Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Papa aos sacerdotes: Não tenham medo de gastar a vida por amor

07/05/2019

Papa Francisco

“Vivo com uma gratidão especial este momento em que posso ver a Igreja respirar plenamente com os seus dois pulmões – rito latino e rito bizantino – para se encher do ar sempre novo e renovador do Espírito Santo. Dois pulmões necessários, complementares, que nos ajudam a saborear melhor a beleza do Senhor (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 116)”. Foi dessa forma que o Papa Francisco começou se dirigindo os sacerdotes de rito latino e bizantino e religiosos de Skopje, na Catedral do Sagrado Coração de Jesus.

No discurso, o último da viagem apostólica de três dias que o levou à Bulgária e terminou nesta terça-feira (7) na Macedônia do Norte, o agradecimento do Pontífice a Deus “pela possibilidade de respirar juntos, a plenos pulmões”. O Papa também fez questão de abordar os testemunhos que ouviu no início do encontro para que não corram o risco de, por serem poucos, “cederem a algum complexo de inferioridade”.

Francisco, então, aprofundou a necessidade de se “fazer as contas na vida”, principalmente quando as mãos e os meios são poucos para tantas obras a sustentar. “Quando isso acontece, parece que o saldo do balanço fica ‘no vermelho’”, descreveu o Papa, “mas, o ‘fazer as contas’ pode nos levar à tentação de olhar muito para nós próprios e, curvados sobre as nossas realidades e misérias”, impedir “de escutar Aquele que caminha ao nosso lado e é fonte de júbilo e alegria”, como, por exemplo: “[…] famílias que não conseguem continuar, pessoas idosas e sozinhas, doentes forçados a estar na cama, jovens tristes e sem futuro, pobres que nos lembram o que somos, isto é, uma Igreja de mendigos necessitados da Misericórdia do Senhor. Só é lícito ‘fazer as contas’, se isso nos leva a nos tornarmos solidários, atentos, compreensivos e solícitos em nos aproximarmos das fadigas e precariedade em que vivem submersos muitos dos nossos irmãos necessitados de uma Unção que os levante e cure na sua esperança.”

A história se escreve com exemplos de amor

Normalmente, disse o Pontífice, “cultivamos fantasia sem limites pensando que as coisas seriam diferentes se fôssemos fortes, poderosos e influentes”. Mas o segredo pode estar em outro lugar, como apresentado por um dos testemunhos que se “abaixou até à vida diária dos irmãos para compartilhar e ungir com o perfume do Espírito”.

O Papa então buscou novamente a figura e o exemplo de Madre Teresa, filha da Macedônia do Norte, para motivar a “fazer as contas” em nome da solidariedade:
“Quantos foram tranquilizados pela ternura do seu olhar, confortados pelas suas carícias, levantados pela sua esperança e alimentados pela coragem da sua fé, capaz de fazer sentir aos mais abandonados que não estavam abandonados por Deus! A história é escrita por essas pessoas que não têm medo de gastar a sua vida por amor.”

Muitas vezes gastamos as nossas energias e recursos, reuniões e programações “que não só não entusiasmam ninguém, mas não conseguem sequer levar um pouco daquela fragrância evangélica capaz de confortar e abrir caminhos de esperança”, acrescentou o Papa ao reforçar as palavras de Madre Teresa que disse: “aquilo de que não preciso, me pesa”. Então, “deixemos de lado todos os pesos que nos separam da missão e impedem que o perfume da misericórdia alcance o rosto dos nossos irmãos”.

As casas com ícones da família de Nazaré

A partir de outro testemunho, “de alegrias e preocupações do ministério e da vida familiar”, o Papa descreveu como é “uma casa que abriga no seu interior a presença de Deus, a oração comum e, por conseguinte, a bênção do Senhor”. Não a partir de uma família ‘perfeita’ ou imaculada, mas como o “ícone da família de Nazaré, com o seu dia-a-dia feito de fadigas e até de pesadelos”, capaz de desenvolver “dimensões importantes, mas tão esquecidas na sociedade desgastada por relações frenéticas e superficiais: as dimensões da ternura, da paciência e da compaixão para com os outros”, disse. “Queridos irmãos, obrigado mais uma vez por esta oportunidade eclesial de respirar a plenos pulmões”, agradeceu.


Papa aos jovens de Skopje: “Nunca se sonha demais”

Na tarde desta terça-feira (07/05), o Santo Padre teve um encontro ecumênico e inter-religioso com os jovens, no Centro Pastoral de Skopje. O encontro foi iniciado com cantos e testemunhos de jovens católicos, ortodoxos e muçulmanos e a apresentação de danças.

Sonho demais?
Ao se dirigir aos jovens o Papa falou sobre as perguntas que tinha recebido de alguns deles. Começou com a pergunta de uma jovem: “Sonho demais?”, à qual Francisco logo respondeu: “Quero dizer para vocês que sonhar nunca é demais. Um dos principais problemas de hoje e de muitos jovens é terem perdido a capacidade de sonhar. Nem muito nem pouco; simplesmente não sonham! E, quando uma pessoa não sonha, quando um jovem não sonha, o respectivo espaço é ocupado pela lamentação e pela resignação”.

Depois de falar sobre a necessidade e importância fundamental dos sonhos recordou também que “Não há idade para sonhar…Sonhem e sonhem em grande!”.

Errar e recomeçar
Francisco recordou a exortação apostólica Christus vivit ao concluir seu pensamento: “Os sonhos mais belos conquistam-se com esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas” (…) “Ainda que erres – continuou – poderás sempre levantar a cabeça e voltar a começar, porque ninguém tem o direito de te roubar a esperança”.

Madre Teresa: lápis nas mãos de Deus
Ao falar sobre Madre Teresa, Francisco exortou os jovens: “Pensem em Madre Teresa! Quando morava aqui, não podia imaginar como haveria de ser a sua vida, mas não cessou de sonhar” (…) “Queria ser ‘um lápis nas mãos de Deus’. Tal era o seu sonho artesanal. Ofereceu-o a Deus, acreditou nele, sofreu por ele, nunca desistiu dele. E, com aquele lápis, Deus começou a escrever páginas inéditas e estupendas”.

O Papa completou seu pensamento recordando aos jovens que para conquistar os sonhos ninguém pode combater sozinho: “Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente, não se pode viver a fé, os sonhos sem comunidade, apenas no próprio coração ou em casa”.

E fez um apelo: “Por favor, sonhem juntos, não sozinhos; com os outros, nunca contra os outros. Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é juntos que se constroem os sonhos”.

“Face a face”
Francisco aborda o tema das comunicações através de conexões sugerindo o “face a face” aos jovens presentes, pois vivem “muito conectados e pouco envolvidos uns com os outros. Porque envolver-se reclama a vida, exige estar presente e compartilhar momentos belos… e outros menos belos”. O Papa recordou aos jovens que o “face a face” deve ser feito com todos, mas “sobretudo com os avós, com os idosos da comunidade”, porque é um antídoto contra a pressa e a necessidade de fazer tudo imediatamente que leva à “ansiedade, insatisfação e resignação”. “Para um coração doente com a resignação, não há remédio melhor do que escutar as experiências dos idosos”, conclui o Papa.

O Papa agradece aos jovens pelo encontro dizendo que constatou “inquietações, sonhos, busca… um terreno todo fecundo para fazer grandes coisas na vida de vocês”. “Vocês são artesãos de esperança”

Por fim Francisco convidou os jovens a rezarem juntos uma oração de Madre Teresa:

Precisais das minhas mãos, Senhor?
(Oração de Madre Teresa)

Precisais das minhas mãos, Senhor,
para ajudar hoje os doentes e os pobres
que delas necessitam?
Senhor, hoje ofereço-Vos as minhas mãos.
Precisais dos meus pés, Senhor,
para que me levem hoje
àqueles que necessitam dum amigo?
Senhor, hoje ofereço-Vos os meus pés.
Precisais da minha voz, Senhor,
para que eu hoje fale a todos aqueles
que necessitam da vossa palavra de amor?
Senhor, hoje ofereço-Vos a minha voz.
Precisais do meu coração, Senhor,
para que eu ame a quem quer que seja
sem exceção alguma?
Senhor, hoje ofereço-Vos o meu coração.