Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Pe. Lombardi: Vaticano no caminho da transparência

05/11/2015

Papa Francisco

lombardi-600Cidade do Vaticano  – “O Vaticano está procedendo sem incertezas no caminho da transparência e da boa administração.” Foi o que disse o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, nesta quarta-feira (04/11), em resposta à publicação de dois livros que, baseando-se em documentos vaticanos reservados, queriam mostrar o contrário.

Atividade ilícita

“A publicação de dois livros que têm por argumento instituições e atividades econômicas e financeiras do Vaticano é objeto de curiosidade e comentários”, escreve Pe. Lombardi numa nota. Segundo o jesuíta, “uma boa parte do que foi publicado é o resultado de uma divulgação de informações e documentos reservados. Portanto, uma atividade ilícita que é perseguida penalmente pelas autoridades vaticanas competentes”.

Informações já conhecidas

Sobre o conteúdo da divulgação, Pe. Lombardi ressalta que “em boa parte se trata de informações já conhecidas, mas deve ser ressaltado que a documentação publicada está principalmente relacionada com o compromisso significativo de coleta de dados e informações colocada em ação pelo próprio Santo Padre a fim de realizar um estudo e reflexão de reforma e melhoria da situação administrativa do Vaticano e da Santa Sé”.

Cosea

“Provém do arquivo da Cosea (Comissão referente de Estudo e endereçamento sobre a organização das Estruturas Econômico-Administrativas da Santa Sé) boa parte da informação publicada. O organismo foi instituído pelo Papa Francisco em 18 de julho de 2013 e desfeito após cumprir sua função. Não se trata de informações obtidas na origem contra a vontade do Papa ou dos responsáveis por várias instituições, mas geralmente de informações obtidas ou fornecidas com a colaboração destas instituições para contribuir ao objetivo positivo comum.”

OS LIVROS

A resposta do Pe. Federico Lombardi foi dada a propósito dos lançamentos hoje (5/11) de dois livros:.

 “Avareza” (em tradução literal), do jornalista Emiliano Fitipaldi; e “Via Crucis”, de Gianluigi Nuzzi, jornalista do grupo de televisão Mediaset.

Emiliano deixa claro que o Papa Francisco não sabia de nada.

A polícia do Vaticano continua procurando possíveis espiões no caso “Vatileaks II”. Até hackers podem ter ajudado a violar os computadores que continham os documentos secretos vazados para a imprensa.

ENTREVISTA

Veja uma parte da entrevista do autor de Via Crucis, em entrevista ao jornal “Le Monde”.

No seu livro, você evoca uma “guerra no Vaticano”. Quem são os combatentes?

Quando você é um leigo, como você e como eu, tentamos simplificar entre os “bons” e os “malvados”, os “vermelhos” e os “azuis” etc. Há sete anos eu me interesso pelo menor Estado do mundo. A Santa Sé é o terreno ideal para os jogos duplos ou até mesmo triplos. Os campos e as alianças são moventes, fazem-se e desfazem-se com base em interesses às vezes obscuros para os não especialistas.

Digamos que, de um lado, estão o papa e os especialistas leigos e religiosos dos que eles se cercou para reformar a Igreja, e, de outro, o sistema curial que se opõe a Francisco por meios legais, como a inércia, e por meios ilegais, tais como os furtos ou a intimidação.

Como se desenrola essa “guerra”?

Francisco tentou, através das nomeações, superar as fraturas e os confrontos entre os clãs para manter a unidade da Igreja. Mas os fatos testemunham que foram postos obstáculos no seu caminho. Os inimigos de Francisco são os mesmos de Bento XVI. O que aconteceu com a revelação da falsa doença do papa, a “saída do armário” do padre polonês Krzysztof Charamsa e a carta dos cardeais é uma verdadeira tentativa de deslegitimação de Francisco. Fazer com que se acredite, sem qualquer prova, que ele sofre de um tumor no cérebro, embora benigno, é um modo de pôr em dúvida as suas faculdades mentais. Tudo isso ocorre também em um momento da sua história em que a Igreja nunca foi tão frágil e em que o papa tenta dar mais responsabilidade para os leigos e para as mulheres na Cúria.

Leituras diferentes

“Naturalmente, uma grande quantidade de informações desse gênero deve ser estudada, entendida e interpretada com cuidado, equilíbrio e atenção. Muitas vezes são possíveis leituras diferentes a partir dos mesmos dados”, ressalta o jesuíta.

Fundo de Pensão

“Um exemplo é a situação do Fundo de Pensão sobre o qual foram
feitas avaliações muito diferentes, desde as que falam com
preocupação de um rombo às que fornecem uma leitura reconfortante.”

Bens da Igreja

“Os bens da Igreja, acrescenta Pe. Lombardi, têm como finalidade
sustentar grandes atividades de serviço administradas pela Santa
Sé ou instituições a ela ligadas, seja em Roma seja em outras
partes do mundo”.

Óbolo de São Pedro

“Sobre o uso do Óbolo de São Pedro é preciso ressaltar que são
vários, na opinião do Santo Padre, cujo óbolo é oferecido com
confiança pelos fieis a fim de ajudar o seu ministério.” As obras
caritativas do Papa em favor dos pobres são certamente uma
das finalidades essenciais, mas não é certamente intenção dos
fiéis excluir que o Papa possa avaliar ele mesmo as urgências
e a maneira de responder a essas urgências à luz de seu serviço
para o bem de toda a Igreja. O serviço do Papa incluiu também
a Cúria Romana, instrumento de seu serviço, as suas iniciativas fora
da Diocese de Roma, a comunicação de seu magistério para os fieis
em várias partes do mundo também pobres e distantes, o apoio às
180 representações diplomáticas pontifícias espalhadas pelo mundo
que servem as Igrejas locais e intervém como agentes principais
para distribuir a caridade do Papa em vários países, além de ser
representantes do Papa junto aos governos locais.
A história do Óbolo mostra tudo isso com clareza.”

Reconhecimento

“Essas temáticas retornam periodicamente, mas são sempre ocasião
de curiosidade ou polêmicas. É necessário ter seriedade para aprofundar
as situações e os problemas específicos a fim de reconhecer o muito
que é totalmente justificado, normal e bem administrado e distinguir
onde se encontram inconvenientes a serem corrigidos, obscuridades
a serem iluminadas, mazelas ou ilegalidades a serem eliminadas.”

“A isto é endereçado o trabalho difícil e complexo iniciado pelo estímulo
do Papa com a criação da Coşea que concluiu o seu trabalho. A
reorganização dos dicastérios econômicos, a nomeação do revisor
geral, o bom funcionamento das instituições responsáveis pelo controle
das atividades econômicas e financeiras”, afirma Pe. Lombardi,
são “uma  realidade objetiva e incontestável”.

Fase de trabalho superada

“A publicação de grande quantidade de informações diferentes, em
grande parte ligadas a uma fase de trabalho já superada, sem a
necessária possibilidade de aprofundamento e avaliação objetiva, cria
impressão contrária, de um reino permanente de confusão, de não
transparência ou até mesmo de perseguir interesses particulares ou incorretos.”

Boa administração

“A divulgação ilícita de informações reservadas e em parte ultrapassadas não faz jus à coragem e ao compromisso com o qual  o Papa e seus colaboradores enfrentaram e continuam enfrentando o desafio de um melhoramento do uso dos bens temporais a serviço dos bens espirituais. Isto é o que deveria ser apreciado e incentivado num trabalho correto de informação para responder adequadamente às expectativas do público e às exigências da verdade. O caminho da boa administração, da correção e da transparência, continua e procede sem incertezas. Esta é evidentemente a vontade do Papa Francisco e não falta no Vaticano quem colabora com lealdade plena e com todas as suas forças”, frisa ainda o jesuíta.

Resposta de Pe. Lombardi aos jornalistas a propósito das investigações em andamento no Vaticano

“O Escritório do Promotor de Justiça junto ao Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano, depois de um relatório da Autoridade de Informação Financeira, em fevereiro de 2015, iniciou as investigações relativas a operações de compra e venda de títulos e transações relacionadas ao Sr. Gianpietro Nattino. O mesmo escritório pediu a colaboração das Autoridades judiciárias italiana e suíça através de cartas rogatórias enviadas por vias diplomáticas em 7 de agosto de 2015.”