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Frei João Mannes abre a Semana Franciscana e indica “a Aurora de uma nova civilização”

05/10/2021

Notícias

O título do novo livro do presidente do Grupo Educacional Bom Jesus e professor de Filosofia na FAE Frei João Mannes – “Experiência e Pensamento Franciscano: Aurora de uma nova civilização” – abriu a 2ª Semana Franciscana que vai até o próximo sábado (09/10), numa ação conjunta da Província Franciscana da Imaculada Conceição, da Conferência da Família Franciscana do Brasil, do Instituto Teológico Franciscano e da Editora Vozes, através de suas redes sociais.

O Coral Canarinhos de Petrópolis deu início a esta noite, que foi acolhida por Frei Gustavo Medella, Vigário Provincial e secretário de Evangelização e Missão da Província. Ele escolheu o capítulo 7 das Admoestações de São Francisco, como inspiração para esta semana de formação e informação. Frei Medella tomou o texto “que a inteligência deve seguir a boa ação”. Segundo o Seráfico Pai, “são mortos pela letra os que tão-somente querem saber as palavras, a fim de parecer mais sábios que os outros e poder adquirir grandes riquezas e dá-las aos parentes e amigos; são ainda mortos pela letra aqueles religiosos que não querem seguir o espírito das Sagradas Escrituras, mas só se esforçam por saber as palavras e interpretá-las aos outros”, mas são vivificados pelo espírito das Sagradas Escrituras aqueles que tratam de penetrar mais a fundo em cada letra que conhecem, nem atribuem o seu saber ao próprio eu, mas pela palavra e pelo exemplo o restituem a Deus, seu supremo Senhor, ao qual todo bem pertence.

Natália França, gerente de Marketing da Editora Vozes, conduziu a palestra e apresentou Frei João Mannes, que é frade da Província Franciscana da Imaculada Conceição, e possui licenciatura em Filosofia pela Universidade São Francisco, São Paulo, graduação em Teologia pelo Instituto Teológico Franciscano, Petrópolis, RJ, mestrado e doutorado em Filosofia, com especialização em Pensamento Franciscano, pela Pontifícia Universidade Antoniana, em Roma, com os diplomas convalidados no Brasil pela PUCRS. Também possui especialização em Gestão das Organizações Educacionais, pela FAE Centro Universitário, Curitiba, PR, curso avançado de Liderança Integral (Integral Leadership Program), pela FAE Business School, Curitiba, PR, e curso de Teoria da Educação, pela PUCPR.

“Primeiramente, gostaria de agradecer à Editora Vozes pela publicação deste livro. Também agradeço a oportunidade de, nesta noite, ainda em clima de festa de São Francisco, partilhar com vocês algumas ideias dessa obra”, disse Frei João, contextualizando a relevância desse texto na atualidade ao destacar o horizonte cultural do mundo em que vivemos, marcado pelas contínuas inovações tecnológicas, pelo progresso científico, pelo fenômeno da globalização nas esferas econômica e cultural e pelo vertiginoso desenvolvimento das tecnologias da comunicação.

“De fato, vivemos um momento histórico de rápidas e profundas mudanças e de mudança de época, mudanças agora aceleradas pela Covid-19”, explicou Frei João.

Segundo ele, vivemos numa sociedade marcada por paradoxos: de um lado salta aos olhos o individualismo exacerbado, a arbitrariedade subjetiva, enquanto de outro, existe pluralidade cultural, étnica, política, econômica e religiosa. “Trata-se de um paradoxo porque não temos de um lado o individualismo e de outro a diversidade, mas na pluralidade temos uma diversidade de individualismos, ou uma confederação de autonomias. Vivemos numa sociedade marcada por incertezas, ambiguidades, catástrofes sociais e ambientais, indiferença globalizada, xenofobia, intolerância religiosa e polarizações ideológicas. Por isso, na atualidade são imensos os desafios para estabelecer uma convivência harmoniosa entre todos”, acrescentou o frade.

Para Frei João, a crise provocada pela Covid-19 acelerou e potencializou esses desafios e precisamos, urgentemente, “de um Sol que nos aponte o caminho para superar os desafios que decorrem de uma exacerbada autorreferencialidade, rumo a uma nova civilização de convivência harmoniosa e de fraternidade universal”.

Esse Sol, segundo o frade, é Francisco de Assis, que, no discipulado de Jesus Cristo pobre, humilde e crucificado, inaugurou uma maneira peculiar de ser, pensar, viver, conviver e agir. “Esse Sol que nasce na aurora de uma nova civilização é a experiência dos primeiros companheiros de Francisco de Assis no seguimento de Jesus Cristo. Enfim, esperança e aurora de uma nova civilização é a experiência vivida e considerada pelos pensadores da Escola Franciscana Medieval”, anotou.

Para Frei João Mannes, Éloi Leclerc, em sua magnífica obra ‘O sol nasce em Assis’, refere-se a São Francisco como um daqueles homens que, apesar de toda a desumanidade existente no mundo, não nos deixa desacreditar do ser humano. No período em que esteve preso no campo de concentração, encontrou no espírito de Francisco de Assis uma luz da qual precisamos atrozmente. “Francisco revelou-lhe o segredo de uma verdadeira fraternidade”, destacou.

“Parafraseando Elói Leclerc, se um dia desejarmos reencontrar o caminho que nos leva à maturidade humana e espiritual e à concretização do sonho de uma nova civilização, será no caminho do Pobre de Assis. Já o escritor e poeta Dante Alighieri, em ‘A divina comédia’ (Paraíso, Canto XI), considerou a pessoa de Francisco de Assis um dos luminares de que a humanidade, então, precisava para reencontrar a via da verdadeira humanização. Por isso, referindo-se ao natalício de Francisco de Assis, Dante escreveu: ‘Nasceu para o mundo um sol'”, reforçou o frade nas suas considerações introdutórias.

Acompanhe, na sequência, um resumo dos sete capítulos que fazem parte do livro “Experiência e pensamento franciscano – Aurora de uma nova civilização”:

Capítulo 1

No primeiro capítulo, destacamos a experiência originária do pensamento franciscano. Ou seja, demonstramos que o pensamento franciscano é, originariamente, experiência de encontro de Francisco de Assis e de seus primeiros seguidores com a pessoa de Jesus Cristo pobre, humilde e crucificado (transbordante de amor).

A seiva originária e o coração da experiência e do pensamento franciscano são a escuta obediencial do Evangelho de Jesus Cristo.

E todos os renomados pensadores da Escola Franciscana medieval procuraram traduzir essa experiência por meio de conceitos. De modo que, aos conceitos subjaz uma experiência, que é também a condição de inteligibilidade dos textos franciscanos, particularmente, dos textos chamados “Fontes Franciscanas”.

Ao descrever o perfil humano e espiritual de São Francisco, destacamos sua pobreza, humildade, sabedoria, a perfeita alegria e sua relação afetuosa com todas as criaturas expressas no Cântico das Criaturas. No entanto, aqui faço apenas algumas considerações sobre a pobreza.

A pobreza de Francisco, mais do que privar-se de bens materiais, é liberdade exterior e interior, é desapego total das coisas exteriores e de si mesmo, é esvaziamento de si mesmo para entrar na dinâmica da kenosis (desprendimento) de Jesus Cristo, e contemplar o universo das criaturas livremente, ou seja, na ótica divina, e, portanto, com entranhas de amor, compaixão e cuidado.

São Boaventura revela que Francisco via o universo com a sua inteligência em conformidade com a mente divina, como se tivesse voltado para um “estado de inocência original”.

Nesse estado de “inocência original”, à luz de Deus, a criação toda é comunicação, ressonância e vibração da Palavra de Deus. O universo das criaturas é um livro esplêndido no qual Deus nos fala de Seu amor, de sua bondade, beleza e sabedoria.

Portanto, Francisco de Assis tinha uma experiência teocêntrica do universo. Ele tinha consciência de que Deus é a única fonte originária de todos os seres e, por isso, a fraternidade humana e cósmica é o princípio fundamental da forma de vida franciscana.

Capítulo 2

No segundo capítulo, destacamos “a contemplação de Deus no Itinerarium mentis in Deum, de São Boaventura”. Portanto, abordamos a experiência mística de um dos maiores expoentes da Escola Franciscana. Dentre as obras de Boaventura, privilegiamos o Itinerário da mente para Deus (Itinerarium mentis in Deum).

Essa obra prima de Boaventura é mais do que uma produção literária. O Itinerarium é uma experiência de interiorização para o íntimo mais íntimo de nós mesmos; é caminho e caminhada de libertação até o total desprendimento de tudo para, no silêncio, na solidão do deserto, na interioridade mais íntima de si mesmo, contemplar a presença e o retraimento de Deus nas criaturas em geral e através delas (os vestígios de Deus), e também na sua alma e através de sua alma (a imagem de Deus) e, acima de todos os entes, como Ser e Sumo Bem.

Na esteira agostiniana, Boaventura exalta a bondade e a beleza das criaturas em geral como transcendentais do Ser. Essas são propriedades transcendentais do Ser porque todos os entes criados são belos e bons enquanto participam do Ser Belo e Bom, que lhes comunica o ser, a bondade e a beleza. De modo que, tudo que é, é bom; tudo que é, é belo.

Quem já não ficou extasiado com o nascer e o pôr do sol? Quem já não admirou o desabrochar de uma flor? Quem já não se encantou com a beleza de uma pessoa? Quem não admira a generosidade da mãe Terra, que nos dá o sustento? Contudo, reitera Boaventura, que a beleza e a bondade das criaturas não se compara às perfeições do Criador.

Nesse capítulo, também fazemos uma reflexão sobre o subtítulo do Itinerarium Mentis in Deum: Speculatio pauperis in deserto (Especulação do pobre no deserto). Trata-se da visão que o ser humano tem do mundo, de si mesmo e de Deus no estado de inocência original ao qual se referiu São Boaventura.

Capítulo 3

No terceiro capítulo, ilustramos alguns aspectos fundamentais a respeito da criação do universo, ou mais especificamente, sobre a origem e a finalidade da criação na visão de Boaventura e de João Duns Escoto.

À pergunta, por que Deus criou o universo?, o Doutor Seráfico responde que a causa primeira das coisas é a vontade boa e livre do Criador. A incondicionalidade da ação divina de criar é expressa no princípio (no axioma) neoplatônico de Dionísio Areopagita bonum diffusivum sui (bondade que se difunde). Então, Deus, transbordando de bondade, cria o universo.

Por isso, a criação não tem uma razão, um fundamento, um porquê. Deus cria o universo com a finalidade de manifestar-se plenamente ad extra, para fora de Si mesmo, simplesmente por amor, nas criaturas e através delas. Por isso, salientamos que, na visão franciscana, o amor é o princípio de todas as coisas e todas as coisas são diferentes manifestações do amor de Deus.

Deus cria especialmente o ser humano por superabundância de amor, capaz de amar à semelhança Dele. Portanto, existimos no mundo com a vocação e o propósito de manifestar esse amor.

uNo entanto, para Duns Escoto, a suprema comunicação ad extra de Deus não se dá na criação, mas na encarnação do Seu próprio Filho. Na perspectiva de Duns Escoto, podemos então pensar que Deus criou o cosmo, especialmente o ser humano com a capacidade de amar como Ele, para viabilizar a Sua encarnação em Jesus de Nazaré. Aqui, temos uma bela discussão sobre o motivo da encarnação de Deus em Jesus Cristo.

Lemos no prólogo de São João que o Princípio, o Primogênito de toda criatura, é o Filho de Deus, porquanto “todas as coisas foram feitas por ele [Verbo] e sem ele nada se fez de tudo que foi feito” (Jo 1, 1-3).

Podemos destacar, na perspectiva escotista, que Deus quis, antes de tudo, a pessoa do Verbo, Jesus Cristo encarnado e ressuscitado e, através Dele, alfa e ômega, conduzir e reconduzir a criação toda à sua plenitude, já alcançada por Cristo ressuscitado.

Capítulo 4

No quarto capítulo, abordamos a antropologia franciscana, com especial ênfase à dimensão relacional do ser humano na perspectiva de Boaventura, Duns Escoto e Guilherme de Ockham.

Na visão de Boaventura, Deus (essencialmente relação) cria o homem à Sua imagem e semelhança. Por isso, a relação é também um constitutivo essencial da pessoa humana.

Boaventura explicita o seu conceito de pessoa em Questões disputadas sobre o mistério da Trindade, onde afirma que “a pessoa define-se pela relação; a pessoa e a relação são conceitos idênticos”.

No Primeiro comentário aos quatro livros de Sentenças de Pedro Lombardo, Boaventura afirma que “a relação não é na pessoa um acidente, mas uma característica essencial”. Portanto, a pessoa é a relação.

Igualmente, na concepção antropológica de João Duns Escoto, cada pessoa é, essencialmente, uma singularidade, é única, incomunicável, e um ser em comunidade.

Cada indivíduo constrói o seu projeto de vida livremente, de acordo com a sua natureza. Para Duns Escoto, a essência da liberdade humana não repousa no poder de escolha, mas na capacidade de autodeterminação da vontade.

Isso quer dizer que, em qualquer circunstancialidade, podemos ser livres, ou seja, sempre podemos escolher como reagimos em cada situação, mesmo naquelas que não escolhemos.

Uma expressão que ocorre frequentemente na obra de João Duns Escoto é que a pessoa é “solidão última” (ultima solitudo).

A solidão última é aquele “espaço interior” no qual a pessoa, livre de todos os condicionamentos externos, encontra-se só consigo mesma e tem a intransferível tarefa de decidir sobre o seu próprio ser e o sentido de sua existência.

Também Guilherme de Ockham exclui a possibilidade de qualquer vestígio de universalidade nas coisas, por ele concebidas como estruturalmente singulares.

Cada pessoa distingue-se essencialmente da outra, pois a essência de um indivíduo não é comum à de outros. Nesse caso, negaríamos a singularidade de cada indivíduo. O que cada pessoa é, essencialmente, sem ingerências externas, nenhum outro é, e nem pode ser.

Capítulo 5

A antropologia relacional franciscana tem também suas implicações na concepção franciscana de educação, que apresentamos no quinto capítulo.

De acordo com a proposta franciscana, a educação não é apenas um método de transmissão de informações, mas uma plataforma fundamental e privilegiada para formar pessoas íntegras e integrais.

O processo educativo franciscano tem base nos valores que marcaram a vida de Francisco e no mais amplo conceito de ser humano, para além de qualquer forma de egocentrismo. Francisco inspira uma prática pedagógica que se responsabiliza pelo desenvolvimento integral da pessoa: seu caráter, sua cognição, sua relação consigo mesma, com as outras pessoas, com a natureza e com o Transcendente.

Enfim, a proposta franciscana de educação baseia-se na compreensão franciscana do ser humano como uma individualidade em relação amorosa com todos os seres do Universo e com o Criador, e visa construir uma nova civilização de amor, fraternidade e paz.

Capítulo 6

No sexto capítulo, abordamos um dos grandes desafios da atualidade, que é o exercício da liderança. De maneira geral, a liderança é equivocadamente compreendida como poder de dominação. Em contraposição a esse modo egocêntrico de liderar, apresentamos o modelo franciscano de liderar, isto é, de ser líder-servidor.

Para o gestor norte-americano, Robert Greenleaf, o líder-servidor, antes de mais nada, é servidor. Ou seja, a sua motivação e inspiração para liderar advém do sentimento natural de que ele quer servir, e servir acima de tudo. Então, essa escolha consciente o leva a aspirar à liderança.

O propósito do líder servidor é de servir aos seus liderados da melhor maneira possível. Ele foca o crescimento e o desenvolvimento das potencialidades de cada pessoa, o bem comum, o que é melhor para toda a comunidade.

Esse conceito de liderança servidora aplica-se perfeitamente a Jesus Cristo. Sem dúvida, o maior líder que já houve na história humana foi Ele. O poder de Jesus, “manso e humilde de coração” (Mt 11, 29), é um poder sem poder. É um poder não para se servir, mas para servir, é poder-serviço. Ele mesmo disse que “o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de muitos” (Mc 10, 45).

O líder Jesus Cristo deixou um legado de seguidores, entre eles, Francisco de Assis. Sem dúvida, Francisco, inspirando-se no Bom Pastor, tornou-se um dos maiores líderes da humanidade.

Com a autoridade de servidor, o Homem de Assis recomendou aos irmãos da Ordem, que haviam recebido o ofício de liderar uma fraternidade, que não deveriam se “vangloriar dessa superioridade mais do que se estivessem encarregados de lavar os pés dos irmãos” (Ad 4).

Na experiência de Francisco de Assis, a autoridade é exercida com coração de mãe. Assim, a atitude da mãe que “ama e nutre” é modelo de amor e cuidado que os encarregados do serviço da autoridade são chamados a desenvolver.

O amor é, portanto, um elemento essencial da liderança, que faz com que, a exemplo de Francisco, o líder não seja um comandante superior aos demais, mas um servidor da fraternidade.

O líder-servidor influencia, sobretudo, pelo seu exemplo de vida virtuosa, e provoca os seus liderados a obedecer não tanto por dever, mas por amor.

A sociedade, hoje, está demasiadamente dividida por muros de ressentimento, ódio e polarizações ideológicas, políticas, raciais e religiosas. Nesse contexto, precisamos de líderes, que, como Francisco de Assis, constroem pontes, em vez de muros.

Capítulo 7

No sétimo capítulo, apresentamos a situação generalizada de crise de fundamentos e de rumos que vive a humanidade hoje. As crises ética, social e ecológica decorrentes da perda da conexão ontológica do humano com o seu Eu mais originário, e também pelo individualismo exacerbado (eu desconectado de sua essência), causam um mal-estar (crise) na Modernidade e a sensação de que precisamos mudar de estilo de vida.

pA crise ética se expressa na falta de princípios e valores fundamentais que orientam a vida pessoal e social, substituídos por um “salve-se quem puder”. A relativização dos valores e de outros princípios em nossas múltiplas relações resulta na exacerbação do individualismo e da competição entre as pessoas, na coisificação das pessoas e da natureza, na corrupção, no uso dos bens públicos para beneficiar interesses privados, na mercantilização das relações humanas, sociais, culturais, sexuais e religiosas.

Em correlação à crise ética, temos também a crise ecológica, pois ambas têm sua origem numa equivocada compreensão egocêntrica, autoreferencial e narcisista do humano.

Como disse, as crises provocam um mal-estar e denunciam que precisamos de um novo modelo de civilização, ou seja, precisamos de uma nova antropologia e de uma nova ética.

Nesse cenário de urgência de mudanças, desponta no horizonte a ética franciscana do amor e da fraternidade universal como uma chance de vida nova, de renascimento e ressignificação de toda a nossa existência e oportunidade de uma nova civilização.

O amor é o ethos, a essência, a morada originária do ser humano, e como morada originária do humano, o amor é um elemento constitutivo do cuidado do outro.

Amar ao próximo significa querer, com todas as fibras do coração, o máximo bem do outro, é desejar que ele desenvolva plenamente todas as suas potencialidades.

A pessoa foi criada para amar e, diz o Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti, “o amor cria vínculos e amplia a existência quando arranca a pessoa de si mesma para o outro”.

Ao longo das páginas deste livro, destacamos que para Francisco de Assis, Boaventura e Duns Escoto, o amor pressupõe liberdade. Liberdade é mais do que ser livre disso e daquilo. Deus quis o ser humano livre para que pudesse amar.

Na Escola Franciscana, prevalece o conceito de liberdade como desprendimento de todas as coisas e de si mesmo, e também como autodomínio e autodeterminação da vontade.

Somente livres, desapegados, soltos e despreocupados podemos acolher a alteridade tal como ela é. Sem a liberdade, não são possíveis a escuta atenta, a empatia e a compreensão mútua.

Boaventura, no Itinerarium mentis in Deum, interpela o ser humano a entrar em sua morada originária, ou em sua interioridade abissal: “Entra, pois, ó homem, em ti mesmo” (Itin 3, 1), pois, só à medida que o ser humano entra no espaço sagrado da interioridade, lá onde habita a verdade (cuja essência é a liberdade), ele descobre que a estrutura ontológica do ser humano é, essencialmente, relacional.

A responsabilidade socioambiental só ocorre quando temos consciência de que o outro é porque eu sou, e vice-versa. Tudo e todos estão interligados; cada ser vivo é parte de uma totalidade orgânica. Por conseguinte, cuidar de uma criatura é cuidar de todas.

Conclusão

Por fim, nas considerações conclusivas reiteramos que a pessoa de Francisco de Assis continua sendo inspiração para todos os tempos, porque encontrou a verdade que habita no mais íntimo do seu coração. Verdade esta, cuja essência é a liberdade, o desapego das coisas e do próprio ego, o desprendimento total e a disponibilidade plena para acolher, amar e respeitar a alteridade do outro (analfabetos e letrados; sadios e doentes; ricos e pobres; plebeus e nobres; leigos e clérigos; jovens e velhos; cidadãos e estrangeiros).

Francisco de Assis é o pobre que no deserto no silêncio, na solidão, reconectou-se com o Espírito divino, que paira sobre todas as coisas e que foi, de maneira muito especial, insuflado por Deus no mais íntimo dos nossos corações.

Francisco de Assis continua sendo inspiração para nós ainda hoje, porque descobriu que na origem de todas as criaturas encontra-se a vontade livre e amorosa do Criador. Isso significa que todas as criaturas estão relacionadas e entrelaçadas pelo amor de Deus.

Todos os seres do universo são diferentes doações do Amor divino e, assim, formam um corpo orgânico, no qual cada ser, sem perder a sua individualidade, alimenta e realimenta-se do todo em que está inserido.

É inegável que hoje sentimos um mal-estar físico, mental e psicológico provocado pelas crises contemporâneas (ética, ecológica e antropológica) e que suscita a construção de uma nova civilização. Esta implica reconexão com o Espírito do amor de Deus, intimamente presente no coração do mundo.

Somente à medida que o ser humano retorna ao seu ethos originário e reconecta-se com a centelha do divino que habita em seu interior, aumenta a sua consciência de que formamos, com todos os seres do universo, uma maravilhosa fraternidade universal.

Somente à medida que cultivamos a atitude de amor por meio de ações concretas de cuidado à vida, de respeito, diálogo, humildade e empatia, geramos uma nova civilização: a fraternidade humana e cósmica.

Parafraseando Mahatma Gandhi, devemos ser as mudanças que queremos ver no mundo, recolocando a alteridade no centro e zelando pelas melhores condições de vida integral no presente e no futuro.

Em suma, para realizar o sonho de uma nova civilização, é preciso que habitemos a casa da liberdade, do amor, da solidariedade e da responsabilidade socioambiental, e atuemos corajosamente para humanizar o ser humano, para humanizar a educação, humanizar a liderança e as estruturas que alienam o ser humano e atentam contra a dignidade da vida. Assim, efetivamente, o Sol de Assis é aurora de uma nova civilização.

Por fim, reitero que a experiência e o pensamento (experiência-pensamento) são sempre atuais e proféticos, porque quanto mais a pessoa humana sai de si mesma, sob o Sol de Assis, para viver em comunhão amorosa com a alteridade do outro e do grande Outro, mais realiza o seu propósito de existir no mundo.


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Confira a programação completa:

Data: 04 a 09 de outubro, às 20 horas.
Transmissão ao vivo pelos canais da TV Franciscanos, CFFB, ITF e Editora Vozes no YouTube e pelas páginas da Província Franciscana, CFFB e ITF no Facebook.

05 de outubro – Terça-feira
Francisco, Clara e a Ecologia Integral: as respostas franciscanas para a Pandemia
Apresentação: Frei Gustavo Medella
Participação:
Irmã Maria Karolyne de Jesus Crucificado – Mosteiro Santa Clara, de Belo Horizonte, MG
Hugo Leonardo Pereira Borba – Ministro da Fraternidade Santo Antônio dos Pobres, da OFS, Volta Redonda, RJ

06 de outubro – Quarta-feira
Francisco e a juventude – 50 anos da JUFRA no Brasil
Participação:
Gabriela Consolaro Nabozny – Secretária Nacional de Formação da JUFRA do Brasil
Jeferson Machado, OFS – Representando o Ministério Nacional

07 de outubro – Quinta-feira
Os 800 anos  da Regra escrita por São Francisco para a OFS/ Memorialis Propositum.
Apresentação: Ir. Cleusa Neves
Participação:
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

08 de outubro – Sexta-feira
O caminho para construir a fraternidade: uma conversa sobre a Fratelli Tutti
Apresentação: Frei Gustavo Medella
Participação:
Frei James Girardi, OFM

09 de outubro – Sábado
Momento celebrativo
Participação: Santuário Frei Galvão, Guaratinguetá (SP)