Igreja recorda os 10 anos da morte do santo das favelas
29/08/2016
Cidade do Vaticano – Um homem contemplativo nas ações, doce e simples. A vida pastoral de Dom Luciano foi sempre dedicada aos excluídos, os últimos da sociedade.
Com um particular carinho pelos meninos de rua o jesuíta sempre dizia, “tornei-me bispo para seguir os pobres”.
No dia da sua morte, 27 de agosto de 2006, o Cardeal Carlo Maria Martini o definira com essas palavras:
“Era verdadeiramente um santo, um homem que viveu a caridade heroica, sem nunca pensar em si mesmo, sempre pensando nos outros”.
O “santo” das favelas
Dom Luciano Mendes de Almeida (1930-2006) foi Arcebispo de Mariana, no Estado de Minas Gerais e líder carismático durante alguns mandatos na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), como Primeiro-secretário (1979-1987) e, depois, como Presidente (1987-1995).
Dom Luciano ainda é lembrado por seu papel crucial de mediação e na elaboração do documento final da IV Conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), em Santo Domingo em 1992.
A partir de 2011, impulsionada pelo episcopado brasileiro, foi aberta a causa de beatificação de Dom Luciano, líder da Igreja latino-americana, em muitos aspectos semelhante a Dom Hélder Câmara, de quem ele era um amigo próximo.
“Ele veio como um jovem rico e saiu como um jovem pobre”
Luciano Mendes de Almeida nasceu em 5 de outubro de 1930 no Rio de Janeiro em uma família nobre e rica.
Aos 17 anos, entrou na Companhia de Jesus e foi durante a sua primeira experiência com os Exercícios Espirituais que se manifestaram as características mais salientes da sua futura vocação.
“Ele veio como um jovem rico – conta José Carlos Brandi Aleixo, colega de estudos de Dom Luciano – e saiu como um jovem pobre”.
Um sacerdote entre Martini e Bergoglio
Em 1958 foi ordenado sacerdote. Na Universidade Gregoriana em Roma, obteve o Doutorado em Filosofia com a tese: “A imperfeição intelectual do espírito humano. Introdução à uma teoria sobre o conhecimento do outro”.
Porém, os pobres sempre interpelaram a consciência de futuro professor, apaixonado pela mística de São João da Cruz.
Em 1973, foi nomeado Delegado Interprovincial dos Jesuítas no Brasil e, no ano seguinte, participou da XXXII Congregação Geral da Companhia de Jesus em Roma, junto com Bergoglio e Martini.
O desafio de uma grande metrópole
Em 1976, por sugestão do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, o Papa Paolo VI o nomeou bispo auxiliar de São Paulo.
Do Luciano dedicou o seu tempo para ajudar as crianças de rua e pessoas pobres das favelas. Foi responsável pelas mais importantes intuições na arquidiocese de São Paulo para uma “pastoral do menor” autêntica.
“A criança não é um problema – esse foi seu lema – o mais jovem é a solução.”
Uma campanha e ação em favor das crianças impulsiona pelo UNICEF em 1986, rendeu a Dom Luciano o prêmio “Criança e Paz”.
Com ele também nasceu a primeira rede de televisão católica no Brasil, a Rede Vida.
Como Bispo auxiliar da cidade de São Paulo, em nome do Episcopado brasileiro participou em março de 1980 do funeral do Arcebispo Oscar Arnulfo Romero, em El Salvador.
Um Arsenal de Esperança
Em 1988, de uma amizade nasce uma parceria com Ernesto Olivero, fundador do Sermig, uma associação nascida em Turim para promover a justiça e o desenvolvimento do mundo com a participação e protagonismo dos jovens.
E graças a essa amizade, se fez possível o nascimento do Arsenal da Esperança em São Paulo, uma casa na qual os moradores de rua, pessoas com necessidades, dificuldades financeiras encontram abrigo e assistência. E muito além disso, encontram dignidade, afeto e acolhida.
A caminho dos altares
Desde então, começou o seu longo calvário, vivido no silêncio e na simpatia pelos mais pobres. Poucos meses antes da sua partida, o homem da caridade, como o definiu o seu sucessor em Mariana (MG), Dom Geraldo Lyrio da Rocha, foi premiado com um doutorado Honoris Causa pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte (FAJE):
“Para ele, teria sido o título mais apropriado – foi o comentário do grande teólogo João Batista Libânio -, causa magister amoris, isto é, mestre intelectual e espiritual, do amor e serviço. Ele era realmente para nós um professor da Igreja e da vida, especialmente dos pobres”.
Em 2014, a Arquidiocese de Mariana-MG abriu oficialmente o processo de beatificação e canonização de seu ex-arcebispo. Em carta, a Congregação para a Causa dos Santos informou que “por parte da Santa Sé, não há nada que impeça para que se inicie a Causa de Beatificação e Canonização de Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida”.