A Construção da Paz e o Cuidado com a Casa Comum. Estas duas pautas motivaram a celebração do Encontro Inter-religioso de Oração realizado na noite desta terça-feira, dia 31 de outubro, no Santuário do Cristo Redentor. A iniciativa recordou os 37 anos do “Espírito de Assis”, ocasião em que, no dia 27 de outubro de 1986, o Papa João Paulo II, durante Jornada Mundial de Oração pela Paz, convidou 54 líderes de religiões cristãs, 71 de religiões não cristãs e 25 bispos representando todas as regiões do mundo para um encontro de oração na cidade de Assis, na Itália, onde nasceu São Francisco.

Com transmissão ao vivo pela internet, o encontro contou com a participação de representantes das tradições Hare Krishna, cristã católica, do islamismo e do candomblé.  Na contextualização do ato, foi destacada a urgência para o mundo de buscar o caminho da paz: “O apelo profético da paz segue como um dos maiores desafios para a humanidade, capaz de tantos progressos econômicos e científicos, mas ainda muito distante do sonho de construção da paz universal. A realidade que grita insistentemente aos nossos ouvidos tem apresentado um cenário de guerra, dor, sofrimento e destruição em vários lugares do mundo e também aqui no Rio de Janeiro”, recordou a Mestre de Cerimônias, Leanna Scal. “Nosso encontro, pacífico, inter-religioso e marcado pela unidade na diversidade, deseja reafirmar, de forma muito humilde, que um outro mundo é possível. Sem armas, sem violência, onde todos se respeitem e se amem, onde não falte o pão a ninguém e todos possam se sentir cidadãos plenos ou, na visão da fé, filhos e filhas amados de Deus. A inspiração de São Francisco de Assis, neste lugar icônico para o Rio de Janeiro, para o Brasil e para o mundo, possa tocar o coração de nossos irmãos e irmãs, a fim de que o sonho de um mundo novo possa se transformar a realidade”, recordou Leanna.

Em nome do Reitor do Santuário, Padre Omar Raposo, a Irmã Ana Maria da Silva, da equipe de pastoral, deu as boas-vindas a todos os participantes e também aos internautas que acompanhavam o momento de prece: “Sejam bem-vindos para este encontro que deseja nos mostrar o caminho para paz através do diálogo inter-religioso. São Francisco, ícone da paz, nos inspira nesta busca tão linda, do respeito, do carinho e da admiração por todas as religiões e também por aqueles que não têm religião”, destacou. Representando a Igreja Católica e a Família Franciscana, Frei Gustavo Medella, do Convento Santo Antônio, explicou a origem do “Espírito de Assis”: “O encontro que hoje aqui celebramos, embora tenha sido convocado pelo Papa São João Paulo II, há 37 anos, recebendo o nome de Espírito de Assis, nasceu muitos anos antes, ainda na Idade Média, no coração de Francisco de Assis, como inspiração divina. Apaixonado por Jesus Cristo e com desejo ardente de ouvir a voz divina que falava em seu coração, Francisco foi exemplo de escuta e ousadia, de disposição inabalável para ir ao encontro do outro, sem medo ou reserva, sempre na certeza de que outro, ainda que diferente, às vezes até desconhecido, era também filho de Deus, era um irmão”, recordou o frade. Em espírito de oração e fraternidade, Frei Gustavo convidou a todos que acompanhassem a execução da música “Quando o Dia da Paz Renascer”, interpretado pela solista Ju Mota, do Grupo Dó Ré Mi, cuja letra diz: “Quando as armas da destruição, destruídas em cada nação, eu vou sonhar. E o decreto que encerra a opressão, assinado só no coração, vai triunfar”. A produção musical do encontro foi realizada pelo Maestro Leonardo Randolfo.

A representante da Sociedade Internacional para a consciência de Krishna, Kunti Devi Dasi, também fez uma exortação à construção da paz a partir da tradição religiosa à qual ela pertence: “Todos somos irmãos, seres espirituais, que devemos viver com respeito e harmonia com todos os seres vivos e toda a natureza. Somos almas espirituais, somos centelhas de Deus, não importa o nome que Ele receba”, explicou. “Pode-se alcançar perfeita paz somente em completa consciência de Deus. É importante enfatizar que este é um trabalho de toda sociedade e que deve ser partilhado por todos nós, especialmente os religiosos e religiosas”, recordou Kunti.

Em nome da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro, o Sheik Adam Muhammed, saudou os presentes com a saudação islâmica Assalam Aleikum, que significa “A Paz esteja com todos vocês”. “Deus é paz. Ele criou os humanos para que se conheçam uns aos outros. Deus nos fez diferentes. Não quer dizer que quem pensa diferente seja nosso inimigo. Pelo contrário, as diferenças enriquecem a nossa cultura”, refletiu o Sheik, manifestando o quanto o diálogo é importante para a construção da Paz.

O Babalorixá Pai Márcio de Jagum, do Candomblé, em nome das religiões de Matriz Africana, também trouxe sua mensagem e sua prece, manifestando a importância do compromisso humano na construção da paz: “A Paz certamente é um elemento que nós humanos precisamos lapidar, e não conseguimos fazer isso com apenas duas mãos, as nossas. A gente precisa esculpir a paz a muitas mãos, construir este elemento que vai nos ajudar a conviver com as injustiças, com as angústias e com as incertezas. Que vai nos inspirar mesmo diante dos conflitos. Que esta paz, almejada, esperançada, possa reverberar”, exortou.

Como gesto simbólico, os participantes do encontro, de mãos dadas, entoaram, junto com a solista, a conhecida Oração de São Francisco, “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz” num momento de confraternização e prece comum. Ao final, foi projetada, em muitas línguas, na imagem do Cristo Redentor, a palavra Paz, como desejo, sonho e apelo desta noite marcante em que a esperança de todos recebeu um novo alento.

Equipe de Comunicação da Província