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Frei Evaristo será ordenado bispo neste sábado

05/08/2016

Entrevistas, Notícias

Nomeado bispo no dia 1º de junho último pelo Papa Francisco, Frei Evaristo Pascoal Spengler será ordenado bispo neste sábado (6/8), às 9 horas, na Matriz São Pedro Apóstolo de Gaspar, pelo Secretário Geral da CNBB e Bispo Auxiliar de Brasília, Dom Leonardo Ulrich Steiner. Além de Dom Leonardo, que é o bispo ordenante principal, serão bispos ordenantes Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém (PA) e Dom Mauro Morelli, Bispo Emérito da Diocese de Duque de Caxias (RJ).

Natural de Gaspar (SC), onde nasceu no bairro de Pocinho no dia 29 de março de 1959, Frei Evaristo vestiu o hábito franciscano quando ingressou no Noviciado de Rodeio, em Santa Catarina, no dia 20 de janeiro de 1977. No dia 2 de agosto de 1982 fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores e foi ordenado presbítero no dia 19 de maio de 1984. Frei Evaristo ficou por uma década em Angola. Essa experiência missionária começou no dia 31 de maio de 2001. De 2003 a 2006, Frei Evaristo presidiu a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola. Em janeiro de 2010 encerrava essa etapa missionária e retornava para a conhecida Baixada Fluminense, em Duque de Caxias, bairro de Imbariê, como Vigário Paroquial. Ali continuou até 2012 quando o Capítulo Provincial o elegeu Definidor e o manteve como coordenador da Fraternidade de Imbariê. No Capítulo Provincial de 2016, ele foi eleito Vigário Provincial e passou a acumular a função de Secretário da Evangelização.

Aos 57 anos, Frei Evaristo tem pela frente o maior desafio de sua vida religiosa, embora isso não seja novidade para ele, pois até hoje suas experiências pastorais estiveram concentradas em duas regiões de fortes desigualdades e fraturas sociais: a Baixada Fluminense e a Missão de Angola (África), durante e no pós-guerra.

Frei Evaristo vai suceder a Dom Frei José Luiz Azcona, religioso missionário da Ordem dos Agostinianos Recoletos e bispo prelado do Marajó desde 1987, que devido à idade (76 anos) teve sua renúncia ao governo pastoral da Prelazia aceita pelo Papa Francisco, conforme prevê o Direito Canônico.

Esta entrevista Frei Evaristo deu depois de conhecer um pouco a realidade que terá pela frente com a viagem que fez de dez dias à Ilha do Marajó (foto no alto). Segundo ele, “os desafios sociais e eclesiais não me assustam quando há uma Igreja viva. O que me dá medo é a acomodação, é perder o ímpeto missionário”, confessa. Quem o conhece, sabe que o carisma franciscano está no seu DNA e não há menor chance de perder esse ímpeto evangelizador que o acompanha. Acompanhe a entrevista!

Site Franciscanos – Frei Evaristo, apresente-nos a Prelazia do Marajó em números.
Frei Evaristo – A Prelazia do Marajó se situa no maior arquipélogo fluviomarinho do mundo. Ocupa uma área de 86.477 Km2. Tem 10 paróquias em 9 municípios. Tem 22 padres, 10 da Ordem dos Agostinianos, 7 diocesanos da Prelazia do Marajó, dois diocesanos poloneses e um francês (Fidei Donum) e dois da Comunidade Católica Providência Santíssima. Conta com 8 seminaristas no seminário menor, e 15 no seminário maior, dos quais 9 na Filosofia e 6 na Teologia. Conta também com 9 comunidades religiosas femininas e seis comunidades missionárias de vida. Lá situa-se o município mais pobre e abandonado pelo poder público do Brasil: Melgaço (IDH 0,418), além de outros municípios que estão entre os mais pobres do Brasil.

Site Franciscanos – Na visita à Prelazia de Marajó, que esperanças você trouxe?
Frei Evaristo – A Igreja de Marajó é muito viva. Tem grande participação de jovens, adultos e crianças. O povo das comunidades irradia muita alegria, fraternidade e acolhimento. É uma Igreja da terra e das águas, com muitas comunidades ribeirinhas. Há pastorais muito ativas como a Pastoral da criança que assiste a quase cinco mil crianças e três mil famílias. Conta com padres muito desapegados, com espírito missionário a serviço do povo. A Ordem dos Agostinianos prestou e presta um valiosíssimo serviço à Prelazia. Há vocações locais com boas perspectivas de futuro. As congregações religiosas e as comunidades leigas são muito dedicadas ao povo. As expressões culturais como a cerâmica marajoara e o carimbó são belíssimos. Sem contar a paisagem paradisíaca das florestas e das águas.

Site Franciscanos – Quais os desafios da Igreja e da realidade?
Frei Evaristo – Em nível eclesial há um número insuficiente de clero para atender um território quase da dimensão de Portugal e com uma população de mais de 300 mil habitantes, na maioria católica. A logística é um complicador para proporcionar cursos de formação e reuniões com participação de leigos das paróquias. A Prelazia ainda depende em boa parte de recursos de fora para manter seus seminários e os trabalhos pastorais. Em nível social, Marajó conta com a ausência quase completa do poder público. Há municípios em que o analfabetismo chega a 40 e até 50% da população. Como resultado desse descaso, constata-se grande índice de prostituição infantil, tráfico de pessoas e fazendeiros expulsando ribeirinhos. É uma terra que clama aos céus. O bispo Dom Azcona, como outros dois bispos do Pará, Dom Erwim e Dom Flávio estão ameaçados de morte por se posicionarem contra esses crimes.

Site Franciscanos –Frei Evaristo, depois de anos de trabalho na Baixada Fluminense e na Missão de Angola, inclusive durante a guerra civil, como o sr. encara esse novo desafio em sua vida?
Frei Evaristo – Cada missão traz desafios, mas também profundas lições. Aprendi muito com o povo da Baixada Fluminense como ser uma Igreja Povo de Deus, em que cada cristão assume o seu batismo como discípulo missionário de Jesus a serviço do Reino. Aprendi como o povo se organiza nas comunidades colocando seus dons a serviço do bem comum. Aprendi a ligação da fé com a vida e a forma como o povo se organiza em pastorais e movimentos sociais buscando realizar o desejo de Jesus: Eu vim para que todos tenham vida e tenham vida plenamente”. Aprendi como deixar-se iluminar pela Palavra de Deus, abrindo-se à ação do Espírito Santo. Em Angola não foi diferente. Encontrei um povo de muita fé. Sentia Deus falando nos acontecimentos e nas pessoas como em nenhum outro lugar. O povo angolano resistiu ao sofrimento, e nunca perdeu a esperança e a alegria. Rezou incansavelmente a Maria, Senhora da Paz, para que seus filhos pudessem viver em paz naquela terra. Vi o povo ir para as ruas se abraçar celebrando a paz. E, depois da reconciliação, como se uniram para reconstruir o país! Em Marajó encontrei um povo muito acolhedor e alegre, que luta pelos direitos dos mais fracos. Sei que aprenderei muito com eles.

Site Franciscanos – O fato de ser nomeado para uma região de extrema fratura social, onde o  bispo Dom Luiz Azcona sofria ameaças de morte por lutar contra esse quadro e a Igreja local ter apenas 20 padres para atender um território do tamanho de Portugal não o assustou?
Frei Evaristo – Os desafios sociais e eclesiais não me assustam quando há uma Igreja viva. Em Marajó, a Igreja que encontrei me encheu de esperança. É uma Igreja solidária que investe seus escassos recursos de pessoas e bens em função dos mais fracos. O que me dá medo é a acomodação, é perder o ímpeto missionário. O lema de minha ordenação sacerdotal foi: “Vai, eu estou contigo!” (Ex 3, 10.12). É o envio de Deus a Moisés em missão. Nesta missão sei que Deus também não me deixará sozinho.  O Espírito Santo me guiará  e iluminará a missão.

Site Franciscanos – Como será o bispo franciscano Frei Evaristo?
Frei Evaristo – Serei um frade menor. Em todos os municípios e paróquias da Prelazia que visitei, na chegada me ajoelhei e pedi que o povo rezasse por mim e invocasse a bênção de Deus sobre a missão que estava iniciando. Chego com humildade e respeito. Sei que aquela é uma terra santa. Deus pisou naquela terra e andou por aquelas águas muito antes de mim. Deus já fez história com aquele povo. Muitos missionários ali consumiram a sua vida pelo povo. Muitos leigos testemunharam sua fé em Jesus Cristo. Ali há profetas como Dom Azcona que defendem a vida dos mais pobres. Quero conhecer e respeitar essa caminhada, e peço a Deus que eu possa somar e contribuir com tudo que já vem sendo feito.

Site Franciscanos – Como bispo nomeado pelo Papa Francisco, como o sr. avalia o Pontificado dele?
Frei Evaristo – O papa Francisco é uma bênção para a Igreja. Ele chama a Igreja a estar constantemente em saída. Sonha com uma Igreja missionária e transformadora. Pede que o pastor tenha o cheiro das ovelhas. Prefere uma Igreja suja pela lama do caminho do que uma Igreja encerrada nas sacristias. Uma Igreja que erra tentado acertar do que uma Igreja paralisada por medo de errar. Que Deus dê vida longa ao papa Francisco para fazer ecoar o seu grito levando Jesus Cristo até os confins da terra, às amassadeiras do assaí, às donas de casa, aos barqueiros e pescadores, aos camponeses “e outros mais”.

Moacir Beggo