Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“O céu há de ser sempre o horizonte da esperança”, diz Frei Daniel a seu irmão

21/05/2023

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Rodeio (SC) – A igreja onde Frei Gabriel Dellandrea teve a maior parte de sua rotina de oração durante o ano de Noviciado, que é também a Matriz São Francisco de Assis de Rodeio (SC), abriu as portas neste domingo da Ascensão do Senhor (21/5) para o início do seu Ministério Presbiteral. A simbólica e solene liturgia deste dia deu as linhas mestras para o seu presbiterado: “Vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”.

O seu irmão, Frei Daniel, fez a homilia desta Primeira Missa, aproveitando esta liturgia e a ordenação para falar da vocação: “A liturgia de hoje da Ascensão do Senhor nos convida a refletir esta nossa vocação. Olhar para o horizonte, para o céu, com esperança. Com os pés firmes no chão da vida”.

A primeira presidência da Celebração Eucarística realizada por Frei Gabriel, ordenado presbítero no dia anterior (20/5) na Igreja de São Virgílio, na Comunidade Rodeio 50, teve como concelebrantes seus confrades, como o Ministro Provincial Frei Paulo Roberto Pereira, o pároco Frei João Miguel Silva da Cruz, o seu irmão e Definidor Provincial Frei Daniel Dellandrea e Frei Augusto Luiz Gabriel, no serviço do altar.

Desde o início da Semana Missionária, todas as celebrações foram preparadas com muito cuidado e carinho pelas equipes envolvidas e não foi diferente neste domingo. O outono, com cara de inverno na região catarinense do Vale do Itajaí, deixou o clima agradável e o sol, ainda que timidamente, apareceu para dar mais calor. Toda essa atmosfera trouxe o povo de Deus para ser testemunha deste momento único na família Dellandrea, na Família Franciscana e no povo rodeiense.

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Após a Proclamação do Evangelho, Frei Gabriel lembrou que existe uma tradição que o neopresbítero convide outro “irmão mais velho” para fazer a homilia. No caso dele, não foi só de sua Fraternidade, mas de sua família mesmo. “Até ontem eu era só um padre da família, agora sou o padre mais velho”, brincou Frei Daniel.

Segundo ele, hoje é dia de se alegrar com a vocação de Frei Gabriel e com a vocação de toda a Igreja. “E celebrar a ordenação de Frei Gabriel neste ano que celebramos, com toda a Igreja, o Ano Vocacional, é um sinal da graça de Deus. A Igreja nos leva a refletir sobre todas as vocações. A Igreja é a fonte das vocações, o local do chamamento do Senhor. Não só a vocação presbiteral, não só a vocação de religiosos, mas a vocação de batizados. Nós somos chamados a ser sal e luz neste mundo”, explicou o frade.

Frei Daniel falou também que é no berço da família que nascem e brotam as vocações. Para fundamentar, falou dos “muitos sinais vocacionais” que ajudaram aos dois irmãos dar o “nosso ‘sim a Deus'” (veja a homilia na íntegra na transmissão da Missa).

Para Frei Daniel, vocação não é um chamado de Deus para fazer algo apenas para si próprio, mas é uma função, uma tarefa desse próprio Deus que foi vocacionado de amor à humanidade. Mesmo Jesus Cristo foi vocacionado do Pai, enviado do Pai a este mundo para nos revelar o amor de Deus. Por isso, quando Deus nos chama à vocação, nós recebemos de Deus o amor. Nos amando, Deus nos chama. E devemos responder com amor, como ele nos amou”, frisou.

Lembrou, contudo, que o chamado de Deus pressupõe a missão, a propagação desse amor que recebemos. “O seu lema fala disso. Conhecer o amor de Deus para poder agir de acordo com a vontade de Deus. Essa foi a experiência de nosso Pai São Francisco. Ele percebeu que no amargo da vida, há a doçura de Deus, como beijo ao leproso”, citou. Segundo ele, ao sentir a doçura de Deus, ele também olhou para a sua missão: “Senhor, que queres que eu faça?”.

“E percebeu que o amor não é amado. Talvez, ao perceber a sua fraqueza, ainda viu que precisava amar muito mais e o quanto distante estava do amor de Deus.

A Ascensão do Senhor, que hoje celebramos, nos mostra esse amor que Deus nos conduz em direção à eternidade, mas passa pelo amor da vida, pela prática dessa vocação, de amar como ele nos amou”, ressaltou.

FALTA UM

Segundo o Evangelho, Jesus levou ao monte onze de seus discípulos. “E esta semana Frei Paulo e eu estávamos numa reunião com o bispo da Diocese e ele dizia na reflexão que foram onze discípulos não os doze. Judas já não estava mais presente”, disse. “Esse que faltava não é só o Judas por ser traidor, mas esse que faltava para completar os doze é aquele a quem ainda o Senhor a de chamar, é aquele a quem ainda demonstra que o grupo dos doze apóstolos, o grupo dos discípulos ainda está incompleto e a ser completado por aqueles que os discípulos terão de ir buscar. ‘Ide por todo o mundo e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo'”, explicou.

Para ele, cada um de nós é este discípulo ou discípula que falta para completar este grupo dos doze. “Todos nós somos chamados para fazer parte deste grupo escolhido pelo Senhor”, assinalou.

“A nossa vida é um peregrinar em direção a Deus. Como sacerdotes e religiosos temos essa missão de conduzir o povo a Deus”, indicou. “Mas ao olhar para o céu percebemos o quanto somos pequenos. Ao olhar para o céu, para a imensidão do espaço, perguntamos: O que sómos nós diante da grandeza do universo? Olhar para o céu nos faz perceber o que somos diante de Deus. Nós não somos totalmente divinos, somos humanamente também filhos Dele, mas pequenos”, observou.

Segundo ele, o serviço evangelizador deve também ter sempre esta compreensão. “Servir na humildade, na pequenez, como o próprio Jesus que não se apegou na sua condição divina, mas, ao fazer-se humano, mostrou-nos que também o serviço ao Pai se faz no lava-pés, na entrega e no amor aos outros”, ensinou.

“Olhar para o céu nos recorda que devemos ter os pés no chão, pois a esperança do céu deve fazer alegria do nosso peregrinar diário. Hoje não é fácil enfrentar as dificuldades da vida. Muitas vezes precisamos olhar para o céu para que tenhamos a força de Deus para enfrentar as dificuldades. O céu há de ser sempre o horizonte da esperança”, ressaltou.

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Falando ao neopresbítero, Frei Daniel lembrou que se corre o risco de ficar alienado no mundo achando que a vida do sacerdote é apenas espiritualidade ou se apegar ao chão do mundo e esquecer do ministério de serviço de Deus ao mundo. E alertou: “Criar este caminho de discípulos e missionários de trazer a beleza do céu a este mundo não é fácil. O mundo vai realmente, muitas vezes, nos crucificar. Jesus dizia que quem quer segui-Lo, ‘tome a sua cruz’. Mas na hora do desespero, lembre-se do que disse Jesus no Evangelho de hoje: ‘Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo'”, orientou.

Frei Daniel, a exemplo do bispo no dia da ordenação, lembrou a Frei Gabriel que ele não está sozinho e que tem os irmãos da Fraternidade. “Acredito que muitas palavras não possam dizer tudo sobre uma experiência tão bonita que é a vocação ao sacerdócio. Jesus dizia ‘vinde e vede’. Vamos juntos nesta barca, lançar as redes, deixemos também nos iluminar por esta Palavra que o Senhor ainda nos procura ensinar, pois a messe é grande”, convidou o irmão mais velho.

Frei Daniel lembrou que Frei Gabriel está a serviço da Animação Vocacional da Província e vai exercer a mesma missão de lançar as redes, de animar muitos na vocação franciscana.

GRATIDÃO

Em nome da Paróquia anfitriã da celebração, Ervino Girardi fez agradecimentos e homenagens. “A Paróquia se sente agradecida pela Primeira Missa celebrada aqui, nesta casa que tem como Padroeiro São Francisco de Assis. Sinta-se abraçado por cada paroquiano. Sabemos que tem um caminho longo a percorrer, mas não impossível nesta sua missão. Querido Frei Gabriel, pedimos com muito carinho: não esqueça de nossas famílias, abrace nossas crianças, olhe com atenção especial para nossos jovens, dê carinho para nossos idosos”. Ele pediu, com a intercessão de Maria e São Francisco para sua vocação e missão.

Taís Santos veio com o grupo de Imbariê, em Duque de Caxias (RJ), e agradeceu a Frei Gabriel pelo trabalho que realizou na Paróquia Santa Clara de Assis, em especial com os jovens. “Sua presença foi muito marcante para nós. Você sempre esteve à nossa disposição. Obrigado por nos fazer entender que Cristo é nosso ponto de partida. Conte com nossas orações e não deixe de rezar por nós”, pediu.

O Vigário Provincial, Frei Gustavo Wayand Medella, falou em nome dos frades. “Seguimos costurando, costureiros que somos de relações, de sonhos, de dificuldades, de desafios. Seguimos costurando com a graça de Deus”, disse.

Ele recordou que esta semana celebra-se a Semana Laudato Si’ e que o Papa Francisco nos ensina que tudo está interligado na sua Carta Laudato Si’. Nesta semana completa 8 anos da sua publicação.

“Por isso, a palavra que tenho para dizer agora é obrigado, que quer dizer ‘totalmente ligado a isso que você fez por mim’. A essa presença que você marcou na minha vida. Aí está costurada e não vai mais descosturar. É esse obrigado que queremos dizer à Paróquia São Francisco de Assis e a todas as suas Comunidades e ao Frei João Miguel, representando essa imensa comunidade costurada no amor de Deus, neste querido pedaço de chão deste Vale Trentino. Muito, muito obrigado”, enfatizou.

E continuou: “Obrigado a esta Fraternidade de Rodeio. Hoje faz um ano que Frei Josemberg celebrou a Primeira Missa. Obrigado à Família Dellandrea. Um agradecimento especial ao nosso Serviço de Animação Vocacional da Província. Obrigado à equipe Missionária, que passou costurando casas e casas. Muito obrigado pelas bênçãos que vocês generosamente ofereceram costurando os corações de quem com vocês foram visitar”, completou.

Frei Gustavo lembrou que daqui a uns dias, Frei Gabriel terá o compromisso como pregador da Trezena de Santo Antônio, no Convento Santo Antônio do Rio de Janeiro. “Estamos esperando de braços abertos”, disse.

Frei Gabriel agradeceu a todos, especialmente ao seu irmão Frei Daniel pela homilia desta celebração.


Moacir Beggo