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Frei César: “O desafio é despertar os nossos irmãos e despertar a nós mesmos”

12/07/2019

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O Ministro Provincial, Frei César Külkamp, anunciado oficialmente nesta sexta-feira, 12 de julho, como novo presidente da Conferência dos Frades Menores do Brasil, presidiu a Santa Missa no encerramento da Assembleia ampliada trienal, no Convento São Boaventura, em Daltro Filho, distrito do Município de Imigrante, no Rio Grande do Sul. Na sua homilia, foi categórico: “Somos menos frades hoje que algum tempo atrás, mas ainda somos muitos e somos ainda provocados a ouvir o que o Espírito espera de nós nesse momento, a colaborarmos para este despertar, este sacudir o mundo. E este é o nosso desafio: despertar os nossos irmãos e despertar a nós mesmos, para que possamos, juntos, propagar, propor os valores centrais e essenciais das nossa forma de vida e nos convertermos em participantes ativos com esse espírito presente em nós, que fala em nós, como nos promete Jesus na passagem do Evangelho de hoje. E podemos retomar a narrativa bíblica de passagem da escravidão para a liberdade, da morte para a vida, da indiferença e da apatia para ações mais responsáveis, mais solidárias, mais evangélicas, sob o risco de, se não fizermos isso, perdermos a significatividade da nossa presença no mundo de hoje. Se não somos mais necessários, se não temos mais com que contribuir para esse projeto de Deus, talvez não precisemos mais existir como religiosos franciscanos”, disse, para completar: “Essa é a provocação bíblica, mas sabemos da atualidade do pensamento, da mística e da espiritualidade franciscana, abraçada e tornada presente para toda a Igreja pelo Papa Francisco”.

Frei César iniciou sua reflexão recordando a expressão do documento final do Congresso Missionário Franciscano da América Latina “Franciscanos em saída”, que aconteceu em outubro do ano passado, na Guatemala, com a participação de vários dos frades presentes nesta assembleia. Essa expressão provocada pelo nosso Santo Padre, o Papa Francisco, na verdade tem sua provocação apresentada a nós pela Palavra de Deus”, disse o Ministro Provincial, referindo-se à primeira leitura, quando Jacó deixa sua terra e vai para o Egito com confiança em Deus. “Da mesma forma, o Evangelho de hoje nos fala também de saída, não como uma opção, mas como um envio. É o próprio Cristo – ao estar em saída por aquelas cidades, nas margens do lago da Galiléia – que envia o seus discípulos, falando a todos os cristãos e hoje falando a cada um de nós: “Eu vos envio…” Mas, Ele lembra que é um envio não tão favorável, não tão confortável: ‘Cuidado com os homens, eles vos levarão aos tribunais, vos açoitarão; e vós sereis odiados por todos’. É uma palavra dura, mas ao mesmo tempo, ele nos diz que não estaremos sozinhos neste ambiente não confortável. ‘Ser-vos-á inspirado o que dizer. O Pai falará em vós’. Ao mesmo tempo pede perseverança a nós até o fim. E nisso consiste a nossa salvação: mesmo com todo ambiente contraditório e difícil, ele pede de nós a perseverança”, situou o celebrante.

Frei César acrescentou à sua reflexão outra passagem bíblica, citada no documento final do último Conselho Plenário da Ordem (CPO), que servirá de preparação para o próximo Capítulo da Ordem dos Frades Menores, tirada do Livro do Apocalipse de São João: “Conheço as tuas obras. Tens perseverança, sofreste por causa do meu nome e não desanimaste. Mas tenho contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te como decaíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras. Se não te arrependeres, virei a ti e removerei de seu lugar o teu candelabro” ( Ap 2,1-5).

Segundo Frei César, essa palavra foi usada no Documento do CPO justamente pelos dois grandes desafios à Ordem ou dois grandes mandatos da parte de Deus que os frades devem reconhecer e que deram perseverança à Igreja e à Ordem até aqui, através do empenho de tantos santos e tantos frades anônimos. “É esta a nossa herança, porém, ao mesmo tempo, também podemos sofrer desta perda de encantamento, de entusiasmo, de espírito arrojado e por isso o Senhor pede que voltemos às nossas origens, reconheçamos essa herança que recebemos, pois podemos perder o candeeiro. Esse é o grande desafio, diante do qual toda a Ordem se encontra, a nossa Conferência e cada um de seus irmãos”, observou Frei César, lembrando que os frades vivem em contextos de mundo em constante transformação, em dificuldades sociais, culturais e religiosas, mesmo no ambiente da Igreja, da Ordem e das Fraternidades. O Ministro Provincial voltou a destacar que os frades têm um grande impulso do Papa Francisco, que os provoca a um novo ardor.

“Renunciar e conviver são desafios muito grandes para todos nós e, por isso, também a revelação de Deus nos é bastante necessária e oportuna neste tempo em que a Igreja se encontra assediada tanto internamente como externamente. Os debates e as divisões internas ameaçam anular – ou até dar marcha à ré – nesse Ministério profético do Papa Francisco, que tomou a sério o grito do povo de Deus, especialmente dos mais pobres, dos marginalizados e o grito do Planeta”, emendou.

Para Frei César, o Papa Francisco tem ajudado a Igreja e a Ordem Franciscana a estarem com os olhos mais abertos e atentos ao que está acontecendo “ao nosso redor e também dentro de nós mesmos, nas fragilidades pessoais, fraternas e institucionais”. Segundo o novo presidente da CFMB, os desafios nesse tempo para a própria humanidade e para o Planeta é o de ver o todo da obra e a presença do Espírito que, nesse contexto, também fala “em nós naquilo que o Evangelho hoje nos provoca”. “Não estamos sozinhos e o Santo Padre nos exorta, nos diz, a despertarmos e a sacudirmos a nós mesmos, para um processo de diálogo, de conversão, que ajude a despertar e a sacudir o mundo. É o que ele pediu na União dos Superiores Gerais”, recordou.

“Talvez o chamado para a Ordem hoje seja precisamente este e também para a nossa Conferência. Temos todos esses sinais positivos entre nós, aqui apresentados nos nossos relatórios. Quanta maravilha de Deus acontecendo nos vários projetos de formação permanente, de formação inicial, nos trabalhos com a juventude! Quanta maravilha de Deus acontecendo nos mais diferentes campos de missão, de evangelização, essa grande prioridade de cuidado do nosso Planeta. E aqui lembro o legado da própria Amazônia como um grande convite a também focarmos aí as nossas energias, a estarmos unidos, mesmo que não presencialmente lá. Essa talvez seja a provocação para não nos encerrarmos em nós mesmos, nas nossas fragilidades internas”, alertou diante da diminuição do número de frades.

No final, Frei César convidou os frades a se animarem. “Mesmo sabendo dessas contrariedades, desses desconfortos, das situações contrárias, de todas as dificuldades em todos os contextos, nós queremos sonhar. Por isso, fizemos propostas para cada serviço, para, juntos, como Conferência, sonharmos e caminharmos mais próximos”, no espírito da interprovincialidade.

“Sejamos capazes ainda de anunciar o Evangelho para a construção do reino. Anunciar e denunciar as situações concretas de injustiça e de violência do nosso mundo atual. Essa atitude pode nos fazer produzir muito fruto como pessoas consagradas, como religiosos franciscanos, sobretudo nos protegendo da tentação que poderia tornar estéril a nossa vida consagrada, como bem disse o Papa Francisco da tentação de viver apenas em busca da sobrevivência. A preocupação apenas pela sobrevivência paralisa, nos faz medrosos e, lentamente, sem que nos demos conta, ela nos encerra em nossas casas, em nossos esquemas. Mas nós, que aqui viemos para esses dias de Assembleia, quisemos nos animar, quisemos ver a realidade do mundo que nos provoca, quisemos sonhar, trabalhar mais juntos, mais próximos. Por isso, queremos ter um coração franciscanamente contemplativo, capaz de discernir como caminha Deus, como ele está presente nos caminhos das nossas cidades, dos nossos bairros. Presente em toda a gente, presente em toda a criação e presente em cada um de nós. E, juntos, como Fraternidade, para que possamos superar todas essas tentações e permitir que Ele produza em nós os milagres que espera”, completou.