Frei César a Frei Bunga: “Anime-se e seja símbolo da presença viva de Deus”
17/12/2018
Frei Crisóstomo Pinto Ñgala
Luanda (Angola) – No “Domingo da Alegria”, o terceiro domingo do Advento (16/12), Frei João Alberto Bunga presidiu sua primeira Missa na Paróquia São Lucas, na presença do Ministro Provincial, Frei César Külkamp, do presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA), Frei José Antônio dos Santos, do animador do Serviço Vocacional da Província, Frei Diego de A. Melo, e de Frei Valdomiro Wastchuk, concelheiro da FIMDA.
As primícias de Frei Bunga foram celebradas na Comunidade de São José, sede da Paróquia São Lucas, que, segundo a descrição de Frei Bunga, foi o ‘útero’ que o gerou para a Igreja, o berço em que foi alimentado na fé e iniciado na doutrina cristã, o canteiro fecundo de onde começou o seu desejo pela sua vida religiosa e sacerdotal. Esta Paróquia está situada no distrito urbano de Palanca, município de Kilamba Kiaxi, arquidiocese de Luanda.
A celebração foi animada pelo Coral a Voz do Deserto (Cavod), coro em que Frei Bunga fez parte enquanto vocacionado e seminarista, e contou com a presença dos frades estudantes, dos familiares de Frei Bunga, amigos, fiéis da Comunidade São José.
A homilia ficou a cargo do Ministo Provincial, Frei César, que agradeceu pelo convite e acolhimento dos fiéis da Comunidade de São José e falou de sua alegria por este momento. “Meu querido irmão, confrade e amigo, Frei João Alberto, o irmão João ou Johnni aqui de Luanda e de sua família, o Frei Bunga como nós o chamamos, estamos aqui cheios de alegria na sua primeira missa, neste dia em que você oferece a Deus os primeiros frutos do seu ministério. Os primeiros de uma colheita muito maior que há de vir”, disse, descrevendo o percurso vocacional e formativo de Frei Bunga.
Segundo Frei César, o 3º domingo do Advento, o domingo da alegria por causa da proximidade do nascimento de Jesus, a Palavra nos apresenta o Profeta João Batista, aquele que vem na frente do Senhor, convidando a preparar os caminhos para Ele. “Esta preparação consiste na conversão, na mudança de vida. Seus ouvintes lhe perguntavam: o que devemos fazer? E João Batista indica o caminho do amor solidário, especialmente aos mais pobres, o caminho da justiça. É interessante que este seu Xará, Frei João, nos recorda que, no Batismo, também recebemos o Espírito que nos eleva à dignidade de profetas. Mas, nem sempre sabemos o que isso significa. Acima de tudo, o profeta é uma pessoa chamada por Deus”, explicou.
“Frei Bunga, assim a iniciativa da sua vocação é divina! Como foi para João Batista, para Sofonias e para Francisco e Clara de Assis. Como padre franciscano você também é chamado a ser profeta. Mas, como profeta continua um ser humano. Não virou anjo e nem precisa. Apesar de suas fraquezas e pecados, Deus quer se servir do ser humano para que a sua mensagem seja integralmente anunciada. Mas, a mensagem é de Deus. É Ele quem envia João Batista para preparar os seus caminhos. Esta é também a sua vocação. O perigo é a gente se apropriar da mensagem ou querer as honras por causa dela. O profeta é chamado para cumprir uma missão, a de transmitir Suas palavras. Para isso, ele precisa aprender a escutar com muita atenção o que Deus lhe sugere”, ressaltou o Ministro Provincial.
Para César, neste aspecto, como filhos de São Francisco de Assis, os frades têm uma característica muito particular. “Ele pede de nós que, ao anunciarmos a Palavra de Deus, sejamos também os primeiros destinatários dela. Ele exige que a mensagem seja anunciada com as palavras e com a vida. Ou seja, além de não nos apropriamos, de não nos gloriarmos, ele ainda exige fidelidade à Palavra”, ensinou.
“Assim, na visão franciscana, Frei Bunga, para conseguir cumprir esta missão, devemos primeiro nos colocar em piedosa escuta da mensagem de Deus e deixar que ela penetre até o âmago do nosso coração. Sua humanidade e suas dificuldades continuam aí com você. Até mesmo o apóstolo Paulo, que fez tanto pela Igreja, que levou a Palavra tão longe, fundou tantas comunidades, afirma: ‘Não eu, mas a graça de Deus’. Ele nos afirma que o pecado e a fraqueza são necessários para não perdermos a humildade e para que a força não seja nossa, mas a de Cristo habitando em nós. E hoje o Senhor também diz a você, Frei Bunga: ‘Basta-te a minha graça!'”, exortou Frei César, lembrando que confiar inteiramente e em todas as circunstâncias nesta força não é uma tarefa simples. Os profetas, os apóstolos e o próprio Cristo experimentaram o sofrimento, a perseguição e a própria morte.
“E a Igreja, com seus ministérios e serviços, nasce neste contexto de luta, mas ao mesmo tempo quer anunciar a esperança do novo. Um novo céu e uma nova terra. Hoje, vivemos uma época de grandes mudanças em todo o mundo. Quantas pessoas são forçadas a deixar sua terra e buscar lugares distantes. Aqui mesmo, em Angola, temos esta realidade. Mas, tomamos consciência dos problemas em escala mundial pela televisão ou pela internet e, ao mesmo tempo, crescem atitudes e interesses muito individualistas. E esta é uma cilada que trai o Evangelho e o próprio ministério”, disse.
“’Os ministérios presentes na Igreja são todos participação no mesmo ministério de Jesus Cristo, o bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas’ (Jo 10,11). Frei Bunga, aí está o sentido do seu ministério. Você deve sim, como cristão e como ministro ordenado, superar o fechamento seu e dos demais para buscar a centralidade de Cristo. Que ele mesmo o conduza ao amor generoso que Ele e o Pai têm para com a humanidade”, ensinou o Ministro Provincial, enfatizando: “E você sabe que só será um bom presbítero se Cristo for tudo em você. Todas as estratégias de evangelização serão ineficazes se não comunicarem um coração inflamado pelo amor de Deus. ‘Se se deseja alcançar o coração dos cristãos, é preciso primeiro falar ao coração de Deus e deixá-lo falar ao próprio coração’”, enfatizou, lembrando que o sacramento da Ordem é uma eucaristia feita com a vida do presbítero, em se transformando ele mesmo em hóstia viva.
“Frei Bunga, como franciscano e ordenado, você é chamado a ser um profeta de fraternidade e de minoridade no mundo de hoje! Diante disso, só posso lhe dizer que seu propósito é grandioso e você é muito corajoso por escolhê-lo para a sua vida! Caro Frei Bunga, Deus está contigo! Anime-se e viva a missão de ser um sinal e símbolo da presença viva de Deus. Como franciscanos, peçamos a Ele o dom de conservarmos o fervor espiritual! Ser sacerdote é, sobretudo, abrir-se aos outros como irmão! E ser irmão é a grande contribuição do nosso carisma franciscano para o mundo de hoje. Caros irmãos, invoquemos a intercessão da Virgem Maria, padroeira de Angola, venerada como Mamá Muxima, rainha da Ordem dos Frades Menores e mãe dos Sacerdotes, para obter do Senhor bênçãos abundantes para o ministério do Frei Bunga. Frei Bunga, que você continue crescendo em santidade e esteja pronto para testemunhar a beleza de sua total e definitiva consagração a Cristo e à Igreja, o seu povo santo!”, completou Frei César.
A celebração ficou marcada por muitos momentos de alegria, sobretudo através dos cantos entoados por um coral composto por homens. Ao longo da Missa, os familiares e amigos de Frei Bunga ofereceram casulas, estolas, sandálias e outros presentes como sinal de envio, missão e colaboração na obra de Deus.
Depois do cântico de ação de graças, o Conselho Restrito da Comunidade de São José, em nome do seu Pároco, Frei António Baza, dos anciãos da Comunidade, o coordenador António Pedro felicitou Frei Bunga pela primeira Missa. Frei João Bunga é o terceiro padre daquela comunidade que completou 34 anos de existência e 18 anos desde que se tornou Paróquia.
Ao manifestar também sua gratidão, Frei Bunga, com seu radiante sorriso exclamou: “Que dizer neste momento de imensa alegria!? Não sei se fui arrebatado ao céu ou se o céu desceu até mim. Tenho apenas a certeza de que se trata de um dia especial”, disse. “Sendo sacerdote em nome de Cristo oferecerei o maior sacrifício de louvor e ação de graças. Serei as mãos de Jesus ao abençoar e santificar as oferendas. Serei a voz de Cristo ao proclamar o seu evangelho. Farei as vezes de Cristo quando administrar os sacramentos, sinais visíveis da sua presença santificadora. Serei os seus pés quando for ao encontro dos doentes, dos pobres, dos excluídos. Configuro-me a Cristo em sua vida. Ser presbítero não é título, mas é crucificar-se com Cristo”.
Na sequência, Frei Bunga acrescentou: “De agora em diante sou interpelado a proclamar para mundo que já não sou eu que vivo, que rezo, que canto, que abençoo, que trabalho, que batizo, que celebro, mas é Cristo que em mim vive”.
Frei Bunga reconheceu a missão sacerdotal e manifestou sua pequenez perante tamanha responsabilidade: “Confio naquele que até agora me ajudou”.
O dia festivo terminou com um almoço nas dependências do cartório daquela Comunidade que está em obras.
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