Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Momento histórico no encontro pela paz no Vaticano

10/06/2014

Papa Francisco

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Domingo, 8 de junho de 2014, um momento histórico, uma imagem indelével: o encontro de oração no Vaticano com o Papa Francisco e os presidentes israelita e palestiniano, Shimon Peres e Mahmoud Abbas, na presença do Patriarca de Constantinopla Bartolomeu I. As invocações foram proferidas em várias línguas, todas elas dirigidas para uma só prece: a paz na Terra Santa.

O local do encontro foi um cantinho relvado nos Jardins do Vaticano. O Papa Francisco, o Patriarca Bartolomeu e os dois presidentes ficaram no centro enquanto as delegações, os cantores, os músicos e a imprensa ladearam este encontro memorável. Usaram da palavra os três principais protagonistas: o Papa Francisco e os presidentes Peres e Abbas. O Santo Padre afirmou que este é o momento de “derrubar os muros da inimizade e percorrer o caminho do diálogo e da paz” e considerou que este mundo “é uma herança” mas também “um empréstimo” aos nossos filhos:

“Senhores Presidentes, o mundo é uma herança que recebemos dos nossos antepassados, mas é também um empréstimo dos nossos filhos: filhos que estão cansados e desfalecidos pelos conflitos e desejosos de alcançar a aurora da paz; filhos que nos pedem para derrubar os muros da inimizade e percorrer o caminho do diálogo e da paz a fim de que o amor e a amizade triunfem.”

O Papa Francisco sublinhou ainda que para dizer sim ao diálogo e não à violência; sim às negociações e não às hostilidades é preciso coragem:

“É preciso coragem para fazer a paz, muita mais do que para fazer a guerra. É preciso coragem para dizer sim ao encontro e não à briga; sim ao diálogo e não à violência; sim às negociações e não às hostilidades; sim ao respeito dos pactos e não às provocações; sim à sinceridade e não à duplicidade. Para tudo isto, é preciso coragem, grande força de ânimo.”

Um sentido agradecimento foi dirigido ao Papa Francisco quer pelo presidente Peres quer pelo presidente Abbas por ter proposto no Vaticano este encontro. Ambos tomaram a palavra. Ouçamos primeiro Shimon Peres que se expressou em hebraico que afirmou que se deve pôr fim “à violência” e “ao conflito”:

“Dois povos – israelitas e palestinianos – desejam ardentemente a paz. As lágrimas das mães sobre os seus filhos estão ainda marcadas nos nossos corações. Nós devemos pôr um fim aos gritos, à violência, ao conflito. Nós todos temos necessidade de paz. Paz entre iguais.”

A realização da verdade, da paz e da justiça foi a prece do presidente Mahmoud Abbas que falou em árabe:

“Por isso pedimos-Te, Senhor, a paz na Terra Santa, Palestina e Jerusalém, juntos com o seu povo. Nós pedimos-Te de tornar a Palestina e Jerusalém, em particular, uma terra segura para todos os crentes, e um lugar de oração e de culto para os seguidores das três religiões monoteístas.”

Com as palavras dos dois presidentes, israelita e palestiniano, terminou este encontro que ficou marcado por um cordial abraço e pelo plantar de uma oliveira para a paz.

ÍNTEGRA DO DISCURSO DO PAPA
Senhores Presidentes, santidade. Irmãos e irmãs.

Com grande alegria vos saúdo e desejo oferecer, a vós e às ilustres Delegações que vos acompanham, a mesma recepção calorosa que me reservastes na minha peregrinação há pouco concluída na Terra Santa.

Agradeço-vos do fundo do coração por terdes aceite o meu convite para vir aqui a fim de, juntos, implorarmos de Deus o dom da paz. Espero que este encontro seja o início de um caminho novo à procura do que une para superar aquilo que divide.

E agradeço a Vossa Santidade, venerado Irmão Bartolomeu, por estar aqui comigo a acolher estes hóspedes ilustres. A sua participação é um grande dom, um apoio precioso, e é testemunho do caminho que estamos fazendo, como cristãos, rumo à plena unidade.

A vossa presença, Senhores Presidentes, é um grande sinal de fraternidade, que realizais como filhos de Abraão, e expressão concreta de confiança em Deus, Senhor da história, que hoje nos contempla como irmãos um do outro e deseja conduzir-nos pelos seus caminhos.

Este nosso encontro de imploração da paz para a Terra Santa, o Oriente Médio e o mundo inteiro é acompanhado pela oração de muitíssimas pessoas, pertencentes a diferentes culturas, pátrias, línguas e religiões: pessoas que rezaram por este encontro e agora estão unidas conosco na mesma imploração. É um encontro que responde ao ardente desejo de quantos anseiam pela paz e sonham um mundo onde os homens e as mulheres possam viver como irmãos e não como adversários ou como inimigos.

Senhores Presidentes, o mundo é uma herança que recebemos dos nossos antepassados, mas é também um empréstimo dos nossos filhos: filhos que estão cansados e desfalecidos pelos conflitos e desejosos de alcançar a aurora da paz; filhos que nos pedem para derrubar os muros da inimizade e percorrer a estrada do diálogo e da paz a fim de que triunfem o amor e a amizade.

Muitos, demasiados destes filhos caíram vítimas inocentes da guerra e da violência, plantas arrancadas em pleno vigor. É nosso dever fazer com que o seu sacrifício não seja em vão. A sua memória infunda em nós a coragem da paz, a força de perseverar no diálogo a todo o custo, a paciência de tecer dia após dia a trama cada vez mais robusta de uma convivência respeitosa e pacífica, para a glória de Deus e o bem de todos.

Para fazer a paz é preciso coragem, muita mais do que para fazer a guerra. É preciso coragem para dizer sim ao encontro e não à briga; sim ao diálogo e não à violência; sim às negociações e não às hostilidades; sim ao respeito dos pactos e não às provocações; sim à sinceridade e não à duplicidade. Para tudo isto, é preciso coragem, grande força de ânimo.

A história ensina-nos que as nossas meras forças não bastam. Já mais de uma vez estivemos perto da paz, mas o maligno, com diversos meios, conseguiu impedi-la. Por isso estamos aqui, porque sabemos e acreditamos que necessitamos da ajuda de Deus. Não renunciamos às nossas responsabilidades, mas invocamos a Deus como ato de suprema responsabilidade perante as nossas consciências e diante dos nossos povos.

Ouvimos uma chamada e devemos responder: a chamada a romper a espiral do ódio e da violência, a rompê-la com uma única palavra: “irmão”. Mas, para dizer esta palavra, devemos todos levantar os olhos ao Céu e reconhecer-nos filhos de um único Pai.

A Ele, no Espírito de Jesus Cristo, me dirijo, pedindo a intercessão da Virgem Maria, filha da Terra Santa e Mãe nossa:

Senhor Deus de Paz, escutai a nossa súplica!

Tentamos tantas vezes e durante tantos anos resolver os nossos conflitos com as nossas forças e também com as nossas armas; tantos momentos de hostilidade e escuridão; tanto sangue derramado; tantas vidas despedaçadas; tantas esperanças sepultadas… Mas os nossos esforços foram em vão.

Agora, Senhor, ajudai-nos Vós! Dai-nos Vós a paz, ensinai-nos Vós a paz, guiai-nos Vós para a paz. Abri os nossos olhos e os nossos corações e dai-nos a coragem de dizer: “nunca mais a guerra”; “com a guerra, tudo fica destruído”! Infundi em nós a coragem de realizar gestos concretos para construir a paz.

Senhor, Deus de Abraão e dos Profetas, Deus Amor que nos criastes e chamais a viver como irmãos, dai-nos a força para sermos cada dia artesãos da paz; dai-nos a capacidade de olhar com benevolência todos os irmãos que encontramos no nosso caminho.

Tornai-nos disponíveis para ouvir o grito dos nossos cidadãos que nos pedem para transformar as nossas armas em instrumentos de paz, os nossos medos em confiança e as nossas tensões em perdão. Mantende acesa em nós a chama da esperança para efetuar, com paciente perseverança, opções de diálogo e reconciliação, para que vença finalmente a paz.

E que do coração de todo o homem sejam banidas estas palavras: divisão, ódio, guerra! Senhor, desarmai a língua e as mãos, renovai os corações e as mentes, para que a palavra que nos faz encontrar seja sempre irmão, e o estilo da nossa vida se torne: shalom, paz, salam! Amém.

Papa Francisco, Shimon Peres e Mahmoud Abbas
Jardins Vaticanos
Domingo, 8 de junho de 2014


Fonte: Rádio Vaticano