Começa o Capítulo Geral em Assis
11/05/2015
Frei Walter de Carvalho Júnior
Assis (Itália) – É lugar-comum dizer que quem vai a Assis pela primeira vez, ou a ela retorna, – quantas vezes forem -, sente um clima singular, difícil de se descrever. E assim, de fato, o é. No caminho de trem, reconhecendo aos poucos, nas várias paradas, os nomes familiares ao movimento franciscano, presentes nas Fontes (Narni, Terni, Spoleto, Trevi, Foligno), um confrade da Venezuela dizia: “Passando pelas cidades da Úmbria, a gente não se sente estrangeiro”.
Chegamos a Assis na manhã do domingo, 10. Dado à proximidade, fomos a pé até a Domus Pacis, lugar do alojamento e realização do Capítulo, e que fica ao lado da Porciúncula. Aos poucos foram chegando os ministros provinciais dos mais variados rostos e etnias, procurando se entender em uma das três línguas oficiais da Ordem.
Sem entrar nos pormenores dos horários e “ritos” de abertura, destaque no primeiro dia do Capítulo, 11, dedicado à espiritualidade, foi a fala do ministro geral dos Frades Menores Capuchinhos, Frei Mauro Jöhri. Logo ao início, retomou uma frase do Papa Francisco durante entrevista com P. Antonio Spadaro, da revista Civiltà Cattolica: “Não há identidade sem pertença”. Disse que é mais fácil deter-se na identidade do que na pertença, porque esta última diz respeito à concretude da vida e pode se manifestar em graus de maior ou menor gradualidade. Constatou que é mais difícil declarar-se pertencente a um grupo quando este está atravessando um momento de crise. Segundo Frei Mauro, porém, são justamente os momentos difíceis e os tempos de crise que mais nos interpelam e nos levam ao confronto e à renovação de nossa adesão ao grupo, à Ordem, em vista de novos caminhos, e para sermos autênticos frades menores no e para o nosso tempo.
Depois, falando bastante em primeira pessoa – o que conferiu à fala um caráter de experiência própria -, Frei Mauro tratou do tema da vida fraterna, sob três níveis: franciscano, eclesial e antropológico.
Ao abordar a questão da minoridade, Frei Mauro relembrou a visita do Papa Francisco a Assis no dia 4 de outubro de 2013. Nela, as primeiras pessoas com as quais ele quis se encontrar não foram os frades, mas os desprovidos, recordando-nos que a conversão de São Francisco aconteceu graças ao fato de que Deus mesmo o conduziu para entre os leprosos, e que este encontro com os últimos e os menos favorecidos permanece sendo uma pedra angular para todos nós que nos fazemos chamar de franciscanos. Frei Mauro afirmou que “o perigo para nós é chamarmo-nos “menores” mas estarmos, na realidade, muito longe das pessoas que efetivamente estão vivendo em estado de marginalização. Podemos assemelhar-nos muito ao sacerdote e ao levita de desciam de Jerusalém a Jericó”.
E continuou: “Não basta o simples fato de nos chamarmos ‘franciscanos’ para garantirmos a nossa capacidade de estar com os pobres e nos alegrarmos com isso, embora seja isso exatamente o que Francisco nos pede: ‘E devem alegrar-se quando conviverem entre pessoas insignificantes e desprezadas, entre os pobres, fracos, enfermos, leprosos e os que mendigam rua’. (…) Admitamos que não é um aspecto fácil a ser alcançado. Provavelmente seja necessário uma vida inteira e muita formação para fazer esse caminho de espoliação do nosso ego e das aspirações que são certamente legítimas mas não estão de acordo com o ideal a nós proposto por Francisco”.
Por fim, referindo à nossa missão hoje, Frei Mauro reafirmou a importância de agirmos em comunhão com a Igreja, em sintonia com o que o Papa Francisco nos propôs de modo claro e forte na Evangelii Gaudium. Nela, logo no início, ele afirma que devemos deixar-nos encher, o coração e a vida inteira, pela alegria do Evangelho, que se encontra na pessoa de Jesus. Convoca-nos a nos deixarmos ser salvos por Ele, que nos liberta do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento.