Devoção dupla no Valongo: Corpus Christi e Trezena
04/06/2015
Moacir Beggo
Santos (SP) – Os fiéis que participaram da Santa Missa desta quinta-feira, às 19 horas, no Santuário de Santo Antônio do Valongo, em Santos, tiveram um começo de noite intenso com a devoção a Santo Antônio no 4º dia da Trezena e a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.
O momento devocional a Santo Antônio, composto de cantos e orações, começou antes da Santa Missa, presidido pelo jovem Maikon Marinho dos Santos. Logo em seguida, a celebração eucarística foi presidida pelo reitor do Santuário, Frei André Becker, e concelebrada por Frei Hipólito Martendal, frades residentes no Convento do Valongo, que neste ano celebra o 15º jubileu de fundação, ou seja 375 anos.
Frei André abriu a sua pregação explicando um pouco o sentido histórico da festa de Corpus Christi, que surgiu no séc. XIII, na diocese de Liège, na Bélgica, por iniciativa da freira Juliana de Mont Cornillon (†1258), que recebia visões nas quais o próprio Jesus lhe pedia uma festa litúrgica anual em honra da Sagrada Eucaristia.
Mesmo assim, tanto tempo depois da instituição da festa, Frei André lembrou que grande parte dos cristaos sente falta de ter intimidade com Cristo na Eucaristia. “É bom lembrar que a Eucaristia começou numa refeição, começou em volta de uma mesa, com a celebração de lavapés. Ou seja, a Eucaristia sem serviço é inoperante, não faz sentido. Toda a Eucaristia só tem sentido quando ela nasce a partir do serviço, a partir da doação, da entrega”, disse o reitor, lembrando que o lema da festa de Santo Antônio é o mesmo da Campanha da Fraternidade deste ano: “Eu vim para servir”.
Frei André também lamentou que, em nossas igrejas, falte uma espiritualidade do serviço. “Queremos, muitas vezes, só receber de Deus, mas temos pouca vontade em dar. E a vida toda de Jesus Cristo foi uma entrega. Ele foi até as últimas consequências”, enfatizou.
“Portanto – retomou o frade – a marca da vida cristã deve ser a marca do serviço. Colocar-se em disponibilidade”, disse, recordando o Evangelho do dia.
No final, lembrou o Papa Francisco ao dizer que é a partir da Eucaristia que somos convocados a sermos uma Igreja ‘em saída’. “O que é uma Igreja em saída?” – É uma Igreja em serviço, reforçou, dando a palavra a Frei Hipólito.
Por sua vez, Frei Hipólito retomou o tema lembrando que a Eucaristia é a essência da vida cristã e citou a imagem mais bonita da Igreja dada por São Paulo. “A Igreja é um corpo com muitos membros, da qual Cristo é a cabeça. Então, a própria estruturação da Igreja para São Paulo é uma grande comunhão de pessoas totalmente unidas ao corpo. E nós somos o corpo de Cristo. Ele continua atuando através de nós”, disse, acrescentando que a Eucaristia tem a função de construir fraternidade, comunhão.
Segundo ele, nesta Missa o grande celebrante é Jesus Cristo. “Ele é o único sacerdote. O único, o Grande, o Sumo-sacerdote. Nós somos apenas instrumentos nas mãos Dele”, reforçou.
Por último, Frei André ilustrou com o “milagre da mula”:
Segundo uma legenda de Santo Antônio, quando ele estava no meio da pregação em Toulouse, sul da França, um senhor se levantou e o desafiou, contradizendo que a presença de Cristo na Hóstia consagrada era uma mentira.
Ele disse: – O Senhor pode discursar durante horas, mas a verdade é que os fatos reais estão contra seus argumentos. É impossível que Cristo esteja presente na Hóstia consagrada.
Santo Antônio lhe respondeu: – Que problema há no corpo de Cristo estar velado pelas aparências do pão e do vinho? E senhor incrédulo o desafiou: – Não, não há problema. Contudo se Cristo está presente nesta Hóstia, sua presença deveria ser sentida por todas as criaturas viventes. Então pegarei minha mula, e na próxima missa estaremos aqui diante da Hóstia. Se ela a respeitar, acreditarei no senhor e na sua fé. Santo Antônio, após ouvir uma inspiração divina, resolve concordar com o desafio.
Passado este tempo, uma multidão se aglomerou na praça para conferir o resultado do desafio. Enquanto Santo Antônio caminhava com o Santíssimo Sacramento e todos os católicos se colocavam de joelhos rezando, o homem infiel chegou conduzindo sua mula, a qual maliciosamente foi privada de alimento durante os últimos dias. Faminto, o animal estava tão violento que nem o próprio dono obedecia. Contudo, ao se aproximar do Santíssimo, a mula se acalmou, e diante de todos ali presentes, milagrosamente a mula se ajoelhou perante a Hóstia consagrada ostentada por Santo Antônio.
O Milagre gerou gritos e admiração por todos, os católicos entoaram cânticos emocionados. O herege também se ajoelhou e se converteu.
A celebração se encerrou com a procissão do Corpo e Sangue de Cristo em frente ao Santuário, seguida da Adoração ao Santíssimo. Na Quermesse, uma equipe de mais de 50 pessoas trabalha ativamente para preparar os salgados e doces. A festa teve animação da banda “Macaco Prego”.