Começa o desafio de Dom Evaristo ‘sobre as águas’ do Marajó
27/08/2016
Moacir Beggo
“Você que nasceu sob a proteção de São Pedro, agora é desafiado a caminhar sobre as águas”. O Definidor da Província Franciscana da Imaculada Conceição, Frei José Francisco de Cássia dos Santos, resumiu em linguagem metafórica, a missão que terá o novo bispo Dom Evaristo Spengler, ao tomar posse na Prelazia do Marajó neste sábado (27/8), às 9 horas, durante a Celebração Eucarística na quadra de Esportes do Município de Soure, onde está a Sede da Prelazia.
A exemplo da visita que fez para conhecer a Prelazia, logo depois de sua nomeação, Dom Evaristo novamente foi recebido com festa na chegada à Ilha do Marajó nesta sexta-feira. Esse povo, religioso e carinhoso, lotou o ginásio para celebrar este momento tão significativo na vida e missão do novo bispo franciscano. Junto com Frei José, estavam seus confrades Frei Germano Guesser, pároco da Igreja Santo Antônio do Pari, Frei Paulijacsson de Moura, pároco da Paróquia de Gaspar (SC), e os frades da Custódia Franciscana Sete Alegrias de Nossa Senhora do Mato Grosso. Uma caravana de 45 gasparenses viajou para Soure numa demonstração de carinho de sua cidade natal, especialmente de seus familiares.
Na foto, acima, Frei José Francisco fala na posse de seu confrade na Prelazia do Marajó
“Logo que foi nomeado bispo, Frei Evaristo viajou para conhecer a Ilha do Marajó e, quando voltou a São Paulo, nós perguntamos: ‘Frei Evaristo, o que o sr. viu, qual foi a sua impressão?’ Ele disse o seguinte: ‘Vinde e vede’. E é por isso que nós estamos aqui hoje em nome da Fraternidade Provincial para conhecer e viver essa belíssima fé que vibra, que entusiasma e celebra a Igreja Marajoara”, disse Frei José Francisco, muito aplaudido pelo povo.
Dirigindo ao seu confrade Dom Evaristo, disse: “Nós estamos ainda por entender a peça que o Espírito Santo pregou em nós. Reunidos em Assembleia Capitular em janeiro deste ano, nós, em nome do Espírito Santo, o elegemos Vigário Provincial e Secretário da Evangelização. De repente, um fogo, um vento impetuoso do Espírito Santo soprou em nossa Fraternidade e o trouxe aqui para o Norte do país. E nós estamos meditando, buscando sinais para compreender o que o Senhor está nos dizendo”, confessou Frei José.
“E nesses dias, olhando para a celebração de Dom Paulo Evaristo Arns, que festejou seus 50 anos de ordenação episcopal em São Paulo, ali vimos um sinal. Há 50 anos, o Espírito Santo chamava D. Paulo Evaristo Arns para ser Arcebispo do povo da grande cidade de São Paulo. E naquela época se vivia tempos difíceis com os anos de chumbo da ditadura, do peso da violência contra os direitos humanos. Foi um tempo muito difícil e desafiador para o Pastor daquela época. Hoje, cinquenta anos depois, o Espírito Santo chama outro confrade, com o mesmo nome de Frei Evaristo, não para ser pastor da Igreja do povo da cidade, mas do povo da Igreja da floresta e das águas. E nós aqui, então, entendemos que este sinal é mais um desafio para nós, os confrades, e, sobretudo para ti, que é franciscano, defender, ser guardião, do maior santuário ecológico do mundo, que é a Amazônia”, situou Frei José, enfatizando: “Hoje tu és chamado a ser pastor, cuidar e zelar deste santuário do povo da floresta e das águas”.
Na foto acima, amigos de Gaspar, a cidade natal de Dom Evaristo e seus familiares.
“Outro sinal que também nos chama a atenção é de que alguém que nasce na comunidade de São Pedro de Gaspar, anda pela Baixada Fluminense, caminha pelas terras de Angola, na África, agora é chamado a andar sobre as águas. Você que nasceu sobre a proteção de São Pedro, agora é desafiado a caminhar sobre as águas. Nós, enquanto Província e em nome de todos os confrades, estamos rezando por você para que a barca do Evangelho de Jesus deslize com segurança sobre essas águas e vá ao encontro de todas as criaturas, sobretudo as mais sofridas e mais pobres”, pediu Frei José, que também coordena a Serviço Franciscano de Solidariedade da Província da Imaculada.
E novamente se referindo em nome dos confrades disse que ele será acompanhado em oração e a Província continua sendo sua casa de portas abertas. “Será sempre bem-vindo entre nós. É e sempre será nosso irmão, Frei Evaristo!”, disse o seu confrade, emocionando o público. Por último, levou uma mensagem à Igreja local: “Quero dizer, em nome da nossa Fraternidade Provincial, a todos vocês que a escola que formou Dom Evaristo, a escola de Francisco e Clara, não vem para substituir a escola de Santo Agostinho e Santa Mônica, mas vem para fazer fraternidade”, disse, referindo-se ao bispo antecessor Dom José Luiz Azcona Hermoso, que, aos 76 anos, teve a renúncia aceita pelo Papa Francisco. Ele chegou à ilha do Marajó como missionário em 1985 e, após desenvolver um intenso trabalho com comunidades e denunciar problemas sociais na região, como o tráfico de seres humanos, foi ameaçado de morte. Com ele, os frades agostinianos desenvolvem um grande trabalho evangelizador na Ilha do Marajó.
A celebração reuniu cerca de dez bispos, entre eles o bispo diocesano Dom Marco Aurélio Gubiotti, da Diocese Itabira-Coronel Fabriciano, Igreja irmã da Prelazia de Marajó, no Pará. O Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira, deu posse a Dom Evaristo.
Frei Germano ficou impressionado com o carinho com que o povo acolheu o seu confrade. “Ele já se sente em casa. A celebração foi uma mostra desse carinho”, disse Frei Germano, que também se impressionou com os cantos dos marajoaras. “Foi uma bonita celebração, mostrando o quanto a Igreja é viva e participativa na Ilha”.
A Rede Globo deu ampla cobertura para a posse de Dom Evaristo, que não perdeu a oportunidade de pedir para que o Poder Público olhe mais para os povos ribeirinhos, esquecidos nesta região.