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Frei Patton: Amar a terra de Jesus é parte essencial de ser franciscano

27/05/2019

Notícias

Os aromas, as cores e os sons típicos da Páscoa de Jerusalém chegam aos aposentos do complexo São Salvador, logo ao virar na esquina da Porta Nuova, onde reside o Custódio da Terra Santa. Frei Francesco Patton, 55 anos, franciscano originário de Trento, especialista em comunicações sociais, e há quase três anos o responsável da Custódia da Terra, aquele que coordena a presença dos “frades da corda” nos locais da vida terrena de Jesus de Nazaré.

A Custódia estende sua jurisdição para além das fronteiras da terra de Jesus (hoje Israel e Palestina), incluindo Jordânia, Egito, Chipre, Rodes, Líbano e a atormentada Síria: uma missão vasta e exigente.

É verdade, trata-se de uma enorme responsabilidade em relação as populações cristãs destas terras, em relação aos frades que ali se dedicam a ela e sobretudo em relação à Igreja universal, que nos confiou tal honra e esta responsabilidade. Confesso que quando, em 2016, me comunicaram esta missão inesperada, não dormi por algumas noites. Acompanhe a entrevista ao L’Osservatore Romano!

Em 2017, foram celebrados os oitocentos anos da presença franciscana na Terra Santa e, em 2019, o oitavo centenário do famoso encontro em Damietta entre São Francisco de Assis e o sultão Al-Malik Al-Kamil.

De fato, nossas origens remontam a 1217, quando o Capítulo Geral dos Frades Menores convocado pelo próprio Francisco, decidiu organizar a Ordem em Províncias e instituiu a chamada “Província do Ultramar”, precursora da Custódia, e que naquela época incluía em certa medida todas as margens orientais do Mediterrâneo. O primeiro grupo foi guiado pelo frade Elia Buonbarone da Cortona, uma figura empreendedora; alguns anos mais tarde o encontraremos amigo e conselheiro de Frederico II da Suábia. Mas o momento decisivo foi precisamente em 1219, quando Francisco, após a quinta Cruzada, partiu de Ancona para o Egito, onde os cruzados travavam uma dura batalha pela conquista de Damietta. E lá, indo contra o conselho da maioria, autorizado por sua conta e risco pelo legado pontifício, Francisco cruzou as linhas de combate e encontrou Al-Malik Al-Kamil.

Sabemos que o sultão ficou impressionado com a presença do pobre homem de Assis, a quem admirou por sua coragem, mas sobretudo por sua mansidão e vontade de dialogar.

Aquele encontro tem para nós um valor muito mais importante do que o mero fato histórico da hagiografia do Santo. Deixe-me dizer que nele está precisamente a quintessência da espiritualidade, e também da teologia franciscana. É a lógica do diálogo antes de tudo, do diálogo a qualquer custo, do diálogo fonte exclusiva da paz. Por essa razão, em fevereiro passado, fomos a Damietta e depois a Al-Azhar, para recordar o evento e encontrar as autoridades religiosas islâmicas. É uma fraternidade que é construída a partir de baixo, a partir das experiências da vida cotidiana. Não ignoramos, mas pressupomos as diferenças doutrinárias, e enfrentamos as dificuldades da vida que são as mesmas para todos. Assim, permanecemos no espírito de Damietta. Dou um exemplo: nossas escolas são frequentadas por muitos estudantes muçulmanos, em Jericó são 96%, mas para eles o estudo e a formação são o único instrumento de emancipação social, de educação à tolerância, de construção de uma cultura de paz; e nós não nos subtraímos em ajudá-los. Em Jerusalém, depois, há uma escola de música, o “Magnificat”, onde os professores e estudantes são judeus, cristãos e muçulmanos.

Depois do encontro com o sultão, os traços da viagem de Francisco se confundem. Ele nunca chegou a Jerusalém?

Nós não sabemos. De fato, não existe uma documentação de sua presença em Jerusalém, que permaneceu ocupada pelos muçulmanos até depois de sua morte. Porém há um detalhe importante que não deve ser subestimado. Quatro anos mais tarde, em 1223, Francisco organizou a celebração da Eucaristia em uma gruta de Greccio, reproduzindo a cena da Natividade e transformando uma manjedoura em um altar. O que sugeriria que Francisco tenha ficado impressionado e inspirado por uma recente visita a Belém, onde se celebra ao lado da manjedoura. E se esteve em Belém, nada impede que pensemos que tenha ido além, por mais oito quilômetros, ao norte de Jerusalém.

No decorrer desses oito séculos, a Custódia passou por muitos momentos críticos…

Abalos, passamos por muitos. Penso, por exemplo, na queda do reino latino em 1291 para São João do Acre, quando os frades foram forçados a fugir para Chipre, ou quando em 1551 fomos expulsos do Cenáculo (que havia sido a primeira sede da Custódia) e encontramos hospitalidade junto aos armênios. Mas pensemos também nos terremotos, frequentes na Terra Santa, ou nas epidemias de peste, no confrontos entre os otomanos e as potências europeias, na laboriosa definição do status quo na metade do século XIX. Por fim o século XX, quando passamos rapidamente da jurisdição jordaniana para a israelense. Em 1967, a linha verde da fronteira entre a Jerusalém israelense e a jordaniana, passou logo aqui abaixo, do lado de fora da janela do meu escritório. Ainda temos alguns frades idosos que nos conta da repentina mudança trazida pela Guerra dos Seis Dias. Foram momentos difíceis. Somente nos últimos meses foi limpa das minas a área circundante ao convento no local do batismo de Jesus, perto de Jericó, que havia sido precipitadamente abandonada naqueles dias. Nós o achamos intacto, como os frades o haviam deixado há meio século: na sacristia ainda havia o livro das Missas aberto na data do dia do abandono. Agora padre Sergey Loktionov, responsável de nosso departamento técnico, está trabalhando para que muito em breve volte a ser um convento vivo, de apoio aos peregrinos que visitam o local. Não que estes dias sejam os mais felizes: a situação das populações que vivem nos chamados territórios da Cisjordânia, cristãos e não cristãos, e daqueles que vivem em Gaza, preocupa-nos cada vez mais. Basta percorrer alguns quilômetros, em direção ao sul, em direção a Belém, além do muro, onde diariamente são vividas situações que não somente causam pobreza material, mas problemas psicológicos.

Patriarcado, Nunciatura, Custódia: são diferentes as competências. O que faz exatamente o custódio da Terra Santa?

A própria palavra diz: a missão principal que a Igreja universal nos confiou é a de custodias os lugares que viram a experiência humana de Jesus, e os santuários que ali foram construídos. Aquilo que o Papa São Paulo VI com uma feliz expressão chamou de “quinto Evangelho”. Mas não só: antes de custodiar os locais é preciso custodiar os custódios, isto é, os frades. Meu primeiro trabalho é o serviço de orientação, orientação e animação para os frades. Há cerca de trezentos deles, dos quais cerca da metade são aqueles que chamamos filhos da Custódia, enquanto a outra metade é composta de frades enviados por outras Províncias por períodos mais ou menos longos. A formação teológica realiza-se aqui no complexo conventual de São Salvador, enquanto a filosofia é estudada em Ein Karem, local de nascimento de João Batista. Mas nossa menina dos olhos é o Studium Biblicum Franciscanum, sediado no Convento da Flagelação. No mesmo local onde no último verão reabriu as portas o Museu da Custódia, dirigido pelo padre Eugenio Alliata, conhecido professor de arqueologia bíblica. Mas os frades da Custódia não são somente guardiões dos Santuários da Terra Santa, são também agentes pastorais, muitos são párocos. Pensemos, por exemplo, em nossos quinze frades na Síria e não esquecer de rezar por eles e por seu povo. Muitos são guias espirituais para numerosos peregrinos que a cada ano enchem nossas ruas. É uma realidade grande e complexa, a da Custódia: trezentos frades para mais de setenta santuários, um circuito de casas para a hospitalidade dos peregrinos (a “Casa Nova” em Jerusalém, Ein Karem, Belém, Nazaré), além de mil funcionários civis, escolas que recebem quase dez mil estudantes. Procuramos ativar em torno da peregrinação também um circuito econômico virtuoso, para que o peregrino, além de rezar e formar-se, possa contribuir para o apoio econômico das famílias cristãs locais, e não só. Esta forma de caridade é muito importante, porque junto com nossos objetivos, está a tentativa de evitar a diáspora dos cristãos da terra de Jesus. Para isso contamos com o apoio de todas as outras Igrejas do mundo: favoreçam as peregrinações. A Terra Santa ainda é segura e a experiência espiritual que é dada pela peregrinação transforma de forma decisiva nossa fé. Para mim, para meus frades, amar e viver a terra de Jesus é parte essencial e imprescindível de ser franciscano.

Filippo Morlacchi e Roberto Cetera – Vatican News