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Dom Lauro: “Com Santa Clara, somos chamados a buscar as coisas do alto”

13/08/2024

Notícias

Pela primeira vez o Mosteiro Santíssima Trindade das Irmãs Clarissas, em Colatina (ES), acolheu centenas de fiéis da Paróquia Santa Clara de Assis que se reuniram para homenagear sua padroeira, no último domingo (11/08), às 9h30. A solene Celebração Eucarística foi presidida por Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, bispo da Diocese de Colatina. O pároco, Frei Pedro de Oliveira Rodrigues e o vigário paroquial, Frei Augusto Luiz Gabriel, concelebraram.

A celebração teve início com a acolhida das Irmãs Clarissas, que expressaram a alegria de estar reunidas com a comunidade para celebrar sua fundadora e a padroeira da Paróquia. “É com muita alegria que nos reunimos para celebrar nossa mãe Santa Clara que é uma bênção para a nossa Diocese”.  A fala inicial das Irmãs também ressaltou a união entre o Mosteiro e a Paróquia. Para muitos fieis a celebração foi ainda mais significativa, pois participaram pela primeira vez de uma missa no Mosteiro.

A vocação e missão de Santa Clara

Na homilia, Dom Lauro destacou a importância de Santa Clara como exemplo de amor a Deus e de resposta vocacional. “Caríssimos frades, filhos e irmãos de São Francisco, queridas irmãs Clarissas, filhas e irmãs de Santa Clara de Assis, e queridos irmãos e irmãs, filhos também de Deus, hoje é um dia de grande alegria para todos nós”, iniciou o bispo, convidando a assembleia a refletir sobre o chamado de Deus a cada um, na diversidade de vocações e estados de vida.

Ele ressaltou a profunda ligação de Santa Clara com Deus, uma relação que transcendeu as circunstâncias difíceis de sua época. “Não vou aqui recordar os pormenores da vida de Santa Clara, o que já fizemos em muitos momentos. Vou pontuar alguns aspectos e tentar captar um pouco da experiência de Santa Clara para que ela seja partilhada conosco e nos ajude a viver a nossa vocação e a nossa missão”, explicou.

Dom Lauro destacou a primeira leitura, tirada da profecia de Oséias, aplicando-a de modo especial à vida de Santa Clara e às irmãs Clarissas: “Deus nos chama à solidão, para vocês de uma forma muito concreta, muito palpável, mas a todos nós. Ele quer falar ao nosso coração. Deus não quer um culto meramente exterior, ainda que belo esteticamente… Ele quer o nosso coração”. O bispo sublinhou que essa solidão não é desoladora, mas uma “comunhão profunda com Aquele que nos criou e nos chamou à existência”.

O bispo também fez um paralelo entre Santa Clara e São Francisco de Assis, lembrando que ambos eram jovens quando foram atraídos por Deus: “Estes dois jovens, porque eram jovens, foram atraídos de uma forma indescritível por Deus. Clara da nobreza e Francisco, filho de um comerciante, poderiam estar em posições de conflito, mas foram atraídos por Deus para uma vida de dedicação e serviço”, disse e reforçou a ligação profunda entre os dois santos. “Toda a riqueza de Clara e Francisco se resume na sua profunda comunhão com o nosso Senhor Jesus Cristo”, acrescentou.

Ao falar sobre a vocação de Santa Clara, Dom Lauro relembrou o momento em que ela deixou a casa paterna e que a busca de Clara por Deus foi um caminho de renúncia e entrega total. “Quando ela se encontrou com Francisco e os frades em Santa Maria dos Anjos, ele só lhe fez uma pergunta: ‘Que queres, Clara?’ E ela respondeu com uma só palavra: ‘Deus.’”

Essa entrega total de Clara a Deus é destacada como um exemplo para todos nós. “Será que, se nós morrêssemos hoje, a gente poderia dizer que durante toda a nossa vida procuramos Deus?”, questionou Dom Lauro. Ele enfatizou que Clara viveu não para si mesma, mas para Deus, dedicando-se a uma vida de oração, penitência e comunhão.

Dom Lauro também falou sobre a tentação de resistir ao chamado de Deus por medo do que Ele pode nos pedir: “Às vezes nós temos medo que Deus toque em nosso coração, porque às vezes temos medo daquilo que Deus pode nos pedir. Mas o Senhor quer um relacionamento único, exclusivo, total conosco. Eu te desposarei para sempre. Eu te desposarei conforme as sanções da justiça, conforme as práticas da misericórdia”, destacou.

No final da homilia, Dom Lauro refletiu sobre os últimos dias de Santa Clara, que, após anos de enfermidade, entregou-se totalmente a Deus.  “Clara, que passou seus últimos vinte e nove anos em enfermidade, terminou sua vida com serenidade e louvor, agradecendo a Deus por tê-la criado”, lembrou o bispo. “Ela viveu não uma solidão desoladora, mas uma comunhão profunda com aquele que a chamou à existência. E, no final, ela ainda diz: ‘Obrigada por teres me criado’… Toda a sua vida de oração e penitência, e de sofrimento, é toda louvor.”

“Se nós fôssemos morrer hoje, o que gostaríamos de ter feito na nossa vida? Como gostaríamos de ter vivido?”, perguntou Dom Lauro. Ele convidou todos os presentes a refletirem sobre suas próprias vidas, inspirados pelo exemplo de Santa Clara, que viveu para Deus com uma entrega total e incondicional.

No final da homilia, dirigiu uma saudação especial aos pais, em razão do Dia dos Pais, e rezou para que Deus os abençoasse em sua missão.

Bênção dos pães e agradecimentos

No final da celebração, como de costume, Frei Pedro leu o relato da multiplicação dos pães de Santa Clara. Em seguida, Dom Lauro conduziu a bênção dos pães, lembrando a todos do milagre realizado pela santa, que mesmo com um só pão, conseguiu alimentar toda a comunidade. A bênção ressaltou a confiança em Deus por intercessão de Santa Clara, pedindo que nunca falte o alimento necessário e a bênção de Deus para todos.

Após a bênção, Frei Pedro agradeceu a presença de todos e reforçou os pilares da paróquia: comunhão, participação e missão. Ele acolheu especialmente a nova integrante da comunidade, Maria Clara, e agradeceu a todos os que contribuíram para o sucesso da festa da Paróquia, destacando a importância da colaboração e do apoio contínuo à vida e missão também do Mosteiro.

Dom Lauro também expressou sua gratidão, destacando a felicidade de estar rodeado pela Família Franciscana e pela comunidade paroquial. Ele lembrou da importância de continuar rezando uns pelos outros. Ao final, todos receberam um pãozinho abençoado como lembrança da celebração, feito com amor e oração pelas Irmãs Clarissas.

A celebração terminou com a bênção final e um convite à comunidade para continuar a irradiar paz e bem, seguindo os ensinamentos de São Francisco e Santa Clara de Assis.

A importância do Mosteiro na vida da paróquia

A história do Mosteiro Santíssima Trindade das Irmãs Clarissas está profundamente entrelaçada com a história da Paróquia Santa Clara de Assis. Desde a fundação da Paróquia em 2008, o Mosteiro passou a ter a assistência dos frades franciscanos.

As irmãs Clarissas, que vivem uma vida de clausura e oração, são conhecidas por sua dedicação à espiritualidade de Santa Clara e São Francisco. Sua presença silenciosa, mas fiel, inspira muitos a buscar uma vida mais simples e voltada para Deus.

A festa de Santa Clara, em Colatina, não foi apenas uma celebração litúrgica, mas um momento de nutrir a fé e a espiritualidade franciscana. A mensagem de entrega total a Deus, vivida por Santa Clara e transmitida por Dom Lauro, tocou os corações dos fiéis, convidando-os a uma reflexão sobre sua própria vocação e missão.

Sobre Santa Clara de Assis

Santa Clara de Assis nasceu em 1193, em uma família nobre de Assis, Itália. Aos 18 anos, influenciada por São Francisco de Assis, renunciou à sua vida de privilégios para se dedicar inteiramente a Deus, fundando a Ordem das Clarissas, uma ordem contemplativa feminina. Santa Clara é conhecida por sua profunda humildade, pobreza e dedicação à oração. Ela faleceu em 1253 e foi canonizada em 1255, apenas dois anos após sua morte.

A devoção a Santa Clara é celebrada em todo o mundo, especialmente em comunidades franciscanas, onde seu exemplo continua a inspirar muitas pessoas a seguir o caminho da simplicidade e da entrega a Deus.


Frei Augusto Luiz Gabriel