Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Missa Nordestina: conheça as lições do baião de dois

22/09/2018

Notícias

missa_220918_7

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – Caro leitor, antes de mais nada, você não está numa página de arte culinária. Essas lições falam de simplicidade, comunhão e generosidade e foram passadas, em forma de catequese, por Frei Gustavo Medella na Missa Nordestina, celebrada pela quinta vez consecutiva no Convento e Santuário São Francisco, no Largo São Francisco, no centro de São Paulo. Os fiéis nordestinos, em sua grande maioria, vieram celebrar este momento e recordar uma devoção muito forte no Nordeste: São Francisco das Chagas.

A equipe litúrgica do Santuário, sob a coordenação do reitor Frei Alvaci Mendes da Luz, preparou uma bela Celebração Eucarística com a ajuda da Pastoral do Migrante de São Paulo. O estandarte reproduzindo São Francisco das Chagas do Santuário de Canindé, no Ceará, abriu a procissão de entrada ao meio-dia deste sábado, 22 de setembro, ao som de cantos e ritmos nordestinos. Entre os frades presentes, o Vigário Provincial, Frei César Külkamp, representando os frades da Província da Imaculada, e o guardião do Convento São Francisco, Frei Mário Tagliari.

A Festa das Chagas de São Francisco é celebrada pela Família Franciscana no dia 17 de setembro. Em Canindé, ela dá início aos festejos de São Francisco. Na capital paulista, esta Missa abriu os festejos em honra do Padroeiro do Convento e Santuário, a ser celebrado no dia 4 de outubro. Na próxima terça-feira tem início a Novena de São Francisco, às 15 horas. O celebrante falou sobre o significado das Chagas na vida de São Francisco e na nossa vida.

missa_220918_5

“São Francisco recebe nas mãos, nos pés e no coração as mesmas feridas de Nosso Senhor na cruz, por graça especialíssima alcançada, pelo grau de maturidade que ele chegou querendo sentir no próprio corpo o que o Senhor sentiu por amor. E querendo sentir o amor que Nosso Senhor sentiu por nós para chegar ao extremo da ousadia de uma entrega humilhante na cruz”, disse Frei Medella.

Segundo o frade, a primeira mensagem que São Francisco das Chagas nos traz é que o amor deixa marcas. “Você é marcado por amor. Todos nós somos marcados. Quem vem dos estados do Nordeste, que tem o pai e a mãe lá, aprendeu amar aquela terra, porque aquela terra que está a milhares de quilômetros não o deixou. Está marcada no seu coração. Esse amor é uma sintonia. Esse amor se faz presente a cada dia de nossa vida, estando longe ou perto das nossas origens, do nosso berço, daquilo que nos é familiar, que nos é querido. O amor deixa marcas”, frisou.

Falando no Nordeste, o frade usou um prato popular na região para marcar a sua mensagem: o baião de dois. Primeiro chamou as pessoas para falarem como se faz o prato preferido especialmente pelos cearenses. A origem do termo ganhou popularidade com a música “Baião de Dois”, parceria do compositor cearense Humberto Teixeira com o “Rei do Baião”, o pernambucano Luís Gonzaga, na metade do século XX.

Diante da explicação do cearense Souza, que deu a a receita do baião de dois, Frei Medella refletiu. “Vocês viram que não tem segredo: um pouco de arroz, um pouco de feijão verde, um pedaço de carne seca, pedaço de queijo coalho e coentro. O que o baião de dois nos ensina?”, perguntou o frade.

Primeiro, disse Frei Gustavo, ele ensina a simplicidade. “É o prato que o pobre pode fazer. Arroz, feijão verde, um pedacinho de carne seca e queijo coalho. Hoje a carne seca está um pouco cara, mas se procurar acha mais em conta. Todos ingredientes simples, acessíveis  e de fácil preparo”, explicou.

missa_220918_8

A segunda lição é a comunhão. “Nenhum ingrediente quer ser mais do que o outro no baião de dois. Nenhum quer ser um prato especial, do tipo ‘arroz à moda cearense’, mas apenas baião de dois. Cada um dá a sua contribuição dentro da comunhão para formar o prato gostoso, com arroz, feijão, carne seca e queijo. O Souza acrescentou o creme de leite e você pode experimentar fazendo em casa…”, brincou o frade.

“Mas essa é a comunhão: os ingredientes se unem. E nós também precisamos da simplicidade. Acolher o diferente, saber que o outro vem transformar para a receita ficar melhor, ficar completa. É muito triste quando vemos no nosso Brasil discursos desrespeitando os quem vêm de fora, imigrantes, migrantes. Ou como dizem, gente que vem de outros lugares ‘para tirar o nosso lugar, tirar o nosso emprego’. São olhados com desprezo. Nós somos chamados à comunhão na simplicidade”, frisou Frei Medella.

A última lição, acrescentou o frade, é a generosidade. “Geralmente, a panela é grande. Quem faz a comida, já conta com aqueles que chegam de surpresa. Então, todo mundo pode ir à panela e se servir um bom prato de baião de dois, conversando, aproximando os laços, criando pontes, criando comunhão. Essas são as três lições do baião de dois, sabendo que o amor deixa marcas, sabendo que o amor nos ajuda dar sentido à vida e sabendo que com o amor, na simplicidade, na comunhão, na generosidade, nós temos tudo para sermos felizes. Os ingredientes estão aí. Só falta colocarmos a mão na massa e fazermos um baião de dois gostoso, partilhado na alegria e na gratidão”, completou.

Durante a procissão do Ofertório e na Oração dos Fiéis, muitos pedidos de paz, de respeito pelos migrantes, de solidariedade, de fé e esperança no país. A celebração terminou com uma procissão com imagens de Nossa Senhora do Nordeste, São Francisco das Chagas, Padre Cícero, Frei Damião e Santa Francisca de Roma, Protetora dos imigrantes.

A festa deste dia no Largo São Francisco continuou no claustro, com a Tarde prêmios, que teve como animador do bingo Frei Alexandre Rohling, o Frei Xandão.