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“Nós não aprendemos ainda a escutar os nossos jovens”, diz o professor Ponchiroli da FAE

06/03/2022

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A série da Campanha da Fraternidade, promovida pela Província da Imaculada Conceição, no formato podcast, apresenta no terceiro episódio, neste domingo, 6 de março, o professor de Filosofia da FAE – Centro Universitário, Osmar Ponchiroli, para falar sobre o tema “Educar para a Escuta”. Neste ano, a Campanha aborda o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31, 26).

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Sobre o tema deste episódio, o professor lembra que no nº 26 do texto da CF, está escrito que escutar é mais do que ouvir, numa “provocação para todos nós”, principalmente para quem atua na área da educação. “Escutar é mais do que ouvir porque o escutar é colocado na linha da comunicação. Tem um filósofo alemão, Jürgen Habermas, que fala da teoria da ação comunicativa e da importância do diálogo intersubjetivo. Sabemos que a subjetividade é uma característica da modernidade, mas levou a um certo individualismo e o escutar que a CF nos apresenta é um escutar que está na linha da comunicação, portanto não se reduz a uma mera informação”, explica o professor.

Segundo Ponchiroli, o grande erro na educação está em que se é bom para ouvir. “Nós não aprendemos ainda a escutar os nossos jovens. Por quê? Escutar pressupõe proximidade. Quando a gente fala de proximidade é como a experiência que a gente faz na família. O aspecto relacional torna possível um encontro verdadeiro. E um encontro verdadeiro é um encontro de almas. Então, a escuta permite encontrar o gesto, permite encontrar a palavra oportuna que nos desinstala, fazendo com que a gente não fique somente como espectador da realidade. Então, o escutar é uma condição para nossas relações, para compreensão do que se passa, para o diagnóstico dos caminhos que devemos tomar”, acrescentou, elogiando o texto da CF nesse aspecto.

“Então, escutar é uma condição para falar com sabedoria e ensinar com amor.  No texto evangélico (Lucas 6, 45) tem uma mensagem espetacular: ‘A boca fala daquilo que o coração está cheio’. Se é para falar no universo da educação e em qualquer outra realidade da sociedade, temos que falar com sabedoria. Escutar a realidade que nos fala é recuperar a percepção dos sinais dos tempos. Isso vem do Papa João XXIII e recorda o início do Concílio Vaticano II. É estar atento aos sinais dos tempos. Escutar é escutar a realidade. Escutar a realidade significa o esforço de compreender seus gritos, o esforço de compreender seus silêncios, seus excessos e ausências”, indicou.

Segundo ele, na experiência que teve com os jovens, tanto na educação formal como não formal, aprendeu que se deve ficar atento para aquilo que o jovem não fala. E ficar atento para aquilo que o jovem não fala é a capacidade de escutar.

Ponchiroli também falou sobre a definição de “escuta integral” do texto da CF. Para ele, a escuta na esteira da pedagogia de Jesus é algo fundante e não orienta os ouvidos somente para sons que nos interessam. “No cotidiano da nossa vida nós nos acomodamos a ouvir somente coisas que nos agradam.  Muita gente rejeita e exclui pessoas que falam coisas que não nos agradam. Estar na esteira da pedagogia de Jesus, podemos dizer que é uma escuta integral. Ela se faz com o ouvido e com o coração, buscando a inteireza da realidade, com tudo o que essa realidade pode trazer”, explanou.

Para ele, a partir dessa escuta, que é algo extremamente difícil na realidade humana, pode-se perceber a vontade de Deus e os caminhos a escolher: “Eu, quando estava rezando esse texto da CF – não somente li mas eu rezei -, esse foi um momento muito impactante. Eu comecei a questionar: até que ponto, na esteira da pedagogia de Jesus Cristo, nós estamos percebendo qual é verdadeiramente a vontade de Deus e quais os caminhos que podemos escolher, tanto na vida pessoal como para a realidade de nossas escolas, universidades e assim por diante?”, perguntou o professor.

w”Então, uma escuta integral se faz exigente quando a fé diz que a salvação, garantida pelo sacrifício redentor de Jesus Cristo, é uma salvação integral. Que envolve todas as pessoas e cada pessoa no seu corpo. Isto é, e todas as suas dimensões na concretude histórica. Essa ideia que a CF nos traz da escuta integral é algo extremamente vital para a nossa vida. É a expressão de amor de Deus pelo mundo, que não se cansa de anunciar a grandeza e as dimensões desse amor que nos salva integralmente. Mas também não se cansa de denunciar tudo o que o degrada. Essa capacidade profética é uma exigência desse momento histórico que estamos vivendo e algo muito sábio que o texto da CF traz é a referência à Doutrina Social da Igreja, um ponto de referência indispensável para a formação cristã concreta. É muito importante no nosso trabalho a aproximação com Doutrina Social da Igreja”, avaliou o professor.

“Escutar a realidade é uma condição para construir e reconstruir o projeto de humanidade a partir dos sinais de Deus na história da humanidade. Nunca perder de vista essa perspectiva”, ensinou.

No dia 9 de março, no quarto episódio, o Professor da Associação de Ensino Senhor Bom Jesus, Mário Renato Longen, fala sobre o tema “Educar para um Projeto de vida”.


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