Com a missão de zelar pela Palavra e cuidar da mesa dos Pobres, Frei Gabriel é ordenado diácono
30/07/2022
Frei Gabriel é natural da cidade de Timbó (SC), nascido no dia 7 de outubro de 1994 e foi criado na cidade vizinha, Rodeio, onde a presença centenária dos frades despertou um apelo vocacional pronunciado a ele por Deus. E dentro da caminhada religiosa iniciada em 2009, no Seminário Santo Antônio de Agudos (SP), Frei Gabriel sentiu-se inspirado e chamado por Jesus Cristo para receber seu sacerdócio ministerial no primeiro grau chamado de diaconato.
Imbuído de uma antiga necessidade apostólica, o diácono é responsável pela administração dos bens temporais de uma comunidade de fé para promover o serviço caritativo entre os irmãos, especialmente os fragilizados, marginalizados e apequenados pela sociedade. Frei Mário Tagliari, guardião e pároco do Santuário, compartilha que o diaconato “é um serviço instituído desde a Igreja Primitiva e que os convocados a este ministério eram os que ficariam cuidando da Mesa da Palavra e da mesa dos pobres”.
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Além do cuidado caritativo, é responsabilidade diaconal as implicações que decorrem da postura de salvaguardar a Palavra de Deus e ensiná-la catequética e constantemente à comunidade cristã local. Compartilha Frei Gabriel a respeito desta missão divina e humana que “o chamado gosta de brincar de esconde-esconde. Ora, ele é totalmente evidente, ora ele corre à nossa frente e nos deixa a sua procura. Ficamos numa caça tremenda para encontrá-lo, tal qual a música ‘Caçador de mim’, interpretada pelo Milton Nascimento. E quando pensamos que o encontramos, ele logo se retrai e vai para outro lugar, nunca se deixando possuir por inteiro e sempre escapando, até que, na Vida Eterna, somos convidados por Deus a estar com Ele. E quando ele some a gente fica triste, e, aos poucos, vai deixando de lado aquilo que não é essencial para continuar nessa busca. E ele é isso, um danado que nessa dinâmica de se revelar e se esconder, nos desafia a ir cada vez mais longe, mais fundo, mais intensamente. Mas a cada momento que o encontramos, na fagulha de instante que ele nos permite retê-lo, que alegria, que júbilo, que emoção”.
Apoderando-se da Oração de São Francisco de Assis diante do Crucifixo, Frei Gabriel utilizou das palavras “dai-me uma fé reta, uma esperança certa e uma caridade perfeita” como seu lema de ordenação. Na Eucaristia, após a apresentação pública do eleito e confirmada sua idoneidade, Dom Carlos Silva, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, tomou a palavra para expressar o sentido bíblico-teológico, pastoral e social que tem um diácono dentro e fora de uma igreja.
“Gostaria de começar nossa pequena reflexão trazendo um pequeno trecho do documento Lumen Gentium (Luz dos Povos) que diz: ‘Ao ministério dos diáconos são impostas mãos não para o sacerdócio, mas para o serviço’. De fato, como nos ensina o Papa Francisco, o diaconato não é uma espécie de “passagem” para o presbiterado, mas é um ministério que nos conduz ao centro do mistério da Igreja. Porque a Igreja segue o mandato de Jesus: Jesus amou e serviu, a Igreja ama e serve, e o diácono que não ama e não serve, esvazia-se, não produz frutos”. E continua Dom Carlos com a atenção voltada a Frei Gabriel: “E, por isso, Frei Gabriel, o que nós celebramos neste momento é uma ação de graças ao Pai, por Cristo e no Espírito, mas também em nome do Povo, isto é, do mesmo Povo ao qual você pertence e que você se doará ao modo servidor de Jesus Cristo”.
Motivando toda a assembleia reunida, o bispo comentou: “Deste modo, irmãos e irmãs, convém que haja uma relação autêntica entre o que se celebra, o que se ensina e vive, é aquilo que chamamos de “coerência”, que ultrapassa os limites da aparência e alcança a essência. Sim! Que o nosso viver seja reflexo do que ensinamos e celebramos, e é somente quando somos evangelizados que seremos capazes de evangelizar. É, fundamental, portanto, que o servidor seja tocado pela força vital do Evangelho, para que esteja a serviço do próximo e não de suas ideias e de si mesmo, mas disponível à Comunidade, a final, Jesus enfatiza que “o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir”.
Entre ações de graças, preces, cantos, lágrimas e sorrisos, Dom Carlos Silva, pela imposição de suas mãos, ordenou Frei Gabriel Dellandrea tornando-o, pela ação do Espírito Santo, um diácono. “[…]Frei Gabriel, recordo uma palavra que nós, franciscanos, bem conhecemos: despojamento. É necessário que haja um despojamento constante para que se viva a leveza dos Pequenos e o amor para com os Mínimos do Reino, assim como Paulo, Timóteo, Francisco de Assis e outros tantos”, explicou o bispo.
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Muitos familiares e amigos do recém-diácono estavam presentes e dentre eles se destaca a figurado do irmão mais velho e confrade Frei Daniel Dellandrea que durante a celebração esteve ao lado do irmão caçula, Frei Gabriel, e ajudou-o a vestir a estola e a dalmática. Frei Daniel partilhou sua emoção: “Sinto-me honrado e feliz por tê-lo como irmão, além de sangue, um irmão na Ordem, e, agora também, a serviço da Igreja e por saber que Deus nos chama. A resposta dada por Frei Gabriel acaba animando a todos nós a sermos fiéis deste chamado, mas principalmente nos tornar instrumentos de Deus”.
Dentro do Projeto Fraterno de Vida e Missão da Fraternidade São Francisco e no contexto do jubileu de 375 anos da presença franciscana no Largo São Francisco (SP) a ordenação diaconal de Frei Gabriel ocupa um importante lugar na rememoração da necessidade de cuidar dos que sofrem e de ensinar a Palavra. “Nós estamos celebrando este ano jubilar de 375 anos da fundação do convento e o diaconato de Frei Gabriel desperta o autêntico sentido que vem dos Apóstolos de cuidado e serviço. Nós temos uma característica muito grande, em São Paulo, que é o Pão dos Pobres. A ação solidária franciscana se fez desde o início desta presença. Os frades, onde estiverem, partilham com os pobres aquilo que eles têm”, salientou Frei Mário Tagliari.
Antes da bênção final, Frei Gabriel Dellandrea, por meio da figura da uva que é transformada em vinho, expressou sua gratidão por todos aqueles que caminharam junto a ele. “[…] Agradeço àqueles que foram em minha vida a minha terra onde nasci, o meu cacho, a minha família, a minha comunidade, a minha paróquia São Francisco de Assis de Rodeio. Agradeço a bacia da Igreja que me acolheu. Agradeço àqueles que me pisaram, para que eu pudesse soltar meu suco e aos meus amigos de perto e de longe que vieram, e os confrades de turma: Augusto, Roger e Hugo, verdadeiros companheiros… Agradeço o carisma franciscano, à Província, à esta Fraternidade, que é a garrafa onde posso depositar meu suco. Agradeço a Deus por ter um irmão duas vezes: de sangue e de Ordem. Agradeço a todos aqui presentes e os que acompanharam pelas redes sociais e os que prepararam essa celebração. Bons exemplos me deram. Que eu possa, com a graça de Deus, chegar aos pés de todos vocês!”.
Frei Bruno Dias de Deus (texto) e Paty Castelo (fotos), pela Pascom do Santuário São Francisco