Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Santo Amaro: “Isso tudo é coisa do Divino”

21/05/2018

Notícias

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Festa em Santo Amaro da Imperatriz reúne cultura, história e fé em homenagem à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

Frei Gustavo Medella

Santo Amaro da Imperatriz (SC) – Além da presença diversificada em suas cinco frentes de evangelização, a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, cuja missão evangelizadora se dá em um território de manifesta diversidade humana e cultural, tem o privilégio de dialogar com diferentes tradições de fé e cultura. E ainda mais, em muitos casos, suas fraternidades têm a missão de serem guardiãs de tradições que remontam às origens da formação e do desenvolvimento do povo brasileiro. A Província, como fruto deste temperado caldo cultural produzido em terras tupiniquins, ao modo do visionário Santo de Assis, possui o compromisso de incentivar e promover este diálogo entre passado e presente, a fim de que sejam lançadas luzes de esperança sobre o futuro,.

es_210518_2Na esteira destas importantes e ricas tradições, caminha a Festa do Divino Espírito Santo, em Santo Amaro da Imperatriz, pequeno município catarinense da Região da Grande Florianópolis. Neste ano, a festa alcançou sua 164ª edição. Em meio a uma infinidade de preparativos, dos grandes planejamentos logísticos aos mais precisos detalhes, caminha uma fraternidade franciscana, com a tarefa de levar cada parte envolvida neste complexo de preparativos a enxergar em tudo a presença do “Divino”. Diante de belas pompas e liturgias, cabe aos “filhos” de São Francisco manter presente na mente e no coração do povo a certeza de que a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo, é o grande e verdadeiro “dono da festa”. Atualmente, a Fraternidade de Santo Amaro é composta por Frei Nilton Decker, guardião e vigário paroquial, Frei Daniel Dellandrea, pároco; Frei José Boeing, vigário paroquial e o jovem Frei Flavio Malta de Souza, monge beneditino em período de discernimento vocacional com expectativa de abraçar em definitivo a vida franciscana.

Desde o “sim” generoso da família dos festeiros de cada ano, que assume o exigente papel da “Família Imperial”, à dedicação de cada envolvido nos diferentes setores (organização, bebidas, cozinha, confeitaria, caixa, ornamentação, liturgia, shows e apresentações, trajes e figurinos), a grande maioria trabalhando voluntariamente, a Festa do Divino converge mentes e corações no único propósito de celebrar a presença viva e transformadora de Deus-Espirito Santo no seio de seu povo. A Festa é aberta no Domingo da Páscoa quando, após a missa, as bandeiras são abençoadas e enviadas para sua peregrinação nas muitas casas que vão recebê-las nos 50 dias que vêm a seguir.

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O percurso da bandeira pelas casas nas novenas populares

es_210518_9As bandeiras, presas a um mastro com uma pomba entalhada em madeira policromada em seu topo, têm um vermelho vivo capaz de impressionar os olhos e acender no coração de quem as contempla, a chama da fé. São conduzidas de casa em casa pelos chamados “procuradores da bandeira”, que as levam entre as casas dos fiéis para a reza da novena popular, marcada pela piedade e pela tradicional cantoria. Esta cena do Divino que visita e adentra a morada de seus amados está presente no imaginário do povo católico da região desde a primeira idade. Num concurso de desenho realizado entre os alunos das escolas da rede de educação do Município, a pequena Djenifer Silva da Silveira (foto ao lado), da Escola Municipal Vila Santana, apresentou na singeleza de seus traços coloridos esta cena que transborda religiosidade e ternura.

Além da pomba no cimo, o mastro traz também um sem-número e fitas multicoloridas que representam os dons do Espírito Santo e também os pedidos e agradecimentos dos fiéis que se reúnem nas casas para rezar. Quem toca na bandeira do Divino deixa um pouco de si e leva consigo a presença de Deus que se faz companheiro de caminhada junto com os seus.

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A Família Imperial

A ligação entre a Devoção ao Divino Espírito Santo e a recordação da tradição monárquica remonta à Europa Medieval quando a Rainha Isabel (1271-1336), Santa Isabel de Portugal, terceira franciscana e esposa do Rei Diniz, consagrou o País ao Espírito Santo pedindo a paz no contexto belicoso que marcava aquela época. Sua iniciativa contou com a adesão especial dos pobres e também de alguns religiosos daquele tempo. Ela também se destaca pelo amor as pobres e pela disposição em servi-los. Esta devoção chegou ao litoral de Santa Catarina trazida pelos colonos açorianos em 1748 e, em 1854, instalou-se em Santo Amaro.

Rememorando este dado histórico, religioso e cultural, cada ano são eleitos os festeiros, normalmente um casal que, juntos com filhos, netos e outros convidados formam a corte que desfila solenemente pelas ruas santamarenses e participam em lugar de destaque das celebrações litúrgicas. Usam roupas de época especialmente preparadas para a ocasião, proporcionando uma verdadeira viagem no tempo rumo ao passado. Neste ano, os festeiros são o casal Afonso e Aléria, da Família Kuhnen e Vieira, do Município de Águas Mornas, também pertencente à Paróquia de Santo Amaro. Eles são responsáveis pela confecção dos trajes da corte e pela ornamentação do Salão Imperial, onde a corte se coloca depois das celebrações. Ser festeiro é um gesto de generosidade e coragem diante da responsabilidade que se assume perante toda a comunidade de fé.

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Celebrações intensas

Além da Novena Preparatória, o fim de semana da Festa é muito movimentado em termos litúrgicos pastorais. São, desde a noite do sábado até a manhã de segunda-feira ( feriado municipal), quatro celebrações eucarísticas solenes, com direito a cortejo da Família Imperial e dos concelebrantes. A Igreja, decorada com flores vermelhas e representações de Pombas que parecem flutuar, exala a atmosfera do “Divino” e recebe, em cada missa, grande número de fiéis. Em cada celebração, logo ao início se reproduzem a coroação do Rei e a entrega, em seguida, da coroa e do cetro reais, em consagração ao Espírito Santo, fazendo memória do gesto de Santa Isabel de Portugal.

Especial emoção no momento em que, na missa da noite de domingo, a Bandeira do Divino, que percorreu tantas casas no tempo da novena popular, circula entre o Povo de Deus conduzida pelo casal de festeiros, com cantos entoados pelo coral em honra ao Espírito Santo. É nesta hora que, depois de passar por todos os participantes da Assembleia, a bandeira é entregue aos novos festeiros, já para a Festa de 2019. Neste ano, uma novidade: dois casais foram eleitos para comandar a próxima festa do divino: Eloi Jochem e esposa e Sidnei Kirchner e esposa.

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Uma marco da vida cultural e religiosa do Município

A Festa do Divino, além de ser destaque no calendário da região e do Estado, é patrimônio do Município de Santo Amaro da Imperatriz. Além da efetiva participação do poder público na organização e na estrutura da festa, destaca-se a presença da Banda do Município acompanhando e animando os desfiles com seus solenes dobrados. Nos três dias de festa, o cortejo com a família imperial e seus convidados sai da sede da Prefeitura e se dirige solenemente para a Matriz de Santo Amaro, onde se celebra a eucaristia com participação de destaque da corte. Também simbólica é a entrega da chave da cidade ao casal de festeiros por ocasião da abertura dos festejos públicos, na sexta-feira que antecede o Domingo de Pentecostes. Neste ano, a entrega se realizou antes do início da missa do último dia da novena, com a presença do prefeito da cidade, Edésio Justen, e do casal de festeiros.

Diante do movimento de pessoas, da quantidade de comida e bebida consumidas, dos intensos preparativos desde o ano anterior, pode-se dizer  que a Festa do Divino é superlativa em todos os sentidos, incluindo sua missão principal de manter viva a fé deste povo que o Senhor confiou à nossa Fraternidade. Ao viver esta experiência, faço ao coro ao povo santamarense, repetindo a expressão que pude ouvir muitas vezes nestes poucos dias de convivência e oração: “Isso tudo é coisa do Divino”.

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