Postulador da Ordem explica os passos a serem dados na causa
14/03/2012
Moacir Beggo
Se depender da fé e devoção do povo catarinense, especialmente da região do Meio Oeste catarinense, Frei Bruno já está entre os santos da Igreja. Mas a vinda do Postulador Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Giovangiuseppe Califano, deixou o povo apreensivo e esperançoso. Para se chegar à canonização de Frei Bruno há um longo e trabalhoso caminho.
Foi para explicar e detalhar esse caminho que Frei Giovangiuseppe se reuniu em Joaçaba (SP), com o bispo diocesano, Dom Mário Marquez, OFMCap, os vice-postuladores no Brasil, Frei Estêvão Ottenbreit, que é Vigário Provincial da Província da Imaculada Conceição, e Frei Alex Cianorscki, pároco da Paróquia de São Luís Gonzaga, em Xaxim (SC), e as equipes de trabalho das três cidades – Xaxim, Rodeio e Joaçaba -, que estão à frente deste processo.
Os encontros com essas lideranças aconteceram no sábado (03/03), véspera da grande Romaria Penitencial Frei Bruno, que este ano reuniu mais de 50 mil pessoas em Joaçaba, terra onde está sepultado Frei Bruno. O Postulador pôde ver essa grande demonstração de fé que cresce a cada ano e confessou que ficou emocionado.
Para Frei Estêvão, foi muito importante a presença de Frei Giani, como é conhecido Frei Giovangiuseppe na Itália. “É muito oportuno estar ao nosso lado para nos orientar nesses primeiros passos”, explicou o Vigário Provincial. Isso porque há um ano, na primeira reunião pela causa de Frei Bruno, ficaram definidas três tarefas: uma comissão para recolher os depoimentos das pessoas que conheceram Frei Bruno, a elaboração de uma oração para pedir a beatificação de Frei Bruno, com aprovação eclesiástica, e a elaboração da biografia de Frei Bruno, que começou a ser feita por Frei Clarêncio Neotti, escritor e pesquisador da Província da Imaculada. “Conseguimos dar muito pequenos passos, mas importantes para instaurar o processo”, explicou Frei Estêvão.
O vice-postulador Frei Alex e a Comissão de Xaxim ficaram responsáveis por recolher os depoimentos e, no balanço que fez, faltam os testemunhos das pessoas de Rodeio, cidade em que Frei Bruno viveu mais tempo: quase 20 anos. “Estamos colhendo depoimentos, conversas, arquivos e documentos que falem sobre a vida de Frei Bruno. Num segundo momento, quando os milagres precisarão ser comprovados, iremos buscar a ajuda de peritos e médicos para atestar tudo”. Segundo o pároco de Xaxim, as despesas que vão decorrer do processo serão buscadas na comunidade, junto aos fiéis. “Muitos já estão ajudando nos deslocamentos para busca de documentos. E assim vamos conseguir custear. A Ordem Franciscana também tem interesse e um exemplo disso é a vinda do postulador, que aceitou o convite da Província”, adiantou Frei Alex.
Segundo o bispo, D. Mário, a presença dos postuladores em Joaçaba foi um momento especial e histórico. “Fui informado pelo Postulador em Roma, Frei Giani, que a Ordem dos Frades Menores apresenta muito interesse na causa da beatificação de Frei Bruno. É importante saber desse apoio à causa. Assim, damos inicío ao processo fortalecidos e animados”, confessou o bispo franciscano capuchinho.
Segundo o Postulador italiano, esta causa de Frei Bruno tem uma característica própria, pois está começando 50 anos depois da sua morte. “No fundo é uma garantia para sua fama de santidade. Mas, por outro lado, apresenta obstáculos como o fato de que muitas pessoas que o conheceram já partiram para a eternidade. Todavia, por sorte, temos ainda muitas pessoas vivas que o conheceram ainda em vida”, disse.
Depois de detalhar todos os passos para se chegar à beatificação e canonização, Frei Giani não soube dizer quanto tempo levará o processo.”Cada caso é um caso. Cada processo tem suas peculiaridades e, por isso, não podemos afirmar com precisão”, disse, mas deu uma esperança aos brasileiros: “A Congregação da Causa dos Santos olha com muito carinho para as novas Igrejas. Em outras palavras: a Europa já tem muitos santos…”.
A seguir, os passos que serão dados segundo a orientação do Postulador da Ordem.
O LONGO CAMINHO PARA SE CHEGAR À GLÓRIA DOS CÉUS
FASE DIOCESANA
1. “Libellum Suplicem”
O início oficial é feito quando o bispo diocesano recebe o requerimento do Postulador. Este documento oficial tem o título de “Libellum Supplicem” e, assim que o bispo acolher o pedido, fará uma consulta aos bispos do Regional de Santa Catarina.
Depois o bispo vai se dirigir ao responsável da Congregação da Causa dos Santos, em Roma, para pedir o “Nihil obstat”, um decreto para mostrar que não existe um obstáculo que deponha contra a causa.
Com essas duas garantias, dos bispos do Regional e de Roma, o processo pode caminhar e o bispo diocesano dita o decreto de Introdução da Causa do agora Servo de Deus.
2. Tribunal Eclesiástico
Como existem pessoas que conheceram Frei Bruno em vida, o bispo pode imediatamente fazer a nomeação do Tribunal Eclesiástico, formado por um juiz, um delegado do bispo, um promotor de justiça e um (ou dois) secretário.
O Postulador ou vice apresenta ao bispo a relação dos testemunhos das pessoas que conheceram Frei Bruno, ao mesmo tempo em que o bispo vai nomear uma comissão histórica para recolher todos os documentos que têm a ver com a vida de Frei Bruno. Ou seja, Frei Clarêncio não vai trabalhar sozinho, mas terá apoio de uma comissão, formada por três peritos, que vão recolher: 1. Documentos pessoais; 2. Cartas, homilias, sermões e tudo que ele escreveu. É necessário fazer uma cópia autenticada de todos esses documentos antes de entregar para o tribunal. O original pode ficar com a família; e 3. Colher todo o material que foi escrito sobre ele em livros, revistas e jornais etc.
Terminada a coleta dos materiais, o dossiê será enviado pelo bispo diocesano à Congregação da Causa dos Santos, em Roma.
FASE ROMANA
Quando os autos do processo chegam a Roma, a Congregação da Causa dos Santos vai examinar se a documentação é válida.
A partir de seu parecer, nomeia um Relator que tem a missão de, com base neste dossiê, selecionar, escrever e sintetizar num documento chamado “Positio”. Pela “Positio”, ele vai comprovar as virtudes que se manifestaram no candidato, dividindo-a em três partes: 1. A vida; 2. As virtudes: e 3. A Fama de santidade.
1. A vida é a parte documentada que ficará a cargo de Frei Clarêncio e da comissão histórica.
2. As virtudes são as três virtudes teologais (fé, esperança e caridade), as quatro virtudes cardeais, a saber: prudência (sabedoria), fortaleza (coragem), temperança e justiça e as três virtudes da vida religiosa: pobreza, castidade e obediência. Para cada uma dessas virtudes tem que se apresentar exemplos ou se comprovar.
3. A Fama de santidade vai mostrar que Frei Bruno já era tido como santo enquanto vivia, foi visto assim depois da morte e essa fama continua até os dias de hoje.
Com a elaboração da “Positio”, passará por três níveis de julgamento:
1. Os consultores históricos vão dar um parecer porque é uma causa de 50 anos;
2. Os Consultores teólogos votarão sobre o mérito da causa. Esses, juntamente com o Promotor da Fé, estudarão a “Positio” de tal forma que, antes de a mesma passar ao Congresso especial, as diversas questões sejam examinadas em profundidade.
3. Os votos definitivos dos consultores teólogos, juntamente com as conclusões redigidas pelo Promotor da Fé, serão submetidas ao juízo dos Cardeais e Bispos.
Se a Congregação para a Causa dos Santos aprova a “Positio”, o Santo Padre pode promulgar o decreto das virtudes heróicas. O que era Servo de Deus passará a ser considerado Venerável.
O PROCESSO DO MILAGRE
Cumpridas essas fases, quando houver a certeza que se realizou algum milagre ou uma cura que não tem explicação, tem início outro processo, que vai repetir as fases diocesana e romana. Segundo o Postulador, a vantagem é que esse processo pode andar junto com o processo inicial, desde que já se tenha a notícia de milagres, o que deve acontecer na causa de Frei Bruno, pois já existem relatos de curas documentados.
Importante lembrar que o milagre poderá acontecer em qualquer lugar do mundo, desde que se faça a invocação de Deus através da intercessão de Frei Bruno. Segundo o Postulador, agora é importante divulgar a Oração a Frei Bruno.
O Postulador alertou também que curas obtidas de doenças psicológicas não têm valor para a Congregação, assim como câncer, que pode ter um diagnóstico equivocado, como aconteceu recentemente com a presidente da Argentina. No caso de curas realizadas há 20 anos, basta ter a documentação médica da época.
Acerca dos supostos milagres, a Congregação procederá do seguinte modo:
1º) Os presumíveis milagres, sobre os quais o Relator encarregado para o efeito prepara uma “Positio”, são examinados na reunião de peritos (no caso de curas, na reunião de médicos), cujos votos e conclusões serão expressos detalhadamente numa minuciosa relação.
2º) Posteriormente, os milagres são discutidos num Congresso especial de teólogos e, por fim, na Congregação dos Padres Cardeais e Bispos.
As opiniões dos Padres Cardeais e Bispos são comunicadas ao Santo Padre, a quem compete exclusivamente o direito de decretar o culto público eclesiástico que se pode tributar aos Servos de Deus.
Ou seja, depois do rigoroso processo romano, se o veredito for positivo, o Prefeito da Congregação ordena a confecção do Decreto de Beatificação para ser submetido à aprovação do Santo Padre.
Para o Bem-Aventurado ser santo, é preciso abrir um novo processo com o segundo milagre.