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Na festa de Santo Antônio, Frei Paulo pede: “Trombeteemos o céu, não esta vidinha passageira”

14/06/2022

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Curitiba (PR) – A presença franciscana no centro de Curitiba, capital paranaense, tem uma forte devoção a Bom Jesus dos Perdões, Padroeiro da Paróquia que foi fundada em 24 de maio de 1951. A devoção a Santo Antônio, contudo, chegou com os frades em 1899 e garante uma das festividades franciscanas mais tradicionais na cidade. Durante todo o dia, foram celebradas as Missas nos horários das 7h00, 9h30, 12h00, 15h00, 16h30, 18h00 e 20h00.

O Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, aceitou o convite de Frei José Idair Ferreira Augusto, guardião e pároco desta Fraternidade, para participar destes festejos. “Agradeço ao José Idair  por ter me proporcionado estar aqui nestes dias. Ele e Frei Evaldo me convidaram para estar aqui celebrando Santo Antônio no início do ano e agradeço pela iniciativa de reunir os frades numa única celebração para que a gente possa se alegrar e dividir toda essa alegria com o povo devoto de Santo Antônio”, disse Frei Paulo.

Frei Paulo reforçou a presença franciscana que já dura séculos: “Aqui, nessa comunidade paroquial, há quase cem anos tem a Pia União de Santo Antônio, quase o mesmo tempo tem a Ordem Franciscana Secular e os homens e mulheres, jovens e crianças que aqui vêm, podem beber e partilhar conosco da alegre vocação franciscana, que encantou Santo Antônio”.

Na sua homilia, retomou o comentário de Frei José Idair, lembrando que Santo Antônio pertencia a uma outra família religiosa e quando viu passar no seu convento um grupo de frades missionários, ele ficou encantado. “Certamente, não só pelas virtudes dos frades, mas pela sua disposição de servir. Nós também, em fraternidade. Alguns de nós aqui temos muitas virtudes e até o Frei Diamantino teve a virtude suficiente para ser eleito bispo da Campanha; Frei Florival que canta, o Frei Alexandre missionário, o Frei Angelo também”, enumerou.

“Todos nós poderíamos dizer da virtude de cada um. Mas o que marca a fraternidade não é um conjunto de virtudes. Pode havê-las e é bom que haja. Mas o importante é a disposição de servir. Isso é a marca da Fraternidade e, certamente, é isso que encantou Santo Antônio. A disposição daqueles jovens frades que passaram ali pelo Convento em Portugal, na direção da África, na direção do martírio, dos infiéis e sarracenos, como eram chamados”, explicou.

ESPÍRITO DO SENHOR

“Então, tinham uma disposição generosa, grandiosa, de servir o Evangelho, como nós ouvimos na primeira leitura. Não falar apenas de sabedorias humanas, mas deixar-se mover-se pelo Espírito do Senhor que enche a terra inteira com a graça. E isso impressionou Santo Antônio. Então, à nossa Fraternidade é exigido virtude, sim. Mas, sobretudo, é exigido disposição de abrir-se ao seu Espírito. Deixar-se mover pelo Espírito e que o Espírito nos leve onde nós formos e não nos leve de qualquer jeito, porque quando somos movidos pelo Espírito Santo, nós então nos santificamos e a santidade de Santo Antônio é esta. Aliás, dele se diz: ‘Ali viveu Santo Inácio, ali viveu Apolônio, ali viveu o ‘Santo’. O ‘Santo’ tem o seu nome, mas para os paduanos que conheceram Antônio, eles não falavam Santo Antônio. Diziam e bastava: ‘o Santo’. Quando iam à sua igreja, diziam: vou ‘ao Santo’. Porque Santo Antônio é ‘o Santo’, não só por suas virtudes e são muitas, mas porque ele se deixou desde o início mover-se pelo Espírito do Senhor, que é santificante, santificador. Deixarmo-nos mover pelo Espírito, esta é a vocação de todo franciscano”, orientou Frei Paulo.

INTIMIDADE COM O SENHOR

“E Santo Antônio é o santo da intimidade com o Senhor. As suas imagens, normalmente, trazem ou mostram com um Menino no colo. E algumas imagens, o Menino admirado, acariciando Santo Antônio. É a intimidade. É íntimo amigo do Menino Deus. Santo Antônio é o santo da intimidade com o Senhor e transmite a nós intimidade também. Nós o temos como alguém da família. A ele nós falamos coisas que normalmente a outro santo não falamos. ‘O Santo Antônio, me ajuda aí achar um bom companheiro, ou uma boa companheira’. Veja lá se isso é coisa para dizer para um santo! Para Santo Antônio, a gente diz, porque ele é da nossa intimidade. ‘Oh, Santo Antônio, ajude achar minha receita que eu tenho que ir lá na farmácia’. A gente vai ficando mais velho, nosso assunto é remédio e médico. ‘Eu perdi meu cartão de ônibus’, e a gente fala com ele para achar a coisa perdida. Ele é o santo da família, é o santo da intimidade com Deus e o santo íntimo dos nossos corações. Como é bom a gente estar perto de alguém que tem intimidade com o Senhor. Nós temos intimidade com alguém que tem intimidade com o Grande Rei. Olha que privilégio. Cultivar essa intimidade com o Santo Antônio nos faz íntimos do Menino Deus. Cultivar a intimidade com Santo Antônio não só para ter dele os privilégios e as graças, mas para que nós também possamos ser íntimos daquele que ele é íntimo”, definiu.

SANTO DA PRESENÇA

“Santo Antônio é o santo da presença. Não só da presença nos comércios, nas cidades. Aqui deve ter Santo Antônio do Pinhal, Santo Antônio da Platina. É Padaria Santo Antônio, é rua Santo Antônio, tudo é Santo Antônio, clínica, farmácia. É o santo da presença, da presença atenta. A devoção a Santo Antônio cresce porque todos nós podemos a ele recorrer, porque ele nos dá atenção às mais diferentes necessidades. Está sempre pronta sua intercessão a nos dar assistência”, lembrou o Ministro Provincial.

SANTO DO SENSO DE JUSTIÇA

“E, mais do que isso, Santo Antônio é o santo do senso da justiça. Através dele, até a mulher pobre, sem dote, também pode casar-se. Através dele, da sua intercessão, da sua pregação e da sua atitude, os pobres, aqueles que batiam no convento para pedir comida, eram saciados. Senso da justiça, que fez – e a gente usa essa expressão às vezes até sem saber -, ‘tirar o pai da forca’. É expressão de Santo Antônio. Seu pai tinha sido acusado injustamente e ele, estando longe, foi lá e argumentou que o pai não era culpado. É o senso da justiça. Santo Antônio é presente na nossa vida e nos traz essa preocupação com os desvalidos. Através do seu exemplo, também devemos nos fazer próximos das pessoas. Através do seu exemplo também devemos cultivar esse senso da justiça, e não permitir que ninguém fique ao desabrigo. Ter um olhar solidário para quem sofre, ter um olhar atento às necessidades dos nossos irmãos e irmãs. Esse é o exemplo de Santo Antônio, que nós, da sua família, como ele, queremos deixar mover pelo Espírito do Senhor. É isso que nós buscamos”, conclamou.

TROMBETA DO EVANGELHO

“E Santo Antônio, em diversos títulos da sua Ladainha, é chamado de Trombeta do Evangelho. E trombeta a gente diz com força e alto. E trombeta não se dá nem porque ele tinha uma boa voz e, de fato tinha que enchia uma praça. Santo Antônio, sem os microfones e a tecnologia de hoje, falava de forma audível a uma audiência muito grande.  Vinte, trinta mil pessoas na praça ouviam Santo Antônio. De fato, ele tinha uma voz tonitruante. Podia falar e todos conseguiam escutá-lo. Mas não é por causa disso que ele se chama Trombeta. É mais pelo sentido simbólico da trombeta e, aqui, quero chamar a atenção de três elementos da trombeta”, explicou.

O SIGNIFICADO SIMBÓLICO DE TROMBETA

O primeiro deles é o que inaugura o jubileu. Na Sagrada Escritura, nós vamos ver que de 50 em 50 anos era proclamado o jubileu. E jubileu, o nome vem exatamente disso, porque uma trombeta feita do chifre de carneiro anunciava o ano da graça. O que o profeta Isaías nos lembrava hoje. O que acontecia no ano da graça? A reconciliação, a restituição, a libertação dos cativos. O ano da presença de Deus na nossa história, generoso, que nos oferece todos os dons, o Deus libertador que nos desata todas as correntes. Era um compromisso do povo voltar-se para o Senhor na genuinidade da sua predileção. Então, Santo Antônio é a Trombeta que anuncia o grande jubileu, o tempo novo, tempo da reconciliação, tempo do perdão, tempo de voltarmo-nos para as origens, para as fontes, que nos faz povo predileto de Deus. De novo, a preocupação com a verdade, a preocupação com a justiça, com a reconciliação. E vejam como estamos vivendo hoje. Tanta cisão, tanta divisão, tanto afastamento um do outro, nos nossos relacionamentos interpessoais, no relacionamento entre as nações, evidenciando aquilo que já o Papa João Paulo II identificava no nosso mundo: o afastamento que produz ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais necessitados. O tempo de trombetear que é necessária a reconciliação é o tempo atual. E Santo Antônio é Trombeta que anuncia o jubileu, e nós todos devemos trombetear. A trombeta era o que precedia a visita do grande Rei. Ela era precedida pelo sonar das trombetas. Algumas noivas escolhem as trombetas para o seu casamento. E aí vai acontecer a coisa mais bonita do casamento: a entrada triunfal da noiva. E isso que acontecia com as visitas dos reis.

Segundo – Santo Antônio é Trombeta que não anuncia a si mesmo. Assim era a pregação de Santo Antônio e assim deverá ser a nossa pregação. A vida de Santo Antônio e também a nossa vida, não deve falar da gente mesmo, mas daquilo que a gente crê e espera, sobretudo nesse tempo de um personalismo exacerbado. Nós corremos o risco de até exceder, não cultivar a profecia, para alcançar likes. Tristemente nós vemos isso nas nossas pregações. A Igreja vai abandonando a profecia para ser agradável aos ouvidos e levar curtidinhas ao final. Não, não anunciamos a nós mesmos. Devemos anunciar o Reino de Jesus Cristo, com todas as suas escolhas bem definidas. Jesus Cristo escolheu estar ao lado do mais pobre; Jesus Cristo escolheu estar ao lado da pecadora; Jesus Cristo escolheu estar ao lado dos desvalidos. E nós, então, devemos anunciar que ele está vindo. A grande coisa, a mais linda, da nossa pregação é dizer: ele está por chegar!

E aí para terminar, a terceira dimensão simbólica da trombeta. O livro de São Mateus, no seu Evangelho, vai mostrar que quando Jesus vier em sua glória, também os anjos tocarão trombetas para anunciar que deverão chegar bem mais perto do Senhor, agora resgatados aqueles que em vida praticaram a justiça.

“Então, Santo Antônio, e nós também com ele, trombeteemos, que o Reino dos Céus está preparado para os justos, e praticar a justiça, promover a paz, gerar inclusão, antecipa o Reino. Já vemos soar as trombetas. Trombeteemos o céu, não esta vidinha aqui passageira, esta vida humana se consegue definir, mas a sabedoria de Deus nos projeta, nos dá esperança, e nós somos gente de esperançar. Santo Antônio, Trombeta do Evangelho; Santo Antônio nosso amigo; Santo Antônio que desejou oferecer sua vida a serviço de todos, seja sempre nosso intercessor!”, pediu.

Frei Paulo também concelebrou no 11º e 12º dias, bem como no encerramento da Trezena de Santo Antônio, no domingo, com o tema do dia “Santo Antônio e o Mistério da Trindade.

Frei José Idair agradeceu a presença de Frei Paulo: “Gratidão é a palavra de um sincero coração. Antes de ser Provincial, já falava bem. Agora, fala como quem tem autoridade. Muito obrigado por ter vindo, por ter dispensado o seu tempo e partilhado conosco. Continue trombeteando porque o mundo precisa de gente corajosa e destemida para que faça, de fato, ecoar o Evangelho de Jesus Cristo”.


Comunicação da Província da Imaculada Conceição