Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Diaconato feminino e colapso da Floresta Amazônia

10/10/2019

Papa Francisco

 

O grito de alarme da ciência, que através do prêmio Nobel da Paz 2007 Carlos Alfonso Nobre recorda que estamos muito próximos de um colapso da Floresta amazônica, e o grito da Igreja, representada pelo bispo emérito da Prelazia do Xingu – PA, Dom Erwin Kräutler, que denuncia que a central hidrelétrica de Belo Monte, a terceira maior do mundo, é uma agressão a todo o ecossistema, ressoaram com força na Sala de Imprensa da Santa Sé durante a 3ª coletiva do Sínodo dos Bispos para a Amazônia.

Pouco antes, sintetizando os trabalhos da 5ª Congregação Geral, realizada na manhã desta quarta-feira (09/10), o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, ressaltou que alguns padres sinodais falaram de “ecocídio” e de pecados ecológicos contra a criação e sobre a harmonia da Criação, que deveriam ser reconhecidos e confessados, porque “pecados contra Deus, contra o próximo e as futuras gerações”.

Kräutler, a Eucaristia é uma obrigação
O octogenário bispo Erwin Kräutler, originário da Áustria, que vive na Floresta amazônica desde quando tinha 26 anos, e há 30 anos vive com a proteção de guarda-costas porque apoia os indígenas e defende a floresta, recordou que o Papa, ao anunciar o Sínodo, “pediu uma atenção especial para com os povos indígenas, que estão em risco”.

Perguntado sobre a proposta da ordenação de homens casados, Dom Kräutler ressaltou que milhares de comunidades, na Amazônia, recebem a Eucaristia uma ou duas vezes por ano “e a Eucaristia é fundamental para o cristão”.

“Queremos que estes irmãos não tenham somente a Palavra, mas também a Eucaristia, prosseguiu o bispo. Há o risco de se colocar o celibato acima da Eucaristia. Mas o Senhor, na Última Ceia, disse: ‘Fazei isso em minha memória’. Portanto, a Eucaristia é uma obrigação para nós”.

É preciso presença estável nas comunidades isoladas
Recordemos, acrescentou, que “dois terços destas comunidades cristãs sem sacerdotes são coordenadas por mulheres! Fala-se tanto na valorização da mulher, mas precisamos de coisas concretas. Estamos pensando no diaconato feminino, por que não? – e esse é um tema do Sínodo”.

A emigração rural provocou um inchaço nas cidades de modo antinatural, comentou Dom Kräutler respondendo a outra pergunta, “e hoje para a Igreja o desafio é conseguir alcançar todo esse povo. As Igrejas pentecostais chegaram antes de nós, e nós não estamos presentes devido a falta de sacerdotes, ou de religiosos e religiosas. Não basta visitar uma comunidade, a Igreja deve estar sempre presente, com a celebração da Eucaristia e a administração dos sacramentos”.

Nobre: a floresta próxima do ponto de não-retorno
Antes dele, o brasileiro Carlos Alfonso Nobre, prêmio Nobel da Paz 2007, climatologista, um dos maiores especialistas em aquecimento global, que estuda a Amazônia há 40 anos, sintetizou os temas de um documento realizado exclusivamente para o Sínodo.

Ele recordou que a Amazônia é o coração ecológico do planeta, com um sócio e biodiversidade imensa. Mas, denunciou, “estamos muito próximos do colapso da Floresta amazônica, a ciência diz isso com rigor absoluto. Como diz a Laudato si’, a Casa Comum está perto de desmoronar”.

Se se chegar a destruir 20-25% da floresta, foi o alarme de Nobre, “pouco depois a savana cobrirá 60% da área. A floresta está hoje destruída em 15%. Estamos próximos do ponto de não-retorno”.

A ajuda pode vir da tecnologia e da bioeconomia
O que fazer? Perguntou-se o cientista brasileiro. “As tecnologias podem ajudar a encontrar soluções, se não forem utilizadas para a exploração indiscriminada dos recursos naturais”, explicou.

A tecnologia pode dar mais poder às populações, “graças à bioeconomia, a um novo modelo de economia sustentável, descentrada, auxiliada por energia proveniente de fontes renováveis, que respeitem a qualidade de vida das comunidades. Para que a Amazônia possa continuar sendo a floresta que é há 30 milhões de anos”.

Irmã Celia Vieira: respeitar povos que escolhem viver isolados
Também Irmã Celia Guimarães Vieira, ecologista brasileira membro da Comissão nacional para o Meio-ambiente – Conama –, no Sínodo na qualidade de especialista, que há 30 anos estuda a biodiversidade da Amazônia, falou na Sala de Imprensa da Santa Sé. Ela abordou a questão dos povos isolados.

“É importante assegurar o território a estes povos e respeitar o tipo de isolamento que escolheram. Há 114 povos isolados no Brasil já reconhecidos e 28 confirmados”, ressaltou a religiosa. E agradeceu ao Papa e aos padres sinodais por terem colocado no centro dos trabalhos o tema da ecologia integral, “muito apreciado por nós brasileiros”, disse.


O narcotráfico e as suas consequências: este foi o tema de um dos pronunciamentos feitos à na Sala do Sínodo, durante a 6° Congregação geral.

Em algumas regiões da pan-amazônia, o cultivo de coca passou de 12 a 23 mil hectares, com efeitos devastadores devido ao aumento da criminalidade e do desequilíbrio natural do território, sempre mais desertificado. Também a construção de centrais hidrelétricas, que comporta o desflorestamento de amplas reservas ambientais ricas de biodiversidade, assim como os incêndios autorizados que destroem milhões de hectares de terreno, têm um impacto muito forte sobre o meio ambiente de algumas regiões, alterando o ecossistema.

Por isso, é necessário um chamado à conversão ecológica: a Igreja – se afirmou na Sala – deve ser uma voz profética para que o tema da ecologia integral entre na agenda dos organismos internacionais.

Inculturação e evangelização
Nos demais pronunciamentos dos padres sinodais, se voltou a refletir sobre o equilíbrio entre inculturação e evangelização e se convidou a olhar para o exemplo de Jesus, tão eloquente. A própria encarnação, de fato, é o maior sinal de inculturação, porque o Verbo de Deus assumiu a natureza humana para tornar-se visível no seu amor. E esta é a tarefa da Igreja, chamada a se encarnar na vida concreta das pessoas, assim como fizeram os missionários na Amazônia.

A sinodalidade missionária
Em um pronunciamentos, em especial, se expressou a ideia de que a Amazônia se torne um laboratório permanente de sinodalidade missionária, seja pelo bem dos povos que vivem na região, seja pelo bem da Igreja. Destacou-se a importância da interculturalidade e da valorização das culturas e das populações originárias, cuja cosmovisão ajuda no cuidado da casa comum.

A dificuldade de vocação e a via dos viri probati
Sempre a propósito de evangelização, falou-se da dificuldade de vocações sacerdotais e religiosas e se debateu sobre a via dos viri probati: esta, foi dito num pronunciamento, poderia diminuir o ímpeto dos sacerdotes de sair de um continente ao outro e também de uma diocese a outra. O sacerdote, de fato, não é “da comunidade”, mas “da Igreja” e, enquanto tal, pode ser “de qualquer comunidade”. Outra intervenção destacou que não são necessários ministérios do sagrado, mas diaconias da fé. Foi reiterada ainda a necessidade de uma maior e melhor formação para os presbíteros, assim como foi pedida uma valorização, distante do clericalismo, das responsabilidades dos leigos.

A religiosidade popular
Outro pronunciamento foi sobre o tema da religiosidade popular, aspecto da evangelização diante do qual não se pode permanecer indiferentes: esta é uma característica fundamental dos povos da Amazônia e, portanto, é preciso cuidar dela, enquanto tesouro no qual resplandece Jesus Cristo. Eis então a ideia de que as manifestações de religiosidade popular sejam sempre mais acompanhadas, promovidas e valorizadas pela Igreja.

A teologia da criação
O olhar da Sala sinodal se alargou também para a teologia da criação, na qual reside a Palavra de Deus à humanidade. Os padres refletiram sobre a importância de um maior diálogo entre esta teologia e as ciências positivas, porque esquecer a criação significaria esquecer o próprio Criador. Foi dado espaço também para o tema da defesa dos direitos dos povos originários da Amazônia: o diálogo com eles, foi dito na Sala, é importante e ajuda a valorizá-los como dignos interlocutores, dotados da capacidade de se autodeterminar. Além disso, deve ser reservada uma atenção especial ao cuidado pastoral dos jovens indígenas, divididos entre os conhecimentos tradicionais e aqueles ocidentais.

O papel da mulher na Igreja e na sociedade
Na 6ª Congregação tomaram a palavra ainda alguns auditores, delegados fraternos e convidados especiais: em especial, se exortou a promover o papel da mulher, a valorizar a sua liderança dentro da família, da sociedade e da Igreja. A mulher é guardiã da vida, evangelizadora, artesã de esperança – foi dito na Sala –, é a brisa suave de Deus, o rosto materno e misericordioso da Igreja. É importante, portanto, reconhecer o estilo do anúncio do Evangelho levado avante pelas mulheres amazônicas, muitas vezes silenciosas, mas muito partícipes na sociedade. E é preciso reforçar – falou-se ainda – uma sinodalidade de gênero na Igreja.

O diálogo inter-religioso e ecumênico
A Sala do Sínodo refletiu ainda sobre a importância do diálogo inter-religioso, daquele que investe na confiança e vê as diferenças como uma oportunidade, distante da colonização religiosa e próximo à escuta e à consciência da alteridade. Olhou-se também para o diálogo ecumênico, evidenciando a importância de um caminho comum para a proteção dos direitos das populações indígenas, muitas vezes vítimas de violência, e dos territórios amazônicos destruídos por métodos extrativistas predatórios ou por cultivos venéficos. Um anúncio comum do Evangelho pode ser um modo para combater esses crimes horrendos. Os cristãos – se acrescentou – não podem calar diante das violências e das injustiças que sofrem a Amazônia e os seus povos: anunciar o amor de Deus nos ângulos mais remotos da região significa denunciar todas as formas de opressão sobre a beleza da Criação.

Amazônia, lugar concreto que diz respeito a todos
A Amazônia é um local concreto – acrescentou-se – em que se manifestam muitos desafios globais do nosso tempo, desafios que dizem respeito a todos. Os sofrimentos dos povos amazônicos, de fato, derivam de um estilo de vida “imperial”, em que a vida é considerada simples mercadoria e as desigualdades acabam por ser sempre mais reforçadas. Ao invés, os povos indígenas podem ajudar a compreender a interconexão das coisas: a cooperação em nível mundial é possível e é urgente.

O exemplo do Papa
No início dos livres pronunciamentos, também o Papa quis contribuir para a releitura do caminho percorrido até agora, destacando o que mais impressionou daquilo que ouviu. Francisco, que abriu os trabalhos rezando pelos “irmãos judeus” no dia do Yom Kippur, no final da Congregação recordou na oração também as vítimas do atentado contra a sinagoga de Halle, na Alemanha.

A oração do Papa pelo atentado perto de sinagoga na Alemanha

O Papa Francisco abriu e fechou os trabalhos da sexta Congregação Geral do Sínodo Amazônico na tarde desta quarta-feira (9) rezando pelos “irmãos judeus”. Na abertura, lembrou do Dia do Perdão celebrado pela comunidade judaica, uma festa religiosa chamada de Yom Kippur. Já no encerramento, o Pontífice recordou em oração as vítimas do atentado contra a sinagoga de Halle, no leste da Alemanha.

Duas pessoas foram mortas e várias ficaram feridas no tiroteio desta quarta-feira (9), e um suspeito já foi preso. O atentado aconteceu perto da sinagoga onde acontecia a festa religiosa judaica com a reunião de cerca de 80 fiéis.

Segundo o líder da comunidade, teria sido o próprio serviço de segurança do local a impedir o ingresso dos dois autores do atentado no lugar sagrado, enquanto uma explosão num cemitério judeu próximo da sinagoga fazia a primeira vítima. A segunda pessoa que morreu, que também não era de origem judaica, estava num restaurante que vende kebabs – um prato típico do Oriente Médico – não muito distante do local sagrado. O homem que usou um fuzil em direção ao negócio que estava lotado, vestia roupa de combate.

Logo em seguida, mais tiros, mas a 15 km de Halle, em Landsberg, até que não foi divulgada a notícia do primeiro suspeito preso, um neonazista de 27 anos. A polícia continua em estado de alerta naquela região.


Fonte: Vatican News