Adávio, o primeiro missionário leigo na Missão Franciscana de Angola
03/04/2008
Moacir Beggo
O próximo dia 15 de abril será histórico na vida do cearense Adávio Afonso Ribeiro e na caminhada da nova Fundação Franciscana Mãe de Deus de Angola. Aos 54 anos, o professo da Ordem Terceira Secular (OFS) será o primeiro leigo a ser enviado para este trabalho missionário da Província da Imaculada Conceição.
Sobram motivações para Adávio encarar este novo desafio em sua vida. “Sou uma pessoa que vivi em prol da minha família, em primeiro lugar. Sempre trabalhando para ajudá-la. Mas não é só a família que a gente precisa ajudar. Também precisamos ajudar nossos semelhantes. Quando me tornei voluntário, há 13 anos, no Serviço Franciscano de Solidariedade, o Sefras, fui trabalhar na Comunidade Missionária dos Sofredores de Rua. Aí foi uma grande experiência para mim neste serviço de voluntariado. E quando você começa a fazer algo que gosta, você quer ir sempre mais longe”, explica o cearense da região de Cariri.
O que deixa também Adávio muito à vontade para enfrentar o novo desafio é o fato de ter feito uma experiência de trabalho no Iraque, exatamente em 86, quando o país estava em guerra com o Irã. “A gente sempre ouve notícias sobre a África, que sofre e pede ajuda. Então, isso me motivou muito. Eu gosto de ajudar as pessoas. Isso está no meu sangue, porque ninguém vive sozinho neste mundo. É muito gratificante viver e ajudar nosso semelhante. Ninguém se salva sozinho e para você se salvar é preciso ajudar alguém a se salvar”, acrescenta.
Adávio diz que está consciente das dificuldades num país que está em reconstrução depois de uma guerra que vitimou pessoas em mais de duas décadas. “Se não estiver pronto, é melhor ficar aqui, que tem um clima mais ameno. Quando estive no Iraque, enfrentei temperaturas altas, clima de deserto, mas sei que o ser humano pode se adaptar em qualquer lugar. Além disso, nasci num lugar muito difícil, no Nordeste brasileiro. As coisas no Nordeste não são tão diferentes de Angola. O que tem de diferente foi a guerra, mas o clima, a pobreza e as carências de estrutura são as mesmas”, observa.
Para o novo missionário, outra experiência que fez em 2005 e 2006 foi durante as missões com os franciscanos da Província do Santíssimo Nome de Jesus, de Goiás. “As coisas lá também não são fáceis. O calor é muito grande, as pessoas são muito pobres. Eles sempre olham para você com uma esperança muito grande. Aquela esperança que os judeus tinham quando vinham até Jesus para libertá-los do jugo romano. Assim também eles olham para você, como se fosse um salvador, que vai levar comida e o que falta a eles. Não é bem isso que vamos levar. A gente vai tentar amenizar o fardo que carregam, na medida do possível, mesmo que seja com um palavra amiga e acolhedora.
Adávio fez a profissão na OFS em 2006 e conta que muito pesou para a sua decisão quando conheceu o Santuário de São Francisco das Chagas, em Canindé, no Ceará. “Só conheci este lugar depois que me aposentei”, conta. A partir daí e do trabalho no Sefras, Adávio se interessou mais pelos estudos do franciscanismo, que fez na OFS. É com essa espiritualidade que ele vai a Angola. “A gente tem de ser a presença de Deus naquele lugar. Estando ali, vivendo com eles, sofrendo e passando as mesmas dificuldades deles. Não vamos mudar a cultura deles. Nós temos um exemplo aqui, quando os primeiros franciscanos espanhóis vieram para o México e fizeram uma ação desastrosa, porque queriam mudar tudo e impor uma cultura européia para uma civilização indígena. A gente estuda isso e, como missionário, tira o exemplo: ‘Eu não posso cometer este mesmo erro!’ Como missionário, tenho de saber que estou lá para me inserir na cultura deles. Tenho que aprender com eles alguma coisa”, ensina.
A sede da Fundação Mãe de Deus fica em Luanda, no bairro de Palanka, mas há ainda as fraternidades de Viana, onde funciona o pós-noviciado; e duas fraternidades em Malange, onde funcionam o Aspirantado São Damião e o Postulantado no Seminário Monte Alverne. Adávio ainda não sabe qual será o seu destino no território da missão. “Eu não sei onde vou ficar e o que vou fazer. Vou ficar onde precisam e fazer o que precisam”, acrescentou, animado pelo fato de que vai para um país que fala a língua portuguesa.
QUASE DUAS DÉCADAS EM ANGOLA
No início da década de 90, diante do apelo do Papa João Paulo 2º para ajudar a África, um país “machucado”, como disse então, o Ministro Geral reforçou o pedido à Ordem dos Frades Menores e, em setembro de 1990, os primeiros franciscanos da Província da Imaculada chegavam a Angola para fundar a Missão. Foram tempos difíceis para esses missionários que sofreram e não abandonaram a missão durante a guerra.
A Missão de Angola foi elevada à condição de Fundação, com o nome de Imaculada Mãe de Deus, no dia 26 de maio de 1998. Hoje, a Fundação tem três fraternidades: São Francisco de Assis, a casa-mãe que fica em Palanka, e onde nasceu a Paróquia de São Lucas (2000); e a Porciúncula, que fica em Viana (pós-Noviciado), as duas em Luanda, na capital angolana. Em Malange – a 430 quilômetros da capital -, funciona o Aspirantado (aberto em 96) e o Postulantado (aberto em 97), no bairro de Katepa. Mas neste território da Missão, de 600 quilômetros para o Sul, há cerca de 600 aldeias.
Depois de 18 anos, a Missão tem um angolano professo solene e dois professos simples: Frei João Major Serrote, Frei António Boaventura Zovo Baza, e Frei Afonso Katchekele Quissongo.
Do Projeto Missionário da Província faz parte a integração com a 2ª Ordem das Irmãs Clarissas e Ordem Franciscana Secular (OFS), além das irmãs franciscanas de outras congregações.