Frei Michael pede oração para “redescobrir a verdade mais profunda de nossa identidade”
03/07/2021
O Ministro Geral, Frei Michael Perry, abriu neste sábado, 3 de julho, o Capítulo Geral da Ordem dos Frades Menores, no Colégio Internacional São Lourenço de Brindisi, dos Frades Menores Capuchinhos, em Roma, às 10 horas (5 horas do Brasil). Este grande encontro dos Frades Menores tem como tema: “Renovemos nossa visão, abracemos nosso futuro”.
Tendo como inspiração bíblica Efésios 5, 14: “Desperta… e te iluminará Cristo”, este Capítulo Geral quer celebrar e exprimir a comunhão fraterna de toda a Ordem. De 3 a 18 de julho de 2021, os 117 capitulares reunidos trabalharão juntos, como irmãos, para promover a riqueza e a vida da Ordem, para discernir os caminhos pelos quais o Senhor os chama a renovar e crescer no serviço do Evangelho. Também será o Capítulo que vai eleger um novo governo para a Ordem no período de 2021-2027.
Desta Província Franciscana da Imaculada Conceição estará participando o Ministro Provincial, Frei César Külkamp, que também é presidente da Conferência dos Ministros Provinciais do Brasil e do Cone Sul. Por esta Conferência, participam ainda do Brasil 6 provinciais e 3 custódios, e três provinciais do Cone Sul (Argentina, Paraguai e Chile).
Frei Michael partiu da citação de Efésios, 2,19.22 para fundamentar sua homilia. “Vocês, portanto, já não são estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos do povo de Deus e membros da família de Deus. Em Cristo, vocês também são integrados nessa construção, para se tornarem morada de Deus, por meio do Espírito”.
Ele também juntou à reflexão um trecho da encíclica Fratelli Tutti (88), quando o Papa Francisco recorda uma verdade espiritual mais profunda sobre todos e a cada um dos seres humanos: “A partir da intimidade de cada coração, o amor cria vínculos e amplia a existência, quando arranca a pessoa de si mesma para o outro. Feitos para o amor, existe em cada um de nós “uma espécie de lei de êxtase: sair de si mesmo para encontrar nos outros um acrescentamento de ser”. Por isso, “o homem deve conseguir um dia partir de si mesmo, deixar de procurar apoio em si mesmo, deixar-se levar”.
Segundo ele, os frades vieram a este “sagrado evento do Capítulo Geral” para entrar no mesmo tipo de experiência de que fala São Paulo em sua carta às comunidades cristãs mistas, formadas por judeus e gentios de Éfeso, “uma experiência de cura, de reconciliação, de ir mais além de nós mesmos, de começar de novo como membros do único Corpo de Cristo”.
Para o Ministro Geral, o chamado à reconciliação e à paz entre o grupo misto de crentes de Éfeso põe em destaque as numerosas divisões – religiosas, culturais, ideológicas, políticas, econômicas etc – que estavam presentes e que ameaçavam minar o poder transformador do Evangelho. “Em vez de entrar nos méritos de cada um dos argumentos que provocavam a divisão, Paulo convida a seus correligionários a olhar a Cruz de Jesus Cristo como meio para superar tudo o que os divide e separa, incapazes de se reconhecerem como irmãos e irmãs, criados por Deus para viver em harmonia, justiça e paz”, observou o Ministro Geral.
“Quando Paulo aponta a cruz, não está dirigindo a atenção na direção do êxito e do poder, mas na direção da humilhação e da impotência do Filho de Deus. Precisamente pela debilidade, segundo Paulo, somos capazes de superar tudo o que divide e separa, de nos sobrepormos a todos os medos e de entrar em uma nova consciência de quem é Deus e do que Deus está fazendo em Cristo Jesus pelo bem do mundo e do universo criado. Por acaso não tem sido esta também a experiência da pandemia da Covid-19? Não nos colocou de joelhos, a toda a humanidade, e nos lembrou nossa impotência, e nossa total dependência de Deus e a interdependência de uns com os outros?”, questionou Frei Michael.
Para ele, a realidade da Ordem não é muito diferente da situação das comunidades cristãs de Éfeso. “Nós também experimentamos muitos desafios, consequência da grande diversidade presente na vida da Ordem: ideológica, espiritual, socioeconômica, clerical/laical, hetero/homossexual, cultural, geográfica, racial, de casta, de região, etc. O chamado à conversão que Paulo anuncia aos crentes – em nível individual e comunitário – não tem nada que ver com excluir estas diferenças, fazendo como se não existissem. Durante demasiado tempo, a Ordem e a Igreja prometeram estar ‘por cima da cultura’, daltônicos, impondo a uniformidade de pensamento e atuando como um meio para excluir as diferenças e, deste modo, criar uma falsa sensação de harmonia e identidade comum”, criticou.
Segundo o Ministro Geral, Paulo não pretende que, uma vez que uma pessoa se batiza na vida, morte e ressurreição de Jesus, todas as diferenças desaparecem. “Mas bem sugere que só quando reconhecemos e aceitamos nossa debilidade, o incompleto que somos, quando despertamos para a necessidade de abrir nossas vidas à diversidade de experiências presentes na comunidade crente, presentes em nossas fraternidades locais da Ordem, e permitir que esta diversidade enriqueça nossas vidas humanas e espirituais, só então chegaremos à experiência de ser “uma morada de Deus no Espírito” (Ef. 2,22). O Espírito estará presente, impulsionando-nos e ajudando-nos sempre a ‘seguir a doutrina e as pegadas de Nosso Senhor Jesus Cristo…’ (RnB 1) juntos como irmãos no caminho da vida”, ensinou.
Frei Michael pediu aos capitulares: “Oremos para que nosso Capítulo Geral seja um momento para redescobrir a verdade mais profunda de nossa identidade e missão enquanto seres humanos, discípulos do Senhor Jesus ressuscitado e irmãos da única fraternidade universal da Ordem”, exortou.
“Nesta festa de São Tomé, recordemos o que temos escutado na passagem do Evangelho, ou seja, que Jesus ressuscitado invade a casa para se encontrar com seus discípulos assustados e temerosos e lhes diz: A paz esteja contigo! Ao fazê-lo, lhes revela o poder de Deus para transformar a tristeza em alegria, a desconfiança em fé, e a decepção, a amargura e a derrota em esperança. A festa do Apóstolo Tomé nos recorda que, embora nossa fé seja débil, Jesus ressuscitado deseja abrir as “portas de nossa mente”, guiar nossos corações e habitar em cada um de nós”, acrescentou.
E concluiu: “Amados irmãos, que possamos celebrar nossa rica diversidade, permitindo que nos tire de nós mesmos, de nossos pequenos e demasiados mundos protetores. Que o Espírito de Deus abra nossas mentes e nossos corações de tal maneira que possamos reconhecer nos demais o templo de Deus e a morada do Espírito presente nos corações de todos e cada um dos irmãos. Se somos capazes de abraçar esse modo de ver e viver, descobriremos uma nova força que nos permitirá superar os limites de nossas mentalidades e estruturas tradicionais, abrindo-nos a uma experiência genuína e universal de uma ecologia fraterna de amor e acolhida capaz de renovar a vida dos irmãos da Ordem. Recordemos diariamente em cada uma de nossas fraternidades e neste Capítulo Geral que ‘fomos criados no amor e estamos destinados ao amor’. Cristo é nossa paz para sempre”.
“Que Cristo nos ilumine com sua luz!”, pediu Frei Michael.
Depois da Santa Missa, os frades terão um momento para conhecer o funcionamento dos trabalhos, como o sistema de tradução simultânea. Às 15h30 começam os encontros por Conferências, quando será feita a seleção de candidatos para moderadores. Às 17 horas, no plenário, será apresentado o regulamento e sua aprovação. Depois serão eleitos os moderadores e designados os escrutinadores, além de apresentar as sínteses dos informes das conferências da Ordem aos capitulares. O dia termina com as Vésperas às 20 horas.
Moacir Beggo