A Festa de Nossa Senhora da Penha, uma das maiores celebrações marianas do país cresceu ainda mais em 2024. Oficialmente, os festejos começaram no dia 30 de março, com a instalação do terço gigante e o acendimento de 3 imagens iluminadas. Como em resposta a um chamado, os devotos capixabas intensificaram a presença no Convento da Penha, em Vila Velha, para acompanhar o Oitavário em louvor a padroeira do estado do Espírito Santo. 

As mulheres eram maioria nas celebrações realizadas no Campinho do Convento e muitas chegavam cedo para garantir um bom lugar próximo a imagem da santa de devoção. Na hora do almoço o local era ocupado pelo cheiro das marmitas que subiam com os entregadores levados pelas vans, ladeira acima.

E falando em transporte, os motoristas Durval e Tião perderam a conta de quantas viagens fizeram durante o Oitavário para levar os fiéis. Em diversos momentos o veículo mais parecia uma sala de encontros, na qual os devotos partilhavam os motivos da ida ao Convento da Penha e, ao descer no Campinho aquele pequeno grupo se unia aos demais para louvar a Virgem Maria. Sem reclamar e movidos pela oração, muitos também subiram a ladeira da Penha a pé. Quanto mais próximo ficava o dia da santa padroeira, maiores eram as manifestações de fé. Para o povo, a palavra desânimo foi riscada do dicionário e, no lugar dela entraram outras três: amor, fé e tradição.

Você pode se perguntar… Mas, por que falar dos devotos nesse momento? A resposta é simples e clara: Sem os devotos de Nossa Senhora das Alegrias, a Santa da Penha, a festa perderia sua força. No entanto, a presença da espiritualidade e do carisma franciscano inconfundível, ficou ainda mais expressivo com a presença de 15 frades vindos de diferentes regiões.  De acordo com o Guardião do Convento, Frei Djalmo Fuck, a 454ª Festa da Penha cresceu muito nos últimos anos, em organização e em números. “Este ano, de acordo com a polícia militar, 2 milhões e 700 mil pessoas participaram dos festejos nos 9 dias de celebração”.

A cada dia do momento devocional um trecho da música “ Pelas estradas da vida”, que serviu de inspiração para o tema deste ano: “Ó, vem conosco, vem caminhar”, foi tema das reflexões feitas pelos frades franciscanos. Ao final os frades abençoavam objetos que representassem algo impactante na vida das pessoas como ferramentas de trabalho, velas, água, terço e flores, sempre com a animação do Frei Gabriel Dellandrea e Frei Felipe Medeiros Carretta.

Romarias

Em um movimento da Igreja em saída, num ambiente de vivência sinodal, as romarias mobilizaram milhares de fiéis, que romperam obstáculos e caminharam até os braços de Nossa Senhora da Penha. “A Romaria dos Homens, bateu todos os recordes chegando a 1 milhão e 200 mil pessoas. Foi a primeira vez que a romaria demorou uma hora a mais para chegar no Parque da Prainha, local que passou a ser o espaço principal das atividades religiosas e culturais nos últimos dias do evento. Normalmente chegávamos às 23 horas, e este ano a chegada ocorreu próxima das 24 horas. Isso é um reflexo de quanto a festa cresceu”, salientou o guardião.

 

A Romaria das Mulheres também movimentou as ruas de Vila Velha (ES). De acordo com dados extraoficiais, cerca de 5 mil pessoas percorreram o trajeto até o Parque da Prainha. Assim também a Romaria do Militares e da Diocese de Colatina lotaram o Campinho do Convento. Num clima de devoção e mais esportivo, a “Remaria” saiu da praia do Ribeiro e seguiu até a praia Costa, com uma bênção especial do Frei Pedro Engel, de 87 anos, o mais antigo morador do convento.

A festa da Penha também foi inclusiva com a Romaria das Pessoas com Deficiência. Centenas de pessoas saíram da Praça Duque de Caxias e participaram de uma missa campal na Igreja do Rosário. Foi um momento marcante e de grande emoção. A Romaria dos Adolescentes também coloriu a ladeira da Penha e alegrou ainda mais a festa, assim como a Romaria dos Conguistas, que evidenciou que a Casa da Mãe das Alegrias é um espaço de acolhida de todos os seus filhos e filhas.

Um dos momentos fortes e surpreendentes foi a Vigília dos Jovens, no Campinho do Convento. Foram mais de 5 mil participantes, que das 21h às 5h da manhã cantaram, rezaram e confirmaram sua fé em Deus e em Nossa Senhora.

“Somos gratos à Província Franciscana da Imaculada da Conceição do Brasil que tem enviado frades nossos, e isso tem colaborado para a festa acontecer. Sonho que a província possa ainda mais se apropriar desta festa que é uma das maiores do Brasil e a maior que a nossa província tem em todo o seu território”, disse Frei Djalmo.

Dia de Nossa Senhora da Penha

“Maria, ensina-nos a viver a comunhão e participação” foi o tema da Missa de Encerramento da 454ª edição da Festa da Penha, realizada em campo aberto na Prainha, em Vila Velha, no final da tarde desta segunda-feira (8), dia dedicado à padroeira do Espírito Santo.

A imagem de Nossa Senhora da Penha foi levada até o altar por integrantes da escola Aprendizes Marinheiros (Eames). Uma multidão lotou o Parque da Prainha para acompanhar a missa e ouvir a mensagem de Dom Dario Campos, Arcebispo de Vitória.

O Evangelho de Lucas foi a base da homilia, no qual o Arcebispo de Vitória, Dom Frei Dario Campos,  repetidamente lembrou que a misericórdia de Deus é imensa e dura para sempre. Cabe aos cristãos propagar essa maravilha, principalmente aos que sofrem.

Dom Dario iniciou a homilia lembrando a enchente que assolou 13 cidades do sul do Espírito Santo, e pediu uma oração pelas pessoas que morreram, bem como pelos que ainda estão sofrendo as consequências da enchente. Lembrou a corrente de solidariedade que se formou para socorrer os municípios, que uniu o poder público e a sociedade civil.

Com a multidão, ele rezou uma Ave-Maria pelas vítimas pedindo a intercessão de Nossa Senhora. “A disposição de Maria em servir deve nos inspirar para que assumamos a nossa missão batismal, “de anunciar a todos e todas a bondade, as maravilhas e o cuidado do Senhor, sobretudo, dirigido aos pequenos e empobrecidos”, ressaltou o Arcebispo. 

O governador Renato Casagrande participou da Missa de Encerramento com a primeira-dama, dona Virgínia. Também presente o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, vereadores e diversas autoridades. O Arcebispo agradeceu ao poder público pelo espaço na Prainha, onde a missa estava sendo realizada.

A exemplo de edições anteriores, Dom Dario concedeu a palavra aos bispos que participaram da festa. Frei Djalmo Fuck, Guardião do Convento da Penha lembrou o Salmo 118:  “Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”. Ressaltou que este dia foi preparado pelo Senhor ressuscitado. 

“O Convento da Penha, a Associação dos Amigos do Convento da Penha e a Mitra Arquidiocesana de Vitória prepararam a festa. Muito antes, entretanto, o evento foi preparado por Deus e por Nossa Senhora. A Festa da Penha é muito mais do que vimos e ouvimos, do que tocamos. Ela acontece dentro do coração de cada um de vocês aqui presentes, uma emoção que vai além do que podemos explicar. Uma Festa que tem 454 anos, definitivamente, não é feita por nós, mas toma a todos nós”, disse.

O Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, destacou o crescimento da festa e a grande adesão dos devotos nas atividades religiosas. “A impressão que tenho é que toda aquela expectativa pós-pandemia, de uma retomada parece se consolidar a partir deste ano de 2024”. 

Ele também falou do profissionalismo das equipes envolvidas, e disse ter ficado contente com a presença frades. “É uma participação fundamental, tendo em vista que a vida e a espiritualidade franciscana estão ligadas à devoção que faz parte da identidade do povo do estado do Espírito Santo. Foi graças a um franciscano, Frei Pedro Palácios, que a devoção à Nossa Senhora das Alegrias da Penha se instalou nesse lugar”, explicou.

“Fica para toda a província franciscana cada vez mais clara e translúcida a certeza de que a Festa da Penha é nossa, que demanda o nosso envolvimento, o nosso carinho e, principalmente, o nosso amor. Todo frade da nossa Província da Imaculada Conceição do Brasil deve se programar e se propor a fazer, no mínimo uma vez, a experiência de viver a Festa da Penha. Quanto mais vezes, melhor. Mas, é algo que deve estar presente em nosso itinerário formativo, nas nossas frentes de evangelização, em todas as nossas expressões franciscanas”. Segundo ele, a presença, o conhecimento e o amor dos frades devem crescer nessa direção, dada à grandiosidade e o significado dessa Festa.

A Festa da Penha começou no domingo, 31 de março, reunindo milhares de devotos de diversos pontos do Espírito Santo e de outros estados do Brasil. Durante os nove dias, mais de 50 missas foram celebradas e 11 romarias foram realizadas. A atração cultural do encerramento dos festejos foi o show do cantor Michel Teló.

---

Texto: Adriana Rabelo com colaboração de Jaqueline Vianna – Fotos: Adriana Rodrigues e Frei Augusto Luiz Gabriel