D. Odilo: Continuem este testemunho franciscano
17/09/2017
Moacir Beggo
São Paulo (SP) – Para celebrar a festa da Impressão das Chagas de São Francisco e os 370 anos do Convento São Francisco, a Missa em Ação de Graças, neste domingo (17 de setembro), foi presidida pelo Arcebispo de São Paulo, D. Odilo Pedro Cardeal Scherer, às 10h30, no Largo São Francisco, no centro de São Paulo. “Hoje, celebrando aqui, quero aproveitar para agradecer, em nome da Igreja de São Paulo e da Arquidiocese, à comunidade franciscana por toda a contribuição dada à vida e à missão da Igreja em São Paulo. E também quero incentivar e encorajar os freis que hoje estão aqui, que formam a comunidade do Convento e são os continuadores de uma obra que começou há muito tempo e produziu tantos e belos frutos, a continuarem a dar esse testemunho franciscano, tão rico e belo, para a cidade de São Paulo”, disse D. Odilo, que foi acolhido pelo Guardião dos 370 anos, Frei Mário Tagliari.
O Vigário Provincial, Frei César Külkamp, representando a Província da Imaculada Conceição e o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel, leu a mensagem do Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Michael Perry, que escreveu: “Francisco de Assis, continuamente, nos interpela a reconstruir a Igreja e a sociedade diante dos tantos desafios e exigências da presença de vocês nesta comunidade e os convido, nestes 370 anos, a renovar suas forças na missão que o Senhor lhes confiou. O trabalho é árduo e os desafios são muitos, contudo, é preciso recomeçar sempre. Recomeçar porque até agora pouco ou nada fizemos, nos recorda o Seráfico Pai”.
Dom Odilo teve como concelebrantes, além de Frei César, o Reitor e Pároco Frei Alvaci Mendes da Luz; o Guardião do Convento, Frei Mário Tagliari; o Definidor Provincial, Frei Gustavo Medella, o Pároco do Pari, Frei Germano Guesser; e sacerdotes da Fraternidade. Também estavam presentes os leigos franciscanos da OFS, Jufra, religiosos e religiosas da cidade e região e os fiéis deste Santuário.
O Cardeal de São Paulo recordou o tempo de fundação do Convento e do pioneirismo dos franciscanos, que formam uma das mais antigas comunidades religiosas masculinas em São Paulo, junto com os jesuítas, beneditinos e carmelitas. “Este aniversário lembra, portanto, toda a contribuição da comunidade franciscana para a vida e a missão da Igreja em São Paulo ao longo dos 370 anos”, disse D. Odilo, recordando também os vários franciscanos que foram bispos e arcebispos de São Paulo, entre os quais os seus predecessores, Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e o Cardeal Dom Cláudio Hummes.
“Hoje, celebrando aqui, quero aproveitar para agradecer, em nome da Igreja de São Paulo e da Arquidiocese, à comunidade franciscana por toda a contribuição dada à vida e à missão da Igreja em São Paulo. E também quero incentivar e encorajar os freis que hoje estão aqui, que formam a comunidade do Convento e são os continuadores de uma obra que começou há muito tempo e produziu tantos e belos frutos, a continuarem a dar esse testemunho franciscano, tão rico e belo, para a cidade de São Paulo, que se tornou imensa e precisa muito justamente deste testemunho e desta presença franciscana”, acrescentou.
A FESTA DAS CHAGAS
Dom Odilo recordou que a festa das Chagas de São Francisco nos remete ao ano de 1224 quando, no Monte Alverne, distante de Assis, Francisco vivia uma profunda crise. “Francisco viveu, digamos assim, uma profunda crise de busca, de angústia, interrogando-se sobre a decisão que tinha tomado e se era mesmo este caminho. Os santos podem nos parecer pessoas que tomam decisões sem muitos problemas. Mas ao contrário disso, os santos tomam decisões sérias na vida e depois pagam caro por elas. Podem ler na vida de todos os santos e mártires. Mesmo os santos místicos. Pagam caro pela decisão de abraçar inteiramente a graça de Deus. E, por isso, eles também passam por momentos de angústia, de incertezas, e buscam a luz de Deus e a resposta de Deus para o passo a ser dado. Não foi diferente com São Francisco”, explicou o Cardeal.
“Foi assim que rezando nas montanhas centrais da Itália, ele teve este momento de grande experiência mística de resposta de Deus. Resposta de Deus, de Jesus Cristo, para a sua busca. E assim apareceram as chagas de Cristo em seu corpo. Francisco, em vez de ficar apavorado, passou a viver muito serenamente, compreendendo que era a resposta de Deus”, observou D. Odilo.
Segundo o Arcebispo, as chagas de Cristo no corpo de Francisco era sua identificação sempre mais profunda com Cristo e com o Cristo sofredor, obediente ao Pai, com Cristo expressão da máxima misericórdia de Deus pela humanidade, que se entregou inteiramente por amor à humanidade ao ponto de se deixar pregar na cruz. “As chagas lembram a paixão de Jesus, o momento máximo de sofrimento de Jesus, mas ao mesmo tempo o momento máximo da manifestação do amor de Deus. Tanto Deus amou o mundo que entregou seu filho único, entregou até o extremo, para que assim todo aquele que Nele crê – todo aquele que olhar para Ele, como nós recordamos há poucos dias na festa da Exaltação da Cruz, todo aquele que olhar para Ele com fé, como fez o ladrão naquela hora no Calvárion- tenha a vida, tenha a graça, tenha a misericórdia. Pois bem, Francisco recebendo as chagas, entendeu que era esta a resposta de Deus, a manifestação sempre maior e a identificação com Jesus Cristo e com o desígnio de Deus se manifestando nele”, disse.
“Por isso, a festa das Chagas lembra este momento, e que depois se tornou constante na vida de São Francisco, da sua sempre maior ‘cristificação’, que é a identificação de Francisco com Jesus. O homem mais ‘cristificado’ que se conheceu. ‘Cristificado’ no sentido de ser mais semelhante a Jesus, através de sua vida, de suas atitudes, de suas virtudes, o homem que foi para os outros uma imagem de Jesus Cristo”, enfatizou.
A partir dos Estigmas, segundo o Cardeal, Francisco pôde viver plenamente entregue à graça de Deus. “Pôde viver plenamente entregue à misericórdia de Deus. Não mais pretendendo nada de si e de suas capacidades humanas. O que contava, agora, para ele era ser todo de Cristo, ser todo de Deus, para assim ser todo dos irmãos, ser todo da humanidade, ser tudo da obra de Deus. É por isso que ele expressa de maneira tão bonita quando diz ‘Meu Deus e meu Tudo’. Tudo o resto é pequeno diante deste Grande Bem e Supremo Bem, o Sumo Bem, este Bem que Jesus diz que não se pode nunca perder e nem trocar por nenhum outro. É também isso que São Francisco pôde expressar de maneira bonita quando ele faz justamente este cântico bonito de louvor das criaturas: “Louvado sejas, meu Senhor…” Só lembrando que esse ‘Louvados sejas, Meu Senhor!’ começou a partir do momento em que Francisco, todo desapegado de si, abraçou o leproso e foi capaz de se tornar irmão daquele irmão que lhe causava asco, do qual ele queria se afastar, do qual ele se aproximou, beijou e abraçou”, disse, recordando que a partir desta manifestação de Deus, Francisco é tudo de Deus, por isso tudo dos irmãos. “Acho que São Francisco nos ensina uma coisa muito importante aqui: quanto mais somos de Deus, mais somos dos outros também. Mais somos capazes de ser de todos, ser irmão dos outros. Quanto mais somos centrados em nós, no nosso egoísmo, nos nossos projetos, nos nossos planos, menos somos dos outros”, ensinou.
Dom Odilo continuou as reflexões com as leituras do dia, e quando referiu-se à Carta de São Paulo aos Gálatas, lembrou que São Paulo dizia: “Eu trago na minha carne as marcas de Cristo”. “Em outro lugar, ele vai dizer sou todo de Cristo. São Francisco, de modo semelhante, diz meu viver é Cristo. Todo o resto não precisa. Todo o resto passa. São Francisco também pôde dizer: trago em minha carne as marcas de Cristo. Da cruz de Cristo, da paixão de Cristo”, disse D. Odilo, lembrando que todos nós trazemos na nossa vida as marcas de Cristo quando fomos batizados.
“Nós também trazemos as marcas de Cristo e somos convidados, como Francisco, a fazer este caminho de maior identificação, de sintonia com Cristo, para sermos inteiramente dele e também inteiramente da humanidade. Ser de Jesus Cristo. Francisco fez esta experiência profunda e, portanto, não o distanciou dos irmãos, pelo contrário, aproximou-os mais ainda. Assim como Francisco, também hoje somos convidados a olhar para Jesus Cristo e dizer: Ele me amou, ele por mim se entregou na cruz, agora o meu viver é dele. Vivo por Ele!”
MENSAGEM DO MINISTRO GERAL
Vigário Provincial, Frei César Külkamp, leu a mensagem enviada pelo Ministro Geral por ocasião dos 370 anos do Convento.
Prefiro uma Igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saído pelas estradas a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. (Do Papa Francisco, na Evangelli Gaudium)
Revdo. Sr. Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Cardeal Scherer
Queridos irmãos,
Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel,
Guardião, Frei Mário Tagliari,
Reitor, Frei Alvaci Mendes da Luz,
e demais confrades residentes, amigos e fiéis da Fraternidade e Convento São Francisco de São Paulo,
Paz e bem!
Há exatos 370 anos, nossos irmãos fundaram o Convento São Francisco no coração do que é hoje a maior metrópole da América do Sul. Enfrentaram os desafios das novas realidades que se apresentavam, guiados pelo Ministro Geral de nossa Ordem, o Espírito Santo. Esses santos homens deixaram a vocês o legado de uma bela história e a responsabilidade de serem nos tempos atuais a vivência de uma Igreja que vai ao encontro do outro, dos pobres, dos que precisam.
Francisco de Assis, continuamente, nos interpela a reconstruir a Igreja e a sociedade diante dos tantos desafios e exigências da presença de vocês nesta comunidade e os convido nestes 370 anos a renovar suas forças na missão que o Senhor lhes confiou. O trabalho é árduo e os desafios são muitos, contudo, é preciso recomeçar sempre. Recomeçar porque até agora pouco ou nada fizemos, nos recorda o Seráfico Pai.
Ao Sr. Arcebispo e a Igreja de São Paulo, motivados pelo mesmo Espírito que movia o Pobrezinho de Assis, prometam obediência e reverência como sinal de unidade. Sejam irmãos junto ao clero e ao povo desta grande cidade e façam deste Convento uma casa de acolhida, um lugar onde todos se sintam abraçados e cuidados pela misericórdia de Deus.
Enfim, a todos vocês que fazem parte da história do Convento São Francisco, convido a não se esquecerem da mensagem do Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: A Igreja em saída é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr à parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes é como o pai do filho pródigo que continua com as portas abertas para que quando este voltar possa entrar sem dificuldade.
Que este Convento e seus frades continuem sendo na cidade de São Paulo sinais constantes da Igreja que nos propomos ser. De minha parte, agradeço aos que passaram, aos presentes e aos vindouros e peço as bênçãos de Deus a cada um e a intercessão de São Francisco e Santa Clara de Assis.
Com estima e gratidão,
Frei Michael Anthony Perry, Ministro Geral e Servo
AGRADECIMENTOS
O reitor e pároco do Santuário São Francisco, Frei Alvaci Mendes da Luz, fez os agradecimentos. “A gente precisa agradecer muito àqueles que fazem e fizeram a história dessa Casa, desse Convento. Agradecer ao Cardeal que aceitou prontamente o convite de celebrar essa Missa de Ação de Graças, agradecer aos confrades, agradecer ao Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, na pessoa de Frei César Külkamp, o Vigário Provincial, todas as pastorais e movimentos deste Santuário e Igreja Paroquial, que tem vida neste centro de São Paulo, que movimenta e faz história”, disse o frade.
Frei Alvaci fez um agradecimento especial também. “Quero agradecer às pessoas que nos ajudaram na campanha pela pintura da fachada desta igreja. Obrigado à Igreja de São Paulo por acolher os franciscanos. E como dizem os franciscanos, Paz e bem!”, desejou.
Representando a Pascom, Rafael Faria entregou a D. Odilo um exemplar do livro sobre a história do Convento. “E que este aniversário dos 370 anos seja mais um belo momento desse ‘fazer história’. Que o carisma franciscano, que é sempre atual, porque é o carisma do Evangelho, é coração do Evangelho, possa ajudar a Igreja se renovar nesse tempo que precisa muito!”, disse D. Odilo, dando a bênção final.