Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Romaria dos homens e das famílias: encontro com Deus e Maria

07/04/2024

Notícias

Tem alguém cansado aqui? Nãooo! Tem alguém cansado aqui? Nãooo! Tudo com Jesus, sempre com Maria!  Como um coro incansável de Nossa Senhora da Penha os devotos percorreram os 14 quilômetros da Romaria dos Homens, considerado um dos momentos marcantes dos festejos.  São homens, mulheres, idosos, jovens e crianças, cantando e festejando a santa padroeira. O mais impressionante de observar é o quanto a força da fé do povo é capaz de superar os obstáculos do cansaço, dos pés doloridos devido as passadas muitas vezes aceleradas. Assim como a cera das velas acesas derretidas que escorriam pelas mãos de muitos, nada impediu, nem comprometeu o trajeto.

A concentração dos caminhantes foi na Catedral de Vitória, neste sábado, às 19h, com uma missa de envio celebrada pelo bispo auxiliar Dom Andherson Franklin Lustoza. “Não se calem, anunciem Jesus”, pediu o celebrante. Naquele momento já era possível observar a vontade do povo de seguir em frente. Era comum perceber os olhos lacrimejados e aquele sorriso ansioso de quem quer andar, quer caminhar para fortalecer o encontro com Deus.

Antes da romaria sair foram feitos os últimos ajustes da equipe organizadora da atividade. Era uma mistura de satisfação e, ao mesmo tempo preocupação, pois era possível observar o tamanho da responsabilidade diante de uma multidão que no trajeto só crescia, chegando a quase uma milhão de pessoas, de acordo com dados extraoficiais.

Voluntário em ação

Há 16 anos, Antônio César de Andrade organiza, como voluntário, a Romaria dos Homens, e aí de quem falar que é a Romaria da Famílias.  Ele é taxativo quando diz que o nome é uma tradição de 66 anos, que não deveria ser mudada. No entanto, apesar do nome a caminhada reúne muitas famílias. “São 12 pessoas envolvidas na organização da romaria. Desde de menino sempre participei dessa romaria. Lembro que eu fazia a Romaria dos Homens dentro de uma Kombi, com alto falantes, e ainda não conhecia o meu propósito com esse movimento e com Nossa Senhora da Penha. Comecei com essa romaria com um puxão de orelha de Nossa Senhora, quando ela me chamou e eu comecei. Isso aconteceu dentro do meu coração, é algo muito particular”, comentou.

E por falar no trabalho voluntário, de acordo com o Frei Djalmo Fuck, guardião do convento, são aproximadamente mil pessoas que doam tempo e trabalho para Nossa Senhora da Penha. São diferentes grupos que atuam desde o projeto dos festejos de cada ano, liturgia, camisetas, comunicação, decoração, até a responsabilidade com a imagem da santa protetora. Um deles é o senhor João Pinto Barreto, 64 anos, responsável pelo “Penhamóvel”, como é carinhosamente chamado o carro que carrega a imagem de Nossa Senhora da Penha durante as grandes romarias, como a dos Homens. “ Eu acompanho a romaria há 44 anos, e tinha 19 anos quando comecei. Para mim é uma grande alegria cuidar do carro que carrega a Santa da Penha. Ano que vem, vou deixar o “Penhamóvel” ainda mais bonito. Tudo começou quando sofri dois acidentes graves, pedi cem por cento de saúde para a nossa Mãe da Penha e ela me deu. Por isso estou aqui”.

Com os olhos brilhando Verônica da Silva Laranja, de 45 anos, diz que é voluntária há 3 anos, e começou motivada pelo marido Douglas, que também se dedica voluntariamente cuidando da iluminação do andor e de espaços da festa. “ No convento estamos perto da Mãe da Penha e isso é maravilhoso”.

Leonides Maria Miguel Alvea é voluntária há 16 anos. Aos 61 anos, a devota afirma que é “ grandioso estar a serviço de Deus e do Pai. “ Vinha na festa com meu pai, e foi com ele que aprendi a ser devota de Nossa Senhora da Penha. Ele faleceu ano passado, aos 104 anos, e vou continuar fazendo essa caminhada e trabalhando para a Mãe das Alegrias”, afirmou.

Durante a caminhada é nítido o quanto a devoção a Mãe das Alegrias está presente nas famílias. É fácil encontrar três gerações juntas caminhando. Avós, filhos e netos unidos na missão de cumprir o trajeto da caminhada e no propósito de agradecer as graças alcançadas por intercessão da mãe de Deus.

Com o filho nos ombros, alegria estampada no rosto e amor no coração, Zeliana Ferroreti Feu, disse que participa na Romaria dos Homens há 12 anos. “Este ano está sendo ainda mais especial porque foi nos pés de Nossa Senhora da Penha que eu pedi a vinda do meu filho e ela me mandou. Ele acabou de fazer 1 ano de vida e estou aqui para agradecer por essa graça alcançada”, contou emocionada.

Hudson Borza Moreira Cruz participou da romaria pela primeira vez junto com a esposa Katiane Martins, e disse que daqui para frente não vai mais parar. “ Está sendo uma experiência surreal. Quando era pequeno assistia passar, e agora estou vivendo isso”, afirmou.

“Esse momento é muito especial para mim, tanto que difícil para eu descrever. Sinto Deus em meu coração, pois sempre pedi a Deus para me manter assim. Só tenho a agradecer pelas minhas conquistas”, disse José Reis, que há 3 anos participa da Romaria dos Homens.

O trajeto tinha trechos mais amplos nos quais os devotos conseguiam ficar mais livres para caminhar. Em outros momentos era como se as ruas formassem um funil, mas, tudo fluía com tranquilidade e harmonia, pois havia uma comunhão, um encontro, uma amizade social.

Santa Missa

Depois de 4 horas e meia, e já perto da meia noite, os caminhantes da Romaria dos Homens foram acolhidos no Parque da Prainha, em Vila Velha (ES), para uma Santa Missa celebrada por Dom Frei Dario Campos (OFM), Arcebispo de Vitória. Ele destacou em sua homilia a importância de todos se unirem para propagar o Evangelho e anunciar a Boa Nova.

“Em um mundo ainda tão marcado pela violência, pela fome e pela exclusão, aqueles que assumem com alegria sua missão como batizados são como sinais claros do Reino de Deus no coração da sociedade. Nesta semana em que celebramos a oitava da Páscoa, e nela as grandes alegrias de Nossa Senhora, todos nos tornamos peregrinos, romeiros rumo à Casa da Mãe, na qual nos encontramos com o filho amado do pai”, disse o Arcebispo.

Ele destacou também o tema dessa edição da Festa da Penha é “Ó, vem conosco, vem caminhar”. “Com este tema, nós compreendemos, nos sentimos parte dessa igreja peregrina. Não estamos sozinhos, estamos com Maria, que nos ensina a fazer a vontade de seu filho, Jesus de Nazaré.

Dom Dario ressaltou que no Evangelho Jesus apresenta a sua vontade e pede aos discípulos que anunciem esse Evangelho, essa vontade, para todo o mundo. Ao voltar para o Pai, Jesus confiou a toda a Igreja a missão de anunciar o Evangelho. “Cabe a cada um de nós hoje, em 2024, como seguidores de Jesus de Nazaré, sermos testemunhas”, ressaltou

O arcebispo acrescentou que “foi o próprio Senhor quem nos convidou a fazer o caminho da Romaria dos Homens, por intermédio de nosso amor e devoção a sua querida mãe, Nossa Senhora da Penha”. Também recordou que muitas histórias de intercessão, de súplicas e pedidos atendidos acompanham a Romaria dos Homens. Muitos são os relatos de momentos em que Maria socorre seus filhos.

“A romaria, os passos dados, as orações, os cânticos, as preces, não foram em vão. Chegaram até o coração de Jesus, chegaram pelas mãos amorosas de sua Mãe, a Virgem Maria”. Dom Dario rezou para que essa intercessão da Virgem Maria acompanhe sempre a todos, para que possamos assumir com alegria a missão que o Senhor nos confiou no batismo.

Ao final Dom Dario colocou no Altar os “nossos irmãos do sul do estado”, recordando a enchente ocorrida no final de março, que devastou as cidades de Mimoso do Sul e Apiacá. “Queremos prestar nossa solidariedade, e oferecer a nossa oração. Que a Virgem da Penha acolha os irmãos”.  Após o pedido presidente da celebração, os devotos acenderam a lanterna dos celulares e cantaram um trecho da música “Com minha mãe estarei”.

Romaria dos Homens:

A primeira edição da Romaria dos Homens foi em 1955, por decisão do então Bispo do Espírito Santo, Dom José Joaquim Gonçalves. A intenção era incentivar os homens a participar dos festejos. Três anos depois, o então arcebispo de Vitória, Dom João Batista da Mota e Albuquerque, mudou o trajeto da romaria, que passou a ter 14 km, e transferiu para a noite.

Nos primeiros anos, o andor era carregado pelos fiéis. Nos anos 1970 foi criado o “Penhamóvel”. Até 2002, os romeiros subiam até o Convento da Penha, e a imagem de Nossa Senhora era levada até o altar. A partir de 2002, a missa de encerramento passou a acontecer na Prainha de Vila Velha, como é até hoje.

Houve um tempo em que as mulheres podiam acompanhar a procissão, mas somente os homens podiam subir até o convento para participar da missa. O costume entrou em desuso a partir da intervenção de Dom João Batista da Mota e Albuquerque, que pedia mais respeito às mulheres. Em 69 anos, a romaria deixou de ser realizada três vezes. A pandemia impediu a realização da Romaria dos Homens em 2020 e 2021.

Sobre a Festa da Penha

A Festa da Penha A Festa da Penha é a principal festa religiosa do Espírito Santo e a 3ª maior festa mariana do Brasil. O evento tem 454 anos de tradição, e na edição de 2024 traz como tema: “Ó, vem conosco, vem caminhar”. Está entre os maiores e mais antigos eventos religiosos do Brasil, de grande relevância na identidade e na cultura do povo capixaba.

É uma realização da Mitra Arquidiocesana de Vitória, Convento da Penha e Associação dos Amigos do Convento da Penha, e correalização da Prefeitura de Vila Velha. O evento é viabilizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LICC), da Secretaria de Estado da Cultura.


Adriana Rabelo e Frei Augusto Luiz Gabriel (fotos – destaque e missa)