O chamado do Senhor para as vocações religiosas é uma graça concedida àquele que escuta, se desperta e segue. O caminho nem sempre é tranquilo e doce, pois os desafios são muitos diante das inúmeras pressões do mundo. Nessa jornada, a capacidade de discernir e de se encontrar com o Verbo Encarnado, que também chamou pessoas para a evangelização, é construída na intimidade com Aquele que é luz para o mundo (Jo 5,5). Como o Pai disse a Abrão: ‘Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei; engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção’ (Gn 12,1-2)

A decisão pelo sim nem sempre é imediata. Foi assim com Frei Felipe Medeiros Carretta, um jovem capixaba, de Vila Velha (ES), que, no próximo dia 8 de fevereiro, será ordenado diácono pelas mãos do Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist., às 9h, em celebração na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, localizada no bairro da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), mesmo lugar onde o frade viveu sua primeira experiência direta com o povo de Deus, em 2019.

Mas, antes disso, o jovem passou por algumas etapas até sua escolha vocacional pela Ordem dos Frades Menores. O filho de Kátia Carretta e Luís Carretta (in memoriam), disse ao site Franciscanos que sua identificação com a Ordem se deu desde sempre.

“Em Vila Velha, nossa Província da Imaculada, está presente em duas fraternidades: a da Paróquia do Rosário e no Convento da Penha. Mas, o contato mais próximo com os frades sempre foi na paróquia, pois é a minha comunidade de origem. Essa presença foi gerando em mim a identificação e o desejo de ser um franciscano”.

Muito atuante na comunidade do Santuário do Divino Espírito Santo, onde recebeu todos os sacramentos de iniciação à vida cristã, também foi coroinha, catequista, liderança de grupo de jovens, entre outras ações da vida em comunidade e paroquial.

Ele contou que, em meio a todas as atividades, “surgia um jovem inquieto vocacionalmente”, até que, certo dia… “Frei Paulo Roberto Pereira, nosso Ministro provincial, me fez o convite para entrar na vida franciscana, e minha resposta, de imediato, foi não. Mas aquela indagação não se encerrou com essa resposta momentânea. O convite permaneceu pairando em meu ser por um ano”, disse o frade.

Em 2013, Frei Felipe decidiu fazer a experiência da formação religiosa franciscana. De acordo com ele, apesar de muitas dúvidas, seu coração já trazia a certeza: “Eu queria ser um daqueles frades que me acompanharam em todas as etapas da minha vida. Entregar-me totalmente ao serviço da Palavra e do povo de Deus”, afirmou.

Acompanhando a narrativa de sua história ainda inicial na Ordem dos Frades Menores, o tema escolhido pelo frade para a ordenação diaconal – ‘Não tenhas medo! De hoje em diante, tu serás pescador de homens’ (Lc 5,10b) – evidencia sua decisão e a certeza de quem está determinado a continuar a caminhada religiosa, fundamentado nos ensinamentos de São Francisco de Assis, no seguimento de Jesus Cristo.

Em entrevista ao site Franciscanos, Frei Felipe Carretta, fala sobre a importância desse momento para sua vida religiosa e suas expectativas. Acompanhe.

Site Franciscanos – Por que ser um franciscano?

Frei Felipe Medeiros Carreta – Digo que não tinha como não ser um frade menor. Toda a minha formação eclesial, religiosa e humana foi talhada pelos frades, antes mesmo de entrar na vida religiosa. E ao longo do processo formativo nós vamos também descobrindo e nos trabalhando a partir do propósito da vida religiosa franciscana. Mas sempre o que me saltaram os olhos foi a vida em comum e partilhada entre eles. A fraternidade sempre foi o elo que me fez decidir ser um frade menor. O modo de vida de São Francisco, que é o Evangelho, foi se tornando para mim uma possibilidade e, posteriormente, a adesão total para configurar a minha vida também. A vida franciscana nos leva a um profetismo, a uma leitura de realidade mais apurada e em sintonia com a vida dos que mais sofrem. Acredito que a minha consagração também está ligada com estes contextos.

Site Franciscanos – Qual a relevância desse momento para sua vida religiosa?

Frei Felipe – A nossa maior graça na vida religiosa franciscana é a nossa consagração, viver o seguimento do Cristo pobre, humilde e crucificado como nos ensina o Seráfico Pai Francisco. Isto é, viver a radicalidade de nosso batismo que é a nossa vocação primeira. Na vida do frade menor é o que mais nos importa e é o nosso tesouro. Neste sentido, o serviço ministerial ordenado da Igreja também nos convida e possibilita a se lançar ainda mais no serviço ao povo de Deus. Assumo o ministério ordenado com esta consciência e relevância. Um frade menor que está à disposição da igreja para servir a sua grei.

Site Franciscanos – Cite um momento mais significativo da sua presença na Ordem?

Tenho dois momentos importantes que gostaria de citar. Primeiro quero destacar a minha presença na Comunidade da Rocinha no Rio de Janeiro, no meu Ano Missionário em 2019. Foi minha primeira experiência direta com o povo de Deus. Vivi um ano de muitos desafios e aprendizados. E olha a mão de Deus guiando a história! Hoje estou transferido para esta realidade e aqui serei ordenado diácono.  Outro momento que gostaria de destacar foi a minha presença na Festa da Penha do ano passado. Depois de muitos anos voltar à festa, e como frade, foi uma realização muito grande na minha vida. A devoção à Virgem das Alegrias tem um lugar singular na minha vida e vocação.

Site Franciscanos – Qual sua expectativa para a ordenação diaconal?

Frei Felipe – As expectativas são muitas. Servir a Igreja, servir ao povo de Deus, servir a mesa do Senhor na liturgia e na vida, que é uma das funções da diaconia; abençoar o povo, e servir a caridade. O ministério não me faz maior do que os outros, mas me coloca na posição de servidor do outro. Penso que este é o grandioso valor e o coloco como minha expectativa para este tempo de graça do diaconato.

Site Franciscanos – Quando olha para o horizonte da sua vida religiosa, o que vê?

Frei Felipe – Vejo um frade que está sempre na busca de fazer a vontade do Senhor. Mesmo tendo consciência de minhas limitações, quero e estou sempre na busca de me fazer servidor. Sou um frade jovem e trago comigo o sonho de um mundo mais justo, onde todos possam provar da bondade e misericórdia do senhor. Sonho em que todos possam ter o sustento para a vida e para a missão. Quero ser audacioso no anúncio do Evangelho, assim, minha consagração e o ministério assumido vão ganhando cada vez mais sentido e dando sentido a minha própria existência.

Sobre a Ordenação Diaconal

“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita” (Mt 9,36-38).

O sacramento da Ordem é constituído por três graus: episcopal, presbiteral e diaconal. Cada um possui um rito de ordenação próprio, porém, o elemento comum entre eles é a imposição das mãos e a prece de ordenação.

A função à qual Frei Felipe é chamado está descrita na Constituição Dogmática Lumen Gentium, no nº 29, da seguinte forma:

“Administrar o Batismo solene, conservar e distribuir a Eucaristia, assistir e abençoar, em nome da Igreja, os Matrimônios, levar o viático aos moribundos, ler a Sagrada Escritura aos fiéis, instruir e exortar o Povo, presidir ao culto e às orações dos fiéis, administrar os sacramentos e presidir aos ritos dos funerais e da sepultura.”

E, ainda, de maneira sintética, o mesmo texto afirma: “Servem o Povo de Deus na diaconia da Liturgia, da Palavra e da Caridade.”

 

 

O frade nasceu no dia 2 de julho de 1993, na cidade de Vila Velha (ES). Vestiu o hábito franciscano e iniciou o Noviciado em 15 de janeiro 2015 e sua Primeira Profissão na Vida Religiosa foi no dia 5 de janeiro de 2016. Já sua Profissão Solene foi no dia 13 de novembro de 2021.

 

 

 

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Adriana Rabelo