Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei Diego: Não podemos ficar indiferentes aos pobres e necessitados

21/09/2019

Notícias

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – “Quem já passou pela dor da separação sabe entender aqueles que vivem a mesma situação. Quem já sentiu saudades de casa, da terra, do seu povo, amigos e familiares, sabe o que significa ter que migrar”. Ao presidir a sexta edição da Missa Nordestina neste sábado, 21 de setembro, no Santuário e Convento São Francisco, no centro de São Paulo, Frei Diego Melo, que é o animador vocacional da Província da Imaculada, pediu aos fiéis, em sua maioria formada por nordestinos, que acolham com carinho os novos migrantes que vêm para São Paulo. “São os nossos irmãos e irmãs de diferentes países da África, os venezuelanos, os bolivianos e outros latinos. São pessoas que, forçadas pela necessidade, pela fome ou pela guerra, hoje procuram fazer de São Paulo sua casa e um local seguro para viver, trabalhar e reconstruir a própria história”, situou o frade. “Nós, devotos de São Francisco, não podemos ficar indiferentes aos pobres e necessitados dos dias de hoje”, exortou.

Os fiéis nordestinos vieram celebrar este momento e recordar uma devoção muito forte no Nordeste: São Francisco das Chagas. O estandarte reproduzindo esta imagem tão querida pelos nordestinos, especialmente os cearenses, abriu a procissão de entrada ao meio-dia deste sábado ao som de cantos e ritmos nordestinos. Frei Diego teve como concelebrantes Frei Mário Tagliari, guardião do Convento São Francisco, e Frei Gilberto da Silva, frade que estuda em Roma.

A equipe litúrgica do Santuário, sob a coordenação do reitor Frei Mário, preparou uma bela Celebração Eucarística com a ajuda da Pastoral do Migrante de São Paulo.

A Festa das Chagas de São Francisco é celebrada pela Família Franciscana no dia 17 de setembro.  Na capital paulista, esta Missa abriu os festejos em honra do Padroeiro do Convento e Santuário, a ser celebrado no dia 4 de outubro. No próximo dia 25 de setembro tem início a Novena de São Francisco, às 15 horas.

Frei Diego agradeceu a Frei Mário o convite para presidir esta Missa e lembrou que ele era migrante também. Como religioso, deixou a sua terra catarinense há sete anos. “Como filho de São Francisco das Chagas minha fraternidade é universal”, explicou, fazendo uma declaração de amor: “Eu amo o povo nordestino. E isso não é só demagogia ou discurso para impressionar, não! Digo isso, pois há 6 anos, desde a primeira vez que pisei na Bahia, não consegui passar um ano sequer sem lá voltar para viver uma experiência de fé e vida com o querido povo da Diocese da Barra, de modo especial na comunidade de Cocal, em Brotas de Macaúbas. Posso dizer que gostei tanto daquela farinha, daquele cuscuz e daquela macaxeira que, a cada ano, me organizo para lá viver alguns dias de missão”, revelou.

Frei Diego, tomando o tema da Festa de São Francisco deste ano – “Francisco, homem do encontro” -, dividiu em três pontos a sua homilia, “ou melhor dizendo, em três encontros”. Segundo o frade, o primeiro deles é sobre o Encontro de São Francisco consigo mesmo. “Como todos sabemos, o nosso querido santo, durante a sua juventude viveu um tempo de profunda busca interior da vontade de Deus para a sua vida. Querendo se fazer importante, nobre, foi para a guerra. Perdeu e ficou um tempo na prisão. Até que voltou para casa e quando estava a caminho de outro combate olhou para si e descobriu que nada daquilo era capaz de preencher o seu coração. Nessas idas e vindas foi que ele aprender ouvir a voz do próprio coração para descobrir realmente quem ele era o que ele realmente queria”, explicou.

Segundo Frei Diego, olhando para a figura de São Francisco, é preciso valorizar esse encontro consigo mesmo. “E isso significa saber quem nós somos, nossos gostos, nossa identidade, nossa natureza, nossas raízes. Como migrantes, nordestinos, não podemos negar o nosso passado, a nossa história, a nossa família. É preciso encontrar-se com as nossas raízes e a nossa própria vida, muitas vezes marcada por sofrimento, privação, separação, distâncias, ausências, mas repleta de esperança, de desejo de construir, de conquistar novos mundos, fazer novas amizades e de superar dificuldades. Portanto, para que esse primeiro encontro aconteça, é preciso saber quem somos e o que queremos. É preciso encontrar-se com a nossa essência e nossa própria história”, propôs.

O segundo encontro de Francisco acontece com o próximo, com o leproso. “Esse encontro mudou radicalmente a sua vida e a sua história. Foi olhando para a dor do próximo, aproximando-se e deixando-se tocar por ela, que São Francisco entendeu que descobrir quem se é significa abrir-se para o outro. O famoso beijo do leproso, dado e recebido por Francisco, foi tão forte e intenso, que no final da sua vida ele relata no seu testamento que depois disso ele mudou de vida, ele deixou o mundo e passou a viver de um modo diferente, mais fraterno, solidário e próximo das pessoas”, explicou o frade.

Esse encontro de São Francisco evoca solidariedade e compaixão para com o próximo, frisou o frade. “Quem já passou pela dor da separação sabe entender àqueles que vivem a mesma situação. Quem já sentiu saudades de casa, da terra, do seu povo, amigos e familiares, sabe o que significa ter que migrar. Assim, nós que somos migrantes, temos o dever de ajudar e sermos próximos daqueles que também estão deixando suas terras. Tenho a impressão de que hoje a comunidade nordestina aqui em São Paulo, ainda que com tantas dificuldades, hoje já consegue se articular melhor, já ocupa o seu espaço e garantir a sua identidade. No entanto, há outra grande leva migratória que hoje está enfrentando inúmeros desafios assim como vocês enfrentaram e talvez ainda enfrentam. São os nossos irmãos e irmãs de diferentes países da África, os venezuelanos, os bolivianos e outros latinos. São pessoas que, forçadas pela necessidade, pela fome ou pela guerra, hoje procuram fazer de São Paulo sua casa e um local seguro para viver, trabalhar e reconstruir a própria história”, lembrou.

“Portanto, nós que somos devotos desse São Francisco que abraçou o leproso não podemos ficar indiferentes aos pobres e necessitados dos dias de hoje. Já bastam os governos e políticos que criam muros e divisões, com discursos e decisões que legitimam a xenofobia, o preconceito e a discriminação”, lamentou. Falando em encontro, recordou que neste ano a Ordem Franciscana celebra os 800 anos do Encontro de Francisco com o Sultão. “É importante também nos abrirmos ao diálogo e encontro com outras religiões e outros credos. O outro, talvez seja aquele irmão e irmã que professa uma fé distinta da nossa. Nós, enquanto franciscanos, migrantes e nordestinos, precisamos dizem sim à acolhida, à fraternidade e ao respeito a todas as diferenças”, ensinou.

O terceiro e último encontro, destacou Frei Diego, é aquele que marca a vida e até o mesmo o corpo de São Francisco. “O encontro com Jesus Cristo crucificado. O encontro que fez do nosso querido Francisco outro Cristo, trazendo no seu corpo as marcas do seu amado. Como nos diz a leitura de São Paulo aos Gálatas, Francisco trazia em seu corpo as marcas de Jesus. Aquelas chagas de São Francisco, na verdade, foram nascendo ao longo de tantos encontros que ele teve com Jesus. Aquelas chagas são os sinais de que os encontros verdadeiros e profundos deixam marcas em nossas vidas. Aquelas chagas são a prova de que quando a gente se abre para Deus, para o próximo e para o diferente, tudo muda em nossa vida”, orientou.

Para Frei Diego, assim como São Francisco teve a sua alma e o seu corpo mudados por tantos encontros,  também queremos ser transformados por esses encontros que o Senhor nos proporciona. “O encontro conosco, com o próximo e com Deus deve marcar a nossa vida, as nossas atitudes e o nosso modo de ser. Esses encontros modificam todas as estruturas, inclusive as sociais. Digo isso, por perceber o quanto essa cidade seria menos grandiosa se vocês aqui não estivessem. Vocês nos mostram que é possível transformar a dor em esperança, a tristeza em fé e a fome em força. É da força de vocês que enxergamos a pujança das grandes cidades. É do calo de suas mãos que o progresso e o desenvolvimento vão acontecendo”, reconheceu, agradecendo: “Obrigado pela fé e devoção de vocês. Que São Francisco das Chagas abençoe a cada um e que essa bênção chegue até os queridos familiares de vocês que estão distantes! Obrigado, porque você, nordestino (a), é, antes de tudo, um forte”, completou, pedindo vivas a São Francisco das Chagas e ao povo nordestino!

Durante a procissão do Ofertório, objetos e vestuários que lembram a cultura nordestina e dos migrantes, foram trazidos ao altar, junto com as imagens de Nossa Senhora do Nordeste, Padre Cícero, Frei Damião e Nossa Senhora Aparecida. Frei Odorico Decker proporcionou um dos momentos mais belos da celebração ao tocar, com sua gaita,  “Asa Branca”, o hino de todo o povo nordestino e brasileiro.

Com um chapéu na cabeça, Frei Diego leu uma mensagem em forma de cordel no final da celebração. Nela, falou da missão na Bahia, do carinho que tem pelo povo nordestino e do migrante: “Precisa de solidariedade, precisa de compaixão, de oportunidade para conseguir o pão”. Para dar a bênção final com todos os frades, chamou Frei Leandro Costa, filho de migrantes nordestinos, que estava com seus pais e irmãos na Missa.

Neste domingo, 22 de setembro, Frei Mário toma posse como pároco da Paróquia e Santuário São Francisco, na Missa das 10 horas.

A festa deste dia no Largo São Francisco continuou no claustro, com a “Tarde prêmios”, que teve como animador do bingo Frei Alexandre Rohling, o Frei Xandão.


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