Família Franciscana de Colatina celebra os 800 anos das Chagas de São Francisco de Assis
18/09/2024
“Francisco de Assis é um dom de Deus para a Igreja e para o mundo, não apenas para a Família Franciscana, mas é para todos um sinal visível de que Deus continua cuidando de seu povo e amando sua Igreja”. Com essa reflexão, Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, Bispo de Colatina (ES), presidiu a Celebração Eucarística da Festa das Chagas de São Francisco de Assis, no último dia 17 de setembro de 2024, na Comunidade São Vicente de Paulo, da Paróquia Santa Clara de Assis, em Colatina. A celebração histórica dos 800 anos da Impressão das Chagas de São Francisco, reuniu franciscanos e fiéis das comunidades rurais e urbanas, em um verdadeiro gesto de unidade, fé e devoção.
A Festa das Chagas de São Francisco é um marco para toda a Família Franciscana, que inclui a Ordem dos Frades Menores, a Ordem de Santa Clara e a Ordem Franciscana Secular. Este evento especial não só relembrou a profunda espiritualidade de São Francisco, mas também celebrou seu exemplo de amor, compaixão e entrega total a Deus.
Durante a homilia, Dom Lauro falou diretamente aos corações dos presentes, lembrando a todos da singularidade do acontecimento que marcou a vida de São Francisco e a história da Igreja. Ele destacou que as Chagas, recebidas por Francisco, foram um sinal exterior de seu profundo vínculo com Cristo, representando não apenas sofrimento, mas, sobretudo, amor e obediência a Deus. Dom Lauro conectou o passado e o presente, chamando a atenção para os desafios da vida contemporânea e o exemplo atemporal de Francisco.
“Queridos irmãos e irmãs, hoje, com toda a Igreja, nós nos alegramos com essa celebração dos oitocentos anos da impressão dos estigmas da Paixão do Cristo no corpo de São Francisco de Assis. Este fato singular e extraordinário assinala o vínculo entre São Francisco e Nosso Senhor Jesus Cristo. Toda a liturgia que estamos celebrando aqui nos convida a meditar sobre a Paixão e a Cruz. E não se trata de um ‘dolorismo’, mas de enfatizar o primado do amor. Deus, de tal forma, amou-nos que nos deu a vida, que nos deu Seu Filho Único, para que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna.”
Trajetória do Santo de Assis
Dom Lauro também refletiu sobre a trajetória de São Francisco e como sua vida foi um exemplo de conversão contínua, serviço aos pobres e entrega total ao Evangelho. Ele lembrou que Francisco, apesar de ter nascido em uma família rica, fez a escolha radical de seguir Cristo na pobreza, simplicidade e amor. E para ilustrar isso, o bispo mencionou momentos emblemáticos da vida de Francisco, como sua participação em movimentos sociais de seu tempo e seu encontro com o Crucificado em São Damião.
“Francisco viveu numa época de grandes desafios, assim como nós vivemos hoje. Ele enfrentou as dificuldades de sua época com coragem e fé. Participou de revoltas sociais, foi preso e, ao retornar para casa, começou a buscar o verdadeiro sentido de sua vida. Ele se perguntou: ‘O que vale a pena na vida?’ E a resposta que ele encontrou foi seguir Cristo, carregar sua cruz e viver o Evangelho com total fidelidade.”
Dom Lauro, de forma muito atual, relacionou os desafios da época de São Francisco com os problemas enfrentados pela sociedade contemporânea, como as mudanças climáticas, as guerras e as injustiças sociais. Ele destacou que o exemplo de São Francisco nos convida a uma resposta cristã ativa e concreta diante desses problemas, vivendo o Evangelho de forma autêntica e comprometida. “Os santos não vivem nas nuvens. Eles vivem na história concreta. E nós também vivemos com muitos problemas aqui. As violências no mundo, as guerras, as mudanças climáticas… Francisco também viveu numa época de grandes dificuldades, mas ele soube responder com amor e serviço”.
Além disso, o bispo relembrou o momento em que São Francisco renunciou a todos os bens materiais, incluindo suas roupas, para seguir Cristo de maneira radical. Ele mencionou que, ao longo de sua vida, Francisco foi formando uma comunidade de irmãos e irmãs que, como ele, renunciaram às riquezas e escolheram viver na simplicidade, confiando totalmente na providência divina.
“Francisco não era um idealista desconectado da realidade, mas alguém profundamente comprometido com as questões sociais e espirituais de seu tempo. Ele viveu a radicalidade do Evangelho, recusando o uso da violência, optando por ir ao encontro dos muçulmanos durante as cruzadas, não para combatê-los, mas para pregar o Evangelho. Ele é um exemplo para todos nós de coragem e fé”, disse.
Francisco, um dom de Deus
“Fomos feitos para viver um relacionamento com Deus, e os santos são exemplos vivos disso. Esses santos canonizados que levamos aos altares viveram sua fé de maneira heroica e exemplar, mas a santidade não é uma chamada apenas para alguns. Todos nós, sem exceção, somos chamados à santidade. Não existem cristãos de segunda categoria; o que existe são aqueles que não levam sua fé a sério. Se levarmos nossa fé a sério, entramos num processo contínuo de santificação. Francisco de Assis é um dom de Deus para a Igreja e para o mundo, não apenas para a família franciscana, mas como um sinal visível de que Deus continua cuidando de seu povo e amando sua Igreja.”
Por fim, Dom Lauro explicou que Francisco nos mostra que a verdadeira alegria está em Deus, mesmo em meio ao sofrimento. Ele sofreu, mas amou, e amou mais do que sofreu. “Ao receber as chagas, ele não ganhou apenas marcas físicas, mas foi agraciado com o amor e o carinho de Deus. Em seu cântico, ele louva ao Senhor como o Bem Supremo, a Sabedoria, a Humildade e o Descanso. Mesmo em sua fragilidade, Francisco estava tomado pela alegria divina. Sua vida foi um testemunho vivo de que, na pobreza material, é possível encontrar a plenitude da riqueza espiritual, pois ele experimentou profundamente a doçura e a paz de Deus”, concluiu.
A celebração contou com a participação de frades franciscanos, membros da Ordem Franciscana Secular, e um grande número de fiéis, que expressaram sua devoção ao legado de São Francisco de Assis. Ao final da missa, Dom Lauro agradeceu a presença de todos, especialmente a dos frades franciscanos da Paróquia Santa Clara de Assis.
“Que esta celebração nos inspire a seguir o exemplo de São Francisco, levando adiante a mensagem de paz, amor e cuidado com a criação que ele tão bem nos deixou. Que nós possamos, assim como ele, fazer de nossas vidas uma oferta de amor a Deus e ao próximo”, ensinou.
Celebração com as Irmãs Clarissas
Mais cedo, às 7h, no Mosteiro Santíssima Trindade, das Irmãs Clarissas de Colatina, também se realizou uma missa em comemoração aos 800 anos das Chagas. Essa celebração foi presidida por Frei Augusto Luiz Gabriel, Assistente Espiritual da Ordem Franciscana Secular (OFS) e vigário paroquial. Em sua homilia, o frade refletiu sobre o Evangelho de Lucas (9,23-26), que exorta os cristãos a “negar a si mesmos, tomar sua cruz e seguir Jesus”. Ele traçou um paralelo entre esse ensinamento e a vida de São Francisco, lembrando que o santo não apenas abraçou espiritualmente a cruz, mas recebeu em seu corpo os sinais da Paixão de Cristo.
“No alto do Monte Alverne, retirado em oração, Francisco se tornou um ícone vivo do sofrimento redentor de Cristo. E aqui está a grande lição para todos nós: a cruz não é sinal de derrota, mas de vitória. É o instrumento através do qual Deus manifesta Seu amor mais profundo por cada um de nós. Ao olharmos para as chagas de São Francisco, somos chamados a refletir sobre nossas próprias cruzes, nossas dores, nossos desafios. Mas, ao mesmo tempo, somos chamados a enxergar nelas a presença amorosa de Deus, que não nos abandona, mas nos sustenta e nos redime”, refletiu.
“Hoje, ao celebrarmos os 800 anos deste prodígio, que possamos renovar em nossos corações o desejo de seguir Jesus mais de perto, como fez nosso Pai São Francisco. Que, diante das dificuldades, possamos lembrar que, assim como Francisco encontrou a paz em meio às suas dores, também nós podemos encontrar a paz que vem de Cristo, o Crucificado”, concluiu.
A celebração dos 800 anos da Impressão das Chagas de São Francisco de Assis foi especial e renovou o compromisso da Família Franciscana e de toda a Igreja de viver os ensinamentos de Cristo de maneira fiel e concreta, a exemplo de Francisco de Assis.
Frei Augusto Luiz Gabriel e PASCOM da Paróquia Santa Clara