Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Para Frei João, a humanidade precisa de Francisco

21/04/2017

Notícias

pvf_210417_2Moacir Beggo

Agudos (SP) – Os mais de 100 benfeitores que participam do Retiro do Pró-Vocações e Missões Franciscanas, que está em andamento no Seminário Santo Antônio, em Agudos (SP), ouviram o Definidor da Província da Imaculada e guardião da Fraternidade do Postulantado Frei Galvão, Frei João Francisco da Silva, insistir que Francisco é o ideal que nós podemos oferecer às pessoas como oportunidade de resgate de sua dignidade, de resgate da sua humanidade. Segundo o frade, a humanidade está perdida. “E nós precisamos dar esse sentido humano às pessoas. É nossa grande contribuição como franciscanos”, propôs.

Frei João Francisco, que deixou tudo para se tornar um seguidor de São Francisco aos 33 anos, abordou o tema “Francisco, o irmão universal”. O frade, na Oração da Manhã, feita no lado externo do Seminário, falou da importância da oração para Francisco de Assis e de sua necessidade ainda maior num mundo agitado e sem tempo para Deus como o que vivenciamos hoje. Ali mesmo deu início ao tema da fraternidade universal. “Tudo é concluído por Francisco no ‘Cântico das Criaturas’. Na verdade não é uma conclusão, mas um chamado que Francisco nos deixa para colocarmos em prática nos gestos e atitudes. O ‘Cântico’ é o grande testamento espiritual de Francisco. É isso o que ele entende como uma fraternidade universal”, disse o frade, dizendo que estava muito à vontade entre os benfeitores porque sua mãe, Dª Maria Lenita, que faleceu há pouco tempo, também era uma benfeitora fiel do PVF.

Para desenvolver o tema, o frade começou falando quem é Francisco de Assis, depois partiu para desdobramentos do tema principal, como “o louvor em Francisco; a fraternidade universal; Francisco, irmão de toda a criatura; a conversão do olhar; o irmão que cuida dos irmãos; a Carta da Terra; a situação global e responsabilidade universal”. Neste sábado, dia 22, Frei João continuará no tema, abordando a ecologia em São Francisco, coincidentemente no dia em que se comemora o Dia da Terra. “Esta data também nos lembra o descobrimento do Brasil, que foi marcado pela presença franciscana”, recordou.

Segundo o frade, esse sonho de Francisco pela fraternidade universal perpassa nossa vida, deve passar pelo nosso coração e chegar às nossas mãos. “Eu penso que a figura de Francisco, o irmão universal, é bastante inspiracional para todos nós”, disse, referindo-se à grave crise que enfrenta a humanidade hoje.

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SER PRESENÇA FRANCISCANA

Frei João falou da importância de ser presença franciscana no mundo. E lembrou que uma vez um aldeão disse a São Francisco: “Diz-me, tu és Frei Francisco de Assis?”. São Francisco respondeu que sim. “Então te esforça, disse o aldeão, por ser tão bom como és tido por toda gente, porque muitos têm grande fé em ti. Então, eu te admoesto que em ti não haja outra coisa senão o que o povo espera”.

Para Frei João, já em vida São Francisco demonstrava o que nós entendemos como santidade. “Santo não é apenas estarmos nos altares das igrejas, mas a santidade começa aqui quando temos esse cuidado e zelo pelos outros. Francisco tinha isso. Já em vida ele deixava essa marca de santidade”, observou.

“Precisamos recuperar aquilo que o povo espera de nós, franciscanos. Mesmo sem estar vestido com o hábito marrom, temos de ser reconhecidos pelos gestos e atitudes”, ensinou. Na mesma linha, o frade lembra que Francisco propõe que o nosso modo de ser seja evangelizador. “É o que o Papa Francisco pede quando diz uma ‘Igreja em saída’. E Francisco entendeu isso lá atrás. Ele já entendia o que era ‘Igreja em saída’ na Idade Média. É fazer-se presença na vida das pessoas”, explicou.

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“O primeiro passo de Francisco para entender o Evangelho é desapegar-se de tudo aquilo que pode condicionar o modo de ser. O Evangelizar-se de Francisco é justamente esse: o desapego. E passa, então, dialogar com tudo e com todos. Ele não tem nada para chamar ‘de seu’ e passa a dialogar com todas as realidades, sobretudo com os pobres. O leproso não tem nada para ‘chamar de seu’. Francisco é o homem do diálogo. Ele não se sente maior do que os outros, mas menor. Por isso ele vai dizer na Regra que se ‘chamem menores’. E devem estar sempre abaixo dos outros. Não quer que estejam acima dos demais. Mas que sejamos instrumentos para que todos cheguem a Deus. Por isso, Francisco é esse grande irmão do diálogo com todos, com todas as realidades”, acrescentou o frade.

Francisco sabe dialogar com todas as crenças. “Quando ele vai ao sultão pela primeira vez, ele não vai para falar de Deus, mas para ser uma presença simplesmente. Ele não impõe uma ideia de Deus. Mas ele acata a ideia que o diferente tem de Deus. Com isso, Francisco oferece o que tem de melhor, a presença, e passa a conviver com o sultão por alguns dias. E aí começa o que sonhamos hoje e celebramos muitas vezes: o diálogo religioso ou inter-religioso”, destacou.

Segundo o frade, Francisco é aquele que abraça o mistério da cruz nessa demonstração de coragem e de fé inabalável. “Francisco não quer o Cristo doce. Francisco quer abraçar o Cristo humano, o Cristo da cruz, que sofre, que padece e ressuscita. Ele abraça o mistério da Cruz e chora por isso. Ela sabe  que a dor do Cristo é a dor do povo dilacerado”, diz.

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RENÚNCIA HOJE

Para Frei João, a graça mais preciosa que Francisco recebe é a da renúncia. “Renunciar é uma expressão que não cabe nos nossos dias. Não é cabível renunciar hoje a nada. Quanto mais pudermos aglomerar,  ter, possuir, é melhor. Criou-se em nós a ideia de estarmos seguros por coisas apenas. Renunciar não cabe mais no nosso vocabulário, principalmente dos mais jovens. Jesus vai dizer, e Francisco vai entender muito bem o recado: ‘Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo’. E isso que Francisco faz. Ele escreve uma nova história com sua renúncia”, ensinou, perguntando: “E nós, que história estamos escrevendo?”.

Muitos gostam de ver a imagem, muitas vezes, romântica de Francisco com os animais. Mas segundo o frade, Francisco renúncia ao domínio sobre essas criaturas e pede para deixar as criaturas serem simplesmente criaturas. “A fraternidade universal é resultado deste modo de ser pobre de Francisco. Sentia-se irmão porque acolhia a todos sem interesse”, disse o frade, criticando a indústria Pet, uma das mais lucrativas, que faz o contrário de Francisco. “Francisco compreende a criação como sacramento da presença de Deus entre os seres humanos. A criação é o caminho para chegar a Deus, a oportunidade para reverenciar Aquele que nos dá tantos bens”, frisou.

“A ecologia em Francisco significa reconciliação e comunhão com as criaturas, consigo mesmo e, por fim, com Deus”, ressaltou.

Para o frade, Francisco também é o irmão que cuida dos irmãos. “O guardião não é dono, mas o animador conventual. É o que faz o serviço do lava-pés”, lembrou.

Frei João leu trechos da “Carta da Terra” e deixou para a reflexão neste sábado a pergunta: “Que gestos nós podemos fazer para que a natureza não pereça como denuncia a Carta da Terra?”

MOMENTO MARIANO

Frei Alvaci Mendes da Luz, coordenador do Pró-Vocações, conduziu o Momento Mariano com a recitação da Coroa Franciscana. Devido à chuva que caiu durante todo o dia em Agudos, a procissão luminosa acabou sendo feita nos amplos corredores do Seminário. Frei Alvaci lembrou a importância de Maria no plano de salvação e recordou que neste ano celebramos os 300 anos da aparição de Nossa Senhora Aparecida e os 100 anos dos milagres em Fátima.

Frei Alvaci lembrou de colocar a memória dos benfeitores falecidos nesta celebração, especialmente a mãe de Frei João Francisco e Maria de Fátima, mãe de Isabel Silva.

A procissão, que teve sete paradas conforme os mistérios rezados, terminou na Capela do Seminário.

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 A CELEBRAÇÃO DE DONA ALICE

A sorocabana Dª Alice Teixeira Rodrigues viveu um dia de muita alegria ao celebrar 80 anos. “Não tinha ocasião melhor para celebrar meu aniversário”, disse Alice, que gosta de fazer paródias e não se cabia de contentamento de ver suas composições mixadas. “Foi um presente de minhas amigas”, disse, apontando sua sobrinha e a benfeitora Eunice.

Neste sábado, Frei João Francisco continua o tema do Retiro dentro da Campanha da Fraternidade. Frei Alexandre Rohring vai falar sobre o serviço do Pró-Vocações e Missões Franciscanas e o dia termina com a Missa em Ação de Graças, às 18 horas. O encontro termina no domingo, depois do café da manhã.