Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei César: “Temos mais um santo junto de Deus intercedendo por nós”

05/10/2020

Notícias

“A gente queria ter ele um pouquinho mais, tocar mais nele, sentir sua presença, conversar com ele. Mas ele se mostra presente de uma forma mais intensa. Ele é nosso intercessor junto de Deus. Temos mais um santo junto de Deus intercedendo por nós”. Foi com essas palavras que o Ministro Provincial, Frei César Külkamp, consolou uma cidade e até uma região em comoção durante a Missa de Corpo Presente de Frei Policarpo Berri, que começou às 10 horas desta segunda-feira (5/10). Duas horas depois, o frade franciscano foi sepultado na lateral da Matriz de São Pedro Apóstolo, em Pato Branco (PR). Familiares de Rodeio, frades da região e de Santa Catarina estiveram presentes na Celebração Eucarística, além das principais autoridades municipais.

Frei Policarpo faleceu ontem, 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, aos 96 anos. A Prefeitura de Pato Branco decretou luto oficial de sete dias na cidade, “em sinal de respeito pela vida e dedicação de Frei Policarpo Berri” e a administração municipal declarou feriado municipal até ao meio-dia de hoje. Os serviços essenciais da Prefeitura, como o Departamento de Trânsito, Departamento de Obras, Secretaria Municipal de Saúde, Limpeza Pública, Casa Abrigo Esperança e Horto Florestal, tiveram seus horários readequados.

O povo fez longas filas para poder se despedir do frade que marcou esta cidade. “Desde ontem, quando cheguei aqui, vindo justamente da terra natal de Frei Policarpo, onde estava passando as festividades de São Francisco junto ao nosso Noviciado, pude perceber a grande comoção, a grande quantidade de pessoas”, expressou Frei César na sua homilia.

Frei César contou que a primeira notícia que viu da morte de Frei Policarpo foi do bispo diocesano de Palmas-Francisco Beltrão, Dom Edgar Xavier Ertl, que destacava que Frei Policarpo escolheu um dia muito especial, o dia da sua vocação franciscana. “O dia que nós celebramos a morte de São Francisco de Assis. No final do ano passado, Frei Policarpo completou 75 anos de frade menor. Essa coincidência não é por acaso, e certamente não é por acaso essa celebração tomada por este sentimento que desde ontem se quis para esta despedida de Frei Policarpo, como sendo momento de gratidão”, disse.

A despedida dos familiares e dos seus confrades no final da Celebração Eucarística

“Nós podemos chorar por essa despedida mas nós temos muito mais motivos para render graças a Deus por esta longa vida e por essa presença tão fecunda do Frei Policarpo nas nossas vidas, especialmente aqui nesta região”, ressaltou. Segundo o Ministro Provincial, Frei Policarpo não passava despercebido em qualquer lugar, embora ele não gostasse de chamar a atenção. “Seu jeito simples, discreto, de verdadeiro franciscano, era sempre de uma presença sóbria, simples, sem muitos arroubos, sem muitos acontecimentos, mas o que chamava atenção na sua vida era justamente essa fidelidade em torno não da pessoa dele, mas daquilo que precisava ser feito. E, assim, ele viveu a sua vocação”, acrescentou Frei César.

O Ministro Provincial recordou que, quando celebrou há dois meses o jubileu de 70 anos de sacerdócio de Frei Policarpo, devido às circunstâncias por causa da pandemia, foi anunciado naquela ocasião que a festa externa maior desta data seria celebrada no dia de São Francisco de Assis, dia de sua vocação. “E no dia de ontem, ele escolheu celebrar esse sacerdócio de forma plena, devolvendo a Deus esse dom que o chamou para servir como sacerdote e como frade menor. Então, nós queremos, hoje, celebrar junto com Frei Policarpo por essa sua escolha, agradecer a Deus por esse dom tão grande que ele nos concedeu. E a sua inspiração em São Francisco de Assis também tem um pensamento que diz que a gente não deve apenas falar e celebrar os santos, mas a gente deve se comprometer”, ressaltou.

“Não basta da nossa parte cantar as glórias que os santos praticaram, dizia São Francisco, justamente num pequeno texto que o Papa Francisco escolheu para aquela Carta Encíclica que ele assinou no dia 3, junto ao túmulo de São Francisco, em Assis, na Itália. ‘Irmãos todos’ é o título dessa encíclica, muito bonita que fala sobre a fraternidade e a amizade social como nossa vocação universal. Todos nós somos filhos e filhas de Deus e, por isso, também não podemos deixar que nenhuma pessoa passe despercebida de nossas vidas. É preciso empenhar-se pela dignidade, pela melhor condição a cada ser humano, porque ele é nosso irmão. Não importa a procedência, não importa a raça, não importa a religião, não importa o modo de pensar, cada pessoa, cada ser humano é nosso irmão. É uma ideia de fraternidade universal. É isso que pede o Papa Francisco, inspirado em São Francisco de Assis, e foi justamente isso que Frei Policarpo procurou fazer. Sempre com os olhos atentos a quem precisava dele. E por isso tantas coisas foram surgindo. Se alguém estava doente, Frei Policarpo estava de prontidão; se alguém precisava de auxílio, qualquer que fosse, material ou presencial, ali estava o Frei Policarpo; se alguém precisava de uma atenção espiritual, se alguém estava perturbado com alguma coisa, a bênção de Frei Policarpo transformava”, observou Frei César.

Segundo o Ministro Provincial, um dos pensamentos que chamaram muito a sua atenção, escrito por Frei Policarpo, foi sobre a importância que dava às bênçãos, mas sempre compreendendo que quem dá a bênção é Deus. “Frei Policarpo dava a sua bênção muito rapidamente, mas ninguém se incomodava. Todos ficavam consolados com sua bênção e os mais diversos anseios eram atendidos, porque Deus é quem agia. E com isso Frei Policarpo nos ensina que todos nós precisamos ser canais da bênção de Deus, como ele procurou ser na sua simplicidade, na sua humildade, mas acima de tudo na sua fidelidade. Nesse olhar atento, fez com que tanta coisa fosse construída, acontecesse. Isso foi bastante destacado esses dias. Mas o importante é que cada um de nós descubra a capacidade de ter essa atenção a quem mais estiver precisando de nós. Isso que a palavra de Deus pede também hoje de cada um de nós”, disse, referindo-se ao Evangelho das Bem-aventuranças.

O momento do sepultamento do corpo de Frei Policarpo Berri na lateral da Matriz de Pato Branco

“Mas, acima de tudo, o que o Cristo está nos dizendo é que essas bem-aventuranças devem ser realizadas por cada um de nós. Se alguém está aflito, eu devo consolá-lo; se é alguém é pobre e tem necessidade, eu devo ser o seu amparo; se alguém está doente, eu devo ser o seu cuidado. Cada um de nós. Sabemos que estas realizações ou bem-aventuranças, elas são plenas junto de Deus. É ele quem promete o cêntuplo e todas as graças. Mas ao mesmo tempo é ele quem nos envia para realizar essas mesmas graças, para que elas aconteçam através das nossas mãos e dos nossos corações. Pelo nosso afeto, e pela nossa ação”, explicou.

Segundo Frei César, foi justamente isso que o Frei Policarpo fez. “Por isso hoje podemos dizer e agradecer também a Deus porque o Frei Policarpo foi um sacramento vivo das bem-aventuranças. Ele foi alguém que estava atento. Ele não se preocupou se ele estava doente, se ela estava pobre, se ele estava aflito, mas ele procurou ser esta ação de Deus. Fazer da sua vida e da sua vocação franciscana e sacerdotal esse canal da bênção e da bem-aventurança de Deus”, emendou.

“Que nós, hoje, possamos render graças, celebrar em ação de graças. Porque Frei Policarpo foi esse sacramento e assim também na sua morte serena, no dia de São Francisco de Assis, ele consola o nosso pranto, dá sentido, significado, à sua própria morte e nos recorda o bonito sacramento que foi a sua vida. Ele acolhe lá, junto de Deus, o nosso pranto, a nossa tristeza, que de alguma forma também está presente, toca o nosso coração, porque a gente queria ter ele um pouquinho mais: tocar mais nele, sentir sua presença, conversar com ele. Mas ele se mostra presente de uma forma mais intensa. Ele é nosso intercessor junto de Deus. Temos mais um santo junto de Deus intercedendo por nós. Por isso, todas as multidões que o procuravam todos os dias, podem continuar rogando a Frei Policarpo, podem continuar pedindo o seu amparo, o seu consolo, a sua bênção. Nós podemos continuar pedindo a sua presença entre nós, para que possamos também responder com um pouquinho mais de simplicidade, de humildade, mas com profunda fidelidade, a nossa vocação cristã, franciscana, sacerdotal”, desejou.

O prefeito de Pato Branco, Augustinho Zucchi

O prefeito de Pato Branco, Augustinho Zucchi, confessou que era um momento comovente para a cidade. “Talvez a gente possa recordar o que Frei Policarpo falava: ‘no momento da morte vamos celebrar a vida’.

Ele cumprimentou os familiares: “Vocês não imaginam o valor que Frei Policarpo significa para nós!”.

O governador do Paraná, Ratinho Junior, também lamentou a morte de Frei Policarpo. “Foi como franciscano que ele dedicou 70 anos da sua vida ao sacerdócio, maior parte desse tempo em Pato Branco. Foram 64 anos atendendo e abençoando a população do sudoeste paranaense”, disse o governador.

Frei Policarpo, que é natural de Rodeio (SC), completou 96 anos de vida neste ano. Sua vida caminhada vocacional começou aos 11 anos no Seminário de Rio Negro, no Paraná. Inácio, seu nome de batismo, tornou-se noviço aos 19 anos, em sua cidade natal, ingressando na Ordem dos Frades Menores no dia 20 de dezembro de 1943. Em seguida, estudou Filosofia em Curitiba (PR) e Teologia em Petrópolis (RJ). Fez a Profissão Solene no dia 21 de dezembro de 1947 e foi ordenado sacerdote no dia 25 de julho de 1950, passando a ser chamado de Frei Policarpo. O frade é um dos 11 filhos de Melânia e Félix Berri. Depois de uma breve passagem pela cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, foi transferido para a cidade de Francisco Beltrão (PR). E depois, com 32 anos de idade, em 1956, mudou-se para Pato Branco, onde permaneceu por 64 anos.

Frei Policarpo foi também um dos idealizadores da Rede Celinauta de Comunicação, e batalhou pela aquisição da rádio FM e pela concessão do canal de televisão da rede. Com sua participação, hoje a rede Celinauta é o maior grupo de comunicação sob a coordenação da Província Franciscana da Imaculada Conceição no país, e é composta pelas rádios Celinauta AM e Movimento FM e pela TV Sudoeste.


Moacir Beggo com TV Sudoeste (imagens captura de tela)