Emoção, saudade e esperança na despedida dos frades de Mangueirinha
13/01/2020
Moacir Beggo
Mangueirinha (PR) – Emoção, esperança e saudade. Estas três palavras ditas pela coordenadora do Centro Administrativo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Mangueirinha, Joseane Heinz, definiu a Celebração Eucarística neste domingo, às 19 horas, marcando a despedida dos frades deste município. Em nome da Província da Imaculada Conceição, presidiu este momento histórico o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, tendo a seu lado o Definidor Frei Alexandre Magno; a Fraternidade que se despediu – Frei Antônio Michels, Frei Rubens Luiz de Carvalho e Frei Arlindo de Oliveira Campos -; Frei Marcos Schwengber, que é natural desta cidade; e os representantes das Fraternidades vizinhas, Frei Alex Ciarnoscki, pároco de Pato Branco; e Frei Angelo Vanazzi, vigário paroquial de Chopinzinho. O novo pároco, Pe. Ademir Wickert, representou a nova comunidade dos Padres Dehonianos, que assume a Paróquia nesta Diocese de Palmas-Francisco Beltrão (PR).
A passagem do cuidado pastoral da Paróquia de Mangueirinha à Diocese faz parte do processo de redimensionamento reafirmado pela Província da Imaculada Conceição no último Capítulo Provincial (2018). Os paroquianos e lideranças de diferentes pastorais e movimentos lotaram a igreja para demonstrar toda a gratidão ao trabalho evangelizador franciscano, que remonta ao começo da criação do povoado Conceição do Rosário.
Neste domingo da Festa do Batismo de Jesus, a expectativa pelo último encontro com os frades era grande. Na sua homilia, Frei Gustavo demonstrou toda a sua gratidão ao povo e lembrou que, providencialmente, estava se fechando, neste dia, um ciclo litúrgico com o tempo do Natal e começando o Tempo Comum, ao mesmo tempo em que se encerrava o ciclo da presença dos frades em Mangueirinha e tinha início um novo tempo com a presença dos Padres Dehonianos.
Segundo o frade, acabou o tempo festivo e a vida voltava ao ritmo normal. “Esta celebração tão significativa, que é o sacramento da acolhida, da missão, é também um envio. Nós somos reenviados a sermos evangelizadores no dia a dia do ‘feijão com arroz’ da nossa vida e da nossa existência”, disse.
Esse ciclo da presença dos frades não é o fim da presença franciscana, enfatizou Frei Medella. “Essa não tem fim. Permanece no coração, permanece na presença da Ordem Franciscana Secular, no espírito de fraternidade”, disse, recordando que os frades estão presentes desde o início da povoação do local, que ganhou o nome de “Mangueirinha” por causa de uma mangueira (curral) de gado que não era muito grande no caminho para o Rio Grande do Sul.
“Toda essa história e o surgimento de uma comunidade de fé fazem parte de um ciclo que se fecha. Mas também um ciclo se abre com a presença de nossos irmãos, os Padres do Sagrado Coração de Jesus, também chamados Dehonianos. Grande graça para Mangueirinha ter a presença desta espiritualidade, que tem muito em comum com a espiritualidade franciscana. A espiritualidade deles se baseia numa palavra que não é difícil de compreender: oblação, que significa, oferecimento. Oferta total e irrestrita de si mesmo pelo Reino de Deus. São Francisco também era um homem que vivia nessa dinâmica da oblação, de oferecer-se totalmente a Deus. Tanto que ele escreveu em uma Carta a toda a Ordem Franciscana, o seguinte: ‘Derramai ante Ele os vossos corações! Humilhai-vos para que Ele vos exalte! Portanto, nada de vós retenhais para vós mesmos, para que totalmente vos receba quem totalmente se vos dá!’. Sejam livres, generosos, rasguem seus corações e abram sua vida para Deus”, explicou Frei Medella.
Segundo o Vigário Provincial, a espiritualidade é baseada na oblação e a ação pastoral é baseada na restituição. “Restituição também não é uma palavra muito comum, mas é sinônimo de devolução, de reerguer, de transformar. Também é a base do carisma franciscano, quando Francisco, diante do Crucifixo de São Damião, escuta Jesus Cristo dizer para ele: ‘Francisco, vai e restaura minha Igreja que está em ruínas’. Isto é restituição, reconstrução. Francisco pensou que era só aquela capela e começou a trabalhar como pedreiro, mas depois viu que se tratava de uma construção muito mais profunda das relações, do coração, da Igreja como povo de Deus”, acrescentou, lembrando que os frades estão sempre em missão.
Para Frei Medella, com os dehonianos, os valores, os pilares, a evangelização, o modo de conduzir, vai ser muito semelhante ao franciscano. “Tenho certeza que vocês vão receber nossos queridos padres do Sagrado Coração com todo carinho e toda alegria”, desejou.
Frei Gustavo, então, não poupou agradecimentos à última Fraternidade. “Ontem (durante a ordenação presbiteral de Frei Gabriel Vargas em Pato Branco), Dom Edgar se referiu à fraternidade de Mangueirinha como trindade santa: Frei Toni, Frei Rubens e Frei Arlindo. Obrigado pelo carinho e pela dedicação”, disse.
Dirigindo-se ao povo, foi mais enfático: “Estamos nesta celebração que nos provoca, nos emociona mas também nos faz louvar a Deus. Obrigado a vocês pela acolhida que sempre tiveram para conosco e pela paciência de perdoar as nossas faltas, as nossas inconsistências, as nossas teimosias. Pedimos perdão a vocês, e agradecemos pela acolhida, pelo carinho, pela compreensão que sempre aqui encontramos. Então, é o encerramento de um ciclo, é um novo recomeço e a ocasião de renovarmos a certeza de que todos somos enviados (as), para fazer a diferença onde o Senhor nos chama”, exortou, detalhando como deve evangelizar cada discípulo de Cristo.
Da esq. para dir: Frei Toni, Frei Rubens e Frei Arlindo, a última Fraternidade de Mangueirinha
Frei Toni falou em nome da Fraternidade e pediu aos paroquianos para lotarem a igreja no dia 1º de fevereiro, sábado, às 19 horas, quando a nova comunidade dos Dehonianos assume a Paróquia oficialmente.
Frei Rubens, que se emocionou muito, agradeceu pelo carinho que deram durante os nove anos de sua evangelização: “Tenho certeza que deixei um legado e vou para Coronel Freitas com alegria e sentimento do dever cumprido. Um abraço a todos e que Deus os abençoe!”
Josene e Jacó Augusto Heinz falaram pela Paróquia e pelos moradores da cidade. “Foram anos de convivência franciscana que ficarão registrados na memória dos paroquianos”, enfatizou. Segundo eles, Frei Toni, o pároco que ficou pouco tempo em Mangueirinha, deixou sua marca registrada pela organização, planejamento e, principalmente, a missão evangelizadora, apoiando e estimulando as comunidades a crescerem na fé. “Além de ser escultor de belas obras de arte que ficarão em nossa memória”.
Para eles, Frei Rubens ficou nove anos na comunidade, sempre prestando serviços “com amor e dedicação ao nosso povo”. “Já o Irmão Arlindo, quando chegou ficou um pouco assustado, mas rapidinho, com sua simplicidade e a fé fervorosa, conquistou o carinho e o respeito da comunidade”.
“Para nós, só resta agradecer de coração por tudo que fizeram por nossa comunidade, e podem ter certeza de que serão eternos em nossos corações. Ao Frei Gustavo Medella queremos dizer que sempre fomos muito bem representados por esta Ordem, apesar de há muito tempo ouvirmos que se falava de entregar esta Paróquia aos cuidados de outra Congregação. Parecia impossível, mas aconteceu. Certamente, estaremos com o sentimento de perda por um período de transição, mas aos poucos isso será superado com a nova equipe”, disse Joseane.
Pe. Ademir assume como novo pároco de Mangueirinha
Segundo ela, os frades foram e são responsáveis pelo desenvolvimento da fé cristã no município desde sua origem. “Aos freis, queremos agradecer e dizer ainda que nossas comunidades e casas estão sempre de portas abertas. Esperamos que levem as boas lembranças e retornem sempre que possível para nos visitar. A despedida é emocionante. É hora de olhar para trás e agradecer tudo que passamos juntos. É hora de valorizar todos os laços de amizade criados”, observou.
Falando ao Pe. Ademir, pediu paciência porque, certamente, muitas vezes serão chamados de freis. “Desejamos boas vindas e sei que serão bem recebidos em nossa comunidade, que é participativa nos desafios”, completou.
Alisson Tártaro, coordenador da liturgia da Paróquia, falou em nome das pastorais e movimentos. “Freis, vocês deixam saudades, mas tenho certeza que ficarão marcados em nossos corações”, disse.
Joseane, Jacó e Alisson falaram pela comunidade na Celebração
O Pe. Ademir agradeceu os frades pela acolhida nesses dias de transição. “Poderíamos resumir esse momento com o que o Pe. Zezinho canta: ‘No peito eu levo uma cruz e no coração aquilo que ensinou Jesus’. Que vocês possam, a cada dia, a cada momento, mostrar isso. No peito nós levamos a cruz, mas no nosso coração vamos guardar aquilo de bom que os freis ensinaram aqui em Mangueirinha. E nós, como comunidade, vamos aos poucos nos conhecendo e recordo aquilo que tenho falado nas missas: Nós vamos dar continuidade àquilo que está sendo vivido aqui. Não esperem que o Pe. Ademir, a partir de segunda-feira, mude tudo. Não. Nós vamos dar continuidade. Essa é a nossa missão. Dar continuidade ao belo trabalho que os freis iniciaram. Isso que vamos fazer como Padres do Sagrado Coração. Então, a nós, cabe o ‘arroz com feijão e talvez um ovo frito’ de viver a nossa vida e nossa fé. Muito obrigado, freis!”, agradeceu o novo pároco, pedindo a ajuda de cada paroquiano nesse trabalho evangelizador.
Frei Medella adiantou ao povo que Frei Arlindo passa a residir na cidade vizinha de Chopinzinho; Frei Rubens vai para Coronel Freitas e Frei Toni vai morar na Rocinha, no Rio de Janeiro. O Vigário Provincial, então, pediu aos três frades que se ajoelhassem diante do altar para receber a bênção de envio e convidou toda a assembleia para estender as mãos sobre eles. Pediu ao Definidor Frei Alexandre, em nome da Província, e ao Pe. Ademir, em nome daqueles que ficam na evangelização de Mangueirinha, para dar a bênção de envio. “Continuem sendo instrumentos da Paz e do Bem e levem, em seus corações, o povo de Mangueirinha”, pediu Frei Alexandre. A noite terminou com um jantar de confraternização no Salão Paroquial.
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