Santuário São Francisco relembra momentos da vida de Dom Evaristo Arns
04/09/2017
Ana Machado (texto e fotos)
São Paulo (SP) – A roda de cadeiras dispostas no Salão São Dâmaso, no Santuário São Francisco, foi ficando maior conforme o relógio se aproximava das 16h30, horário marcado para iniciar uma das atividades propostas para setembro, mês em que essa grande casa franciscana completa 370 anos. O formato circular tinha um propósito: tornar o ambiente acolhedor o suficiente para que fosse um encontro entre amigos.
E assim foi. No sábado (02), um dia após a abertura da exposição fotográfica que homenageia o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, pessoas que conviveram com ele se dispuseram a contar, numa roda de conversa, um pouco mais sobre sua trajetória junto aos mais necessitados, o que lhe rendeu o apelido de “cardeal dos pobres”, e também sobre sua forte atuação pelos direitos humanos, especialmente no período da ditadura.
Ao todo, quase 50 pessoas participaram do encontro, entre eles: Paulo Petrini, coordenador da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo; Maria Célia Rossi, militante do Movimento Popular de Saúde; Padre João Drexel, missionário oblato de Maria Imaculada; Irmã Maria José Mendes, provincial das Irmãs Franciscanas da Ação Pastoral; e Belisário dos Santos Junior, membro da Comissão de Justiça e Paz.
Depoimentos emocionados
Logo no início, o pároco e reitor do Santuário São Francisco, Frei Alvaci Mendes da Luz (OFM), agradeceu a presença de todos e lembrou o fato de que Dom Paulo tinha formação franciscana e, por isso, não havia melhor lugar para lembrá-lo do que na casa franciscana mais antiga de São Paulo. “É uma feliz coincidência que estejamos celebrando o aniversário de 370 anos e, como parte disso, relembrando também a história de Dom Paulo, que sempre teve muito carinho por esse espaço e nunca esqueceu suas origens franciscanas”, comentou Frei Alvaci.
Pouco a pouco, cada um dos amigos de Dom Paulo começou a se pronunciar. Lembraram de como o conheceram pessoalmente, dos episódios mais marcantes que tiveram com ele, bem como destacaram alguns grandes momentos de sua trajetória religiosa.
O advogado Belisário dos Santos Júnior, por exemplo, que conduziu a defesa de diversos presos políticos durante a ditadura, enfatizou a influência positiva de Dom Paulo na intermediação de conflitos com os militares. Para exemplificar, citou uma visita do religioso ao Paraguai. “Ele pediu a liberdade de militantes que estavam presos em Assunção e o exército o atendeu”, contou Belisário. “Depois disso, costumávamos brincar que ele era o ‘cardeal habeas corpus’, pois soltava presos até no Paraguai”, relembrou.
Outro depoimento que chamou a atenção foi do jornalista Ricardo Carvalho, que se mostrou contente ao ver um grupo de adolescentes presente no encontro. “É muito bom ver rostos jovens num encontro como esse, pois estamos reunidos para falar do passado, mas também pensando no futuro”, ressaltou. Conhecedor da vida de Dom Paulo, Carvalho presenteou os dois adolescentes mais novos do grupo com o livro “O cardeal e o repórter”, obra que conta histórias que o jornalista viveu com ele. Além disso, adiantou que está produzindo um documentário chamado “Esperança: as muitas vidas de Dom Paulo”, previsto para estrear ainda no final deste ano.
Os caminhos de Dom Evaristo Arns em São Paulo
Ainda como forma de homenagear o cardeal que se tornou símbolo da luta por justiça social e resistência à opressão política, o Santuário São Francisco sedia até o dia 4 de outubro a exposição fotográfica “Os caminhos de Dom Evaristo Arns em São Paulo”, que reúne mais de 90 fotografias, feitas entre 1980 e 2016. As imagens, registradas pelo fotógrafo Douglas Mansur, retratam momentos importantes da Igreja Católica sob a ótica humana de Dom Paulo, falecido no ano passado.
Saiba mais: http://santuariosaofrancisco.com.br/