Frei Evaristo é nomeado bispo da Prelazia de Marajó
01/06/2016
Moacir Beggo
Eleito Vigário Provincial no último Capítulo Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição, em janeiro último, Frei Evaristo Spengler nem bem acabou de se instalar e ter traçado uma agenda de trabalho com o novo Governo Provincial e já terá de assumir uma nova missão na Igreja: Ele foi nomeado pelo Papa Francisco, nesta quarta-feira, 1º de junho, bispo da Prelazia de Marajó, no Pará. Sua ordenação episcopal assim como sua posse ainda não foram definidas.
Natural de Gaspar (SC), onde nasceu no bairro de Pocinho no dia 29 de março de 1959, Frei Evaristo vestiu o hábito franciscano quando ingressou no Noviciado de Rodeio, em Santa Catarina, no dia 20 de janeiro de 1977. No dia 2 de agosto de 1982 fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores e foi ordenado presbítero no dia 19 de maio de 1984.
Aos 57 anos, Frei Evaristo tem pela frente o maior desafio de sua vida religiosa, embora isso não seja novidade para ele, pois até hoje suas experiências pastorais estiveram concentradas em duas regiões de fortes desigualdades e fraturas sociais: a Baixada Fluminense e a Missão de Angola (África), durante e no pós-guerra.
Frei Evaristo vai suceder a Dom Frei José Luiz Azcona, religioso missionário da Ordem dos Agostinianos Recoletos e bispo prelado do Marajó desde 1987, que devido à idade (76 anos) teve sua renúncia ao governo pastoral da Prelazia aceita pelo Papa Francisco, conforme prevê o Direito Canônico.
Dom Frei José Luiz está há 30 anos em Marajó e é mundialmente reconhecido pela luta contra a exploração de menores, combate a prostituição, a exploração ambiental e a corrupção no interior do Pará. O prelado também é notoriamente um dos membros do episcopado no Brasil mais envolvidos com o Movimento da Renovação Carismática Católica e as Novas Comunidades.
A Prelazia de Marajó foi erigida a 14 de abril de 1928 pela bula Romanus Pontifex do Papa Pio XI, com território desmembrado da Arquidiocese de Belém do Pará. Segundo o infográfico (veja abaixo) do portal A12, a Prelazia conta com uma população aproximada de 300.000 habitantes, com 88,5% de católicos. A maior população está nas paróquias de Breves, com cerca de 100.000 habitantes. O território da prelazia é de 86.477,12 km², organizado em dez paróquias, abrangendo os seguintes municípios: Soure – Paróquia Menino Deus (Sé prelatícia), Breves – Paróquias de Sant’ana, São José Operário e Santa Terezinha do Menino Jesus, Afuá – Paróquia Nossa Senhora da Conceição, Chaves – Paróquia Santo Antônio, Anajás – Paróquia Menino Deus, Portel – Paróquia Nossa Senhora da Luz, Melgaço – Paróquia São Miguel Arcanjo e Bagre – Paróquia Santa Maria, Salvaterra – Paróquia Nossa Senhora da Conceição.
No ano passado, em entrevista ao site da TV Aparecida, a produtora Nazaré Soares, que há 8 anos é redatora-chefe do departamento de jornalismo na na TV Aparecida, falou sobre o projeto “Desafios da Igreja: Ilha de Marajó”, onde abordou não apenas as ameaças de morte que Dom Luiz Azcona da Prelazia de Marajó, como também, as denúncias de exploração infantil e o trabalho feito pela Igreja na região. Dizia ela: “A comunidade tem medo de que Dom Azcona se aposente, porque ele é o juiz, ele é o delegado, ele é o professor, ele é o pastor e ele é o pai, então, ele significa muito para aquele povo. O medo deles é que o próximo bispo não os proteja. Lá, eles recorrem a Dom Azcona e ele tenta ajudar, não só na parte material, ele toca o coração das pessoas. Ele é o que o Papa Francisco pede, que a Igreja sirva as pessoas, e ele serve aquelas pessoas. Essa inquietação é da comunidade, é nossa e é também da Igreja. Dom Azcona está lá há 30 anos e dá a vida pelo povo”. Segundo Nazaré, a Igreja ali é fundamental, pois ela faz um trabalho de conscientização. “Entretanto, a Igreja é uma gota no oceano, pois é um desafio muito grande. Você consegue imaginar 20 padres para um território do tamanho de Portugal?”, questionava.
O MISSIONÁRIO FREI EVARISTO
Após ser ordenado em 1984, Frei Evaristo foi transferido para Duque de Caxias, no bairro Campos Elíseos, como Vigário Paroquial e responsável pela equipe bíblica. Nesse tempo nasceu o projeto “Luar de Dança”, iniciativa que surgiu em 1990 com Frei Evaristo, na igreja Nossa Senhora de Santana. O projeto começou com 30 alunos e em 2013 tinha 1.200 crianças.
Nesse tempo, Frei Evaristo também participou do Fórum permanente contra a violência(1988-1991).
Nesta mesma cidade, em 17 de janeiro de 1992, foi transferido pela Província Franciscana para a Fraternidade de Imbariê, uma casa de formação inclusiva, onde foi vigário e vice-mestre dos frades professos temporários. Seu trabalho pastoral na Baixada Fluminense continuou em 10 de janeiro de 1995, quando passou a residir na vizinha Nilópolis como Vigário Paroquial e animador da Equipe Bíblica Urbana. De 30 de março de 1996 a 21 de janeiro de 1998 se dedicou aos estudos bíblicos em Jerusalém. No retorno ao Brasil, passou a residir no Convento Santo Antônio e continuou os estudos na PUC-Rio.
Frei Evaristo dizia no ano passado que seu sonho era voltar para a Missão de Angola, onde ficou por uma década. Essa experiência missionária começou no dia 31 de maio de 2001. “Quando cheguei à Missão, em maio de 2001, ainda era tempo de guerra. Malange, cidade do Interior de Angola, sofria com os ataques e tinha uma série de restrições por parte da ONU, inclusive de horários, nos locais onde se podia passar. Não podíamos ir às aldeias fora do horário das 9 até às 17 horas. Em outras áreas nem era permitido o acesso. A guerra terminou em abril de 2002. Foi quando descobrimos o território onde estava a nossa Missão. Da sede, em Katepa (Malange), até o final, a distância é de 450 quilômetros. Em 30 anos de guerra, as estradas de terra desapareceram por falta de manutenção, assim como as pontes foram destruídas enquanto o governo perseguia a Unita ou vice-versa. O cenário era de muita fome nas aldeias. O povo plantava, mas nunca chegava a colher porque tinha de fugir devido aos ataques. A plantação nem chegava a ser colhida. Isso causava muita fome e insegurança. Mesmo em termos de evangelização, não se podia ter muita coisa organizada. Só com o fim da guerra é que se começou a estruturar um pouco a parte pastoral através dos catequistas das aldeias. Aliás, a fé do povo foi alimentada neste período pelos catequistas, mesmo sem informações, sem material de liturgia, sem material de catequese. Havia um grupo muito grande que esperava, no final da guerra, ser batizado, fazer a primeira comunhão, receber a Eucaristia. O papel de um catequista, nas aldeias, é fazer a oração da manhã com o povo, dar a catequese, fazer o culto dominical. É ele que mantém a vida cristã na comunidade. Quando os missionários chegam, celebram a Eucaristia e ministram os sacramentos”, disse em entrevista ao site Franciscanos. De 2003 a 2006, Frei Evaristo presidiu a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola. Nessa época, de 2005 a 2010, participou de um projeto da ONU de Reconstrução de Escolas e uma Biblioteca. Quatro escolas foram criadas, abrindo 12 novas salas e várias salas reformadas.
Três anos depois, no dia 25 de setembro de 2004, retornou ao Brasil para ser submetido a uma delicada cirurgia na coluna. Recuperado, retornou para a Missão e foi eleito no dia 20 de dezembro de 2006 Conselheiro da Fundação Imaculada Mãe de Deus. Em 2009, Frei Evaristo celebrou o seu jubileu de 25 anos de sacerdócio em Gaspar, com a comunidade e familiares. Nesse dia, dizia que retornava a Gaspar para comemorar as bodas de prata de sacerdócio com 27 malárias no corpo, mas com mais luz nos olhos.
Em janeiro de 2010 encerrava essa etapa missionária e retornava para a conhecida Baixada Fluminense, na mesma Duque de Caxias, Imbariê, como Vigário Paroquial. Ali continuou até 2012 quando o Capítulo Provincial o elegeu Definidor e o manteve como coordenador da Fraternidade de Imbariê. Em 2013 também acumulou a função de vice-mestre dos frades de profissão temporária do tempo de Teologia.
Conhecido pelo seu trabalho de pacificação, Frei Evaristo voltou a trabalhar pela paz como membro do Fórum “Grita Baixada contra a Violência” (2011 a 2015).
Em 2015, Frei Evaristo foi convidado por Frei Germano Guesser para ser o pregador da Festa de São Pedro Apóstolo de Gaspar. Depois de 42 anos, desde o ingresso no Seminário, voltava a participar da festa em sua cidade natal.
No Capítulo Provincial de 2016, ele foi eleito Vigário Provincial e passou a acumular a função de Secretário da Evangelização.
A GRANDE ILHA DE MARAJÓ
Segundo o Guia de Viagem UOL, Marajó é a maior ilha fluviomarinha do mundo possui 16 municípios. Está localizada a oeste da foz do rio Amazonas e a leste da Baía do Guajará, a três horas de barco de Belém. Numa região repleta de igarapés e rios, pouco se consegue fazer por estradas, principalmente porque chove demasiadamente de janeiro a maio, quando boa parte da ilha fica alagada. Dessa forma, a capital Soure e Salvaterra, separadas pelo rio Paracauari, são os municípios que se beneficiam por estarem próximos de Belém.
Distante 70 km quilômetros de Soure, fica Cachoeira do Arari, e também o local do Museu Histórico do Marajó, que possui peças arqueológicas encontradas pelo padre italiano Giovanni Gallo, criador da instituição. Segundo estudos, a Ilha de Marajó foi habitada por índios bem avançados, com cultura comparada à pré-colombiana. Mas teriam desaparecido antes da chegada dos portugueses em Joanes, no município de Salvaterra.
Além da vegetação e belas praias, Marajó é conhecida por possuir o maior rebanho de búfalos no Brasil, com cerca de 700 mil cabeças, cerca de três vezes a população dos 16 municípios. O artesanato, as comidas e a cultura refletem um pouco o costume do peão local, que habita as grandes fazendas da região. Comidas como o Frito do Vaqueiro e o Filé à Marajoara levam a carne do animal, que tem menos colesterol do que a bovina. O artesanato de couro também é bastante forte na região.
A equipe de reportagem da TV Aparecida visitou as cidades paraenses de Portel e Melgaço. O infográfico a seguir mostra dados e estatísticas que dão um panorama geral dos dois municípios Portel e Melgaço.
As informações são extraídas do Atlas do Desenvolvimento Humano, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e Fundação João Pinheiro.