Frei César pede a Frei Éverton: seja instrumento eficaz do amor misericordioso do Pai!
05/08/2019
Frei Rodrigo da Silva Santos
Rodeio (SC) – A Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil acolheu, no dia 02 de agosto, os votos de mais um confrade que os professou e, com isso, iniciou sua Vida Religiosa na Ordem dos Frades Menores.
Numa Celebração Eucarística presidida pelo Ministro Provincial, Frei César Külkamp, no dia da Festa de Nossa Senhora dos Anjos, o noviço Frei Éverton Junior Goschel Broilo prometeu sua consagração ao serviço de Deus, da Igreja e da humanidade segundo a Forma de Vida dos Frades Menores. Ele viveu por um ano e meio o seu tempo de provação e graça do Noviciado, tendo sido conduzido pela graça de Deus através do discernimento quanto a quem era e o quanto se identificava com esta específica espiritualidade.
A celebração da Primeira Profissão Religiosa é uma celebração eclesial na qual a Igreja acolhe o desejo do professando de viver a consagração religiosa, abençoando este compromisso de vivê-la e prometendo apoiar o jovem religioso em sua caminhada. Esta passa ser a sua identidade como religioso: uma pessoa consagrada, dentro da Igreja. A Ordem, por sua vez, acolhe o jovem professando em sua fraternidade, apoiando-o e lhe dando as condições para que possam entrar na comunhão de vivência do carisma franciscano.
Eis o texto da homilia proferida pelo presidente da celebração, Frei César, que acolheu os votos de Frei Éverton:
Hoje, 2 de agosto, celebramos a Festa de Nossa Senhora dos Anjos, conhecida como “Porciúncula”.
São Francisco tinha especial devoção à Santíssima Virgem e, por isso, tinha muita afeição à capela de Nossa Senhora dos Anjos. Aí deu início à Ordem dos Frades Menores e preparou a fundação das Clarissas; aí completou o curso de seus dias sobre a terra. E foi aí também que o Santo Pai alcançou a célebre Indulgência, que os Sumos Pontífices confirmaram e estenderam a outras muitas igrejas. Para celebrar tantos e tão grandes favores ali recebidos de Deus. E hoje nós rendemos graças pela vocação do Frei Éverton, que se consagra a Deus com sua Primeira Profissão.
O Papa Francisco referiu-se à pequena igreja da Porciúncula desta forma: “Este lugar amado sempre foi o coração pulsante da Ordem; a Porciúncula, a ‘pequena porção’, o cantinho junto à Mãe da Igreja; junto a Maria que, por sua fé tão firme por seu viver tão inteiramente do amor e no amor com o Senhor, todas as gerações a chamarão bem-aventurada”.
“Encontraste graça diante de Deus, conceberás e darás à luz aquele que reinará eternamente”. Na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, como nos refere a Carta aos Gálatas.
A Porciúncula é o lugar fontal para a nossa mística. Santa Maria dos Anjos é o berço da fraternidade! Aqui começou a vida e o amor mútuo. Um santuário mariano-franciscano, lugar santo, dos mais frequentados em todo o mundo. É um espaço para rezar, refletir, purificar, encher-se de graça e iniciar novamente o caminho.
Foi edificada no século X. Pertencia aos monges beneditinos do monte Subásio que ali alimentavam uma “pequena porção” de santuário. O que ó santuário? É um lugar sagrado onde a presença de Deus se manifesta. O mistério presente da divindade é que determina o lugar do culto.
Para nós, é um santuário porque ali viveu Francisco, ali passou Clara, ali morreu o Pobrezinho de Assis. Francisco e Clara continuam a ser mais vivos que nunca e a sua escolha de Amor é que marca definitivamente o lugar. Ali a Fraternidade se faz encontro, cresce, contagia e se comunica (Cf. 1Cel 106).
A Porciúncula representa a experiência primitiva da Fraternidade, o lugar que foi reconstruído com o trabalho manual de Francisco. Ela estava próxima aos leprosários. Foi onde Francisco encontrou com o Evangelho e respondeu: “É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer de todo o coração”, que também foi adotado por Frei Éverton como seu lema nesta profissão religiosa.
Foi da Porciúncula que Frei Bernardo, Frei Pedro, Frei Egídio e Frei Francisco partiram para a primeira missão. Foi ali que Clara teve seus cabelos cortados em sinal de sua consagração a Deus. E foi ali onde Clara e Francisco ceiam juntos e o lugar se ilumina num banquete espiritual. Finalmente, foi ali que Francisco foi visitado pela irmã morte.
Maria é mulher da contemplação, da escuta fiel da vontade do Senhor. Deus a transforma e a torna colaboradora do seu plano de salvação, do seu anúncio ao mundo.
Francisco e Clara refizeram o caminho de Maria. “Santa Virgem Maria, não há mulher nascida no mundo semelhante a vós” (Ofício da Paixão). Para Francisco e Clara, Maria é um espelho onde enxergam a ação do Espírito de Deus. Eles assumem as atitudes de Maria diante de Deus, e como ela, concebem, geram e dão à luz à Palavra de Deus, dando-lhe vida e forma. Aprenderam com Maria a acolher o Cristo no seu interior para dá-lo à luz ao mundo.
Assim, e por este movimento, escolheram Maria como Mãe e Rainha de toda a Família Franciscana. Francisco e Clara contemplam em Maria o mistério da encarnação, pois é nela que o divino e o humano se encontram.
Desta contemplação de Maria, nasce um modo de ser e de viver, um caminho de comunhão mais verdadeira com Deus. Caminho que leva à conversão, no seguimento e à configuração com Cristo. Caminho de comunhão com as pessoas e com as criaturas.
Bartolomeu de Pisa deu testemunho da origem da Indulgência da Porciúncula: “Uma noite, do ano do Senhor de 1216, Francisco estava compenetrado na oração e na contemplação na igrejinha da Porciúncula, perto de Assis, quando, repentinamente, a igrejinha ficou repleta de uma vivíssima luz e Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita a sua Mãe Santíssima, circundados de uma multidão de anjos. Francisco, em silêncio e com a face por terra, adorou a seu Senhor.
Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas. A resposta de Francisco foi imediata: ‘Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero pecador, te peço que, a todos quantos arrependidos e confessados, virem visitar esta Igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas’.
O Senhor lhe disse: “Ó irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho portanto o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da minha parte, ao meu Vigário na terra (o Papa)’.
E imediatamente Francisco se apresentou ao Pontífice Honório III que, naqueles dias encontrava-se em Perusa e, com candura, narrou-lhe a visão que teve. O Papa o escutou com atenção e, depois de alguns esclarecimentos, deu a sua aprovação e disse: ‘Por quantos anos queres esta indulgência’? Francisco destacadamente respondeu-lhe: ‘Pai santo, não peço por anos, mas por almas’.
E poucos dias mais tarde, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, Francisco anunciou a indulgência plenária e disse entre lágrimas: ‘Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso’!”.
Por isso, o grande milagre da Porciúncula é o Perdão chamado até hoje de Perdão de Assis, levado depois para todas as igrejas franciscanas do mundo inteiro, como possibilidade de receber a indulgência plenária – o perdão de todos os pecados. É a experiência do amor misericordioso de Deus. Deus que quer salvar a todos. A Porciúncula é o lugar onde o amor de Deus transborda em perdão e misericórdia.
Deus nos dá a chance de um recomeço e é preciso abrir-se para este encontro de graça. É a vitória sobre o ódio, o rancor. É movimento para largar as armas e revestir-se de humildade. Quem experimenta a misericórdia do Pai, torna-se também misericordioso. Não há mais espaço para os conflitos. É participar do mistério da redenção, na cruz de Cristo, imagem da plena reconciliação.
E aqui está você, Frei Éverton, terminando o tempo da provação e pedindo para ser recebido na obediência. A obediência no seguimento de Cristo e a viver o Evangelho segundo a forma que São Francisco viveu e propôs a nós.
Hoje é um dia especial porque nos encontramos diante de tantos mistérios desta Forma de Vida que nos sugere a Porciúncula. Especialmente os que partem da Encarnação de Nosso Senhor.
Você foi conhecido por Deus, consagrado e enviado conforme Jeremias, mas Ele mesmo enviou seu Espírito ao teu coração e tornou você um herdeiro.
Assim, hoje todos pedimos a Deus que você, em fraternidade conosco, se abandone livre e reconciliado em Deus. Que você seja um instrumento eficaz do amor misericordioso do Pai. Amor experimentado em seu interior. Para isto, o Noviciado foi seu fundamento, para descobrir e “possuir o Espírito do Senhor e seu santo modo de operar” (RB 10,9). E amor a ser comunicado aos irmãos e irmãs do novo tempo. Um tempo carente de amor e de misericórdia. Tempo em que se cultiva o ódio, se arma e se constrói muros.
Que Maria, modelo de discipulado, ensine nossa fraternidade franciscana, nossa comunidade e nossa família cristã a ser este sinal da misericórdia e do Perdão, que é o jeito do amor-comunhão do nosso Deus.