Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Pe. Thiago e Welder Marchini falam sobre catequese e internet

26/08/2021

Notícias

Os autores do livro “Catequese e Internet – os processos catequéticos e as novas tecnologias”, Pe. Thiago Faccini Paro (@faccini20) e Welder Lancieri Marchini (@welder.marchini), foram os convidados do terceiro dia (25/8) da 2ª Super Semana de Catequese, um evento da Editora Vozes que é on-line e gratuito, pelo canal YouTube da Editora Vozes, todos os dias as 19 horas, até 29 de agosto.

Natália França apresentou Pe. Thiago, que é mestre em Teologia e especialista em Liturgia, Ciência e Cultura pela PUC-SP, e Welder, doutor em Ciência da Religião (PUC-SP) e editor teológico na Editora Vozes.

Segundo Welder, que também é coordenador do curso de Teologia da Universidade São Francisco, este livro já era um projeto antigo. “O primeiro esboço surgiu em 2012. Mas acabou não virando livro. Acabou que os tempos mudaram e não aproveitei naquela época o texto que tinha escrito”, contou.

Segundo ele, no decorrer desse tempo continuou trabalhando com catequese e sempre trocou muitas ideias com Pe. Thiago em relação à catequese. “Quando veio a pandemia, nós começamos a perceber o quanto falar de internet era importante não apenas para a catequese, mas para todas as pastorais da Igreja, porque muitas comunidades se deram conta que não se apropriar dos processos cibernéticos, das suas ferramentas, poderia gerar um impacto negativo na vivência pastoral”, disse.

“Na catequese essa demanda, essa intenção de entender a internet, como ela modifica ou contribui para os processos catequéticos, tornou-se mais evidente”, constatou. Foi, então, que ele convidou Pe. Thiago para retomar esse projeto, que agora foi concretizado neste livro.

“Nós estamos nesse livro falando sobretudo como catequistas e teólogos. E tentamos pegar toda aquela reflexão sobre os meios de comunicação, sobre a internet, e traduzir para a linguagem catequética. A nossa motivação é essa: oferecer um instrumento, sobretudo para os catequistas, que contribua para que esse catequista, lá junto com sua turma de catequese, na sua comunidade, na sua paróquia, consiga pensar instrumentos para trabalhar a catequese dialogando com toda a realidade da internet, que cada vez mais faz parte da nossa vida. Ninguém se imagina mais sem internet. Então, foi um pouco esse caminho que nos motivou até o resultado final”, detalhou.

Pe. Thiago agradeceu ao convite de Welder para fazer parte deste livro. Segundo ele, havia trabalhado juntos quando escreveu com o Pe. Rodrigo “Conhecer o Ano Litúrgico” (Welder foi editor). “E foi um convite que veio numa hora mais que essencial, sobretudo quando algumas pessoas propunham uma catequese EAD, ou seja, uma catequese a distância, mas que encontrava certa resistência. O fato de ter essa resistência é porque a catequese não é só transmitir um conteúdo, mas a catequese é também inserir, por isso falamos em iniciação na vida cristã. E isso então pressupõe convivência, pressupõe diálogo, estar junto. A catequese, de modo ordinário, é presencial porque ela pressupõe esse vínculo afetivo, esse estar junto. Porém, a internet pode nos ajudar, e muito, nesse processo de evangelização”, avalia Pe. Thiago, pedagogo e autor da coleção de manuais de catequese “O Caminho”, assim como dos livros “As celebrações do RICA: conhecer para bem celebrar”, “Conhecer a fé que professamos” e “Livro de inscrição dos Eleitos”.

Para ele, o livro faz uma reflexão sobre as gerações de hoje e como elas têm mudado rapidamente. “Eu tenho um sobrinho que está com sete meses. A hora que começa a chorar, minha irmã coloca o celular na mão dele e a reação é imediata, tocando com o dedinho na tela do celular”, revelou.

“Nós, como catequistas, precisamos pensar: Quem são os nossos catequizandos? Precisamos conhecer nossos catequizandos e dizer que não é porque não sou dessa geração que não quero saber desse mundo virtual, desse mundo digital. Para uma catequese bem feita, atrativa, nós precisamos e devemos utilizar os meios digitais. A catequese tem o seu ordinário, que pressupõe essa convivência, mas também ela pode se tornar uma aliada para ajudar no próprio encontro de catequese, pode ajudar em encontros com a família”, sugere o sacerdote, propondo a experiência de uma catequese híbrida: “Uma vez por mês poderia se fazer essa catequese on-line com a presença dos pais e até mesmo uma complementação dessa catequese. A gente faz a reflexão presencial que depois pode continuar nas mídias. Enfim, catequese e internet combinam, o que devemos ter é um planejamento, uma metodologia para utilizá-la”, apresentou Pe. Thiago.

Welder fala dessa vivência religiosa com o digital, que ainda é novo nas comunidades religiosas. “Nós temos dois conceitos que andam lado a lado e, às vezes, a gente acaba confundindo. Mas são realidades distintas: o digital e o virtual. Quando se fala de digital, estamos falando da capacidade que temos, através dos equipamentos eletrônicos, de trabalhar com o digital. Ou seja, digitalizar alguma coisa ou transformar em dígitos. Para quem tem um pouquinho mais de idade, conheceu e fez fotos com a máquina analógica, que precisava de um filme, rebobinar e revelar. Nós tínhamos uma fotografia analógica, física. Quando veio a máquina digital, começamos a trabalhar com a mesma fotografia, só que sem materialidade. Essa máquina digital transformou aquela fotografia em dígitos. O computador transforma todos os arquivos que temos numa sequência de dígitos que vai ficar guardado na memória. Quando a gente fala de universo digital, é o universo que trabalha para além da materialidade. É muito diferente de falar de algo virtual. O virtual traz o entendimento do que está conectado e funciona em rede. Eu posso ser digital no sentido da palavra, mas não estar conectado, quando o meu celular está sem internet. A gente tira as fotografias, arquiva, tem o digital, sem necessariamente compartilhar isso”, explicou Welder

Para ele, vivemos num mundo virtualizado. “Nós estamos conectados o tempo todo. E isso não significa que nós estejamos mexendo no celular. Significa que, sem estar conectado, não conseguimos nos organizar da mesma forma. Um exemplo, se a gente está com o celular no bolso e ele vibra, muita gente fica inquieta, porque quer saber se é uma notificação de rede social, se chegou um email ou foi uma mensagem de whatsap. Então, essa vivência virtual chegou na nossa vida e parece que a gente não consegue mais viver sem. E isso também chega na nossa vivência religiosa, como o exemplo dessa dessa live da Super Semana, que é uma maneira de alimentar a nossa fé, a nossa ação pastoral. E isso também chegou na comunidade. Acredito que na pandemia – deixando claro que eu não gosto dessa ideia de que a pandemia trouxe coisas boas. Muita gente perdeu familiares, pessoas amadas e queridas, muita gente vive ainda as consequências físicas de um vírus letal e muita gente perdeu o emprego -, a gente conseguiu perceber que teríamos outros modos de trabalhar pastoralmente e um deles ficou muito forte e fez correr atrás do prejuízo que tínhamos em relação à evangelização pelos meios virtuais. Sei que lá no começo, muitas comunidades tiveram dificuldades de transmitir as primeiras missas pelo Facebook. Daí é importante o que o Pe. Thiago falava: nada substitui a vivência comunitária, a vivência junto da comunidade eclesial, mas essa comunidade percebeu que era preciso transmitir as celebrações porque as pessoas não poderiam ir no templo para celebrar. Hoje a gente vive aí timidamente uma abertura, mas ainda tem muita gente que está acompanhando pelos meios digitais. Acredito que isso veio para ficar e percebemos que a internet é uma aliada nesse processo de evangelização”, aposta Welder.

Segundo Welder, o catolicismo, de uma forma geral, demorou para se abrir às tecnologias. “A gente vivia muito aquela ideia do embate. Tudo que é tecnológico é coisa ruim e deve ser combatida. Eu gosto muito do um pensador italiano Humberto Ecco. Para ele, em tecnologia não podemos ser nem apocalípticos nem integrados. O que ele diz com isso? O apocalíptico diz que nada presta, que a internet é algo demoníaco, que os meios de comunicação são demoníacos e temos que combatê-los. Essa postura é muito ruim, porque os meios de comunicação e a internet já se mostraram uma realidade permanente. Então não dá para lutar contra. Mas também não significa que a gente deva ser um integrado, ou seja, um ingênuo, a ponto de achar agora que tudo é ‘bonitinho’ e deva migrar para o virtual e, com isso, as relações físicas podem não ser mais valorizadas”, ensina.

“O importante é entender que esse meio virtal, esse meio digital, pode nos ajudar a alimentar nossa espiritualidade, a nossa fé. E mais ainda: ele pode ajudar a chegar nas pessoas que não estariam lá na nossa comunidade. Sim, podemos aproveitar desses mecanismos na catequese”, afirma Welder.

Quanto conciliar catequese on-line e as celebrações que fazem parte da catequese com inspiração catecumental, Pe. Thiago reconhece que é um tema importante e “uma dúvida” que todos nós temos. “Acho importante dizer que a catequese, sim, nós podemos conciliar, porém as celebrações litúrgicas, não. Porque as celebrações são um meio que nos fazem experimentar o divino, o transcendente. Então, as celebrações se comunicam por ritos e símbolos. Esses ritos e símbolos são aquilo que vejo e que me remetem a uma realidade que não vejo. E esses ritos devem passar pelos sentidos. Quais são os nossos sentidos? Tato, paladar, olfato, visão. Então, para a liturgia é inconcebível. Por quê? Porque o símbolo é aquilo que une, que agrega, que nos une enquanto comunidade eclesial. Por exemplo, a liturgia eucarística ou as celebrações virtuais não substituem a presencial. É claro que num tempo de pandemia, tivemos uma exceção porque não podíamos nos reunir. É claro que Deus faz a graça. Sem dúvida, nós comungamos ali da Palavra, mas não pudemos comungar do Corpo e Sangue do Senhor como geralmente se coloca ao redor do altar. Então, muitas destas celebrações tivemos que retardar um pouco para fazer depois. Porém, tem muitas celebrações que podemos, sim, fazer. Por exemplo, a celebração da Palavra, que não é uma celebração dos sacramentos – como Eucaristia, Batismo, Crisma -, num tempo que não se possa reunir presencialmente, possa acontecer”, explicou.

Escutar o catequista e o catequizando é um ponto ressaltado pelos autores neste livro. “Durante todo o livro, enquanto a gente desenvolvia a reflexão, eu e o Welder ficávamos dizendo: ‘bom, como nossos catequistas podem fazer isso na prática? Então, durante o livro oferecemos pistas de como aquele conteúdo pode ajudar a nossa catequese tradicional a ter um outro olhar. Por exemplo, ainda retomando essa reflexão sobre as celebrações. A Comissão de Liturgia da CNBB propôs inúmeros roteiros para celebrar a Palavra em família. Ora é um novo jeito de pensar a nossa relação enquanto catequese e liturgia. Por que não resgatar a Igreja doméstica. A família como lugar de celebração? Por que não enviar para os pais roteiros celebrativos para que eles possam fazer com as crianças? É um novo jeito de celebrar. Aqui, sim, é uma celebração que tem presença, que passa pelos sentidos”, avaliou Pe. Thiago.

Respondendo a uma indagação no chat sobre a dificuldade de lidar com o digital, Pe. Thiago sugeriu que os catequistas procurem envolver os catequizandos, que já lidam melhor com as plataformas. “E esse novo jeito de fazer catequese não é dizer assim: ‘eu sou péssimo nisso’. Não sei, e pronto! Não, vamos tentar! Vamos ver outras formas de ir além daquilo que é tradicional. A gente tem que estar disposto a aprender e aproveitar a oportunidade de envolver nossos catequizandos como protagonistas. Esse novo é um estímulo para a gente pensar ‘fora da caixinha’ como diz o ditado”, orientou o sacerdote.

Pe. Thiago fez o seguinte questionamento: Qual a nossa responsabilidade cristã nos meios digitais? “Acho que isso é importantíssimo. A gente pode aproveitar a nossa catequese e inserir nossos catequizandos nessa responsabilidade. Nós falamos muito do ser cristão em tempo integral: na sociedade, amar o próximo, viver os mandamentos, não roubar etc. Só que muitas vezes achamos que a internet é um mundo sem lei. Basta a gente ver pelas questões políticas e tantas outras coisas, como as fake news que são compartilhadas e tantas vidas que são destruídas. Quantas pessoas vivem sob pressão porque são atacadas? Vejam aí os haters. Então, qual é o nosso papel enquanto cristãos nesse mundo digital. Precisamos pensar numa catequese híbrida que prevê esse encontro presencial, mas também com atividades digitais. O que não pode é uma catequese cem por cento on-line, ou uma catequese EAD como alguns propõem. A gente já aprendeu muito e que pode levar adiante”, incentivou.

OS CONVIDADOS

Pe. Thiago Faccini Paro é mestre em Teologia e especialista em Liturgia, Ciência e Cultura pela PUC-SP. Especialista em Espaço Litúrgico e Arte Sacra pela PUC-RS. Pedagogo, é autor da coleção de manuais de catequese “O Caminho”, assim como dos livros “As celebrações do RICA: conhecer para bem celebrar”, “Conhecer a fé que professamos” e “Livro de inscrição dos Eleitos”. Colabora com a Igreja do Brasil como assessor do Setor de Espaço Litúrgico, da Comissão Episcopal Pastoral para Liturgia da CNBB, e atua como secretário executivo da Associação dos Liturgistas do Brasil – ASLI. Assessora, ainda, cursos de formação litúrgica e de Iniciação Cristã em diversas comunidades eclesiais.

Welder Lancieri Marchini é doutor em Ciência da Religião (PUC-SP) onde pesquisou o Vaticano II, Mestre em Ciência da Religião (PUC-SP) onde pesquisou a vivência paroquial na metrópole. Atualmente é doutorando em Teologia (PUC-Rio) onde pesquisa método teológico e tem a função de editor teológico na Editora Vozes. É autor de obras na área de catequese e pastoral. Pela Editora Vozes publicou o livro “Perseverando com Jesus” (catequista e catequizando) e “Escolhendo Jesus: jovens cristãos para uma nova sociedade”. É coordenador da Coleção Iniciação à Teologia e professor e coordenador do curso de Teologia da Universidade São Francisco.