CFJ: O tesouro escondido em Vila Velha
30/07/2023
Vila Velha (ES) – Houve quem veio de muito longe: Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Cruzaram mais de mil quilômetros, por terra ou pelo ar. Houve quem veio de longe, do Rio de Janeiro e saíram na noite de sexta-feira, dia 28 para que, no dia 29, estivessem prontos e a postos. Houve quem veio de mais perto, do próprio Estado do Espírito Santo e houve quem já estava em Vila Velha, sede da XI Caminhada Franciscana da Juventude. Trezentos jovens, alguns com juventude acumulada há mais tempo, atraídos pelo desejo de caminhar, não sozinhos, mas em boa companhia: “Com Francisco e Maria, chamados a caminhar”, tema desta edição do evento. Estavam em busca do “tesouro no campo” descrito por Jesus no Evangelho de Mateus.
Chegaram muito cedo, alguns de madrugada e, às 6h, foram acolhidos na a Chácara Perim, no Bairro de Itaparica, onde fizeram o credenciamento, tomaram café da manhã, rezaram, fizeram exercícios de alongamento e receberam as primeiras instruções. Às 8h, todos credenciados e alimentados, deram início ao percurso, acompanhados por tímidos raios de sol que ultrapassavam as poucas nuvens do céu. Caminharam por cinco quilômetros até a Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe onde, na Capela improvisada junto à grande Matriz em construção, reviveram o encontro de Francisco com o Crucificado, na pequena Capela de São Damião em ruínas. Rezaram e cantaram, ao modo do Santo de Assis, diante do ícone do Crucifixo de São Damião, que traz o Cristo de olhos abertos: “Altíssimo e Glorioso Deus, ilumina as trevas do meu coração. Dá-me fé reta, esperança certa e perfeita caridade para que eu cumpra tua santa vontade”. Logo perceberam que o caminho que tinham pela frente, em companhia de Francisco, era de reconstrução e iluminação.
Eram quase 10h e a caminhada seguiu, desta vez rumo ao Parque Cultural Casa do Governador: mais cinco quilômetros, desta vez num percurso mais desafiante, pois este foi realizado na areia da praia. O piso pouco firme e a adesão da areia aos pés exigiram maior empenho e esforço dos caminhantes. Caminho que segue, também com as dificuldades que lhes são próprias. Hora do almoço e da pausa para o descanso necessário, no espaço público, propriedade do estado capixaba, aberto pelo Governador como Parque Ecológico e Cultural. Ocasião de restaurar as forças do corpo e da mente, com o alimento e o repouso, dons de Deus e de mãos generosas que se organizaram para que tudo fosse bem preparado.
E segue a construção do caminho, que se realiza caminhando. A instabilidade e o cansaço da areia ficaram para trás. Adiante, a estrada que circunda o Morro do Moreno e a íngreme subida que presenteia com uma bela vista do mar e da região de Vitória e Vila Velha a todos que corajosamente a superam. Os caminhantes superaram e puderam, com Francisco, render louvores ao Criador pelas maravilhas da criação. “Louvado sejas, meu Senhor!”. Já são 16h30, é hora de descer. Os caminhantes seguem para a última parada do dia, o Santuário do Divino Espírito Santo, no centro de Vila Velha.
Na “Hora da Ave-Maria”, às 18h, a caminhada chega ao Santuário. Os jovens são recebidos pelos paroquianos e pelas famílias acolhedoras, que se organizam num “corredor humano” que conduz os caminhantes até a entrada da Igreja, onde a emoção toma conta de todos: durante todo o percurso, cada um trouxe consigo uma palha entregue no início do trajeto. Com a conclusão da primeira etapa, era hora de depositarem o símbolo carregado até agora numa manjedoura preparada junto ao altar central da Igreja. Ao som de canções que recordavam a beleza e a grandeza do Mistério da Encarnação, os jovens foram posicionando uma a uma as palhas que trouxeram: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
Na manjedoura preparada pelos caminhantes, recordando o episódio de Greccio, quando, sob a inspiração de São Francisco, a cena do presépio foi encenada pela primeira vez, uma jovem família, vestida a caráter como Jesus, Maria e José, entrou em procissão, depositando o pequeno menino, Enrico, nas palhas, tal como Menino Jesus. Muito choro diante da ternura da cena da Encarnação. Em seguida, Frei Augusto Luiz Gabriel, expôs o Santíssimo Sacramento, para um breve momento de adoração e bênção.
“Esse menino Deus que se encontra na manjedoura é o mesmo que se manifesta na Eucaristia”, disse. “É Jesus que nos acolhe, nos reúne e nos congrega. É Jesus que nesta hóstia consagrada se apresenta a nós como exemplo de gratuidade, generosidade, mansidão, fortaleza, descanso”, acrescentou.
Desta forma, concluiu-se a celebração do primeiro dia de caminhada que, no decorrer de 22 km, em companhia, de “Francisco”, reviveu, nos passos e na experiência, os três mistérios que moveram o Santo de Assis em sua jornada: cruz, encarnação e eucaristia”. Cansados, mas plenos, os caminhantes foram distribuídos entre as famílias acolhedoras. Só gratidão e alegria, com um pouco de cansaço.
Um dia dedicado a Nossa Senhora da Penha
Às 6h, todos, renovados pela acolhida e pela convivência nas famílias, os caminhantes chegaram ao Santuário do Divino Espírito Santo, onde tomaram café e participaram de um breve momento de prece, quando também foram apresentados à história e à Devoção de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Estado do Espírito Santo. “Se ontem caminhamos em companhia de São Francisco, hoje é dia de seguirmos com Maria. Seremos romeiros e peregrinos de Nossa Senhora da Penha”, explicou Frei Gabriel Dellandrea. As cores da bandeira capixaba são as mesmas do manto de Nossa Senhora: branco, rosa e azul.
Às 7h30, os caminhantes-romeiros seguiram, tendo à frente a Imagem de Nossa Senhora das Alegrias, em direção ao Convento da Penha, local de início da devoção e patrimônio religioso, histórico, cultural, artístico e turístico do Espírito Santo, sob os cuidados da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. O percurso de dois quilômetros até o portal do Convento foi percorrido com facilidade. Aos pés do morro, antes de subir em direção à Casa da Mãe das Alegrias, os jovens receberam de presente, das mãos dos frades que participavam da caminhada, um terço e fizeram o trajeto rezando em hora a Maria.
Uma garoa leve caiu durante a subida e poderia ser interpretada como sinal da bênção e da acolhida feliz que a Virgem da Penha fazia a seus caminhantes-romeiros da juventude franciscana. Poucos minutos depois de concluído este trajeto, a garoa cessou, seguindo o céu encoberto e uma temperatura agradável. A missa, às 9h, foi celebrada no Campinho do Convento, como ocorre tradicionalmente aos domingos. O presidente foi Frei Gabriel Dellandrea, recentemente ordenado presbítero e que pela primeira vez presidiu a Eucaristia no Convento da Penha.
Na homilia, o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, saudou a todos em nome do Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira que, em viagem a Angola, não pode estar presente na caminhada. Fez um agradecimento especial às Fraternidades Franciscanas do Regional do Espírito Santo (Santuário, Convento e Colatina), à equipe organizadora da Caminhada e aos jovens participantes. Recordou que, vindo de perto ou de longe, todos os caminhantes já traziam consigo o tesouro que procuravam, em referência à parábola contada por Jesus no Evangelho do 17º Domingo, proclamado pela Igreja neste dia 30 de julho (Mt 13,44-52). “Somos todos filhos e filhas amados de Deus e este é nosso maior tesouro”, exortou Frei Medella.
“O Reino dos Céus é semelhante a um homem que encontrou um tesouro escondido no campo. Onde está o teu tesouro, aí está teu coração. O que é este tesouro? Onde ele está? Qual é o valor dele? Esse tesouro, não tenha dúvida é você. Esse tesouro é cada um presente aqui. Você é um tesouro, por isso, não deixe que ninguém te desmereça, ofenda, desvalorize você; e não faça isso com ninguém, porque cada ser humano é um tesouro”, ressaltou.
“Esse tesouro Francisco encontrou em um lugar que não era bonito, em uma igreja semi destruída, a capela de São Damião. Diante do crucifixo de São Damião encontrou o grande tesouro de sua vida”, disse, convidando os presentes a rezarem a Oração de São Francisco diante do Crucifixo.
“Queridos jovens, vocês vieram até aqui, para buscarem algo que está dentro de você. Esse tesouro que você encontrou caminhando pela Orla de Vila Velha, subindo o Morro do Moreno, a ladeira da Penha, diante de Nossa Senhora e dentro do seu coração, isto ninguém tira de você. Leve, cuide deste tesouro com o máximo de empenho. Sinta-se amado, protegido, conduzido por Deus e pela luz materna e divina, da mãe de Deus e Nossa Senhora, ela sempre caminha junto conosco”, concluiu o Vigário Provincial.
Após a bênção final, os jovens permanecem no Campinho e, nesta hora, um momento surpreendente. O jovem Leocir Araújo da cidade de Chopinzinho, pediu sua namorada Camili Tais Kayser em noivado (foto acima) diante de todos, testemunhando a participação em outras edições da Caminhada Franciscana da Juventude no início e na construção da história do casal. Mais um episódio emocionante creditado na conta das Caminhadas. Teve ainda direito a flash-mob especialmente preparado pela juventude da Paróquia Santa Clara de Colatina e a clássica foto oficial tendo ao fundo a beleza e a bênção do Convento da Penha.
(toque nas imagens para ampliá-las)
Na descida do Convento, nova festa, desta vez embalada ao ritmo do Congo, tradição cultural e religiosa da raiz do povo capixaba. Alegria que, de imediato, cativou e moveu a juventude no trajeto ladeira abaixo. Agora eram todos caminhantes-romeiros-conguistas. “Iaiá, você vai à Penha? Me leva, ô, me leva”! Neste ritmo seguiram até a Igrejinha Nossa Senhora do Rosário, na Prainha, a mais antiga do Brasil em atividade atualmente. Ali, mais um momento de confraternização, seguido pelos agradecimentos, muitos e intensos, e pelos últimos avisos.
“A caminhada totalizou 54713 passos e nele fizemos uma experiência com Deus e é por isso que nós chegamos agora ao fim da nossa caminhada, nós vencemos. Teve congo, teve praia, teve comida boa, teve até a casa do Governador! Vocês não são fracos não… Precisamos deixar claro que essa caminhada não é um evento só para a gente vir aqui e nunca mais aparecer na igreja. Vocês não vieram para Vila Velha para passear, mas também é turismo; não vieram para conhecer a cultura, mas também é cultura; não foi só para fazer novos amigos, mas também fazer novos amigos; mas especialmente para fazer uma caminhada de fé”, frisou Frei Gabriel.
Depois de 28 quilômetros vencidos ao sabor da fé, da alegria, do cansaço, do companheirismo e da amizade, era hora do almoço, e de dar adeus. Abraços, algumas lágrimas de despedida e, na bagagem, gratidão, muita gratidão. Até a próxima, Paz e Bem! Fazem parte da equipe de animação das Juventudes Frei Augusto Luiz Gabriel, Frei Gabriel Dellandrea, Frei Roger Strapazzon e Frei Gustavo Wayand Medella.
Equipe de comunicação da 11ª edição Caminhada Franciscana Juventude