Frei Medella: “Não sejamos econômicos no perdão”
29/09/2018
Moacir Beggo
São Paulo (SP) – Para falar do tema da paz, a Novena em honra ao Padroeiro do Convento e Santuário São Francisco, no centro de São Paulo, cada dia toma uma parte da Oração atribuída a São Francisco de Assis. Neste sábado (29/9), quinto dia da Novena, foi a frase – “Onde houver ofensa que eu leve perdão” – que serviu de base para a reflexão do Definidor e Coordenador da Frente da Comunicação, Frei Gustavo Medella, que presidiu a Celebração Eucarística, às 15 horas. Ele foi enfático: Não sejamos econômicos no perdão!
Frei Medella partiu de três considerações sobre a ofensa e apresentou três remédios para curar as feridas provocadas por ela.
Segundo ele, a primeira consideração é a que vivemos hoje num contexto onde, infelizmente, ofender e ser ofendido tornou-se algo cotidiano e banal. Desde um pequeno dissabor no trânsito, passando pelas redes sociais, onde se julga antes no tribunal da virtualidade, onde até notícias falsas servem de critério para condenar o outro, ofendê-lo na sua honra, até uma mensagem de whatsapp, com ofensas, que foi enviada sem pensar. Hoje, infelizmente, vivemos num contexto em que se torna muito fácil ofender e ser ofendido. E isso não cria bons frutos, isso não produz bons resultados, nem para nós nem para os outros. Tomemos muito cuidado para não entrarmos nesta maré de ofensas vãs, de ofensas fáceis, que não constroem mas só destroem os nossos relacionamentos, a nossa paz interior, a nossa integridade moral. Por isso, vamos evitar, especialmente aquelas relativas à questão religiosa, à questão política. Mesmo que o outro pense diferente, eu não preciso ofendê-lo, eu não preciso desqualificá-lo. Eu posso muito bem manter um diálogo franco, aberto e sincero”, indicou o frade.
A segunda consideração é uma faca de dois gumes, disse Frei Medella, pois fere o ofensor e o ofendido e porque é um instrumento de desumanização. “Ofender significa desrespeitar o outro naquilo que ele tem de mais sagrado na sua humanidade, na sua inteireza, na sua consciência. E quem pratica este ato está se desumanizando também, está se degradando, está se ofendendo”, lembrou o frade.
A terceira é a ofensa que não se faz apenas com palavras, mas também com atitudes, posturas, escolhas, comportamentos. “E Jesus ilustra muito bem o Evangelho que acabamos de ouvir com três símbolos de atitudes que são profundamente ofensivos ao nosso irmão, à nossa irmã. Primeiro, ele fala da mão que leva a pecar. O que a mão significa? O que os pecados produzidos com a mão podem significar? Tudo aquilo que fala do egoísmo, da ganância, do ter vontade só para si, do olhar para o próprio umbigo, do ignorar o diferente, do querer ter posses, da autossuficiência, da vaidade, do autocontrole. Tudo isso é pecado com a mão. E ele mesmo diz que se for para nutrir essa postura, é melhor romper com ela definitivamente. Arranca-a fora. Arranca toda aquela atitude de pecado que a mão possa simbolizar para ter liberdade e alcançar o reino dos Céus”, observou o celebrante.
Segundo ele, insistir com veemência nesses pecados da ganância, da acumulação de bens, do egoísmo, do querer mais, nos leva àquele caminho descrito por São Tiago na segunda leitura, onde ele diz que tudo o que é material a traça corrói, tudo o que é metal a ferrugem leva embora, e fica só o vazio da nossa tristeza.
Depois Frei Medella falou sobre as ofensas relacionadas ao pé. E enumerou: sede de poder, a vontade de dominar, de pisar sobre o outro, de tirar proveito, as relações afetivas abusivas, o feminicídio, a agressão à mulher, o bullyng, o assédio moral no trabalho e tudo relacionado à exploração no mundo do trabalho, à escravidão. “Tudo isso são atitudes profundamente ofensivas que o pé pode significar”, disse.
Quanto ao olho estão associados: O não enxergar o outro nas suas necessidades, a indiferença, o julgamento temerário, olhar com preconceito, condená-lo sem conhecimento de causa, descomprometer com o drama que ele vive, ignorá-lo. Todos esses são pecados que o olho pode simbolizar. “E Jesus nos pede: vamos romper com essas atitudes de uma vez por todas, para que possamos estar livres a serviço do reino. Para que possamos abraçar os remédios que curam as ofensas que sofremos e curam as pessoas que foram ofendidas”, ensinou o frade.
Dos três remédios para curar as ofensas, o primeiro é a compaixão. “Compaixão é a capacidade de sentir ‘com o outro’, de se tornar solícito e solidário com aquilo que o outro está passando ou sofrendo. Perceber que somos, sim, irmãos de sangue de todos, porque o mesmo sangue que Cristo derramou por mim, derramou por cada ser humano, por cada pessoa”, explicou o celebrante.
Da compaixão, segundo Frei Gustavo, nasce a empatia, que é a capacidade de trazer em si aquilo que o outro sente, de se colocar no lugar do outro. “Se nós tivermos empatia, ao olharmos para o morador de rua, poderíamos pensar assim: ‘E se fosse eu no lugar dele, como gostaria de ser tratado? Certamente, a nossa atitude mudaria, porque se fosse eu, no lugar dele, não gostaria de ser tratado com xingamentos, com julgamentos, com indiferença, com grosseria, com falta de educação. Mas gostaria que alguém se interessasse por mim, que me cumprimentasse, que conversasse, que me compreendesse. Então, a empatia também cura feridas decorrentes da ofensa”, salientou.
Por último, o perdão, que não deve jamais ser algo inacessível, como uma moeda de troca valiosa que temos e da qual não abrimos mão. “O perdão não é nosso. É dom de Deus. Se nós recebemos de graça nós precisamos dar de graça. Quanto mais nós damos, mais ele se multiplica em bênçãos para nós e para outros. Por isso não sejamos econômicos no perdão!”, pediu.
Frei Medella encerrou com uma orientação para que se tome a dianteira quando alguém tem um problema com o outro. “Não fique com medo de uma recusa: ‘ah, e se ele não quiser me perdoar!’. Você fez a sua parte. Deus, certamente, está trabalhando o coração dele. Não sinta-se diminuído por isso. Que o Senhor nos ajude nesse caminho!”, pediu.
Neste domingo, a Novena no Convento e Santuário São Francisco será mais cedo. Ela terá início com a procissão, no Mosteiro São Bento, saindo às 9h30. Às 10h30, terá início a Celebração Eucarística no Santuário, presidida por Dom Mathias Tolentino Braga, abade do Mosteiro.