Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Franciscanos continuam em Lages mas entregam à Diocese o cuidado pastoral da Paróquia do Navio

30/01/2021

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                                                                Imagens: captura de tela da transmissão pelo Facebook

Lages (SC) – Como parte do processo de redimensionamento reafirmado pela Província da Imaculada no último Capítulo Provincial (2018), celebrou-se, neste sábado, dia 30 de janeiro, às 10 horas, a passagem do cuidado pastoral da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, conhecida como Paróquia do Navio, e que estava sob responsabilidade da Província desde a fundação em 1971, à Diocese de Lages.

A celebração foi presidida pelo Bispo Diocesano, Dom Guilherme Antônio Werlang. Em nome da Província, estiveram presentes o Ministro Provincial Frei César Külkamp, os Definidores Frei Daniel Dellandrea e Frei Alexandre Magno, os frades da Fraternidade Patrocínio de São José, Frei Miguel da Cruz, Frei Tarcísio Theiss, Frei Ervino Girardi e Frei Vilmar Alves da Silva, além de frades de toda a região. Esta Fraternidade não deixa Lages, mas vai continuar dando assistência no Conventinho Patrocínio de São José. Presente também o pároco nomeado, Pe. Álvaro Emanoel da Silva, que toma posse no dia 7 de fevereiro, às 8 horas.

Lideranças das pastorais e movimentos da Paróquia também se fizeram presentes, enquanto os fiéis paroquianos compareceram em número reduzido devido às normas sanitárias. A grande maioria pôde acompanhar a Missa pelo Facebook da Paróquia.

A Igreja do Navio começou a ser construída em 1960, tendo como fundadores Pe. Humberto Bragalia, Conceição Floriane e a irmã Emengarda da Divina Providência. A capela possuía um formato de navio, por ser dedicada à Nossa Senhora Aparecida e a imagem foi colocada em um barquinho de madeira. Em 14 de fevereiro de 1971, Frei Hugolino Becker tomou posse como pároco. Portanto, a Paróquia celebrará 50 anos no próximo dia 14.

O comentarista Hélio Furlan lembrou que, com a saudação franciscana de “Paz e Bem”, fazia-se memória neste dia e nesta celebração dos 50 anos dos franciscanos no pastoreio na Paróquia Nossa Senhora Aparecida. “Hoje é uma Missa – claro sempre de Ação de Graças a Deus -, mas queremos também em nome da Diocese, da comunidade, dar graças a Deus pela vida e pela espiritualidade franciscana, aqui nesta comunidade”, disse.

Dom Guilherme, contudo, lembrou que a presença franciscana em Lages completa 130 anos. Desde 1891, os frades estão presentes na região e deixaram suas marcas na cidade, como na Catedral Nossa Senhora dos Prazeres, onde ficaram até 1971. “Eles, os frades, largaram o que estava bem instalado e vieram para a periferia, onde a Igreja os chamava para outros trabalhos”, disse, referindo-se à Igreja do Navio na periferia de Lages. “A história serrana se funde com a história franciscana”, avaliou.

O bispo, na homilia, citando a passagem em que Jesus diz a seus discípulos: ‘Vamos para a outra margem!’, refletiu que “partir é um princípio de homens e mulheres que têm fé”. Foi isso, segundo o bispo, que fizeram os frades ao ‘atravessarem a margem’ para evangelizar na serra catarinense. Não ficaram instalados. “Atravessar à outra margem é largar seguranças, largar certezas, largas conquistas, deixar tudo e ir para o desconhecido. Ser cristão, ser cristã, é ser permanentemente itinerante. O cristão que fixa raízes  deixa de ser missionário. A essência do cristão está no cap. 28 de Mateus: ‘Ide pelo mundo inteiro. Levem e anunciem essa boa notícia de Deus'”, disse.

“Portanto, uma Ordem religiosa, como no caso dos Frades Menores, que fixa raízes tão profundas, perde o seu carisma. Na vida da Igreja, o que fazem é o testemunho do desprendimento, de estar atentos a novos chamados”, explicou o bispo.

Segundo o bispo, em Lages, depois de os frades estarem trabalhando na educação, bem instalados na Catedral, de repente vem outro chamado: ‘vai lá para outra margem’. Entregam, agora a Catedral. Eles vieram tão pobres que sequer tinham onde morar. E aí está a Igreja do Navio, que atravessou águas mais profundas e lá se vão 50 anos de travessia”, continuou.

“Partir não significa que não ame esse povo; partir não significa desilusão. Partir nessa mesma barca para atravessarmos à outra margem. Não só os religiosos e religiosas devem partir”, observou. Segundo ele, a Diocese com sua precariedade de números, na quase incapacidade de atender, reunidos o Conselho de Presbíteros, “ficamos na margem de cá para que vocês pudessem partir”, confessou. E justificou: “Por isso, eu dizia no começo, como Diocese somos chamados a vir para esta margem. Quem não der de sua pobreza, de sua carência, não é cristão”.

“Quem assume a Paróquia não é o bispo D. Guilherme, quem assume essa Paróquia é a Diocese, que um dia confiou esse trabalho aos franciscanos e hoje recebe de volta, igrejas, comunidades, pastorais e projetos. Agora nós temos que honrar um legado que estamos recebendo. Novas ondas e tempestades virão, mas se Jesus estiver no barco e levarmos Maria junto, ouviremos: ‘Não tenhais medo'”, exortou D. Guilherme.

“A ALMA FRANCISCANA CONTINUA AQUI”

O Ministro Provincial lembrou a todos que a Assembleia Capitular da Província da Imaculada é quem governa e determina os seus rumos, e que tomou essa decisão difícil mas necessária na missão evangelizadora. “Estamos presentes e servindo em mais ou menos 50 paróquias e santuários, desde Santa Catarina até o Espírito Santo e também nas Missões em Angola”, disse Frei César, recordando que esta instância maior dos frades pediu que se entregasse às Dioceses o cuidado pastoral de pelo menos 10 paróquias. “Então, essa foi a missão que nós tivemos ao assumir também a vida provincial. Aqui está Frei Daniel e Frei Alexandre, que fazem parte desse grupo de animação do trabalho e da vida dos frades nessa região. Em toda parte, a gente vai tendo uma sensação muito difícil de dor. Entregamos recentemente em Santos um lugar de 380 anos de presença; em São Sebastião, 360 anos; e diversos com 100 anos. Amanhã, vamos entregar também a Paróquia em Angelina, com 100 anos de nossa presença. Aqui, 50 anos”, explicou.

“Posso lhes dizer que é um processo de dor porque em cada um desses lugares, como também aqui, temos um trabalho bom, as lideranças são muito boas, as possibilidades pastorais são muito boas, mas nós não podemos ficar em todos lugares bons. Essa foi a constatação da nossa Assembleia e Dom Guilherme já traduziu isso muito bem na sua homilia. Nós precisamos ir adiante. Faz parte do carisma franciscano. Temos uma situação também de diminuição de vocações, um número maior de frade envelhecidos e precisando de cuidados. Mas há outras missões que esperam por nós além-mar na África, na Amazônia e também outras missões aqui”, ressaltou o Ministro Provincial.

Segundo ele, os franciscanos vieram há 130 anos para Lages, mas os frades estiveram no Brasil desde início e foram assumindo trabalhos para constituir a Igreja. “Mas assim que a Igreja estava constituída, foram adiante fazendo esse trabalho”, disse o frade, recordando que a Província chegou a ficar apenas com um frade no período colonial. A restauração da Província veio com a chegada dos frades missionários alemães, em 1891, justamente em Santa Catarina. “Dom Amando Bahlmann,  citado como primeiro frade que veio aqui, foi o coordenador da equipe de frades que primeiramente veio para iniciar essa restauração da presença franciscana. E eles começaram aqui por Santa Catarina; estabeleceram-se em Teresópolis e depois subiram a Serra no mesmo ano, marcando presença aqui. Esse mesmo Frei Amando ajudou a restaurar a nossa presença desde o Rio Grande do Sul até o Espírito Santo, passando por Minas Gerais, indo depois para parte do Nordeste, onde tinha outra Província, para estabelecer outra presença na região da Amazônia, onde foi feito bispo”, explicou.

Desses frades alemães missionários, um deles muito querido em Lages é o Frei Rogério Neuhaus. “Logo foram trabalhando para vocações próprias e nossa Província cresceu naquela época, chegando ao número de 700 frades servindo nesses lugares. Hoje, temos de 380 a 390, um número menor, mas precisamos também pedir esse mesmo espírito de ardor missionário para continuar a nossa missão. E é por esse espírito que a gente também precisa sair de lugares onde já cumprimos essa missão. Muitas Dioceses de Santa Catarina foram paróquias franciscanas neste serviço de evangelizar e constituir a Igreja e depois seguir adiante. Então, hoje estamos dando esse passo”, acrescentou.

Frei César lembrou que a Província tem outras atividades em áreas como na educação, comunicação, trabalho social e também nas missões. “Por isso, a nossa assembleia pediu que equalizássemos um pouco essas forças nos nossos campos de trabalho. Então é com dor, mas ao mesmo tempo com ousadia, coragem que nós precisamos fazer isso. E aqui encontramos essa mesma atitude de compreensão, tanto da parte de Dom Guilherme como da parte do Conselho Presbiteral, e também das lideranças dessa Paróquia”, avaliou

“Então hoje, assim como escreveram ‘Gratidão para a Família Franciscana’, nós como Família Franciscana queremos agradecer. E, acima de tudo, recordar que esse espírito de família continua presente. Então, em nome de toda a nossa Província, hoje gostaria de dirigir uma palavra de agradecimento ao D. Guilherme, que mesmo com as dificuldades que o sr. já explanou, foi capaz de compreender nossa situação, nossas necessidades e trabalhar junto conosco, com o povo, para o melhor encaminhamento desse processo. Nós estamos continuando no serviço à Diocese de Lages, a Igreja local, e queremos sempre estar na sua obediência, na sua orientação. E na sua pessoa agradecendo a todos os bispos nesse trabalho de 50 anos nessa Paróquia que nos motivaram, nos orientaram e nos impulsionaram a seguir adiante”, agradeceu.

E continuou Frei César o agradecimento: “Quero agradecer também aos freis que estão aqui. Os freis atuais – Frei Miguel, Frei Ervino, Frei Tarcísio e Frei Vilmar – e muito recentemente José Lino, Frei Gentil, Frei Evaldo e Frei Mazzuco e muitos outros. Quero agradecer a vocês, que se empenharam, deram suas vidas em tudo aquilo que foi construído aqui como Igreja viva e igreja estrutural. Deus abençoe a vida, a vocação de cada um de vocês. Agradeço em especial os freis atuais porque se empenharam muito nesse processo. Continuaram trabalhando com muito vigor, apesar da entrega. Frei Miguel está aí preparando um inventário de todo esse trabalho feito. Nós estivemos há 50 anos a serviço da Igreja, que é o povo de Deus. E na sua estrutura, todas as Paróquias são das Dioceses. Nós assumimos um serviço no cuidado pastoral que a gente está devolvendo nesse dia”, disse.

Um terceiro agradecimento fez ao povo lageano, especialmente aos paroquianos da Paróquia do Navio, por terem acolhido os frades desde o início. “Por terem acompanhado, cuidado, motivado esses nossos irmãos no trabalho de construir essa Igreja viva. Mas ela só está assim viva, forte e vigorosa porque certamente contou com uma multidão de pessoas nesse trabalho diário, incansável, na entrega de vida em assumir a própria vida de fé e a própria vida comunitária. Que Des abençoe profundamente a vocês”, emendou.

“Nós, frades, não os estamos abandonando. Os frades nem vão sair daqui de Lages. Continuam a sua missão e nesse ano já celebramos 130 anos de presença a partir do Convento do Patrocínio de São José, a partir da educação e também no auxílio à Igreja de Lages, naquilo que for possível e nas nossas possibilidades. Nós temos certeza também que vida franciscana continua forte. A vida da Igreja continua forte”, disse.

Lembrou no seu agradecimento das Irmãs Salvatorianas e as Irmãs de Jesus Crucificado pelo trabalho. “Também elas são protagonistas neste trabalho de evangelização e continuam nesse protagonismo. Deus abençoe vossas congregações e conceda muitas vocações para dar continuidade nesse belo trabalho”, pediu.

 

“E a alma franciscana aqui continua. Os frades podem sair, mas o espírito continua. E como já dizia D. Guilherme, há 130 anos, Lages tinha mil habitantes e hoje é uma cidade de expressão no Estado e no País. E ela cresceu com essa característica franciscana. Por isso, eu diria que o carisma franciscano permanece também na alma do povo lageano. Então, agradeço de coração, em nome de tantos frades que aqui passaram e que continuarão aqui por essa acolhida, por esse jeito de abraçar o carisma franciscano levado adiante na juventude franciscana, aqui presente. Nós vamos ter em breve as Missões Franciscanas, então vamos contar muito com vocês e também com essa Paróquia. E como a gente não é dono de nada, a gente chegou, a gente vai, continuando nossa missão, devolvemos esse trabalho pastoral à Diocese e queremos pedir as melhores bênçãos – aqui está o Pe. Alvaro, que assumirá como pároco. Que Deus abençoe o seu trabalho, como também do Pe. Hermes, que vai auxiliá-lo”, desejou.

“E conte conosco naquilo que pudermos com nossos frades, pois também estamos a seu serviço. Frei Miguel continuará aqui em Lages e poderá recorrer a ele naquilo que precisar das situações de passagem. Mas, acima de tudo, queremos agradecer a sua disposição em assumir e continuar o belo trabalho que existe nessa Paróquia. E que Deus abençoe a todos no serviço à Igreja, na vivência da fé e também do carisma franciscano. Paz e bem”, encerrou Frei César.

No final, os padres da Diocese entregaram um quadro como lembrança a Frei César. Um a um, os movimentos e pastorais fizeram homenagens e agradecimentos aos frades.