Dia de pedidos de paz na Festa da Penha
03/04/2018
Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo
Vila Velha (ES) – “Basta de violência!”, estava escrito na faixa no centro do Campinho do Morro do Convento da Penha, neste terceiro dia (3/4) do Oitavário da Festa em homenagem a Nossa Senhora da Penha. Esta foi uma das manifestações contra a violência que faz o nosso país superar, em números de assassinatos, as zonas de guerra. Frei Pedro Oliveira, na sua reflexão durante o Momento Devocional Franciscano e Mariano, destacou o extermínio de jovens, especialmente negros e favelados. “Até quando vamos ter que conviver silenciosamente com este massacre, com este extermínio?”, clamou o frade.
Na Celebração Eucarística, Frei José Wiliam Correa de Araújo, pároco da Paróquia Santa Clara de Assis, em Viana, emendou na sua homilia uma lista interminável de violências: violência contra a mulher, violência contra os homens e jovens, violência sexual, violência do tráfico de drogas, violência no trânsito, violência contra a natureza, violência contra os indígenas, violência contra a criança, assim por diante. O Espírito Santo tem seis cidades na lista de municípios com o maior número de mortes por armas de fogo no Brasil, segundo Mapa da Violência do Brasil. Uma dessas cidades é Cariacica, que hoje estava presente com Viana na coordenação litúrgica da Missa do Oitavário.
Frei Pedro, que é natural de Cariacica, iniciou sua reflexão lembrando o tema da Campanha da Fraternidade deste ano e a morte de mais um jovem nesta terça-feira na sua cidade. “O extermínio da nossa juventude é um clamor que sobe aos céus. Vidas são ceifadas, sonhos são interrompidos. E o que muito nos assusta, nos entristece e nos angustia é constatarmos que a maioria dos nossos jovens assassinados é negra e favelada. Por que isso? Recentemente tivemos a morte do Juan e do Damião, dois jovens negros do Morro da Piedade e um deles era membro da Pastoral da Juventude”, constatou o frade.
“O que foi feito? Onde estão os culpados? Até quando vamos ter que presenciar a morte de tantos Juans e tantos Damiãos? Até quando? Quantos pais e mães choram pela perda de seus filhos, que tinham sonhos, projetos de dar uma estabilidade melhor aos seus pais. Mas alguém se achou no direito de interromper esse sonho, este projeto de vida. E, muitas vezes, somos omissos quando nos calamos diante dessa barbaridade, desse massacre, desse extermínio da nossa juventude. Calar é omitir”, insistiu o frade, dirigindo a Maria uma prece: “Peçamos à Virgem da Penha, a Mãe das Alegrias, por todos esses nossos jovens que foram assassinados!”.
Para Frei Pedro, a única arma capaz de vencer a violência é a paz. “São Francisco de Assis nos exorta a sermos instrumentos de paz”, pediu.
Pe. Robson Prati Neves de Oliveira, da Paróquia Bom Pastor, presidiu a Celebração Eucarística às 15 horas. Frei José William fez a homilia e iniciou lembrando o sentido de se estar no Santuário mais antigo do Brasil, em homenagem a Nossa Senhora das Alegrias. “E é com alegria que estamos aqui hoje porque queremos viver esse compromisso com Deus, queremos viver essa fidelidade de seguidores de Jesus Cristo no nosso dia a dia, sempre juntos com Maria”, disse.
Para Frei José, Maria também não viveu em um tempo fácil, basta recordar a perseguição do Rei Herodes que obrigou a Família Sagrada se refugiar no Egito e toda a caminhada de Jesus. “Nesse sentindo, é preciso termos em conta que Maria sempre nos inspira na nossa caminhada diante dos desafios de hoje. Ela foi essa mulher forte capaz de enfrentar tudo isso com coragem e fidelidade, na observância da Palavra, na escuta da Palavra. É assim que devemos caminhar”, orientou o pregador.
Para o frade, a coragem de Maria ao assumir o projeto libertador de Deus, projeto de salvação para todos nós, é um convite para que todos tenhamos essa coragem diante dos desafios que nos cercam hoje. “Que nós possamos viver essa fidelidade no projeto de salvação, lembrando que Maria está sempre presente junto a nós. E ela nos diz a mesma coisa como em Caná: ‘Fazei tudo o que o meu Filho lhes disser’. E o que Jesus Cristo quer de nós é que caminhemos com coragem, com ânimo, com esperança, sempre acreditando num mundo melhor, numa vida melhor, e ao mesmo tempo lutando, assumindo as nossas forças para sermos capazes de transformar a nossa realidade, que muitas vezes é uma realidade dura. Que nós façamos verdadeiramente a experiência da salvação. Que o Espírito de Deus nos fortaleça e nos ilumine e que possamos sempre nos inspirar em Maria na nossa caminhada!”, ensinou.
Residindo no Convento da Penha, o capixaba Frei Pedro Oliveira presidiu o Momento Devocional Franciscano, que antecedeu à Santa Missa, às 14h30. Além de orações e cantos, Frei Pedro falou um pouco sobre Frei Pedro Palácios, o franciscano responsável pela devoção à Virgem da Penha, que veio com ele desde Portugal em 1558. Frei Pedro explicou que o piedoso frade queria um local reservado para a sua oração e retiro. Encontrou na gruta que até hoje existe na Prainha. Ali teve origem uma caminhada de fé, graça e esperança que já dura mais de quatro séculos.
O quarto dia da Festa da Penha terá Missas na capela às 6h00, 7h00, 8h00 e 9h30. Às 14h30 terá início o Oitavário e, em seguida, a Santa Missa, coordenada pela área Pastoral de Benevente. As confissões serão atendidas das 8h00 às 11h00 e das 14h00 às 16h00.
Uma noite só para os casais
O Campinho do Morro da Penha voltou a ficar lotado na noite desta terça-feira, às 19h30, com a Bênção aos Casais conduzida por Padre Anderson Gomes, Coordenador da Pastoral Familiar e Padre Renato Criste, Coordenador da Comissão para Vida e Família.
Pe. Anderson abriu o evento com cantos e Pe. Renato fez a reflexão do Evangelho falando diretamente para os casais. “Todos nós podemos nos sentir profundamente amados. O que falta, às vezes, é abrir o coração para esse amor de Deus por cada um de nós”, disse. Segundo o sacerdote, se não mergulharmos nesse amor, toda e qualquer forma de amor humano será sempre uma experiência limitada e fracassada. “O nosso amor é assim. O nosso amor é frágil. O nosso amor sempre comete erros e vacilos. Isso faz parte da nossa condição humana”, explicou.
Uma relação humana precisa ser uma manifestação sincera, profunda e verdadeira do amor de Deus. “O amor de Deus é a fonte do amor humano”, insistiu, lembrando que muitas relações falham porque falta essa compreensão. “A parábola de Jesus traduz isso. O homem prudente constrói a sua casa sobre a rocha. O homem sem juízo é aquele que constrói sua casa sobre a areia e nós não precisamos ter nenhuma formação específica, ser engenheiro, arquiteto ou qualquer outra especialidade no ramo, para entender que uma casa, se não estiver bem alicerçada, ela cai. Nenhuma relação humana se conserva de pé, sólida, se não estiver bem alicerçada”, frisou.
Pe. Renato demorou um bom tempo explicando que existe um grande inimigo para uma união sólida: o egoísmo. “A pessoa não pode ser entendida como um bem que eu posso usar como quiser. O seu bem não é propriedade sua. Ele continua sendo uma pessoa”, observou.
Outro modo que o inimigo se manifesta é a pretensão de exigir sempre do outro a compreensão. “Sempre cobrando do outro que me compreenda e aceite. Não podemos ser egoístas de achar que eu tenho a razão”, ponderou.
Outra forma é o egoísmo de não querer cultivar o amor. “O amor é como uma planta, se não cultivamos ela murcha, seca e morre. O amor acaba quando não foi cultivado, não foi verdadeiro, não foi compreendido na medida do amor de Deus”, disse. “O amor acaba quando ao invés de buscar e promover a pessoa amada eu estava interessado naquilo que ela podia me favorecer para mim. O amor autêntico, que está mergulhado no amor de Deus, não acaba”, destacou Pe. Renato. E pediu aos casais: “Não sejam egoístas a tal ponto de achar que já têm a pessoa amada”, completou.
Pe. Anderson conduziu a Adoração ao Santíssimo Sacramento e terminou abençoando os casais no Campinho.