamente. Cada ano que passa, os freis vêm em número maior. Obrigado Frei Franklin e Frei Tiago, que estão próximos de nós na Província do Rio Grande do Sul. Obrigado aos freis que nos fizeram amar os argentinos. Frei Jesus, Frei Fernando, Frei Christian, Rodrigo e Sofia, pela presença de vocês. Sejam sempre bem-vindos”, garantiu.
Segundo Frei Diego, uma árvore se conhece pelos frutos. “A árvore franciscana está aqui enchendo esse mundo de frutos. Obrigado a todos. Obrigado, Frei Gustavo, em nome da Província, que apoia as Missões. Gente, isso tudo é uma resposta da Província da Imaculada, que continua apostando em vocês. Obrigado meu companheiro no SAV, Frei Alisson Zanetti. Certamente, você cativou muitos jovens nesses dias e vai cativar ainda mais. Obrigado aos jovens que organizaram as caravanas. A gente sabe que não é fácil. Mas quando a gente vê toda essa emoção, o carinho do povo, a gente diz: ‘valeu a pena!’. Obrigado pelo carinho de vocês!”, insistiu.
Por último, agradeceu à juventude. “A missão não está terminando, ela está apenas começando. Aprendemos que aqui é um ponto de chegada, mas é um ponto de partida. Agora, é na família de vocês, na Paróquia que vocês vão mostrar que essa missão foi importante e vai continuar dando frutos. Sejam promotores, cuidem da Casa Comum, cuidem do relacionamento com Deus, procurem alimentar o coração e a alma de vocês, cuidem do próximo. A primeira coisa que vocês vão fazer quando chegarem em casa: Eu te amo pai, te amo mãe! Eu quero cuidar da mãe Terra, porque tudo está interligado”, ensinou.
Coube ao pároco Frei Gilson Kammer fazer os agradecimentos aos paroquianos que não mediram esforços para realizar essas Missões em Xaxim. Frei Gilson citou todo mundo: os conselhos, comissões, organizadas e formadas para pensar os instantes dessas Missões, os funcionários, os freis que vieram de outros lugares, as irmãs que acompanharam esse trabalho. “A Dom Odelir que esteve aqui com a gente e nos deu todo seu apoio”, enfatizou. Agradeceu as quatro prefeituras – Xaxim, Marema, Lageado Grande e Entre Rios – que formam a Paróquia e que ajudaram com ambulância, banho e transporte. E citou várias empresas que somaram com a grande equipe de organização (120 pessoas). Não esqueceu das 38 comunidades e de “tantos e tantos” voluntários, como o batalhão da cozinha. “Vocês recordam que eu disse que a preocupação das famílias era se vocês gostariam da comida. Vocês comeram bem?”, perguntou, ouvindo um coro de sim. “Vocês puderam se alimentar bem, porque tantos e tantos se doaram por isso. A todos aqueles que trabalharam aqui e nas comunidades, o nosso muito obrigado”, repetiu.
“Ao chegar ao fim estas Missões é muito bom poder agradecer a cada jovem e às famílias que acolheram vocês. Muito obrigado!”, disse chorando, enquanto foi abraçado pelos frades.
DEPOIMENTOS
Frei Diego lembrou a diversidade e riqueza num lugar só. “Essa semana nós vivemos uma bonita experiência de integração. Gente de diferentes sotaques, diferentes regiões, de outras realidades sociais, até outras religiões se encontraram e fizeram uma grande família. Certamente, temos uma grande experiência para contar. E de que maneira nós vamos fazer. Vamos fazer através das grandes praças que são as redes digitais. Assim que assimilarem o que vivenciaram, poderão publicar no Facebook o seu testemunho ou uma foto”, informou Frei Diego. Os pais, que também vivenciaram a experiência dos filhos ou dos netos, também poderão fazer esse testemunho. “Espero que o testemunho seja sempre assim: foram de um jeito e voltaram muito melhor!. Esta é a proposta da nossa missão”, brincou.
O primeiro depoimento foi de D. Maria Romanini (foto acima), que segundo Frei Diego, traduz a beleza de tantas famílias que acolheram os jovens. “Nunca falei num microfone. Bom dia, pessoal! Eu estou muito emocionada. No dia 30 de janeiro, há quatro anos, perdi meu filho num acidente de moto. Agora, no mesmo dia 30, recebi na minha casa um jovem chamado Gustavo. O mesmo nome, e ele é idêntico ao meu filho: Alto, magro e carinhoso. Para mim, isso vai ficar marcado enquanto viver. No mesmo quarto que meu filho dormiu, tive o prazer de ir lá chamar o Gustavo por três vezes. ‘Levanta, Gustavo!’ Não quero me desfazer do Giovanni, que também acolhi, mas ele entende. Esses meninos foram os que vieram na minha casa me dar carinho. Não é que não tenho carinho, mas fiquei muito feliz com eles. Obrigado gente, não esperava por isso!”, agradeceu D. Maria, emocionando a todos.
Gustavo reconheceu que para ele também marcou muito esta história dela e do filho. “Eu percebi que, mesmo com todas as dificuldades que encontraram, seguem confiantes em Deus. Sempre unida, essa família linda que nos acolheu”, disse.
Antes de descer do palco, D. Maria pediu para deixar uma mensagem: “Eu quero pedir a esses jovens, que estão no caminho de Deus, que continuem! Que não larguem desse caminho. O melhor caminho escolhido é esse!”
“Isso é o que as Missões Franciscanas proporcionam. Isso é o que amor faz. E o amor faz romper as barreiras. Muito muito obrigado a essas famílias que acolheram esses jovens”, enfatizou Frei Diego.
A jovem Ju (foto acima) esteve na Aldeia Paiol de Barro, numa região um pouco distante e muito humilde. “Uma realidade totalmente diferente do que imaginávamos. Falaram para a gente que os índios iriam dar flechadas, mas o que vimos foi o contrário. Queriam apenas um abraço. Ali não tinha sinal de internet, de celular, não pude falar com meus pais, meu namorado. As casas são de madeira a pique, muito simples. Não tem água, nem energia. Fiquei na casa de uma mãe solteira, com dois filhos. E ela passa por muitas dificuldades. A família dela não queria receber a gente. Não conheciam Nossa Senhora Aparecida. A gente conseguiu apresentar para eles e para essa menina que cuidou de mim, porque é uma menina como eu. E quando eu apresentei a imagem de Nossa Senhora Aparecida, eu nunca vi (choro), alguém olhar para uma camisa, que é a da minha Paróquia, a Nossa Senhora Aparecida de Nilópolis, com tanto amor por uma camisa. Eu percebi que ela criou uma afinidade com a santa que era minha Mãe. Ela se sentia muito sozinha. Lá, eu senti uma solidão tão grande por não falar com minha família e senti a solidão dela. Depois eu fiquei pensando o quanto eles se sentem sozinhos. Eu queria deixar um pedido para vocês e para a Comunidade de Xaxim que não esqueçam deles. Porque não adianta a gente querer fazer missão no Rio de Janeiro, em Curitiba, se do nosso lado a gente os ignora e não vai lá nem para dar um abraço”, questionou.
Frei Diego aproveitou o assunto para lembrar que foram os índios que nos acolheram nesse país. “Os portugueses, quando chegaram, esse país já estava habitado, já estava cheio de pessoas que tinham uma profunda relação com Deus, com o próximo e com a Casa Comum. O Brasil não foi descoberto, foi invadido. Por isso, nós temos que cuidar desses que são os donos da casa e a compartilham conosco. Por isso, esse apelo serve para olhar a realidade que nosso país está passando: a redução dos direitos dos povos originários, a redução dos espaços de terra, a garantia de espaços para eles viverem livres. O Papa Francisco disse que precisamos aprender com eles, porque tudo está interligado”, enfatizou.
Manu (foto acima), fui guardiã do bairro Chagas, e mostrou o quanto a relação dos jovens com as famílias foi construtiva. “Vivemos experiências maravilhosas, como os irmãos de 18 e 11 que se abraçaram e choraram na despedida nossa. O de 11 anos disse que não queria vir à Missa de encerramento para não se despedir de nós”, disse. Cerca de 400 famílias acolheram os 800 jovens e, segundo Frei Gilson, mais famílias tinham se oferecido para acolher outros jovens.
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MISSÕES FRANCISCANAS DA JUVENTUDE