Sem Deus o mundo experimenta a morte
05/04/2018
Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo
Vila Velha (ES) – Este foi o centro da mensagem de Pe. José Pedro Luchi, pregador do quinto dia do Oitavário da Festa da Penha, nesta quinta-feira (5/04), no Campinho do Convento da Penha. “O contrário da vida é a violência, é a morte”, disse o sacerdote, fazendo um contraponto com a alegria deste tempo pascal. Mas foi o Pe. Evandro Sá Grilo, da Paróquia Bom Pastor de Nova Carapina, que presidiu a Celebração Eucarística, às 15 horas. Pe. José Pedro é da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
As duas Paróquias estão no município de Serra, que hoje, com o município de Fundão, foram responsáveis pela liturgia. Sacerdotes e fiéis romeiros desta região pastoral da Arquidiocese de Vitória foram acolhidos na casa da Mãe de Deus pelos Frades do Convento da Penha e da Província Franciscana da Imaculada Conceição.
“Sem Deus não existe a fundamentação para nos respeitarmos, para nos ajudarmos, olharmos uns aos outros como irmãos, iguais. Por que nós somos iguais? Quem falou que somos iguais, quem falou que todo mundo tem direito a existir? Foi Jesus que nos ensinou isso. Não era assim antes de Jesus. Nunca foi. E agora, ultimamente, tem alguém querendo dizer que não é. Mas Jesus nos ensinou que também nós somos todos filhos de Deus”, enfatizou, ressalvando, no entanto, que isso é um ideal a ser realizado, a ser concretizado. “Então, vamos viver essa vida nas nossas comunidades. Vamos testemunhar Jesus nessa Igreja em saída”, disse.
Para o Pe. José (foto acima), não existe outro caminho. “Nós temos que buscar juntos essa comunhão, onde todo mundo se sinta participante e respeitado. Esse é o maior dom que a Igreja pode fazer para a sociedade”, acrescentou. “Que hoje seja um dia de alegria, de renovação da nossa fé em Jesus vitorioso. De renovação no testemunho de Jesus, que é o Senhor, Aquele que Deus levantou dentre os mortos, no qual nós temos uma fonte de vida eterna. Seja hoje a renovação do nosso compromisso de formar comunidades, onde as pessoas se sintam em verdadeira comunhão fraterna, onde o amor e a caridade reinenm, onde nós tenhamos a alegria de viver e sermos articulados e convocados a crescer, realizando nossas capacidades. Não reprimidos, não subjugados, não servientes. Pelo contrário, cada um cresça, exerça seus dons, seus carismas e possa, sim, dar glória a Deus’, completou.
A CHEGADA DA IMAGEM AO CONVENTO
Frei Diego Atalino de Melo, animador do Serviço Vocacional da Província Franciscana da Imaculada Conceição, presidiu o Momento Devocional Franciscano e Mariano, que aconteceu antes da Celebração Eucarística. Frei Gustavo Medella, Frei Paulo Ferreira da Silva e músicos garantiram a animação com belos cantos. Este momento faz-se com cantos a Nossa Senhora; acolhimento do povo de Deus; súplicas pelos mistérios realizados a Maria, Mãe de Jesus, na devoção que Frei Pedro Palácios trazia consigo; recordação e consideração do primeiro Franciscano que chegou aqui (Frei Pedro Palácios); Ladainha de Nossa Senhora; orações e bênção.
Depois de recordar, ontem, a construção da primeira igrejinha no alto do Morro, hoje foi dia de lembrar a chegada da imagem da Penha e a coroação de Nossa Senhora.
“Olhar para uma imagem significa abrir os olhos da fé e vislumbrar uma outra realidade. Olhar para a imagem de Maria significa olhar para tudo aquilo que ela foi na sua vida. Significa olhar com os olhos da fé a maneira como ela encarou as dificuldades, os problemas os desafios, por isso que todos nós subimos no alto desse Convento e voltamos o nosso olhar para nossa mãe, porque ela nos ensina a olhar as coisas com os olhos de Jesus”, frisou Frei Diego (foto acima).
“E hoje nos a coroamos com essa bonita coroa de flores. De fato, ela é nossa Rainha e queremos fazer parte do Reino do seu Filho Jesus. Portanto, coroá-la significa fazer o reino de Deus acontecer em nosso meio. Um Reino de paz, reino de amor, reino de justiça, um Reino de diálogo, um reino de igualdade, um Reino, de fato, onde todos sejam respeitados. Hoje, então, olhando para a imagem de Nossa Senhora da Penha nós queremos renovar, mais uma vez, o desejo de olhar pra Ela e, por meio Dela, olhar a realidade que está a nossa volta. Que hoje, coroando esta imagem, nós possamos fazer parte deste Reino, o Reino de Deus, que Jesus durante a sua vida pregou, anunciou e fez acontecer em nosso meio”, pediu o frade.
OS ALERTAS DE FREI MEDELLA
Na Celebração Eucarística, às 9h30, na Capela do Convento da Penha, o Definidor da Província da Imaculada, Frei Gustavo Medella, partiu da reflexão das leituras bíblicas (At 3,11-16 e Lc 24,35-48) para pedir discernimento num momento conturbado, política e socialmente, que o país vive. Frei Medella teve como concelebrante Pe. Marcus Vinícius Moreira Falcão, pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Desterro de Quissamã (RJ), que estava acompanhando um grupo de romeiros.
Segundo o frade, essas leituras e toda a liturgia da Oitava da Páscoa, chama a atenção para três ações fundamentais da comunidade cristã ou de toda a comunidade de fé: narrar, recordar e discernir. “A primeira é a tarefa de narrar, contar o acontecido. Passar adiante, partilhar, colocar em comum. Essa experiência os discípulos de Emaús passam a fazer com os outros, contando, narrando o que tinha acontecido. Quando contamos uma história, nós passamos a fazer parte dela. É assim na tradição das famílias, é assim na história das pessoas e das instituições. É assim que cultivamos a chamada memória de uma família, de um povo. Algo muito importante, hoje ameaçada porque estamos delegando a função de guardar fatos importantes, no afeto, na mente e no coração, à máquina. Quantas fotos nós tiramos com o celular e que nunca foram reveladas? Se der um apagão no celular ou na nuvem onde estão os dados, vai-se embora a memória. Nós estamos terceirizando essa tarefa importante de guardar com carinho, primeiro no nosso coração e na nossa mente, fatos importantes que são narrados para ressignificar nossa vida”, explicou o frade.
Depois, segundo ele, a segunda tarefa é recordar, é trazer para o presente aquilo que foi vivido no passado. “Celebrar a Páscoa em cada Eucaristia não deixa de ser uma recordação. Recordar é trazer novamente a partir do coração”, explicou.
Interpretar e discernir é a terceira tarefa. “Estudar e olhar à luz do nosso tempo fatos que já ocorreram e que podem nos ensinar como renovar a nossa fé. Essa foi a tarefa de Pedro ao fazer aquele discurso e levar seus contemporâneos a discernir e interpretar quem tinha sido de fato Jesus Cristo. Essa foi a catequese que Jesus fez com seus discípulos também dando significado de tudo aquilo que ele viveu”, acrescentou.
Esse discernimento também é a grande tarefa dos brasileiros neste momento. “Precisamos tomar muito cuidado porque estamos profundamente feridos pelo drama da corrupção, pela violência, num cenário que quer nos roubar a esperança. E aí podemos cair na tentação de achar que um salvador da pátria vai fazer com que essa solução se resolva. Depende do esforço pessoal de cada um e do coletivo. A democracia é difícil de ser vivida. Ela desafia, ela chama a cada um à responsabilidade. Mas é a melhor maneira de podermos caminhar. Temos a liberdade de escolher aqueles que nos governam”, ponderou.
Para o frade, é muito bom esse ambiente onde podemos dizer o que pensamos. “É preciso ter a maturidade para ouvir e aceitar a visão de quem tem ideias diferentes, não considerando o outro como inimigo por pensar diferente, mas percebendo que o sonho de construir um país melhor é de todos”, ensinou. “Vamos tomar muito cuidado para não reforçar o discurso de ódio e de exclusão, de solução fácil, de governos complexos, de entregar nosso poder de decisão a um suposto salvador da pátria e depois vamos pagar um preço muito alto por isso”, pediu Frei Medella, ressalvando que não defende nenhuma vertente política ou ideológica, mas o direito de pensar e buscar o melhor. “Cada um dando a sua opinião e respeitando a todos, discernindo juntos o que significa atualizar para o nosso tempo a realidade da Páscoa, que é uma realidade de esperança, de justiça, de paz e de ressurreição”, completou.
APRESENTAÇÃO DA ORQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
A Orquestra Sinfônica do Estado do Espírito Santo (Oses) fez uma apresentação especial dentro das celebrações da Festa da Penha, em Vila Velha-ES, na noite deste dia 05 de abril, às 19h30, no Santuário Divino Espírito Santo. A Igreja ficou lotada para prestigiar as nove belas composições de Ave Marias, escritas por grandes compositores nos últimos séculos.
Segundo o maestro titular da Oses, Helder Trefzger, que também assina os arranjos musicais, a noite contou com uma compilação rica de obras atemporais. “Ouvimos canções de diversos períodos, desde a Renascença, com uma peça do espanhol de Tomás Luis de Victória e outra do holandês Jakob Arcadelt, até mesmo do período romântico, com as composições mais conhecidas de Schubert, Fauré e Gounod”. Também foram apresentadas duas obras brasileiras, a “Ave Maria no Morro”, de Herivelto Martins e a “Ave Maria Brasileira”, de Vicente Paiva, “duas joias da nossa música”, completou ele.
A apresentação teve início com uma obra do compositor russo Rimsky-Korsakov, intitulada “A Grande Páscoa Russa”, que é uma abertura sobre temas da igreja russa para grande orquestra, composta entre 1887 e 1888. Participaram desta canção, além de todos os instrumentistas, a consagrada solista e cantora lírica Natércia Lopes e a jovem soprano Rosiane Queiroz.
Segundo Frei Clarêncio Neotti, nunca antes o Santuário ficou tão cheio em apresentações de orquestras. “Nem quando tivemos aqui a orquestra estrangeira ficou assim”, afirmou o frade que reside no Santuário do Divino Espírito Santo de Vila Velha.
SHOW FRANCISCANO À NOITE
O sexto dia de celebrações durante o Oitavário da Festa da Penha começa bem cedo, com Missas na Capela do Convento são às 6h00, 7h000 e 9h30. Às 14 horas, a Romaria dos Militares sai do portão do Morro e chega no início do Momento Devocional Franciscano e Mariano, às 14h30. A Santa Missa, que será coordenada pela área pastoral de Vitória, começa às 15 horas.
Frei Florival Mariano, Frei Paulo César Ferreira (foto acima) e Frei Leandro Santos prometem surpresas no show franciscano no Campinho, às 19h30.