Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Veja como foi o segundo dia do Capítulo em Agudos

24/09/2014

Notícias

Moacir Beggo

 AGUDOS (SP) – O Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Michael Perry, já está em nosso meio. Depois de visitar a Custódia das 7 Alegrias de Nossa Senhora (MT), ele chegou por volta meia-noite desta terça-feira e foi apresentado, junto com o Definidor Geral para a América Latina, Frei Nestor Schwarz, na Oração da Manhã desta quarta-feira na Capela do Seminário Santo Antônio, onde até amanhã se realizará o Capítulo das Esteiras da Província da Imaculada Conceição.

A maioria dos frades jovens, que esteve na Jornada Mundial da Juventude, no ano passado, já o conhecia bem Frei Michael, mas para muitos frades foi o primeiro contato com o representante de São Francisco de Assis. E novamente o norte-americano esbanjou simpatia, disponibilidade, atenção, enfim, sentiu-se em casa e fez com que os anfitriões estivessem do lado de um confrade muito próximo.

geralMas na sua primeira fala aos capitulares, ao abordar o tema da Minoridade, ele foi direto, transparente e sem meias palavras. Expôs a situação da Ordem dos Frades Menores, da qual foi confiada a missão de conduzir e preservar o carisma franciscano, e não dourou a pílula: “Nós estamos, sim, em crise. Estamos diante de uma crise que afeta nossa própria identidade, o nosso trabalho social, também do ponto de vista sociológico, antropológico, espiritual e institucional”, disse.

Frei Michael fez questão de enfatizar que a Ordem está num momento importante de sua caminhada ao se preparar para o Capítulo Geral, que vai acontecer no próximo ano em Assis. Para isso, ele citou o documento “Lineamenta”, que vai servir de base para este Capítulo. E ele foi tão enfático que, ao falar deste Capítulo, o fez em português. “Como vocês bem sabem, no próximo ano, celebraremos o nosso Capítulo Geral. Esse evento nos proporciona uma oportunidade para avaliar a nossa caminhada nos últimos seis anos e projetar os próximos seis. Agradecemos a Deus todas as coisas boas que temos feito nesse tempo e pedimos perdão por nossas falhas e erros. É nesse espírito que o Governo e o Definitório Geral preparamos a ‘Lineamenta’, que é um guia de trabalho na preparação deste Capítulo. Estou seguro de que vocês já conhecem a fundo esse documento e também a escolha do tema para o Capítulo: Irmãos e menores nos nossos dias!”, acrescentou.

Frei Michael contou a seguinte história: “Uma vez um homem sábio ouviu a pergunta de um discípulo seu: ‘Mestre, de onde vem a sabedoria?’ O mestre, olhando bem nos olhos dele, respondeu: ‘Do mesmo ponto de onde partiu a sua pergunta’.

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O Definidor Geral Frei Nestor

“Alguém de vocês poderia perguntar por que estamos refletindo sobre o tema em três partes: Irmãos e menores nos nossos dias? Como o discípulo, nós também estamos procurando a verdadeira sabedoria para poder responder às muitas crises com as quais o mundo, a Igreja, a Ordem se confrontam nesse momento”, explicou.

Para ele, a Ordem e os frades menores não estão isentos desses desafios. “Na verdade, por vezes, estamos até na primeira linha dessas batalhas todas. Seja porque nos defrontamos com nós mesmos, seja porque estamos cercados de tanta gente através de nossos trabalhos pastorais nas escolas, nas cidades e todos envoltos dessas forças centrífugas que nos afastam da verdadeira força central de gravidade, que dá clareza de sentido e de identidade”, acrescentou.

Segundo Michael, essa crise vem de uma longa reflexão que o Definitório Geral fez sobre as atividades de animação nos últimos cinco anos, onde se juntou os relatórios dos visitadores gerais às diversas entidades no mundo e também os seminários que foram realizados em Roma para procurar e examinar melhor os desafios nos quais a Ordem se encontra agora “nesse mundo pós-pós-moderno”, como disse.

Para o Ministro Geral, um claro exemplo dessa crise está nas respostas aos questionários enviados a 1.500 frades com questões sobre a identidade franciscana. “A maior parte dos frades não conseguiu responder com clareza  e convicção sobre valores e modalidades práticas de viver a pobreza, a minoridade nos dias de hoje”, adiantou.

“Os frades mais novos afirmaram que o estilo de vida burguês em que foram introduzidos progressivamente no caminho de formação inicial não só criam conflitos interiores e dissonâncias, mas também enfraquecem a natureza radical da vida evangélica. Isso fez com que alguns deles pusessem em questão a própria escolha vocacional”, revelou.

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Frei Clarêncio fez a tradução

E foi mais incisivo: “Outros se encontraram sempre mais longe dos irmãos e das irmãs pobres e marginalizados. Por isso mostram pouco interesse, desejo, de compreender as dificuldades dos pobres de Deus e dos marginalizados. Estou falando dos frades nossos, não estou falando de outros frades”, frisou.

Segundo o Ministro Geral, alguns tem o seu senso de justiça reduzido a termos mínimos e concentram sua atenção sobre um conceito espiritual de pobreza.

“Outros se mantiveram ainda dentro de um estilo de vida consumístico, muito longe do ideal franciscano. O consumismo para alguns frades pode levar a um empobrecimento da vida espiritual e provoca consequências negativas dentro da comunidade e da vida fraterna”.

Para Frei Michael, a minoridade tem um impacto direto sobre a nossa vida fraterna. “Sempre mais se gasta mais tempo em cuidar de si mesmos. Os frades se distanciam progressivamente dos pobres, uma distância primeiro geográfica, depois uma distância social, psicológica, espiritual, muito difícil de sanar. Isso ainda levou a outra dificuldade: a perda do senso de corresponsabilidade. A perda também de trabalhar e contribuir para o bem comum, e trabalho com as próprias mãos”, analisou.

Citando o documento “Lineamenta”, fez a seguinte descrição de minoridade. “A palavra minoritas descreve um modo de como ser irmãos e de como viver e anunciar o Evangelho. Em outras palavras, minoritas, minoridade, indica primeiro um programa de vida, um modo único para compreender e definir os nossos relacionamentos com Deus, com os outros, a serviço da Igreja e do mundo. Ser Menores é expressão radical da sequela de Cristo, que se despojou por inteiro, a Kenosis, que lavou os pés e se encontrou com as pecadoras. A minoridade é um modo concreto de viver o sine proprio, a desapropriação de tudo aquilo que se refere a Deus, aos irmãos, a si mesmo e toda a criação”, detalhou.

E ainda sublinhou: “A palavra ‘ser irmãos’ está ligada muito a minoritas, ao modo de viver e anunciar o Evangelho. A nossa vida está ou não está baseada na minoridade”, disse.

Frei Michael disse no final que não faria a conclusão de sua fala e iria esperar a reação dos frades capitulares, que no período da tarde se reuniram em grupos para refletirem sobre o tema. Mas voltou a falar da palavra ‘escolha’ como chave na vida franciscana. “Estou convencido de que devemos trabalhar esse tema e devemos fazer uma escolha. É uma chave principal para utilizarmos dentro do discernimento da nossa vida franciscana. E sobretudo do tema presente da minoridade”, completou.