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Santos: Província entrega à Diocese de Santos o cuidado pastoral do Santuário do Valongo e da Paróquia da Assunção

20/12/2020

Notícias

 Santos (SP) – Com mais de 380 anos de evangelização no Litoral Sul de São Paulo, os frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição entregaram, neste domingo (20/12), o cuidado pastoral do Santuário Santo Antônio do Valongo e da Paróquia Nossa Senhora Assunção à Diocese de Santos, na pessoa do bispo diocesano Dom Tarcísio Scaramussa, durante a Missa de Ação de Graças, às 8 horas, no Santuário e, às 19 horas, na Paróquia. O Ministro Provincial, Frei César Külkamp e o Definidor Frei Mário Tagliari participaram deste momento histórico, marcado pela emoção dos fiéis paroquianos e dos frades, especialmente da última Fraternidade, formada por Frei João Pereira Lopes, o guardião e pároco; Frei Hipólito Martendal, vigário paroquial e Frei Valdevino Negherbon.

Guardando as normas sanitárias, os fiéis marcaram presença neste momento de gratidão e despedida dos frades quando a Igreja celebra o quarto domingo do Advento.

A Paróquia Nossa Senhora da Assunção foi assumida pela Província da Imaculada em 2007. Mas no passado já pertencia à Paróquia do Convento, quando este era paróquia. Os frades residiam na Fraternidade do Valongo e atendiam a Paróquia no Largo São Bento.

“Nossa gratidão a todos os franciscanos, nosso agradecimento a Deus, ao seu amor, que vem até nós e se manifesta de tantas formas. Uma delas foi essa presença franciscana servindo ao nosso povo durante todo esse tempo, servindo ao Evangelho e servindo nossa Igreja de Santos. Com Maria nós preparamos para acolher o Senhor, dizer sim a Deus e renovar o nosso compromisso de fé”, disse D. Tarcísio.

Celebração Eucarística às 19 horas na Paróquia Nossa Senhora da Assunção

 

Frei César lembrou que os frades chegaram a Santos em 1640, no dia 25 de janeiro. No próximo mês, completariam 381 anos de presença na cidade litorânea do Estado de São Paulo. Ele lembrou que Frei Manuel de Santa Maria fundou a primeira Fraternidade e, naquele mesmo ano, fundou a Fraternidade da Ordem Franciscana Secular, que sempre caminhou junto com a Primeira Ordem. Segundo o Ministro Provincial, em dois períodos de ausências dos frades, a Ordem Franciscana Secular permaneceu “sempre cuidando de tudo e de todos e mantendo muito acesa a chama franciscana”.

Frei César explicou que uma história de quase quatro séculos não poderia ser contada em pouco tempo, mas destacou alguns momentos importantes vividos no Valongo. Disse que o Convento foi considerado um dos mais bonitos de toda a Província na parte Sul do Brasil. “No século 19, os religiosos foram proibidos no Brasil por uma decisão da Coroa Portuguesa e os frades foram diminuindo tanto que chegaram ao número de um só. Frei João do Amor Divino tinha que passar em vários conventos para manter, digamos assim, essa presença até que chegaram os frades missionários alemães”, recordou Frei César, observando que por quase 60 anos, de 1860 a 1922, o Convento não teve nenhum frade.

Frei César destacou alguns nomes que fizeram história e marcaram profundamente a comunidade. Ele recordou também que foi neste Convento que o primeiro bispo de Santos começou a planejar a Diocese de São Paulo, que era diocese de todo o Sul naqueles tempos. “Por aqui também passou o Monsenhor, chamado João Ferretti, que precisou parar com sua embarcação e se hospedar no Convento. E anos depois, ele se tornou o Papa Pio IX, um Papa importante porque ele proclamou o dogma da Imaculada Conceição, um dogma muito caro aos franciscanos”, contou.

Em outro episódio, lembrou que os ingleses encarregados de construir a estrada de ferro “São Paulo Railway” não demoliram a igreja do Valongo, em meados do século XIX, por causa de um milagre. Por ordens do Barão de Mauá, a demolição começaria pela imagem de Santo Antônio, do século XVII. “Mas não houve força humana capaz de tirar essa imagem. Esse fenômeno foi considerado um grande milagre e fez com que eles tivessem de mudar os seus planos. E diante daquele acontecimento, a população de Santos veio para cá – dizem que até tomaram pedaços de pau – a fim de proteger a igreja. Foram até o Imperador e conseguiram manter esse patrimônio espiritual tão importante aqui em Santos”, disse o Ministro Provincial. A igreja, em estilo barroco, possui valiosas obras de arte, como o Cristo Místico de Seis Asas. O Convento do Valongo se tornou Santuário por decreto de Dom David Picão, em 1987, e foi tombado pelo Condepasa em junho de 1993.

“Isso mostra como o povo de Santos ama esta Porciúncula, como dizia a Adriana da OFS. A igreja então foi salva. Hoje, mais do que tudo, queremos pedir que esse amor permaneça para sempre. Porque essa igreja contou com essa presença de frades nesses quatro séculos, mas ela é de vocês. Nós temos muita certeza disso e São Francisco tinha essa clareza. Nós ouvimos também na primeira leitura de hoje que Deus não precisaria de mãos humanas para construir uma casa para Ele, mas que Ele estaria em toda parte. São Francisco também tinha essa convicção e por isso queria que seus frades não se apegassem a conventos, lugares, e essa característica faz com que nós, frades menores, tenhamos esse espírito de itinerância, de não ficar para sempre no mesmo lugar e ir anunciar a Palavra de Deus, seguir sempre adiante em missão”, ressaltou o Ministro Provincial.

Frei César explicou que esta entrega faz parte do processo de redimensionamento reafirmado pela Província no último Capítulo Provincial (2018). Segundo ele, sair de Santos é uma decisão de muita dor. “A nossa parte bem humana se apega a lugares, mas principalmente a pessoas. Há uma história de Igreja, de carisma, de vida vividas aqui nesse pedaço de Santos, nesta Porciúncula, como vocês diziam”, confessou, fazendo agradecimentos a Dom Tarcísio, pela compreensão durante o processo de entrega. Segundo o Ministro Provincial, o bispo chegou a pedir que os frades continuassem. “Mas ele compreendeu a nossa situação, porque é religioso e conhece a realidade da vida religiosa, as situações de diminuição, o envelhecimento dos quadros e também a necessidade de novas missões que nos são sempre pedidas”, acrescentou.

Depois Frei César agradeceu à Fraternidade atual, formada pelo guardião e pároco, Frei João Pereira Lopes, Frei Hipólito e Frei Divino. “Agradeço pela condução muito organizada e transparente de todo esse processo junto ao povo”, disse.

Ele fez por último seu agradecimento, especialmente ao povo, que ama este lugar e é o verdadeiro dono deste espaço segundo suas palavras. “Agradeço também pela abertura, escuta, cuidado, partilha fraterna com os frades, tanto no projeto desse lugar, que hoje é uma casa de acolhida e de evangelização com o carisma franciscano. Os frades precisam se retirar, para seguir adiante, mas outros irmãos continuam. Destaco as irmãs e os irmãos da Ordem Franciscana Secular, mas especialmente o coração franciscano e antoniano deste povo que frequenta aqui Santuário, a quem nesse tempo todo, com as nossas falhas e as qualidades de cada frade, procuramos servir”, frisou.

Frei César também pediu as bênçãos de Deus para os novos frades Servitanos que vão continuar este serviço de acolhida, de evangelização, tanto no Santuário como também na Paróquia: Frei Denilson, que será o pároco, o Frei Cristóvão e o Frei Rangel. “E peço muito a vocês uma acolhida carinhosa a estes irmãos que vêm de coração aberto para estar e servir a vocês. Termino com a nossa carinhosa saudação franciscana: Paz e Bem!”

ATÉ BREVE!

A ministra da Fraternidade do Valongo da Ordem Franciscana Secular, Maria Adriana Reis da Silva, contou que, há algum tempo, as notícias da entrega dos cuidados pastorais do Santuário, que foram confirmadas depois, os deixaram “perdidos e atordoados”. “Nossos corações franciscanos resistiram à ideia de um santuário sem a presença dos Filhos de São Francisco e irmãos espirituais de Santo Antônio. Contudo, os mesmos corações doloridos por suas partidas, também se alegram por constatar que mais de 800 anos depois da fundação da Ordem, os ideais de Assis se mantêm vivos”, disse.

“Após 380 anos de missão em nossa comunidade, nossos frades partem para novos desafios, para chegar a novas comunidades, para levar o testemunho de vida de Francisco, Clara, Antônio, Isabel e Luís, aos nossos irmãos que mais necessitam da experiência franciscana de vida. E nós, como ficamos? Nós, comunidade do Santuário Santo Antônio do Valongo e a Ordem Franciscana Secular, herdamos o legado de seguir Jesus Cristo a exemplo de São Francisco de Assis, de continuar a fazer deste santuário a nossa Porciúncula, o nosso lugar sagrado. E não diremos adeus. Com os corações repletos de gratidão, respeito e carinho, desejamos dizer até breve”, revelou.

Segundo Adriana, a história do Santuário sempre estará registrada na Província, assim como a presença dos frades estará definitivamente marcada nestas paredes e em nossos corações. “E por esse momento não significar, de forma alguma um fim, mas um recomeço, para a Província e para a nossa comunidade, parafraseamos, as palavras do Pobrezinho: ‘Vamos começar a servir a Deus, meus irmãos, porque até agora pouco ou nada fizemos'”, citou.

Ela encerrou lembrando que o momento de pandemia que vivemos impede despedidas com abraços e pediu uma calorosa salva de palmas aos frades.

“Em nome da Ordem Franciscana Secular, gostaria de agradecer ao Frei César por todas as vezes que a Província nos recebeu para tratar desse assunto. Claro, que nós, comunidade e OFS, no início tentamos reverter essa situação, porque como família, a gente não quer ver um membro da família partindo, mesmo sabendo que a partida é necessária e o melhor para o membro da família. Mesmo sabendo que comunidades necessitam mais, nosso coração fica dolorido. Mas a gente sabe que, mesmo que os frades não estejam presentes no nosso Santuário, continuamos sendo família. Obrigado, Frei João, por ser nosso assistente. Obrigado por todo esse carinho. Obrigado D. Tarcísio pelo carinho com que nos recebeu para tratar deste assunto”, concluiu.

Frei João também fez seus agradecimentos. “Muito obrigado pela presença fraterna e amiga ao longo dos trabalhos nesses cinco anos que aqui estive, com a graça de Deus, à frente do Santuário e da Paróquia. Os nomes de vocês estão inscritos no coração de Deus. Ele sabe o que cada um fez e faz pela evangelização, a partir do Santuário. Olhe para o passado com gratidão. Que história maravilhosa da presença franciscana. Apesar das dificuldades, vivenciamos juntos tantas alegrias ao longo desta história. Vivam o presente com alegria, sempre. Sem murmuração. Olhem para o futuro com esperança. Esperança que nos move para evangelizar sempre mais”, animou o guardião da Fraternidade.

Dom Tarcísio, no final, pediu para os frades angolanos, Frei Crisóstomo Ngala e Frei Miguel Filipe, estudantes de Teologia que estão fazendo estágio na Sede Provincial, levantassem. “Olha que significativo! Frei César falou da itinerância e, vendo esses jovens, a gente percebe a presença do carisma franciscano, enviado por Deus, a várias partes do mundo. É também uma presença significativa dessa ação de Deus que vai enviando os Filhos de São Francisco para toda parte do mundo. E que surjam sempre mais novas vocações, porque a gente sente como isso é necessário e o povo de Deus necessita e agradece a Deus pelo carisma franciscano”, encerrou.


CELEBRAÇÃO NA PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO

Uma bela Celebração Eucarística marcou a despedida dos frades da Província da Imaculada Conceição na Paróquia Nossa Senhora da Assunção. “Nós queremos agradecer por esse tempo que Deus nos deu a graça de caminharmos juntos. Certamente, toda a nossa Província Franciscana foi qualificada, foi melhorada por essa convivência com vocês. Nós levamos muito aprendizado, muita generosidade, muita criatividade. Quero agradecer de coração do D. Tarcisio e, na sua pessoa, toda a Igreja de Santos.  E possamos, todos, crescer no amor de Deus!”, disse o Ministro Provincial.

No telão da igreja foi feita homenagem aos frades mostrando uma retrospectiva dos 14 anos de presença franciscana na Paróquia Nossa Senhora da Assunção.