“Educação e tecnologia” é o tema deste décimo primeiro episódio da Série da Campanha da Fraternidade, promovida pela Província da Imaculada Conceição, no formato podcast. O coordenador do Ensino à Distância da Universidade São Francisco (USF), Renato Pezenti, conversou com Frei Gustavo Medella sobre este assunto, tendo em vista o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31, 26) da CF 2022.

OUÇA TODO O PODCAST E COMPARTILHE!

Na educação, a tecnologia tem se consolidado como uma plataforma importante para o ensino, para o aprendizado. Mas além de ser essa plataforma técnica, esse lugar de comunicação, ela também está influindo na formação do ser humano como um todo.

“Antes de mais nada, a formação do ser humano é constante. Estamos em formação o tempo todo, às vezes em evolução, às vezes em involução. E acredito que, em grande medida, a formação do ser humano acontece numa dinâmica de relacionamento, seja no relacionamento interpessoal, com colegas do trabalho, seja também na relação com a natureza, na relação com os dramas humanos e também com a tecnologia. Eu acredito que, nesse caso, a tecnologia não é só mais uma frente de relacionamento, mas ela é um meio que revolucionou ou tem revolucionado fortemente as nossas formas de relação”, avalia o professor.

Segundo ele, as tecnologias influenciaram também a nossa maneira de nos relacionarmos com o tempo e com o espaço. “Eu gosto da imagem que as tecnologias nos deixaram menos analógicos. O relacionamento se tornou muito mais dinâmico. A relação com o tempo ficou mais fora do ambiente: no horário comercial, com o relacionamento profissional, e em outros horários o relacionamento fraterno, familiar, etc. Essas fronteiras de relação com o tempo mudaram muito e a relação com o espaço também. Nós temos oportunidade – e isso julgo como muito interessante – de nos relacionarmos com pessoas do outro lado do mundo ou mesmo que estão distantes de nós, com muito mais facilidade. Acho que isso incide fortemente sobre o perfil do ser humano e, claro, sobre sua formação”, observa Pezenti.

Pezenti fala das vantagens e dos limites da educação a distância, principalmente depois do crescimento das tecnologias nesses dois anos de pandemia. “Eu acredito que a educação a distância, é claro, tem uma vinculação muito forte com a tecnologia, especialmente as Tecnologias da Informação, que potencializaram muito os meios através dos quais a educação a distância acontece. Ela está mergulhada nesse processo que afeta a nossa dinâmica de relacionamento, muda, na verdade, a nossa própria dinâmica de vida, de organização da vida, muda a forma de nos alimentarmos, de nos transportarmos e muda a dinâmica de comunicação, mudando também as dinâmicas da própria educação. E, nesse sentido, a educação a distância entra como uma expressão muito forte desse advento da tecnologia”, ressalta Pezenti.

Segundo o coordenador da USF, ele mesmo no começo não acreditava na EAD. “Fui convertido para a educação a distância pelos estudantes, porque trabalhava diretamente com eles, e ouvia relatos de estudantes que, com absoluta certeza, jamais teriam acesso ao ensino superior não fosse a educação a distância. Por vários fatores, inclusive fatores de ordem econômica. A educação a distância permite, ainda não sendo possível o acesso ao ensino superior público e gratuito para todos, que esse acesso fique facilitado por conta de praticar valores mais acessíveis e por conta da flexibilidade do tempo. Me lembro de uma senhora que acordava de madrugada, tirava leite de suas vacas, lá no interior de Santa Catarina, costurava o dia todo, e aí encontrava fôlego para algumas vezes por semana vir até a universidade ou terminar seu dia estudando. Essa senhora, que se locomovia quase 100 km para chegar no polo de educação a distância, jamais teria tido oportunidade de aceder ao ensino superior. Então, isso eu acho que é um grande símbolo da vantagem da educação a distância. E eu chamo isso aí de acessibilidade, inclusão, de democratização do ensino superior, que ainda é uma dor no Brasil porque um percentual muito pequeno tem o ensino superior”, explica Pezenti.

Para ele, no caso específico do ensino superior, a educação a distância cumpre um papel muito importante, mas esse cenário muda na educação básica, onde a equação é um pouco diferente. “Felizmente existe um acesso significativo à educação básica para as crianças até os 14 anos. Grandes desafios existem ainda, especialmente quando a gente vai para ambientes de limites de acesso à renda, acesso ao trabalho cada vez mais precoce, o que aparta os jovens da educação. No entanto, a educação básica cumpre um papel louvável nesse sentido. Mas talvez a dor aí seja a possibilidade de acesso à tecnologia, tendo em vista ser este um pressuposto de educação a distância. Este seria, a meu ver, um primeiro desafio. Também em termos de desafios, o desenvolvimento das tecnologias ainda nos impõe buscarmos novas formas de interação. E aí quando a gente vem para aquele tipo de interação que imperativamente precisa acontecer de forma presencial, por exemplo, alguma dinâmica de aprendizagem que demande laboratórios ou até interação em grupos, a gente encontra algum limite. E talvez a tecnologia não vai dar conta de superar essa fronteira. Enquanto limite especificamente eu vou também nesse sentido. Acho que nós temos uma interpelação de relação e interação que passa pelo físico. Eu acho que a corporeidade é um elemento fundamental da relação humana.  A Campanha da Fraternidade nos faz esse apelo de ensinar com amor, com sabedoria. O amor acho que é um apelo da dimensão do afeto, do cuidado que de novo traz para o centro o discurso da corporeidade. E claro, de novo, o limite ainda de acesso à tecnologia e passando por questões básicas como acesso à internet de qualidade, que ainda é um desafio muito grande de algumas realidades do nosso grande Brasil”.

ACOMPANHE A SÉRIE DA CF 2022