Tríduo: A harmonia das Filhas de Francisco
02/10/2014
Moacir Beggo
São Paulo (SP) – As religiosas franciscanas, de todas as congregações e Ordens, representaram a Família Franciscana no segundo dia do Tríduo da Festa de São Francisco de Assis, no Convento São Francisco, no Centro de São Paulo. No primeiro dia, foi o ramo masculino da Ordem Franciscana que abriu o Tríduo e amanhã, no encerramento, será a vez da Ordem Franciscana Secular, que participará da Missa das 15 horas, já que às 18 horas será feita a celebração do Trânsito de São Francisco, com encenação da morte do Seráfico Pai pela Juventude Franciscana.
O convite às irmãs de vida ativa e contemplativa partiu dos celebrantes Frei Alvaci Mendes da Luz e Frei Gustavo Medella. Neste segundo dia, o tema da liturgia abordou o cuidado com a criação e coube às Irmãs Franciscanas Concepcionistas, do Mosteiro de Piratininga, a homilia. Primeiro falou Ir. Francisca Letícia, que iniciou sua reflexão falando sobre a harmonia, que, como na música, existia no começo da criação.
“Ouvi alguém dizer que todo artista deixa um pouquinho de si na sua arte. E pelo pouco que eu conheço de arte, concordo com essa pessoa. Seja no campo da música, da pintura, da escultura, da literatura, ou qualquer outra forma de arte, o artista sempre deixa um pouquinho de si. Por isso, penso que devemos respeitar a natureza, os animais, as pessoas, e assim toda a criação, porque Deus é o artífice de todas as coisas. Então, em tudo que existe, que é criado, tem um pouco de Deus. Tem ali a sua partícula divina, o seu DNA, e uma grande quantidade de seu amor e de seu carinho. Pois tudo que Deus fez foi feito para coabitar em harmonia com o homem. Assim nos revela o começo da Sagrada Escritura lá nos primeiros capítulos do Gênesis. Lá podemos ver a harmonia”, disse Irmã Letícia.
A religiosa, citando a leitura da Carta de São Paulo aos Romanos, da liturgia de hoje, também mostrou o contrário: a desarmonia. “E diz ali que a criação geme ansiosa pela libertação dos filhos de Deus, para que ela também possa se libertar. Isso porque o homem teve a sua essência corrompida pelo pecado, tornando-se egoísta e insensível ao sofrimento do próximo ou dos animais, achando que o mundo e os animais não giram em torno do Sol, mas em torno de si mesmo”, lamentou.
Segundo a religiosa, o resultado de tudo isso é a falta de respeito e crueldade, muitas vezes, com a natureza e com o ser humano. “E as consequências são catastróficas. Isso deve nos levar a refletir, pois devemos cuidar da criação. Ser gratos a Deus que nos criou para o nosso bem. Ter conosco uma relação harmoniosa. O nosso Papa Francisco disse na homilia que marcou o início de seu Pontificado, no ano passado, que é preciso ter respeito por toda criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É preciso cuidar das pessoas, especialmente das crianças e dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. E isso é atitude de cristão”, destacou.
Ir. Letícia lembrou que Francisco teve uma relação plena de concordância e paz, de harmonia entre todas as criaturas. “Por isso chama cada um de irmão e irmã e acredito que esse seja, sinceramente, o sentimento da maioria das pessoas que estão aqui, já que somos filhos e filhas de Francisco. Então, o Papa faz um apelo a sermos guardiães dos dons de Deus”, recordou.
Segundo a Irmã, Francisco é um homem contemplativo, que vivia o céu aqui na terra. “Vivia em harmonia com tudo e com todos”, frisou, destacando também a harmonia entre Jesus Cristo e Francisco. Exemplo desta sintonia é a Oração Sacerdotal de Jesus (evangelho do dia), antes de ser condenado à morte, e o Cântico das Criaturas, composto por Francisco nos momentos finais de sua vida. “Jesus pede para que sejamos um e vivamos em harmonia com o Pai. Isso foi uma norma para Francisco. Em outras palavras, isso se chama fraternidade”, completou Ir. Letícia.
Já Ir. Maria Teresa lembrou que Francisco tinha também um amor profundo à maior das criaturas: à Mãe de Deus. “Ele tinha um amor reverente, profundo e até costumava a saudá-la como Senhora Santa, Santíssima, Virgem feita Igreja, Palácio do Senhor. Ele reconhecia essa escolha amorosa de Deus, aquela predestinada a ser a Mãe de seu Filho”, observou.
Ela ainda chamou a atenção para uma “admirável comunhão” entre Frades Menores e as Concepcionistas Franciscanas. “Maria é o ponto que nos une. Mas essa comunhão não é só na espiritualidade, ela vai além na solidariedade, na comunhão fraterna. Eles são realmente nossos irmãos muito solícitos. Quero aproveitar esta oportunidade para agradecer aos frades pelo convite e dizer que é uma alegria estar aqui com vocês, celebrar como família a Festa de São Francisco”, completou Ir. Teresa, referindo-se também ao fato que frades e irmãs têm em comum Maria Imaculada como Padroeira.
No final da celebração, Frei Gustavo Medella, falando da unidade segundo o Evangelho do dia, pediu que todos se abraçassem e cantassem “A gente pode ser muito mais feliz com Francisco de Assis”.