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Demonstração de fé em Frei Bruno emociona Postulador da Ordem Franciscana

04/03/2012

Notícias

Por Moacir Beggo

Joaçaba (SC) – O Postulador da Causa dos Santos da Ordem Franciscana, o italiano Frei Giovangiuseppe Califano, começou a fazer os primeiros contatos com os catarinenses que trabalham pelo processo de canonização de Frei Bruno ainda na sexta-feira (02/02), na cidade de Xaxim, no Oeste Catarinense. No dia seguinte, já em Joaçaba, reuniu-se com as equipes desta cidade, Xaxim e Rodeio para dar orientações sobre o encaminhamento do processo de beatificação do frade franciscano falecido há 52 anos. Durante toda a manhã do sábado e início da tarde (03/02), ele e o Vigário Provincial da Província da Imaculada Conceição, Frei Estêvão Ottenbreit, cumpriram uma agenda cheia. Frei Giovangiuseppe não se cansou de explicar tecnicamente todo o processo e de dar muitas entrevistas aos meios de comunicação, tendo como fiel tradutor Frei Estêvão. Até então, o Postulador não imaginava o que veria no domingo, dia da 22ª Romaria Penitencial.

E o domingo veio com um belo dia de sol e céu azul! Mais uma vez, o povo de Joaçaba e cidades vizinhas deram uma grande demonstração de fé, que teve início às 8 horas em frente à Catedral Santa Terezinha e terminou só às 11 horas no Cemitério Frei Edgar, depois da celebração eucarística. Essa grande manifestação fez com que Frei Giovangiuseppe esquecesse o lado técnico do processo e confessasse ao povo que estava emocionado. Para Frei Estêvão, contudo, foi ainda mais longe ao dizer: “Por que vocês não começaram antes este processo de beatificação?”

É sempre assim. Quem participa pela primeira vez da Romaria não consegue se emocionar com a grandiosidade do evento. Segundo cálculos da Polícia Militar de Joaçaba, cerca de 50 mil pessoas caminharam devotamente pelo trajeto de 3,5 quilômetros entre a Catedral e o Cemitério.

No ano passado, Dom Mário Marquez tomou posse na Diocese no dia 19 de janeiro e, em março, via essa grande manifestação de fé do povo, que debaixo de um forte temporal marchou pelas ruas. Foi também a primeira vez que Frei Estêvão viu o povo nas ruas e anunciou que a Província da Imaculada Conceição assumia a causa de Frei Bruno e Dom Mário garantia que daria todo apoio para iniciar o processo de beatificação.

Em um ano, o bispo da Diocese e a Província Franciscana iniciaram os trabalhos que, a partir de agora, com a vinda do Postulador da Causa dos Santos da Ordem Franciscana, terá um caminho longo pela frente, mas seguro.

A multidão da fé

A exemplo de 2010, quando a vigésima edição da Romaria lembrava dos 50 anos da morte do frade franciscano, o sol brilhou e levou uma multidão para as ruas. Já às 7 horas, o povo começava a se concentrar em frente à Catedral de Joaçaba, especialmente na sua lateral direita, onde está o velário em frente ao busto de Frei Bruno. Às 8 horas, Dom Mário, o Postulador, frades e sacerdotes se posicionaram à frente da romaria. Na vizinha Luzerna, outra Romaria dava a partida um pouco antes, às 7h30, tendo em vista que a distância até o cemitério de Joaçaba é maior (6 quilômetros).

Com um sistema de som perfeito durante todo o percurso de 3,5 quilômetros, o povo acompanhou com devoção, rezando e cantando a Via Sacra. A cada metro, a cada quilômetro, o povo ia engrossando a marcha. Na ponte que liga a Herval d’Oeste, uma grande multidão se juntou à romaria. Nas proximidades do cemitério, um momento emocionante, quando as romarias de Joaçaba e Luzerna se encontraram e foram lentamente para a parte central do cemitério, onde foi armado um palco com o altar para a celebração eucarística. Neste ano, o palco estava de frente para o jazigo dos frades, onde está sepultado Frei Bruno.

Enquanto, o presidente da celebração, Dom Mário, e os 18 sacerdotes esperavam a finalização da Romaria, o povo aproveitava para acender velas e rezar no túmulo de Frei Bruno, ou fugir do sol na sombra das árvores e arbutos do cemitério.

Na sua homilia, Dom Mário falou pouco, mas o suficiente para ressaltar as virtudes e a vida de santidade de Frei Bruno. “O segundo domingo da Quaresma nos mostra o exemplo de Abraão para sermos fiéis e obedientes a Deus. Fé e fidelidade acompanharam a vida de Abraão, pai da fé e do povo de Israel e também de todos nós. Frei Bruno também foi um homem de fé e fidelidade a Deus, buscando servir, como missionário franciscano, a Deus e ao povo de Deus. Homem despojado, livre para deixar-se conduzir pelos desígnios de Deus para o bem da humanidade. Somos agraciados pela passagem deste nosso irmão que consideramos santo e que muito bem realizou em nossa região”, disse.

Depois, citando a transfiguração do Senhor no Monte Tabor, segundo a leitura do Evangelho, lembrou que Frei Bruno, na sua passagem por este mundo, soube se identificar com os que sofrem, levando a esperança e a libertação dos males, aconselhando, abençoando, orientando e perdoando os pecados em nome do Senhor. “Como missionário soube também dialogar com todas as realidades do seu tempo, por vales e montanhas, levava a Palavra de Deus e os ensinamentos do Evangelho e da Igreja. Que esta Romaria Penitencial nos convide a sermos santos missionários como foi Frei Bruno”, disse, chamando Frei Giovangiuseppe e Frei Estêvão para, através de suas mensagens, apresentarem alguns encaminhamentos, orinetações e esperança sobre esta causa.

Mensagem de esperança

A mensagem do Postulador trouxe alegria e esperança para o povo catarinense e brasileiro. Depois de agradecer ao bispo pelo convite, de agradecer as autoridades e, de modo especial, os grupos que trabalham nesta causa de Frei Bruno, o Postulador Geral da Ordem Franciscana confessou sua emoção por ver esta manifestação de fé e disse: “Eu me perguntei durante a caminhada o que faz com que tanta gente, durante tantos anos, se coloquem em marcha para estar presente num dia como hoje? A resposta vem da Evangelho que acabamos de ouvir. Jesus nos revela o seu rosto resplandecente. É isso que nos atrai.

Como os apóstolos, temos a mesma reação: “Vamos ficar aqui”. Vamos construir tendas. É bom estarmos aqui”, falou.

“Ninguém de nós teve ocasião de ver o rosto resplandecente de Deus. Mas vemos, principalmente, este rosto resplandecente de Jesus presente na Igreja e dos seus servos. Conta-se da vida de São Francisco que um dia, perto da Capelinha de São Damião, ele encontrou o leproso. E São Francisco foi ao encontro dele para abraçá-lo e beijá-lo. O que São Francisco viu nesta pessoa doente? E o que o leproso viu em São Francisco? Certamente, ambos viram resplandecer o rosto de Jesus”, explicou, ilustrando também com um exemplo recente como a beatificação de  João Paulo II.

“Certamente descobrimos nele o rosto de Jesus Bom Pastor. E assim certamente aconteceu a muitos que conheceram a Frei Bruno e mesmo nós, ouvindo contar a vida dele, descobrimos nele esse rosto de Deus”, acrescentou.

Segundo o Postulador, ao iniciar o processo de beatificação, é preciso buscar no testemunho de todos aqueles que viram no rosto de Frei Bruno a manifestação do rosto de Deus.

“Essa vai ser uma fase muito bonita, a  de recolher esses testemunhos para a Diocese e para a Ordem Franciscana. Agora, é muito importante que nesta fase em que nos encontramos se redobrem a oração”, disse, para o bom andamento do processo de canonização de Frei Bruno. Mas ele também enfatizou: “Não devemos apenas nos gloriar de termos um santo em nossa vida, mas todos nós devemos ter esse desejo de sermos santos”.

Para ele, começar esse processo de beatificação é assumir um grande compromisso diante da Igreja. “Por isso, desejo que todos vocês aqui presentes transformem essa veneração por Frei Bruno em um grande desejo de conversão”.

E finalizou: “Eu tenho certeza que Deus vai abençoar este nosso esforço, este nosso processo que iniciamos. A ele colocamos todos nossos anseios, todos nossos desejos, todo nosso trabalho para que, quem sabe, um dia possamos olhar Frei Bruno como beato e quem sabe até como santo”.

Testemunhos de fé

Frei Clarêncio Neotti tem a missão de escrever a vida de Frei Bruno. Ele ficou impressionado com a devoção das pessoas durante todo o processo. “A devoção era visível nas pessoas”. Desde pessoas idosas até jovens, a devoção a Frei Bruno cresce, como pequeno Lucas que acompanhou a Romaria e celebração o tempo todo com o santinho de Frei Bruno nas mãos.

Já as pessoas com mais de 60 anos conheceram Frei Bruno, como é o caso do casal Ari e Orxélia Soares de Lima, casados há 49 anos casados. Orxélia lembra bem de Frei Bruno como se fosse hoje. “Eu era empregada doméstica e participei da Associação que ele criou para nós. Ele queria que nós não ficássemos longe da Igreja e, por isso, encontrou uma forma de nos reunir”.

Para o casal, Frei Bruno era um santo em vida. “Quantas vezes o vimos andando pelas ruas e estradas no seu trabalho de evangelização. Para ele não havia tempo ruim, pois estava sempre pronto”, diz Ari. “O que impressionava era o fato de não aceitar carona e só andar a pé”, contam.

Os dois não têm dúvida: o povo já canonizou Frei Bruno, falta a Igreja canonizar. Um pouco desta demonstração de fé está na participação de todas as Romarias.

Dona Vildes Dalppozol também participou de todas as Romarias. “Minha fé em Frei Bruno começou por causa de minha irmãs mais velho, que o conheceu”, contou. Desde então, Vildes não pensa duas vezes em pedir a sua intercessão.

Para Elza Beber, o processo de beatificação vai andar rápido porque “ele já é santo para nós”.

Crescimento da Romaria

A cada ano, a Romaria vem se estruturando. Com o apoio da Associação Amigos de Frei Bruno, através de sua presidente Alcione Weiss, da Prefeitura, que é governada pelo jovem prefeito Rafael Laske, e a Catedral Santa Terezinha, tendo à frente do pároco Pe. Paulo Ramos, o evento cresce e já faz parte do calendário religioso catarinense.