Conciliar missão e administração é sempre um desafio
29/08/2018
Moacir Beggo
Frei Germano Guesser termina neste ano capitular o seu triênio como coordenador da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento. Para ele, foi um grande desafio, mas não foi impossível. Houve avanços, mas há limitações também. “Conciliar administração com missão é sempre um grande desafio”, avalia o frade catarinense, que neste ano celebrou o seu primeiro jubileu de ordenação sacerdotal. “Tenho a graça de celebrar o meu jubileu sacerdotal no Pontificado do Papa Francisco. É uma grande alegria viver este momento”, revela. Foi ordenado presbítero no dia 6 de fevereiro de 1993, na Igreja São João Batista, em Luzerna (SC), quando escolheu o lema ‘Por uma ovelha só, ainda que pequenina, serei a vida inteira um pastor’.
De paróquias, Frei Germano conhece bem. Vila Velha (ES), São Paulo (Vila Clementino e Pari), Balneário Camboriú (SC), Curitibanos (SC), Gaspar, onde ficou 12 anos, e novamente Pari, onde reside atualmente. É natural da cidade de Antônio Carlos (SC), mas cresceu em Ibicaré (SC). Torcedor fanático do São Paulo, aprecia um bom vinho, e agora também acompanha a reforma do Convento do Pari.
Site Franciscanos – Que balanço o sr. faz nesses três anos na coordenação da Frente das Paróquias e Santuários?
Frei Germano Guesser – Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento formam a Frente de Evangelização que conta com o maior número de frades. Sabemos também que não aparecem na Província como um corpo que tem projeto e voz.
A articulação desta Frente de Evangelização visa congregar e animar as fraternidades a serviço das Igrejas Locais, promovendo discernimento, corresponsabilidade, partilha, colaboração e formação específica, para que, atentos às exigências da realidade, realizem esta forma particular de evangelização, sendo fiéis ao nosso carisma e às orientações da Igreja. Temos um ideal de fraternidade e de serviço evangelizador. Articular essa frente é um grande desafio, mas não impossível.
Realizamos por ano um encontro com os frades no primeiro semestre e outro encontro no segundo semestre com os frades e leigos. Conseguimos construir o Regimento da Frente e o Plano Operacional.
Site Franciscanos – No Encontro da Frente das Paróquias do ano passado, cobrou-se mais empenho na divulgação e identificação do carisma franciscano nas Paróquias atendidas pelos frades. O que foi feito desde então?
Frei Germano – Divulgar, partilhar o trabalho dessa Frente sempre foi um anseio dos frades. Saber o que o outro está fazendo, trabalhar em Rede… Usar o site da Província para esse trabalho de divulgação e partilha… A cultura digital não é só questão de técnica, de saber trabalhar com novos instrumentos. São novas relações com as coisas, entre as pessoas, um novo modo de ver o mundo. No entanto, ficamos aquém por causa das nossas limitações pessoais e comunitárias…
Site Franciscanos – Uma tentação forte nas paróquias é gastar forças na administração deixando as exigência da missão em segundo plano. Esse risco ameaça as paróquias?
Frei Germano – Sem dúvida, administrar uma paróquia com toda a sua estrutura (física, funcionários etc) exige tempo e, muitas vezes, causa um grande desgaste. A máquina precisa funcionar. As exigências e cobranças existem. E pode até acontecer que o resultado (retorno) seja mais prazeiroso e imediato, diferente do trabalho missionário, onde o retorno é mais lento. E, muitas vezes, os frutos não são colhidos de imediato e sim quem vem depois. Conciliar administração com a missão é sempre um grande desafio. O que ajuda é você estar cercado por pessoas competentes e de boa vontade para ajudar na administração e o frade ter mais tempo para a missão… O Papa Francisco quer uma Igreja mais voltada ao Evangelho e menos burocrática. Mais acolhedora e menos exclusiva, mais atenta ao povo, mais construtora de “pontes”… Que os padres saiam das sacristias e do conforto dos escritórios…
Site Franciscanos – Os Documentos de Aparecida e “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia, a conversão pastoral da paróquia” (CNBB) têm ajudado na renovação das paróquias?
Frei Germano – Sim. Os Documentos da Igreja têm ajudado muito neste sentido. Inclusive o Papa Francisco tem sido uma referência muito importante para a Igreja. Passou-se o tempo em que o padre ficava esperando o fiel na igreja. Hoje os tempos mudaram e mudaram muito… Se não formos ao encontro do outro, ficaremos sozinhos em nossas sacristias.
Site Franciscanos – Existe clericalismo nas paróquias franciscanas, tanto de religiosos como de leigos?
Frei Germano – Estamos em vários lugares (interior, cidades e grandes centros) e cada lugar tem sua característica e traz uma bagagem histórica de uma caminhada… umas mais e outras menos, mas ainda existe o clericalismo de ambas as partes… É uma questão cultural. É mais cômodo e nem todos querem se comprometer, isto é, assumir um compromisso maior. Com a diminuição dos frades, o protagonismo do leigo está acontecendo. Temos belos testemunhos neste sentido. Há também aqueles que caminham mais lentamente e não são capazes de aceitar e entender algumas mudanças.
Site Franciscanos – Quem fala mais hoje, a “pastoral da manutenção” ou a “Igreja em saída”?
Frei Germano – Os Documentos da Igreja falam muito em ser “igreja em saída”, mas na prática ainda estamos na pastoral da manutenção… No entanto, temos essa consciência, da necessidade de sair, ir ao encontro… Não podemos ficar parados diante de um muro de lamentações e esperar que o povo venha até nós… Vivemos este momento como um grande desafio e também como oportunidade. A passagem que a pastoral é chamada a fazer, diz o Papa Francisco, é esta: de uma pastoral de conservação a uma pastoral da proposta. “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de ‘saída’ e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade”.
Site Franciscanos – Como você define o ministério sacerdotal?
Frei Germano – Charles de Foucauld disse que “o sacerdote é um ostensório, seu dever é mostrar Jesus. Ele tem de desaparecer para deixar que só se veja Jesus…
É uma grande responsabilidade alimentar o outro com a Palavra de Cristo e com seus sacramentos…
A diversidade cultural tem sido um imenso desafio à evangelização, de modo especial hoje o universo urbano, com todas as suas belezas e feiúras, com suas riquezas e pobrezas, com suas grandezas e mazelas. Se, por um lado, a cidade nos atrai e nos possibilita um trabalho marcado pela interação dos valores e contradições dos vários segmentos sociais, religiosos e culturais, por outro lado, exige uma imensa abertura do coração para o diferente e uma profunda firmeza e determinação no caminho a ser seguido em conformidade com as orientações do Evangelho e os ensinamentos do magistério. Levar a Boa Nova do Evangelho, dar nosso testemunho neste tempo que estamos vivendo, sem dúvida, é um grande desafio… Na cidade ou no campo, somos promotores do diálogo. É preciso saber ouvir e também se posicionar de acordo com os apelos do Evangelho, dentro de nossas possibilidades e limitações em cada um dos campos de atuação onde estamos presentes. Quando nossas palavras e discursos falham, nada melhor que nossa vida para testemunhar nossa fé e esperança.